Escape escrita por Miaka


Capítulo 27
Finding myself... with you.


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, desculpa pela demora em atualizar! ♥ Tanto Escape quanto Remember Me sofreram um loooongo delay, mas pra compensar, vai ter capítulo ENORME! E a prometida... prometidíssima o quê? A NOITE JUHAKU!!!! ♥ Espero que gostem e planejei um bom schedule para os próximos capítulos! Acho que vamos andar em passos mais largos agora! Obrigada por não desistirem de mim!



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Apesar de deixar transparecer a tensão, Hakuryuu permanecia bastante determinado. Em contrapartida, Judal, bastante surpreso, não sabia como agir. Afinal, desde que havia conhecido Hakuryuu e, eventualmente, apaixonou-se por ele, tentava a todo custo não parecer estar… forçando a barra para que fossem para cama. Por mais que Hakuryuu o atraísse tanto e o fizesse desejá-lo de uma forma selvagem, mas completamente diferente de como desejou qualquer mulher com quem tivesse se deitado antes.

O que sentia por Hakuryuu ia muito além do carnal. Era único.

— Ha… Hakuryuu…

— Não se faça de bobo, Judal! Somos dois adultos!

Quando Hakuryuu o interrompeu, Judal se viu contra a parede, apesar de ainda estarem ali: ele deitado na cama preso com a cintura travada entre os joelhos de Hakuryuu, que estava montado sobre seu corpo.

Era como se aquele rapaz, tão dócil e frágil que conhecera, repentinamente tivesse tomado as rédeas da situação. Ele não parecia disposto a deixar as coisas no zero a zero.

E até mesmo o próprio Hakuryuu, certamente, não se reconheceria. Estava se deixando levar puramente por seus instintos. Afinal, o que teria a perder se entregando a Judal? No fundo desejava intensamente aquilo. Em 20 anos de vida guardando sua virgindade ele jamais encontrou alguém que o estimasse tanto, que o fizesse se sentir tão amado, tão querido. Então, por que não?

— Eu não quero que se sinta obrigado a isso, Haku...

Não houve tempo para completar. Hakuryuu o puxou pela camisa, fazendo com que a cabeça de Judal fosse suspensa. Ele se inclinou para frente e abocanhou aqueles lábios em um beijo que mais parecia um duelo. Hakuryuu parecia tão faminto que Judal ficava sem ação.

Encarando os olhos vermelhos arregalados e assustados, Hakuryuu o soltou e Judal caiu de volta à cama. Um filete de saliva escorria pela lateral de sua boca.

— E quem disse que estou fazendo algo obrigado?! É difícil para você entender que… eu quero ser seu?

— Hakuryuu...

Talvez não fosse a intenção de Judal, mas ao ver Hakuryuu tão constrangido ao dizer aquilo, evitando o contato com seu olhar, ele sentiu pena do mais jovem. Hakuryuu parecia estar sufocando num turbilhão de emoções. Judal temia que, posteriormente, Hakuryuu se arrependesse daquilo. E se fazer amor os afastasse?

Judal levou uma mão até o rosto alvo. Hakuryuu não voltou a encará-lo.

— Eu estou com medo, Hakuryuu.

A voz de Judal saiu num sussurro quase inaudível. Mas Hakuryuu compreendeu bem e, finalmente, o par de azuis encontrou os avermelhados. O sorriso na expressão de Judal transmitia certa melancolia.

O que Judal temia? Hakuryuu estava confuso.

— Do que está falando? - ele perguntou no mesmo tom.

— Se eu fizer amor com você, Hakuryuu, eu sinto que… que jamais vou poder me afastar de você. Na verdade eu já sinto isso! Mas se formos além, eu…

— Eu nunca vou querer me afastar de você, Judal! - Hakuryuu afirmou com convicção. - Se fazer amor comigo significa que não vai me deixar, então, mais do que nunca eu imploro para… que faça isso.

— Hakuryuu…

Uma solitária lágrima escorreu pelo rosto de Hakuryuu e Judal, sutilmente, a colheu com o polegar enquanto afagava a pele tão macia.

Como Hakuryuu era doce, único e… perfeito. - ele contemplava a beleza única dos traços finos, a pinta que contrastava tanto com a alvura quanto à vermelhidão daquela cicatriz que atravessava o nariz arrebitado.

A mão de Judal deslizou pelo queixo e dois dedos esfregaram os lábios para cima e para baixo. Ele só não esperava que Hakuryuu os abocanhasse, sugando-os de forma bastante sedutora. Ele estava implorando para ser possuído e Judal sabia que havia passado da hora de assumir seu verdadeiro papel.

Com a mão livre ele agarrou a camisa de Hakuryuu e em um movimento bastante brusco, porém nada difícil por ser bem mais forte do que o mais jovem, o arremessou na cama, levantando-se em seguida.

Foi o momento em que um sorriso bobo, porém temeroso, surgiu nos lábios de Hakuryuu. Será que estava realmente pronto? - ele se perguntava ao ver Judal levantar os braços para arrancar a camisa e expor aquele peitoral.

Hakuryuu corou ao perceber que, instintivamente, havia molhado os lábios como se estivesse de frente para uma suculenta refeição. - e não estava?

Ele se apoiou nos cotovelos para chegar mais perto e tocar, com as pontas dos dedos, aquela região tão bem talhada. Hakuryuu parecia impressionado, além de envergonhado em estar fazendo aquilo. Não era à toa que Judal estudava educação física. Dava para ver que ele era muito preocupado com sua saúde e aparência.

Subitamente Judal agarrou sua mão e espalmou com ela seu próprio abdômen.

— É seu. - ele disse. - Quero que me sinta sem ter pudor algum.

De início Hakuryuu parecia um tomate maduro. O rosto ficara tão vermelho quanto os orbes de Judal, mas logo ele pareceu mais confiante até mesmo para depositar alguns beijos naquela região, seguindo a curva da cintura e que, droga, era interrompida pelo começo da calça jeans.

Mas Judal não queria deixar as coisas esfriarem. Ele logo empurrou Hakuryuu de volta à cama, montando sobre ele para começar a desabotoar a camisa que ele vestia. Devido à ferocidade tanto dos beijos quanto de suas mãos na urgência de despi-lo, alguns botões acabaram arrebentando. Mas aquilo não importava. A mão grossa de Judal apalpando seu peito só fazia com que o desejasse mais e mais. Os beijos iam deixando os lábios para descerem pela curva de seu pescoço. Judal não contou quantas vezes mordeu aquela pele tão suave. A língua quente ia açoitando o espaço que ele deixava entre seus dentes e fazendo Hakuryuu se arrepiar dos pés a cabeça.

— Ah…!!!

Hakuryuu não conseguiu se conter mais e um gemido escapou por entre seus lábios. Música para os ouvidos de Judal, que já sentia o jeans apertar sua intimidade. A região que já era alvo dos azuis desiguais.

Assim que Judal cessou aqueles beijos e parou para encarar a beleza daquele corpo, Hakuryuu sentiu o constrangimento tomar o lugar que outrora pertencia apenas ao prazer e ao desejo. Será que Judal sentiria nojo de suas cicatrizes? Era compreensível, por mais que já tivesse as visto. Em um momento assim…

— Você é lindo, Hakuryuu…

Judal declarou, bastante deslumbrado, mesmo que estivesse tão ofegante e sedento por possuí-lo. E aquilo foi tão natural que Hakuryuu não pôde se conter. Lacrimejou um pouco, mas se segurou ao máximo antes de voltar a se erguer, sentando-se na beira daquela cama para, sem pedir permissão, soltar o cinto e abaixar tanto a calça quanto a cueca boxer que já lhe era visível. O enorme membro já tão rígido quase deu um tapa no rosto de Hakuryuu.

Ele ergueu o rosto para encarar Judal que se perguntava se ele realmente tomaria aquela iniciativa. Hakuryuu seria capaz? Mas foi durante seu piscar de olhos que ele começou a deslizar a língua por aquela ponta onde já pôde degustar do adocicado líquido que Judal vertia.

Judal gemeu e sentiu um arrepio cruzar sua espinha. As lambidas rápidas logo foram substituidas por uma intensa sucção quando o mais jovem, finalmente, pôs aquilo tudo em sua boca.

— Ha… Hakuryuu!

Ele tentou olhar para baixo, mas tudo que viu foi a cabeça de Hakuryuu, freneticamente, para frente e para trás enquanto aquela boca macia deslizava por sua pele, ensopava-a de saliva dando leves mordidas em todo seu percurso, da ponta até a base.

— Hakuryuu!!!

Um novo chamado, bastante urgente, era quase um apelo. Não queria chegar ao climax ali. Não agora. Não! Queria mais de Hakuryuu. Temia ser como acontecia com suas parceiras e não conseguia chegar lá mais de uma vez.

E vendo que o mais jovem não hesitava nem por um segundo, quase em transe ao degustá-lo, Judal não teve outra escolha a não ser puxar os fios azulados. Hakuryuu ainda não demonstrava nenhum sinal de desistência.

— Na-Não, Hakuryuu! - ele sentia as pernas bambearem. - Eu… Ahh!!!

Ele só pôde se segurar nos cabelos de Hakuryuu enquanto despejava tudo na boca de seu amado. Hakuryuu não hesitou em momento algum, degustando de todo aquele néctar maravilhoso.

Droga! Não queria que aquilo tivesse acontecido! Não agora! - Jamais outra mulher tinha o feito gozar apenas com sexo oral. Hakuryuu realmente era virgem? - ele se perguntava enquanto via o mais jovem se afastar e limpar o líquido branco que escorria pelos lábios. Aquela cena, talvez, tenha sido o suficiente para manter o membro de Judal bem rígido e pronto para finalizar aquele serviço. Hakuryuu, definitivamente, o enlouquecia.

— Vem cá!

Foi a vez de Judal arrancar a calça larga que Hakuryuu usava e aquela boxer branca que ele vestia. Uma mancha mais escura e úmida condenava o quão excitado o mais jovem estava.

Hakuryuu instintivamente tentou se cobrir com um dos lençois, mas Judal foi mais rápido. Inclinando-se para frente e puxando Hakuryuu para que ele se sentasse, Judal ergueu as duas pernas do mais jovem para que elas abraçassem sua cintura e, sem hesitar, Hakuryuu as travou ali. A surpresa e a vertigem assustaram o rapaz quando Judal o suspendeu, girando-o pelo quarto para, então, deitá-lo sobre aquele tapete, diante da lareira. Agora o mais velho, novamente, estava sobre ele.

Era como se o tempo parasse, por poucos segundos que pareceram uma eternidade, quando azuis e vermelhos se encararam. Estavam ali, entregando-se um ao outro e rumo a um caminho que ambos sabiam: não tinha volta. As mãos de Hakuryuu, pousadas em seus lados, na altura de sua cabeça, sobre o tapete, eram cobertas pelas de Judal.

Hakuryuu sorriu como se quisesse demonstrar estar pronto. Um sorriso que exprimia gratidão… e amor. Não paixão. Não desejo. Não luxúria.

— Eu te amo, Hakuryuu! - Judal sussurrou antes de deixar um beijo doce nos lábios do mais jovem.  

— Eu também, Judal.

Entrelaçando seus dedos nos de Judal, Hakuryuu foi agraciado por mais um beijo. Dessa vez menos doce e mais picante. Intenso seria a melhor forma de definí-lo.

O quadril de Judal batia na sua cintura e ele sentia tanto seu membro se atritar contra o corpo do moreno quanto aquele membro enorme de Judal se atritar em sua virilha. As mãos de Judal, tão ágeis, iam perscrutando seu corpo em busca de cada mínimo detalhe.

Rolaram inúmeras vezes, entre beijos e suspiros, por aquele carpete.

Foi quando Judal sentiu que o inevitável voltaria a acontecer em breve, então cessou aquelas carícias para, sem cerimônias, girar o corpo de Hakuryuu, que ficou de bruços.

Os olhos azuis cresceram. Ele sabia o que estava por vir. Mas foi então que sentiu o corpo quente de Judal envolver o seu, colocando-se por cima e puxando-o pela cintura para que Hakuryuu ficasse de joelhos.

— Prometo que vou fazer de tudo para que não sinta muita dor. - ele sussurrou. - Você quer… algo para que seja mais agradável?

— Anh?! - Hakuryuu piscou.

Foi a vez de Judal corar. Como diria que havia comprado vaselina na farmácia onde pararam? Ficaria mais que óbvio que o levou até ali com o intuito de fazerem sexo.

— Na-nada! Esquece! Mas… prometo que vou ser delicado com você, okay?

Aquelas palavras transmitiram confiança a Hakuryuu, que assentiu, mesmo que ainda receoso ao sentir o membro de Judal deslizar por entre suas nádegas.

Judal, por sua vez, se esforçava para que aquilo fosse o menos desconfortável o possível para Hakuryuu. Para ele havia apenas o prazer quando, lentamente, foi adentrando o mais jovem.

— Ah!

O corpo de Hakuryuu enrijeceu ao sentir aquela entrada em uma região tão incomum. Mas ele precisava ser forte. Por Judal. Por ele.

Aquilo pareceu menos difícil ao sentir os beijos suaves que Judal ia desferindo em sua nuca. Ele nem ao menos percebeu quando aquela dança, lenta e ritmada, começou e aos poucos ia pedindo mais e mais passagem.

As unhas cravaram o chão antes de se fecharem. Judal as deixou para masturbá-lo lentamente e agora os gemidos de Hakuryuu não exprimiam apenas dor, mas também prazer.

Ao senti-lo pronto, Judal intensificou aquele ritmo. Já era fácil entrar e sair de Hakuryuu ao perceber que ele também estava desfrutando daquele momento. Os beijos cessaram para que Judal mordesse uma das mechas azuladas e a puxasse, de forma selvagem, como se fosse as rédeas daquele que montava.

Os gemidos e arfadas se misturavam ao crepitar da lenha na fogueira.

— Ju… Judal! - Hakuryuu praticamente se debatia ao ser tomado por aquela sensação.

Sem responder, Judal apenas prosseguiu aqueles movimentos, cada vez mais fundo, cada vez mais intenso. Foi quando ele não pôde se conter mais, coincidentemente no momento em que sentiu a mão que, até então estimulava Hakuryuu, ser completamente lambusada.

— AAAH!!!

Os dois gemeram em uníssono e Hakuryuu se sentiu preenchido por aquele líquido quente que, outrora, havia degustado com tanto afinco.

Único, intenso, delicioso! Era como se aquele momento fizesse o tempo parar até que o cansaço, mais forte que ambos, acabou por derrubá-los naquele tapete. Judal ao lado de um ofegante Hakuryuu que parecia tentar recuperar o fôlego. Ele abriu os olhos para encarar o mais velho.

— Você foi incrível, Hakuryuu! - Judal tinha um sorriso aberto.

— Obrigada, Judal…

— Você gostou? - ele acariciou o rosto suado de Hakuryuu.

— Muito! - Hakuryuu assentiu.

— Que tal um banho de banheira para dormirmos bem quentinhos?

Se dependesse de Hakuryuu, decerto eles não dormiriam após aquele banho…

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Alibaba foi quase arremessado para fora daquela Kombi, de lataria enferrujada, que parou de frente para a comunidade. Tinha vindo todo o percurso em pé, espremido por três pessoas que estavam também de pé, como ele, em uma viagem dentro de um veículo onde deveria caber apenas seis pessoas - bem diferente das 15 que o acompanharam.

Bastante dolorido ele cambaleou agradecendo a Deus por ter conseguido pegar aquela Kombi. Com o pouco dinheiro que tinha, ele era grato. Felizmente o motorista aceitou apenas metade do pagamento. Se tentasse pegar um ônibus, certamente, não o deixariam entrar. Mas é claro, ele contava com o salário que deveria ter recebido naquele dia. Ele não esperava ser enxotado como foi da casa dos Jehoahaz Abraham.

Tirando o celular do bolso da calça ele viu a hora pelo visor que estava rachado de ponta-a-ponta. Passava das duas da manhã. E pensar que havia dito a Morgiana que chegaria em casa para jantar. Devia fazer pouco barulho ao chegar, afinal, com certeza ela já estava na cama.

As poucas luzes que acendiam nos corredores daquele prédio, caindo aos pedaços, falhavam. Em conjunto com as paredes e portas pichadas, tudo se assemelhava bastante ao filme de terror que havia assistido com Aladdin e seu avô naquela noite. Nem tudo tinha sido ruim, afinal.

Tentando fazer pouco barulho o loiro tirou a chave do bolso e a girou, lentamente, na fechadura. Assim que abriu a porta ele se surpreendeu com o som da TV ligada. Era de onde também vinha a única iluminação da sala completamente escura.

Na mesa de jantar que dividia a cozinha do ambiente principal estava Morgiana. A cabeça apoiada sobre os braços que ela usava como travesseiro. Os fios ruivos desalinhados cobriam parcialmente o rosto adormecido. As costas estavam inclinadas para frente na tentativa de buscar algum conforto a mais.

A sua frente e no lugar ao lado estavam dois pratos cuja frieza da comida chegava a ser palpável.

Então ela havia lhe esperado até aquela hora para que jantassem juntos? - Alibaba se perguntou ao sentir o cruel peso da culpa sobre seus ombros.

Balançando a cabeça negativamente ele, ao se aproximar, sutilmente sacudiu o braço da moça.

— Oe, Morgiana!

Nada. Ela nem ao menos se mexeu.

Alibaba não a deixaria dormir ali durante toda a noite. Deixá-la ali até aquela hora já havia sido terrivel demais. Então, vendo-se sem saída, ele se esforçou para afastar aquela cadeira e pegá-la em seu colo. Será que a aguentaria? - ele se perguntou vendo o imenso esforço que tinha de fazer para carregá-la sem conseguir movê-la do lugar.

Foi quando o remexer foi o suficiente para fazer com que a jovem despertasse, abrindo os olhos lentamente e se surpreendendo ao ver que estava tão próxima do loiro. Seu rosto, então, assumiu a cor tão rubra e vívida de seus cabelos.

— A-Alibaba-san? - ela gaguejou, bastante envergonhada, enquanto esfregava os olhos. - O que aconteceu?

— Você dormiu na sala. - ele sorriu. - Eu estava te levando para o quarto.

— Que… Que horas são?

Bastante desorientada ela procurou o relógio que ficava próximo à geladeira velha. Alibaba contorceu o lábio e, cabisbaixo, decidiu ser sincero.

— Me perdoe, Morgiana. Não pude chegar para jantar com você. Tive alguns problemas no trabalho.

— Eu entendo, Alibaba-san. Não se preocupe.

Para a surpresa de Alibaba, Morgiana abriu um terno sorriso. Ela não ficaria chateada? Lembrava-se de como Kougyoku se irritava quando marcavam algum compromisso e ele se atrasava.

— Você está muito atarefado trabalhando! - ela dizia de forma compreensiva enquanto recolhia os pratos da mesa. - É normal que acabe se atrasando! Vou guardar essa comida para que você leve na marmita amanhã. Quer que eu prepare um banho para você?

— Morgiana...

Alibaba não sabia o que dizer. Estava realmente sem graça em ver como Morgiana era compreensiva e se preocupava com ele. Talvez… Talvez realmente devesse investir em algo a mais com ela. Mas, definitivamente, não queria que ela se sentisse uma empregada dele como ela costumava ser de seus clientes. Como costumava ser… de Jamil, seu cafetão.

— Por que você não vai descansar? Deixa que eu arrumo tudo aqui!

— Mas eu não estou cansada, Alibaba-san. Fiquei o dia todo em casa, só sai para aquela entrevista no supermercado.

— Ah, é! - ele sorriu de forma animada. - Me diga, como foi? Contrataram você?

Subitamente o brilho desapareceu dos olhos de Morgiana e ela, parecendo constrangida, suspirou.

— Eu não consegui. - ela quase murmurou.

— Ah… Eu sinto muito! Mas não fique tris…

— O entrevistador… Já foi no prostíbulo que trabalhei.

— O quê? - ele arregalou os olhos dourados. - Como assim?!

— Quando entrei para a entrevista, ele me reconheceu. Já foi cliente meu. Ele disse que… jamais contrataria uma…. uma puta como eu.

— Ele falou assim com você?! - Alibaba cerrou os punhos, indignado com aquele relato.

— Na-Não se preocupe, Alibaba-san. - Morgiana não queria que seu salvador entrasse em problemas por causa dela. - É minha realidade e eu compreendo que ninguém queira contratar uma pessoa que já trabalhou com… com o que eu trabalhava. - ela evitava falar diretamente.

— Morgiana, esse homem não pode te humilhar assim! Vamos amanhã mesmo lá e…

— Não! - ela elevou o tom de voz, assustando o loiro. - Por favor! Eu… Eu vou procurar outro emprego! Não quero te dar problemas, Alibaba-san!

— Não posso permitir que seja humilhada assim!

— Pare, Alibaba-san! - encarando-o, Morgiana foi firme. - Não é como se eu fosse sua noiva, a Kougyoku-san! Eu sou muito grata por tudo o que está fazendo por mim, mas… mas eu não quero atrapalhar… Não somos casados, nem é meu parente…

— É minha amiga, Morgiana!

— Eu vou dormir, Alibaba-san. Com licença.

Foi a maneira sutil e rápida que ela encontrou de cortar aquele assunto.

Curvando-se rapidamente ela se retirou. Naquela noite ela não dormiria junto de seu benfeitor em sua cama. E Alibaba acabava de arranjar… mais um problema dentre tantos que já estava enfrentando.

 

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Sutilmente, por entre as pequenas frestas das cortinas, adentravam os primeiros raios de sol daquela manhã. E, mesmo de uma forma gentil, eles foram capazes de fazer os olhos vermelhos se abrirem lentamente.

Judal suspirou percebendo que o pouco de lenha, que ainda havia na lareira, ainda queimava, deixando aquele ambiente quente e gostoso. Mas… melhor do que acordar naquela pousada maravilhosa, certamente era constatar o que tinha aninhado em seus braços: Hakuryuu.

Com um sorriso bem bobo, descrente ao se lembrar da noite passada, Judal afagou os fios azulados. Seu amado permanecia a dormir profundamente. E, também pudera, devia estar exausto depois de se entregar completamente a Judal... mais de uma vez.

Como se o tempo tivesse parado, Judal ficou a observar o rosto adormecido.

Ele reparava em cada detalhe do contorno daquele rosto. Aquelas marcas que iam talhando a alvura. E por mais que o coração de Judal se apertasse ao ver e imaginar como aquelas chamas tinham tentado tragar a vida de seu amado, ele se sentia orgulhoso ao delineá-las com as pontas de seus dedos. Eram marcas da vitória de Hakuryuu. E pensar que ele se envergonhava tanto de tê-las!

Era como se apreciasse uma escultura, uma obra de arte. Mas aquele momento tão sublime foi interrompido pelo vibrar de seu celular.

— Droga!

Judal se esgueirou pela cama, tendo de soltar Hakuryuu no processo, mas esse prosseguiu dormindo. Foi então que, de bruços, chegou à cabeceira e se preocupou ao ver a foto de Sinbad, que aparecia na tela de seu aparelho.

Deslizando o indicador para atendê-lo, Judal levou o celular até a altura do rosto.

— Sinbad?!

— Tudo bem?! Te liguei mais cedo! - havia um tom de preocupação na voz do delegado.

— Eu… Eu não devo ter escutado. - ele bocejou. - Está tudo bem?

Um pesado suspiro antecedeu a resposta de Sinbad. Judal se preocupou.

— Não muito… - a consternação era evidente. - Ja’far começou a ter várias reações com os remédios que está tomando. Passamos a noite em claro.

— Tsc, que droga! Não é melhor levá-lo de volta ao hospital!?

— Os médicos disseram que aconteceria. Ele está tomando um cocktail muito pesado para… - diminuindo o tom de voz, Sinbad continuou. - evitar que contraia alguma doença daqueles homens.

— Eu sei. Isso é uma merda! Espero que dê tudo certo!

— Obrigado! Mas… me diz, você está livre hoje, Judal? Eu preciso ir a delegacia e… não quero deixar o Ja’far sozinho. Ele está vomitando muito e bastante debilitado.

— Eu até gostaria, Sinbad, mas… eu estou em Yamagata.

— Quê?!

— É… - por mais que Sinbad não pudesse vê-lo, Judal corou. - Você sabe…

— Recanto das Montanhas?!

A pergunta soava bem óbvia. Judal não respondeu de imediato, mas a gargalhada de Sinbad foi o suficiente para irritá-lo.

— O que foi?!

— Meu Deus! Hahaha! Meus parabéns, viu?!

— Do que está rindo?! - Judal perdia a paciência.

— “Sinbad! Está louco? Vai se envolver com um homem?!” - Sinbad o imitava.

— Pa-Pára com isso! - se o delegado pudesse ver Judal, pensaria estar diante de um tomate ambulante.

— Me alegra muito que tenha encontrado essa felicidade!

O silêncio que sucedeu as palavras de Sinbad remetia o quanto Judal se constrangia ao receber afeto daquele que, por mais que insistisse em tentar se desfazer, sempre estava ao seu lado. Sinbad sempre esteve ao seu lado em bons e maus momentos e como desejava que ele também fosse feliz. E mesmo que tivesse demorado tanto a aceitar Ja’far em sua vida, era muito agradecido pelo inspetor e psiquiatra tê-lo ajudado a reencontrar a alegria de viver.

— Cu-Cuide do Ja’far! Tire alguns dias para ficar com ele. Ele precisa de você, Sinbad! Não foi nada fácil o que ele passou!

— Não posso, Judal! Eu… - ele agora sussurrava. - Eu preciso ir atrás do Barbarossa!

— Você enlouqueceu?! O que está pretend…

— Judal! Já chega! Foram quatro anos tentando tirar essa mágoa do meu coração, pensando que eu devia aceitar, mas não… Eu… Eu preciso honrar a dignidade do Ja’far… e da Serendine também!

— O Ja’far precisa de você ao lado dele e não de ir ao seu enterro! Você já superou a perda da Serendine e graças a ele!

— Eu vou matar o Barbarossa! - um obstinado Sinbad declarou.

— Você está…

— JA’FAR!

Judal foi subitamente interrompido pelo exclamar do delegado. Ao fundo ele podia ouvir fortes tossidos.

— Eu tenho que desligar! O Ja’far está precisando de mim!

— Ok. Me mande notícias!

— Até logo!

Suspirando, um tanto quanto preocupado, Judal, que estava sentado na lateral daquela enorme cama devolveu o celular à mesinha de cabeceira. Estava preocupado. O que Sinbad pretendia fazer? Não admitiria que se colocasse em risco. Não depois de Serendine ter perdido sua vida. Sabia que tudo o que ela mais queria era ver seu marido feliz.

Mas a preocupação não durou muito. Deu lugar a surpresa quando Judal sentiu dois braços, bem quentes, deslizando por sua cintura. O peitoral de Hakuryuu se apoiou em suas costas e ele pôde sentir aquela pele macia em contato com a sua. Sorrindo ele só pôde se arrepiar com aquele toque tão íntimo.

Virando a cabeça para trás, Judal encontrou aquele belo par de azuis desiguais. E mais belo que eles era aquele sorriso que transmitia tanta paz.

— Hakuryuu…

— Bom dia!

O maior se virou, segurando ainda uma daquelas mãos, antes de segurar o queixo de seu amado e depositar em seus lábios um doce e longo beijo.

Era surreal pensar que haviam passado aquela noite maravilhosa juntos. E agora estavam ali, um ao lado do outro, a trocar carícias.

— Acordou há muito tempo? - Hakuryuu indagou quando suas bocas se separaram. Ele deixou os pulsos caídos desleixadamente sobre os ombros de Judal.

— Um pouco. - ele sorriu.

— Desculpa, eu não costumo dormir até tão…

— Eu entendo. - Judal ria. - Você deve ter ficado bastante cansado!

As bochechas de Hakuryuu tomaram um tom rosado, mas nada que fosse igualado à vermelhidão que ele exibia durante a noite que passaram juntos. Era como… se tivesse mais confiança em si mesmo. Ele até mesmo estava deixando suas cicatrizes amostra sem temer que Judal pudesse sentir… nojo ou aversão daquelas marcas tão severas.

— Foi bom?

A pergunta de Hakuryuu surpreendeu bastante Judal. Agora era ele que estava sem graça ao se ver confrontando pelo compenetrante azul.

— Fui… Fui bem? - ele tentou corrigir a frase.

Só então, ao ver aquele jeitinho doce de Hakuryuu, que Judal se sentiu mais seguro. Voltou a sorrir e o abraçou com ternura.

— Foi ótimo! Você foi incrível, Hakuryuu!

Judal não pôde ver o sorriso de satisfação e, até mesmo, orgulho que Hakuryuu teve de si mesmo. Ele subiu as mãos e envolveu o corpo do maior ao corresponder aquele abraço.

— E então? Quer passear pela cidade? Só preciso voltar à capital amanhã.

Hakuryuu assentiu, bastante animado. Afinal, havia perdido mesmo sua bolsa de estudos e não tinha nada melhor a fazer. Ao lado de Judal se sentia seguro e… amado. Ele, realmente, não precisava de mais nada além daquilo.

— Vou tomar uma ducha e vamos. Tudo bem?

— Po… Posso ir junto com você? - um tanto quanto hesitante, Hakuryuu perguntou com o sorriso ainda bem presente em sua expressão. Judal se surpreendia cada vez mais.

— Mas é claro!

— Eu já estou indo! - ele pôs as pernas para fora da cama. - Só vou ver as notificações do meu celular!

Preocupado com Alibaba, Hakuryuu não teve de se esforçar muito ao ver 10 mensagens não lidas dele que, juntas, significavam uma coisa só: problemas.

Acabou. O pai do Aladdin me demitiu. Eu to fodido, mano.

O avô do Aladdin é louco. Largou a gente num McDonalds 24 hrs. Me deu as chaves do carro.

Chegando na casa do Aladdin, dirigi aquela m de carro automático morrendo de medo, o Solomon-san surtou!

Acharam que o Aladdin tinha sido sequestrado.

Ele tava com o avô! O mordomo sabia disso! Pq ele não disse nd?

Eu fui expulso da casa que nem um cachorro, cara…

Perdi o emprego. Não quero que me dê dinheiro, sei que você sempre faz isso e inventa que não sabe o que aconteceu.

Sei que você conhece vários empresários por causa da sua família, Hakuryuu. Me ajuda a arranjar um emprego, pmdds!

Qqr coisa, mano. Pode ser faxina, limpar quintal. Ainda to com a Morgiana lá em casa. Se eu continuar assim, vou ter que casar com a Kougyoku pra ontem…

Desculpa encher teu saco. Manda notícias.

Hakuryuu estava boquiaberto ao ler as mensagens de seu amigo. Ele ainda se impressionava com a habilidade que seu amigo tinha para entrar em confusões, mas perder o emprego daquela forma? Solomon o pagava bem o suficiente para que ele se sustentasse e pagasse o aluguel. Queria tanto ajudá-lo, mesmo financeiramente, afinal, mesmo com seus bens sob controle de sua família, ele recebia parte dos lucros. Ajudar seu melhor amigo não teria mal algum, mas Alibaba insistia em não aceitar. Diferente de seus irmãos, ele era extremamente digno.

— O que aconteceu?

Judal estava apenas com metade da cabeça para fora da porta do banheiro, o esperando.

— Ah… O Alibaba-dono teve problemas. Ele precisa de um emprego.

— De novo Alibaba? - Judal, enciumado, revirou os olhos.

— Já disse que não precisa ter ciúmes. - o moreno se levantou, enrolando-se em um lençol. - Para quem posso ligar para pedir um emprego para ele…?

— Hm? - o moreno piscou. - Hakuryuu, pede para ele ligar pro Sinbad agora.

— O quê?!

— Ele está precisando de alguém pra cuidar do Ja’far. - Judal explicou, cruzando os braços.

— O que aconteceu com o Ja’far-dono?! - preocupado, ele indagou.

— Ele está muito fraco por causa dos remédios que está tomando por causa do estupro. Sinbad não pode deixá-lo sozinho em casa.

— Não seria melhor contratar um enfermeiro?

— Sinbad prefere alguém de confiança. Sabe como é! Ele é policial e desconfia de qualquer um que põe dentro de casa.

— Entendo… Bem, vou falar com o Alibaba-dono então!

— E pode ter certeza de que o Sinbad vai pagar bem mais que o que ele ganhava pra ser professorzinho daquele moleque!

 

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A chaleira apitava, avisando que a água já estava fervendo, quando o telefone tocou.

Sinbad se apressou para correr até a sala, retirar o telefone da base e atendê-lo, apoiando-o entre seu rosto e o ombro ao mesmo tempo em que ia até a cozinha, apagava o fogo e enluvava uma mão para segurar o cabo quente da chaleira.

— Alô?!

— Delegado, por que não nos contou o que aconteceu?! – era a voz de Sharrkan.

— O que aconteceu?! - ele indagou enquanto despejava aquela água fervente em uma xícara.

— Sobre… Sobre a substituição. – o sussurro do tenente condenava que ele estava falando escondido.

— Anh? Não sei do que está falando!

— Preciso desligar! Depois nos falamos!

 

Sinbad nada entendeu mas, bastante apreensivo, ficou pensativo sobre aquelas palavras de Sharrkan. O que estava acontecendo na delegacia? Precisava ir até lá, nem que fosse por poucas horas. A mensagem de Judal havia lhe trazido esperanças, mas… será que ele aceitaria?

A campainha tocou e, totalmente em pânico devido aos últimos acontecimentos, Sinbad largou tudo o que estava fazendo e retirou a arma de dentro da calça social. Ele já estava vestido para ir trabalhar caso Alibaba viesse e, apesar de presumir que pudesse ser o rapaz na sua porta, o temor de ser uma armadilha de Barbarossa era grande demais.

Com a pistola em mãos ele caminhou até atravessou a sala até ver, pelo olho mágico, que se tratava do loiro. Bem mais tranquilo ele guardou a arma e abriu a porta.

— Alibaba-kun! Que bom que veio!

— Sinbad-san! Como está? - o loiro sorriu, nitidamente envergonhado.

— Entre! Não repare que a casa está um pouco bagunçada!

— Não se preocupe, Sinbad-san. Sei que não estão em um bom momento.

Alibaba entrou e Sinbad, rapidamente, trancou a porta. Era mais que perceptivel o quão assustado ele estava.

— A-Alguns homens me revistaram ao sair do elevador…

— Me desculpe, Alibaba-san. Mesmo avisando que você vinha, eles… seguiram ordens minhas.

— São da polícia? - Alibaba piscou.

— Não… - Sinbad suspirou. - É uma segurança particular que contratei para vigiar o apartamento dia e noite.

— Sinbad-san…

Alibaba mordeu o lábio inferior, apiedado com toda aquela apreensão. Era evidente como o delegado estava abatido, sem descansar. Imaginava o quão impotente ele se sentia por seu companheiro ter passado aquilo tudo, causado por alguém que o odiava, que já havia assassinado sua esposa. Decerto Sinbad estava tão neurótico porque temia perder, mais uma vez, quem amava.

— Se-Sente-se, por favor. Sei que devo estar parecendo um louco… - ele farfalhou os fios roxos. - Eu agradeço muito por ter vindo aqui e… eu entendo se não quiser aceitar o trabalho também e…

— Sinbad-san! - Alibaba o interrompeu. Ao sentar-se, encarou o delegado. - Acalme-se, por favor! Eu vim aqui ajudá-lo!

O moreno assentiu antes de se sentar na poltrona em frente ao sofá onde Alibaba estava.

— Me desculpe, eu… eu estou muito nervoso e… além da segurança do Ja’far, eu também estou preocupado com a saúde dele! Por isso estou precisando de alguém de total confiança para que cuide dele! A minha sogra, a Rurumu-san, ela superprotege o Ja’far e vai querer tirá-lo daqui para cuidar dele. Eu não posso ficar sem o Ja’far! - ele explicou. - Mas também preciso ir trabalhar. Meu chefe não aceita minha relação com o Ja’far por… sermos dois homens, apesar de sermos legalmente casados. Ele é preconceituoso e quer fazer de tudo para me tirar do meu cargo!

— Você tem direito a ficar em casa, Sinbad-san! O Ja’far-san é seu marido e precisa de você! Devia denunciar esse homem!

— Não adianta, Alibaba-kun. - ele cruzou os braços. - Infelizmente o superintendente Yamato é um homem muito influente e, certamente, eu perderia qualquer causa na justiça para ele. - o delegado suspirou. - Por causa da medicação, boa parte do tempo, Ja’f…

— Sin!

A voz enfraquecida chamou ao longe. Sinbad rapidamente se levantou.

— Eu… Eu tenho que levar um chá para o Ja’far. Venha comigo, por favor.

Alibaba acompanhou o trajeto do delegado que, terminando de fazer o chá que ele já tinha começado, o levou com algumas torradas em uma bandeja. Seguiram pelo longo corredor do amplo apartamento até a suíte do casal.

— Estou entrando com o Alibaba-kun, amor! - o moreno anunciou.

— Ah, o Alibaba-kun?

Sinbad abriu a porta e o loiro e ele conseguiram ver o quão envergonhado o inspetor, que estava na cama, parecia estar. Bastante debilitado, com enormes olheiras que maculavam a alvura de sua pele, ele corou.

— Ja’far-san, bom dia! - Alibaba sorriu.

— Alibaba-kun, eu não estou apresentável…

— Não se preocupe com isso. Você está ótimo, Ja’far-san!

Era completamente o oposto do que Alibaba pensava. Os curativos que havia visto quando o inspetor estava no hospital nada eram diante daquela palidez que fora capaz de deixar Ja’far ainda mais claro. Dava para ver o quanto ele estava se esforçando só em se manter sentado recostado àqueles travesseiros. A mão sobre seu colo coberto pelos lençóis tremia.

— Trouxe seu chá e alguns biscoitos. - Sinbad anunciou ao abrir as pernas daquela bandeja de montar e deixá-la ali para Ja’far. - Precisa comer nem que seja um pouco.

— Já disse que não tenho fome, Sin…

Sinbad suspirou e cerrou os punhos firmemente. Aquela reação não passou despercebida aos olhos de Alibaba.

— Só um pouco, por favor!

— Eu estou com sono! - ele forçou um riso. - Pode deixar aqui! Quando eu sentir fome eu como. Eu prometo!

— Ja’far…

— Podem me deixar dormir um pouco?

— Claro! - Alibaba foi o primeiro a se manifestar. - Até mais, Ja’far-san. Descanse.

— Ja’far… - Sinbad tentou insistir.

— Sin… Vai ficar tudo bem. - ele tentou acalmá-lo.

O delegado apenas assentiu e seguiu o loiro. Alibaba analisava toda aquela estranha situação que ficou ainda mais bizarra quando ele fechou a porta e viu Sinbad esmurrar com força a parede do corredor.

— Sinbad-san!

— Me perdoe, Alibaba-kun…

— O que está acontecendo? - ele tocou o ombro do mais alto. - De verdade?

— Ja’far não quer comer porque… está vomitando com os remédios. Está muito fraco. Ele prefere assim para não me dar trabalho. Isso me deixa angustiado, a forma como ele se resigna! Droga!

— Calma, Sinbad-san! Eu vou convencer ele a comer um pouco! Fique tranquilo!

— Alibaba-kun… - o moreno piscou. - então você…

— Tinha alguma dúvida? - o loiro abriu um largo sorriso.

A única resposta que ele teve foi o forte abraço que Sinbad lhe deu. Um abraço tão cheio de sentimento e que precisava tanto de uma recíproca. E foi aquilo que Alibaba lhe ofereceu: conforto. E não era pelo trabalho que estava precisando e, sim, por conhecê-los e vê-los como as pessoas maravilhosas que eram. Não mereciam estar passando por um momento tão ruim.

— Muito obrigado, Alibaba-kun! Você… - ele se afastou para encará-lo, segurando suas mãos. - Você não nega mesmo ser filho do Rashid-dono… 

Alibaba se sentia orgulhoso ao receber aquele elogio, apesar de ter convivido pouco com seu pai.

— E, não se preocupe, eu vou pagar você adiantado! Sei do que aconteceu!

— Si-Sinbad-san…

— Eu já tinha feito um cheque em seu nome, aliás, - ele retirou um papel do bolso. - está aqui.

Bastante sem jeito e sem saber como agir, Alibaba abriu aquele papel dobrado algumas vezes. Seus olhos cresceram ao ver aquele valor que era pelo menos o triplo do que recebia para dar aulas a Aladdin.

— Acha suficiente ser seu pagamento mensal? Se estiver abaixo do que você esperava…

— Na-Na verdade acho que é muito, Sinbad-san! Eu acho que devia...

— Claro que não, Alibaba-kun! - o moreno o interrompeu e abriu um sorriso. - Eu estou pagando você para cuidar do meu tesouro mais precioso! Qualquer valor vai ser pequeno! Você estará cuidando de quem mais amo no mundo! Eu conto com você!

Era impossível não sorrir ao ver Sinbad falando de uma forma tão amorosa de Ja’far. Será que algum dia amaria alguém assim, incondicionalmente?

— E eu quero que se sinta em casa aqui! Como Ja’far não está bem eu pedi que a moça que faz nossa limpeza venha dia sim e dia não, então você só precisa se preocupar com ele mesmo, em ajudá-lo. - ele explicava. - Como terei que sair com meu carro, estarei deixando as chaves do carro do Ja’far com você. Também tem uma boa quantia em dinheiro para qualquer despesa que tiverem, qualquer coisa que precisar, na terceira gaveta do primeiro criado-mudo do nosso closet.

— Eu acho que não vamos precisar gastar muito, Sinbad-san. - ele sorriu meio sem jeito.

— Ah, e quando precisar ir embora só me avise. Se eu precisar chegar mais tarde eu aviso, okay?

— Tudo bem, não se pre...

A vibração do celular de Sinbad chamou a atenção dos dois. O delegado rapidamente tirou o aparelho do bolso da calça. Um número desconhecido chamava. A hesitação era nítida quando o moreno atendeu.

— Alô?!

— Por que não para de fugir e vamos resolver isso tudo de uma vez?

— Quem está falando?! - Sinbad franziu o cenho, a tensão crescente em seu semblante.

— Se quiser acertar tudo com o Barbarossa… me encontre em frente ao terceiro posto depois do galpão onde defloramos sua donzela.

— Quem está falando?! - Sinbad insistiu, mas a ligação logo caiu.

— Algum problema, Sinbad-san?

A cor parecia ter sumido do rosto de Sinbad e Alibaba, bastante perspicaz, preocupou-se.

— Na-Nada… - ele balançou a cabeça negativamente. - Eu tenho que ir agora.

— Sinbad-san…

Alibaba se lembrava bem das palavras de Judal quando Hakuryuu o ligou para pedir que fosse ver um trabalho com Sinbad. Ele fez questão de tirar o telefone de seu amigo e falar:

Investigue o que o Sinbad está fazendo. Eu conheço ele e tenho certeza de que está planejando fazer merda! Qualquer coisa ou atitude suspeita me avise!”.

— Sinbad-san, não está planejando alguma vingança ou…

— Não! - ele interrompeu subitamente. - Claro que não!

O sorriso amarelo de Sinbad era condenatório. Alibaba suspirou sem saber o que fazer.

— Por favor, não arrisque sua vida! O Ja’far-san precisa de você!

— Não se preocupe, Alibaba-kun! - ele apoiou a mão no ombro do mais jovem antes de abrir a porta do quarto e ver que Ja’far estava dormindo. - Que bom que ele está descansando…

— Ele não comeu nada? - Alibaba perguntou.

— Não.

Sinbad balançou a cabeça negativamente antes de adentrar o quarto e caminhar até a cama onde se apoiou e, inclinando-se para frente e, afastando os fios alvos, depositou um beijo carinhoso na fronte de seu amado.

Alibaba achou prudente deixá-los a sós naquele momento para dar mais privacidade ao delegado.

— Eu te amo, Ja’far. - ele sussurrou antes de se virar para trás, encarando a porta para se certificar de que Alibaba não escutaria suas palavras. - Eu juro que vou matar quem te deixou assim!


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Notas finais do capítulo

Uffaaaaaa! Finalmente Hakuryuu e Judal tiveram sua primeira - de muitas - noites de amor que ainda terão. Mas até quando irá durar essa felicidade? E Sinbad vai lutar contra tudo e todos para defender a honra do seu amado Ja'far, mas será que ele não está caindo em uma armadilha? ♥
Eu planejava a introdução de um outro personagem nesse capítulo, mas como a noitada juhaku cobriu boa parte do capítulo, alguns planos não conseguiram se concretizar, mas fica pro próximo. Espero que tenham gostado do capítulo bem grande para suprir o tempinho sem! E não se esqueçam de acompanhar Remember Me que está na reta final!
Lembrando que podem me mandar review, críticas, elogios, só bater papo! ♥ Eu demoro a responder, mas respondo! Me deixem saber se vocês estão curtindo! ♥ Muito obrigada por lerem e um beijão para vocês!



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