Escape escrita por Miaka


Capítulo 5
Giving up for you


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, peço perdão pela demora em postar! Estou me dedicando muito a Um peso, Duas medidas, uma fic que eu quero muito que leiam! *o* Muito obrigada por estarem acompanhando Escape! Estou feliz por introduzir melhor esses "novos" personagens à trama. XD



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Observava tudo ao redor ainda bastante assustado. Feixes de luz vermelhos e azuis refletiam em seus olhos. As sirenes soavam de vez em quando, alertando a presença da policia em todo o estacionamento do aeroporto, que havia sido completamente cercado. Tinha sorte de, após aquele terrível tiroteio, ter apenas alguns arranhões no rosto… melhor, tinha sorte de ter Judal ao seu lado.

– Sente-se bem?

Piscou, levantando o rosto para encarar o delegado que lhe entregava uma xícara de café quente. Já estava sendo aquecido pelo sobretudo do homem que agora exibia duas armas automáticas que estavam no coldre apertado sobre a camisa social branca.

– S-Sim… Obrigado…

Hakuryuu bebericou um pouco da bebida tão quente, ainda se surpreendia com tamanha gentileza.

Quando viu a polícia se aproximar, tinha certeza de que estaria se envolvendo em problemas e, por mais que sentisse uma certa aflição, chegou a pensar que ser preso seria uma boa forma de escapar de sua família. Aquele homem, junto com seu subordinado, eram mais pessoas como Judal, capazes de serem gentis com ele. Inclusive, Judal era o maior motivo de sua preocupação naquele momento.

– Não se preocupe. - Sinbad notou a direção onde Hakuryuu olhava. - Judal vai ficar bem. - ele se apoiou na porta aberta da viatura. - Ele já passou por muito mais do que isso!

Assistia aquele que estava sendo tratado pelo albino na viatura ao lado. Aquele que estava ajoelhado do lado de fora enfaixava o braço ferido do rapaz que urrava em um escândalo teatral.

– Se não ficar quieto, vai doer mais!

– E desde quando você é enfermeira?!

– Desde quando tenho que cuidar de bandidinhos da sua laia. - Ja’far respondeu, levantando-se.

Hakuryuu e Sinbad assistiam de longe. O mais jovem sentia-se aliviado ao ver Judal já com sua personalidade enérgica. Sentia-se culpado, ele havia sido atingido ao protegê-lo.

– Ja’far e Judal nunca se deram bem… - Sinbad comentou.

– Conhecem ele há muito tempo? - Hakuryuu perguntou.

– O suficiente para saber que se há um problema, ele está envolvido. - o moreno se inclinou para frente e encarou os olhos desiguais do rapaz. - Mas pelo que eu sabia o caçula dos Ren era o único que não estava envolvido com a bandidagem… - ele parecia provocador. - Mas não é o que estou vendo agora.

Desviando o olhar, Hakuryuu permitiu que Sinbad prosseguisse com seu inquérito.

– Me diga, de onde conhece o Judal?

– Para prendê-lo? Não. - Hakuryuu respondeu de forma ríspida. - Se quiser prender alguém, prenda a mim!

Sinbad arqueou uma sobrancelha e cruzou os braços, soltando um longo suspiro. Parece que seria bem difícil.

– É alguém bem importante para você se entregar por ele, não é?

Mais uma vez Hakuryuu evitou encará-lo.

– Ele salvou minha vida… - ele se agasalhou mais no sobretudo pendurado sobre seus ombros. - Duas vezes. - completou cabisbaixo.

Os olhos dourados daquele delegado permaneciam a encarar Judal enquanto ouvia as palavras do jovem. Conhecia muito bem aquele que se aproximava, o braço saudável sendo segurado firmemente por Ja’far, que o escoltava, ignorando gritos e protestos do moreno.

– Típico… - Sinbad sorriu de canto para Hakuryuu. - Vou lhe dar um conselho: afaste-se dele.

Não houve tempo de questionar as palavras de Sinbad. Judal e Ja’far já estavam próximos demais.

– O que está falando ai, Sinbad?! - ele se inclinou para frente. - Não confie nesse cara, Hakuryuu!

– Como ele está? - o delegado o ignorou e se dirigiu a Ja’far.

– Infelizmente não foi nada grave. - o albino cruzou os braços.

– Sinbad-sama!

Um homem ruivo de porte alto se aproximava, igualmente vestido de terno preto, enquanto que sua companhia, uma bela mulher de longos cabelos azuis como seus olhos, vinha atrás vestindo um tailler de tons escuros também. Hakuryuu logo fitou o coldre aparente na coxa exposta dela pela abertura em V na lateral da saia. Eram policiais também?

– Reportem. - o moreno virou na direção deles. - Masrur?

– Conseguimos capturar um dos capangas. Está com o agente Hinahoho! - o homem que não esboçava um sorriso sequer respondeu formalmente.

– Ótimo. Iremos interrogá-lo hoje a noite. Creio que o Hakuryuu conseguirá identificá-los.

– S-sinto muito, Sinbad-dono. - Hakuryuu se levantou do banco do carro, saindo dele. - Mas preciso pegar o próximo vôo para Londres! Vão me matar se…

– Vai deixar Judal aqui? Agora que ele também está envolvido com seu problema?

As palavras de Sinbad foram certeiras. Como Hakuryuu deixaria seu salvador para trás? Claro, Judal conseguiria se safar bem com sua lábia e convencer a família Ren de que não estava protegendo Hakuryuu, mas…

Subitamente um Land Rover 4x4 cantou pneus ao parar próximo às viaturas. Surpresos com aquela chegada inesperada na área interditada, Sinbad e sua equipe sacaram quase que ao mesmo tempo as pistolas e apontaram na direção do automóvel que vinha tão apressado.

– HAKURYUU!

A porta se abriu e revelou um rapaz que não se importou para as armas que lhe eram apontadas. Correu em direção a Hakuryuu ao mesmo tempo em que Sinbad gesticulou para que sua equipe abaixasse as armas e assim eles o fizeram.

– A-Alibaba-dono!

Os olhos azuis estavam arregalados quando o loiro abraçou com força seu amigo. Estava tão aflito. Judal reconhecera imediatamente o garoto, o mesmo que estava na foto do celular de Hakuryuu. Contorceu o lábio, desagradado, mas não se sentia no direito de reclamar.

– Não está machucado? - ele se afastou rapidamente para conferir os arranhões no rosto do moreno. - Fiquei tão preocupado!

– Eu estou bem, Alibaba-dono! - Hakuryuu sorriu, sentia-se tão bem ao lado de seu amigo.

A porta do motorista e do carona abriram em seguida para revelar um homem alto de rebeldes cabelos azul-turquesa. Usava um óculos de armação grossa e quadrada, assim como um cachecol por cima dos ombros. Um tanto quanto atrapalhado saiu dali acompanhado de um garoto que abriu um sorriso ao ver seu amigo se tranquilizar, abraçado a Hakuryuu.

– Devia imaginar… - Sinbad guardava a arma de volta ao coldre. - Para romper o bloqueio policial, tinha que ser a influência da família Abraham.

Peço desculpas por entrarmos aqui sem aviso, o Alibaba-kun estava muito pre…

– Tudo bem. - o moreno abanou a fim de demonstrar informalidade. - Se não fosse por terem ligado para a polícia, não teríamos impedido a grande tragédia que ia acontecer aqui… - Quem é esse rapaz? Me parece familiar…

– É tutor do filho do Solomon-sama. - ele explicou. - É um bom rapaz que dá aulas particulares para o Aladdin, Alibaba Saluja.

– Saluja? - Sinbad arqueou uma sobrancelha.

Talvez pela surpresa ao repetir aquele sobrenome, a voz do delegado chegou aos ouvidos do loiro, que rapidamente se virou para o moreno, que agora notava mais ainda os detalhes que lhe chamava a atenção. Aquele cabelo loiro, pontiagudo na sua frente, os olhos cor-de-mel…

– Você é filho de Rashid Saluja? - Sinbad perguntou.

– Sim, senhor. - Alibaba deu um passo a frente. - O senhor o conhecia?

Sinbad deu um sorriso de canto e meneou há cabeça.

– Há muito tempo atrás. Graças a ele estou hoje nesta carreira. - ele explicou de forma sucinta. - É um prazer. Sou o delegado Sinbad e esse - ele se virou para o albino ao seu lado. - é o inspetor Ja’far.

– Muito prazer. - o rapaz de pele alva e sardas se curvou. - Obrigado por ajudar em nosso trabalho de hoje.

– N-não há de quê. - Alibaba corou. - Hakuryuu, quero que fique no meu quarto essa noite.

Antes temos que prosseguir a investigação. Hakuryuu irá reconhecer o atirador que capturamos. - Sinbad cruzou os braços.

– OE! Que história é essa do Hakuryuu ir ficar com você? - Judal não conseguia mais esconder a irritação. - Ele está na minha casa!

– J-Judal… - Hakuryuu gaguejou.

– Eu agradeço a todos, mas eu realmente quero viajar para longe. É o melhor…

– Me desculpe, mas enquanto estivermos trabalhando na investigação, precisaremos de sua colaboração, Hakuryuu. - o delegado se manifestou. - Do contrário, se continuar usufruindo do dinheiro da máfia, será declarado cúmplice dos crimes da sua família.

Aquelas palavras assustaram Hakuryuu. Sentia-se um prisioneiro. Agora além de ameaçado por sua mãe, a polícia também o impedia de seguir seu sonho.

– Eu sinto muito. - Sinbad disse ao ver a decepção no suspiro do rapaz. - Estamos fazendo isso para seu bem. Mais do que ninguém sabe que a máfia da família Ren é articulada por todo o mundo. Não adiantaria muito fugir do país. Sabemos que é uma vítima também… isso está estampado em seu rosto.

Era óbvio sobre o que ele se referia. Hakuryuu tocou as cicatrizes que já faziam parte dele há tantos anos, a marca deixada em seu corpo para que nunca se esquecesse de que deveria se vingar de Gyokuen, de Kouen...

– OE! Não ofenda assim o Hakuryuu! - Alibaba se indignou.

– Não tem problema, Alibaba-dono. - o moreno o interrompeu. - Sinbad-dono tem razão. E talvez… talvez seja a minha chance de me vingar…
Se nos ajudar, Hakuryuu-kun, prometo que faremos de tudo para que sua mãe e primos sejam punidos com o máximo rigor da lei.

– Tsc, Sinbad, devia incentivar o Hakuryuu a seguir em frente e não…

– Ele tem razão. - Hakuryuu encarou Judal. - Não há nada que eu deseje mais do que a vingança!

– Hakuryuu-oniisan… - Aladdin chamou melancólico ao ver tanta dor que ele estava expondo.

– Vai colaborar com nossa investigação, então? Posso contar com você?

O rapaz encarava a mão que Sinbad lhe estendia. Judal, ao seu lado, mordia o lábio inferior de forma angustiada. Parecia completamente impotente diante dos sentimentos mais profundos de Hakuryuu, fosse por vingança àqueles que odiava ou por estima àqueles que amava. Afinal, todos tinham papéis importantes em sua vida e cravado sentimentos em seu coração, diferente dele que era um mero… desconhecido. E se havia uma certeza para Judal agora era a de que ele estava sobrando ali.

Era um passo bastante importante. Após dá-lo, não teria mais volta. Era o correto a ser feito, tanto pela justiça quanto para, quem sabe, um dia acalmar aquele monstro que corroía sua alma, aquela frustração e culpa por não ter vingado seus irmãos.

– Pode contar comigo.

Hakuryuu apertou a mão de Sinbad, que abriu um largo sorriso.

– Não sabe o quanto sua decisão nos deixa mais próximos de desarticular toda essa organização mafiosa, Hakuryuu. - ele declarou. - E quanto a sua segurança, não se preocupe, iremos providenciá-la.

– Não vou deixá-lo mais sozinho também, Hakuryuu. - Alibaba logo se aproximou. - Fiquei com tanto medo de que acontecesse algo com você… Tem certeza de que não se machucou mais? Não dói em nenhum lugar?

– Hahahaha! Pode ficar tranquilo! - o moreno ria divertido. - Não me machuquei porque o Judal me proteg...

Então, ao virar-se para trás no intuito de apresentar seu novo amigo a Alibaba, Hakuryuu ficou confuso ao não encontrá-lo. Piscou desentendido olhando por entre os agentes e carros.

– Se está procurando Judal, ele já foi embora.

– Embora? - as safiras piscaram. Mas como? Por quê?

– Acho que ele se tocou de que o melhor a fazer é se afastar de você. - Sinbad se aproximou. - Judal traz problemas para quem se aproxima dele… - refletiu.

Não era bem assim e Hakuryuu sabia. Afinal, devia sua vida a ele agora.

Não teve ao menos a oportunidade de agradecê-lo. Judal havia aparecido ali a seu socorro mesmo depois de enganá-lo e deixá-lo para trás. Mas não se sentia confiante de dizer nada sobre ele, afinal, até sua posição atualmente era algo duvidosa.

– Hakuryuu, - Alibaba o segurou pelos ombros, tirando-o de deus devaneios. - eu quero que fique na minha casa por enquanto! Assim que sairmos da delegacia, depois do seu depoimento, vamos para lá! - as orbes douradas brilhavam em determinação. - Não vou permitir que fique sozinho mais, em perigo.

– Alibaba-dono...

Hakuryuu se sentia bem, afinal, a amizade de Alibaba era um dos poucos laços verdadeiros que possuía. Porém, naquele momento, tudo o que desejava era ir ao apartamento de Judal e questionar porque ele havia ido embora. Por que havia ido salvá-lo? Por quê, mesmo depois de tudo? E por que se importara tanto com alguém que mal conhecera? Talvez aquele homem que parecia conhecê-lo tanto poderia ajudá-lo a desvender o enigma que Judal era. Mas podia confiar nele? Em sua família de mafiosos, aprendeu a não confiar em policiais. Pelo contrário, devia evitá-los, fugir deles…

– Acho que é a melhor decisão por ora. - Sinbad sorria.

– Alibaba-kun, se esqueceu de que mora na república da universidade? - Aladdin chamou sua atenção.

– Eu estou alugando um quarto só meu depois que seu pai aumentou meu salário, Aladdin… - o loiro corou. - Não é muito, mas… o suficiente para eu ter mais privacidade.

– Não precisa se preocupar, eu posso me cuidar, Alibaba-dono, não quero trazer prob…

– Já disse que não tem desculpa. - Alibaba o interrompeu. - Não vou permitir mais que o Kouen faça com você o que quiser!

– S-sim…

Hakuryuu não tinha mais muito o que dizer. Em verdade, só conseguia pensar em Judal naquele momento. Sentia-se inquieto. Foi quando retirou o celular do bolso e viu as inúmeras chamadas que tinha ignorado. Tocou no número sem foto e esperou discar, levando o celular até a altura do rosto. O telefone chamou várias vezes, mas nada. Ninguém atendeu.

–-----xxxxx------

Seguia em alta velocidade pelas avenidas. Passou da quarta marcha para a quinta rapidamente, não se importando com os cruzamentos que passasse. Seu braço latejava do ferimento, mas isso não o impediria de dirigir.

Abriu o porta-luvas e tirou de lá o cigarro que tanto necessitava consumir. Levando-o até o acendedor do carro para levá-lo aceso até os lábios.

Tragou profundamente. Aquela sensação quase que instantânea lhe invadindo com aquela substância, preenchendo seu corpo com um alívio capaz de acalmar qualquer angústia. Droga, por que estava tão apegado àquele garoto? Irritado, acelerou mais o carro antes de tirar o celular que estava entre suas pernas, sobre o estofado do banco. Dois toques foram o suficiente.

– O que você quer? Já não basta ter ficado de mimimi por causa do Hakuryuu aquela noite? - a voz feminina atendia de forma agressiva.

– Onde você tá? - ele perguntou de forma ríspida e autoritária.

– P-por quê? - quem estava do outro lado gaguejou

– Perguntei onde você tá, Kougyoku!

– Eu… eu estou no apartamento que o En-nii me deu de noivado… O decorador estava aqui e…

– Me espera aí!

E após interrompê-la, Judal desligou o aparelho, pronto a buscar um novo cigarro. Precisava daquilo, cada vez mais. Não estando muito longe, ele acelerou. Como podia imaginar que o noivo de Kougyoku era ninguém menos que aquele amiguinho de Hakuryuu?

Cantando pneus, freou com tudo a 4x4 vermelha na frente daquele luxuoso prédio que se localizava em uma das áreas mais nobres de toda cidade.

Com o cigarro pendurado nos lábios, saiu e bateu a porta do automóvel antes de chegar à portaria.

– Boa noite! É visita para a Kougyoku-sama? - o porteiro indagou. - Ela acabou de avisar que viriam.

– Abre logo essa merda!

Judal chutou o portão externo e o homem, assustado, rapidamente o destravou. Sentia receio, afinal, naquele prédio moravam apenas milionários e não era difícil saber que a nova inquilina do condomínio vinha de uma família mafiosa.

– Apartamento 1202, 12º andar! - o porteiro ousou gritar quando o rapaz passou.

Com as mãos nos bolsos e o segundo cigarro pendurado nos lábios, Judal adentrou o elevador após caminhar pelo hall de entrada. Apertou o botão indicado e, enquanto aguardava, tomado pela fúria, esmurrou uma das paredes.

– MERDA! - exclamou.

As portas se abriram e ele se assustou quando se viu já dentro do grande salão de entrada daquele apartamento. Cada apartamento daquela luxuosa construção ocupava um andar inteiro.

Não havia muitos móveis, afinal, tudo estava sendo decorado de acordo com os gostos da noiva. O cheiro de tinta fresca era um verdadeiro deleite às narinas daquele que já estava entorpecido pela erva que consumia sem parar desde que deixara o aeroporto. Quando foi largar sua jaqueta, viu que havia uma bolsa em cima do sofá de canto que estava no meio da sala, um dos poucos objetos ali.

As poucas luzes acesas eram as embutidas no teto de gesso sobre a área do enorme bar de mogno, este já instalado adequadamente em um dos cantos do ambiente. Pendurados no teto haviam suportes de prata para taças e garrafas. A mesma prata que decorava as arandelas espalhadas pelas paredes brancas. A parede próxima ao balcão do bar era revestida de um imenso espelho que ia do piso ao teto. Sobre ele havia uma solitária taça.

Observando o luxuoso ambiente, Judal se surpreendeu quando as portas de vidro da varanda se abriram e revelaram uma chorosa Kougyoku. A ruiva usava um vestido justo de alças que ia até a altura das coxas bem torneadas.

Trazia uma outra taça em sua mão, essa com pouco menos da metade preenchida com vinho tinto.

– J-Judal-kun?

Com as pontas dos dedos ela tentou secar algumas lágrimas remanescentes, mas o inchaço e vermelhidão de seus olhos evidenciavam que havia chorado bastante.

– Kouen está gastando bem com seus caprichos, não? - ele sorriu de canto. - Por que está chorando, mimadinha? Ele não vai deixar trazer suas Barbies?

– Tsc, não estou chorando… - ela tentava disfarçar ainda secando o choro que não cessava.

– Conheci seu noivo…

– Hm? - ela arqueou uma sobrancelha.

– Um loiro sem classe alguma… Acha que ele vai dar conta de viver nesse palacete?

– Ele… ele tinha dito que vinha comemorar comigo a decoração da sala hoje...

Judal observou a moça que se sentava no sofá, a taça entre as duas mãos trêmulas enquanto a segurava entre os joelhos. Cruzou os braços tentando transparecer indiferença.

– Ele foi… a boite? - ela perguntou hesitante, um sorriso forçado em seus lábios.

– Não…

– Entendo… - Kougyoku suspirou. Eu trouxe esse vinho para brindarmos e… e… - era mais forte que ela.

– Tsc, sirva esse vinho para mim. - Judal a interrompeu antes que ela chorasse. - Eu vou comemorar com você!

Kougyoku assentiu, secando mais o rosto úmido antes de ir até o balcão.

Judal acompanhou o passo dela, seguindo-a. Mas foi apenas tê-la de costas que o moreno a empurrou, fazendo-a ficar de bruços sobre o balcão, apenas as pernas no chão.

– Ah, Judal-kun! - ela se alarmou.

– Shhh!

Ele a pressionou com suas pernas, debruçando-se por cima das costas dela. Espalmou uma das coxas da ruiva e subiu a barra daquele vestido tão justo.

– Na-... está louco?

– Preciso te comer! - ele sussurrou com determinação. - Me disse que aquele banana não te come porque acredita que você é virgem, não é? - Judal a provocava.

– Tsc… - ela desviou o olhar. - Eu estou disposta a me manter casta pelo Alibaba-chan…

O seu “Alibaba-chan” - mimicou. - não está nem aí pra você, te deixou aqui largada e está lá com… com… - seus olhos marejaram.

Kougyoku apenas fitava assustada, ainda debruçada sob o corpo masculino, os olhos escalate que transbordavam. Fraquejando, Judal estalou a língua e se levantou, libertando-a.

– Me-me perdoe… Não quero trair a confiança do Alibaba-chan… E nem você nem eu nos amamos, Judal-kun… Apenas… - ela sorriu divertida. - temos gostos parecidos. Mas parece que você ama alguém… Essa pessoa… está com o Alibaba-chan?

– Não, esquece! - ele farfalhou os fios negros repicados do alto da cabeça. - Me diz uma coisa… - Judal esfregava o nariz. - tem algo aí pra mim?

– Aqui não, eu… eu estou tentando largas as drogas, Judal-kun… - Kougyoku encarou a janela. - Eu realmente estou querendo me tornar uma pessoa melhor pelo Alibaba-chan… Ele é uma pessoa tão boa que faz com que nós queiramos também melhorar...

Aquela era a gota d’água. Lembrava-se de Sinbad falando tantas coisas terríveis sobre ele, Hakuryuu parecia ter tanta confiança sobre esse tal de Alibaba e agora Kougyoku também revelava que estava sendo seduzida pelo bom caráter dele. Se havia ido ali com o intuito de levá-la para a cama e usá-la, como costumavam fazer um com o outro, mesmo sendo tão amigos, aquela havia sido sua pior opção.

– Tsc, vou embora!

Recolheu a jaqueta que estava largada sobre o estofado e se dirigiu à porta.

– Oe, Judal-kun!

A ruiva correu até seu amigo, segurando-o pelo braço assim que ele havia solicitado o elevador.

– Não se preocupe! Alibaba-chaaaaan - ele cantarolou em deboche. - está com seu primo! Se quer tanto fazer o bem, convença o mafioso do seu irmão a deixá-lo em paz! Hakuryuu quase morreu hoje e por culpa dele e da riqueza que ostentam aqui! Tudo o que pertence ao Hakuryuu!

– J-Judal-kun!!!

Kougyoku estava atônita com as palavras tão duras e diretas de um corajoso Judal que, assim que viu as portas se abrirem para cada lateral, adentrou o elevador, rapidamente apertando o botão do térreo.

– O que está dizendo? - Kougyoku apoiou as duas mãos em cada lateral, impedindo que a porta se abrisse. - Judal-kun! Você sempre…

– Eu cansei disso! Diga para o Kouen que, se ele quiser matar o Hakuryuu, vai ter que me matar primeiro!!!

E empurrando a moça, Judal permitiu que a porta do elevador se fechasse e se livrasse de Kougyoku. Ele não sabia que se arrependeria para sempre daquelas palavras...


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Notas finais do capítulo

Pobre Judal, está se sentindo de escanteio. Mas o que será que aconteceu para ele se sentir tão triste e rejeitando assim e estando tão confuso com a nova paixão que está descobrindo? Lembrem-se que críticas, sugestões e comentários são sempre bem-vindos! ^^



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