Escape escrita por Miaka


Capítulo 26
Giving myself... to you.


Notas iniciais do capítulo

Gente, o capítulo está enorme! Muito obrigada a todos que estão acompanhando! ♥ Como tenho demorado a escrever - me mudei recentemente e ainda estou arrumando minha casa nova - esse capítulo ficou bem comprido! Espero que gostem! ♥



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"Take me down to the paradise city where the grass is green and the girls are pretty…"

Oh, won’t you please take me on...

Judal batia a ponta do indicador no volante enquanto completava o refrão da música alta que tocava no carro. Ele balançava a cabeça no ritmo vibrante enquanto aguardava abrir o último sinal que havia antes de entrarem naquela estrada.

Hakuryuu, ao seu lado, parecia distraído demais digitando no celular. Volta e meia ele olhava para o lado e se divertia vendo Judal tão animado, cantando e se balançando, sem perder o foco na conversa que tinha.

Não entendi nada. Ela quase me obrigou e eu disse o tempo todo que queria respeitá-la.” - Hakuryuu ria ao ler a mensagem que acabara de chegar de Alibaba.

Você é um trouxa, Alibaba! Podia ter perdido a virgindade! KKK….” - ele digitava.

Ah, e você por acaso teria aceitado?! >(” - a resposta foi quase imediata.

Que nojento! Você está falando de eu fazer isso com minha prima! Argh!

Você entendeu que não foi nada disso! Preciso desligar. Estou no cinema.

Hakuryuu piscou, confuso, ao ler a última mensagem de seu amigo.

Não tinha que dar aula para o Aladdin-dono hoje?

Alibaba demorou para visualizar e ele presumiu que o rapaz tinha desligado o celular. Foi só então que ele guardou seu aparelho no bolso da calça e encarou o lado de fora onde, rapidamente, viu passar uma placa que dizia: “Yamagata 200km”.

— Ju-Judal! Para onde estamos indo?! - assustado, Hakuryuu perguntou;

— Hm?! Eu disse que não tinhamos rumo, não? - ele riu. - Não se preocupe, vou te levar num lugar incrível!

Hakuryuu pensou em contestar, afinal, já estava tão tarde… E parecia que estavam saindo da cidade. Mas o que estava pensando? Confiava plenamente em Judal.

Ele tentou se manter calmo e abriu um sorriso.

— Não precisa fazer nada disso pra me agradar, Judal…

— Hm?! Corta essa, Hakuryuu! - Judal franziu o cenho por um instante ao diminuir a marcha do carro quando começaram a subir uma íngreme ladeira. - Eu tô aqui com você porque quero e quero passear com você!

O rubor tomou conta do rosto claro. O coração de Judal disparou ao ver aquela expressão tão fofa. Hakuryuu era tão doce! - ele pensava.

— Mas é sério, para onde estamos indo? Vi uma placa que dizia Yamagata!

— Então, é pra lá que vamos! Você não conhece?!

Hakuryuu balançou a cabeça negativamente enquanto, bastante assustado, via o precipício que beirava aquela estrada que não tinha nenhum tipo de acostamento.

— Quê?! - Judal estava incrédulo. - Você nasceu em berço de ouro! Não acredito que nunca viajou para nenhuma cidade vizinha! Conta outra!

— Eu… - ele pareceu bastante envergonhado e, repentinamente, triste. - só viajava quando En-nii e Yuu-ni eram vivos. Eles me levavam para Okinawa no verão.

O silêncio entre os dois permitiu que apenas a voz do Axl Rose e a guitarra do Slash se propagassem por aquele carro. Judal se amaldiçoava mentalmente, como havia sido estúpido fazendo Hakuryuu trazer à tona lembranças que eram tão dolorosas. Era difícil pensar em sua própria falha quando tinha de se concentrar naquela estrada tão perigosa. Mas aquilo não podia ficar assim.

Cabisbaixo, Hakuryuu sentiu a mão de Judal se apoiar em seu joelho. Ele sorria.

— Pois a partir de hoje sempre vamos viajar nós dois! E no verão iremos à Okinawa também!

— Sério?! - um largo sorriso se abriu nos lábios do mais jovem e aquilo era um verdadeiro presente para Judal. - Eu não vou à praia desde que meus irmãos morreram!

— É sério! Prometo que no verão vamos passar… hmmm… uma semana lá, o que acha?!

— Eu adoraria!!!

Mais uma vez o silêncio deu espaço a música enquanto Judal dirigia com bastante cautela. Nem mesmo parecia o louco que era no trânsito do dia-a-dia.

Hakuryuu estava boquiaberto ao admirá-lo. Como a companhia dele o fazia bem! Quando imaginaria que naquele infeliz dia fosse encontrar alguém tão especial?

Suspirando, Hakuryuu desejou que eles ficassem juntos para sempre mesmo que, de olhos fechados, não pudesse ver o feixe azul que atravessava a escuridão. Uma linda estrela cadente tratou de aceitar seu pedido.

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Já passava das dez quando saíram do cinema. Alibaba voltava a ligar o celular enquanto Aladdin e seu avô comentavam o filme.

— Você gostou do filme, meu netinho?

— Eu adoreeeeei, vovô! - o garoto comentava bastante animado. - E adorei ter vindo com o Alibaba-kun também!

— E você, Alibaba-kun? - o homem se aproximou. - Gostou do filme? Conseguiu se animar mais?!

— Ah, cla-claro! Muito obrigada por ter me convidado, David-san! - o loiro sorriu antes de, sutilmente, sussurrar para Aladdin. - Te-tenho que te dar aula ainda hoje, Ala…

— Vamos comer algo bem gostoso! - David exclamou, interrompendo Alibaba. - O que acham?!

— EBAAAA!!! - erguendo os braços para o alto, Aladdin comemorava. - Vamos sim!

— Me… Me desculpem, mas eu combinei com a Morgiana de jantar em casa.

— Não se preocupe com isso, Alibaba-kun! Você leva algo para a Mor-san também!

— Aladdin, eu preciso te dar aula e ir embora. Você não está enten…

— Calma, calma!

Alibaba gelou ao sentir duas mãos pesadas sobre cada um de seus ombros.

— Sinto que ainda está muito tenso, Alibaba-kun! Não se preocupe quanto aos estudos do meu neto. Ele é muito inteligente!

Sentindo-se encurralado, Alibaba pensava em uma saída plausível. Aladdin parecia completamente entretido por seu avô a ponto de se esquecer de suas responsabilidades. O loiro limpou a garganta e tentou não gaguejar. Por que a mera presença daquele homem lhe causava calafrios?

— Eu sei que ele é um garoto muito inteligente, David-san, mas o Solomon-san me paga para dar aulas a ele! Preciso fazer isso mesmo que o Aladdin tire boas notas!

— E quem disse que meu filho precisa saber que você está aqui, com a gente, se divertindo?!

Alibaba revirou os olhos ao se ver completamente sem saída. Tudo o que lhe restava era acatar aquele passeio insano e, de qualquer maneira, tudo o que ele queria esquecer era aquela tarde.

— Eu quero ser sua, Alibaba!

Kougyoku repetiu ao ser questionada sobre a aquela afirmação que, para Alibaba, era tão abrupta e sem sentido. Ao notar que o loiro estava perplexo, sem saber o que dizer a não ser observá-la, ela arrancou o blazer que vestia, exibindo um vestido curto, branco - para não dizer transparente. A expressão de Alibaba permaneceu a mesma.

— Ainda não entendeu? - ela perguntou ao, com um pouco de dificuldade, se ajoelhar no banco do motorista onde, até então, ela estava sentada. - Eu não quero mais ficar nessa brincadeirinha com você!

O rosto de Alibaba corou violentamente ao sentir os braços da ruiva deslizando por sua pele e envolvendo seu pescoço. Ela se aproximou como uma fera fazia com sua presa, travando o corpo de Alibaba com os joelhos abertos e se sentando em seu colo.

Pela transparência do vestido e a umidade que ele sentiu se atritar ao seu jeans, ele percebeu que a moça não usava nada por baixo daquelas vestes. Então Kougyoku não estava agindo por ciúme e, sim, ela tinha planejado aquele momento.

Mas nunca tiveram nada a mais! Sempre foram bons amigos e eram apenas coniventes com o casamento forçado imposto por Kouen. Alibaba estava boquiaberto, tenso e fazendo o impossível para controlar a própria natureza ao sentir aquele corpo feminino se atritar ao seu. Os lábios da ruiva iam quase encontrando os seus. E se ele não fizesse nada para impedir aquilo, ela...

— Ko-Kougyoku! - gaguejando, Alibaba segurou os braços da moça. - Eu não sei o que aconteceu, mas… mas é melhor você parar! Voltou a usar drogas?! - ele perguntou com uma expressão séria. Aquilo era algo que o incomodava muito em relação a sua amiga. Mas Kougyoku apenas balançou a cabeça negativamente. A inocência em seu rosto comprovava que ela dizia a verdade. - Então que… que você está fazendo?!

— Sendo sua mulher. Só isso.

Ela respondeu da forma mais simples possível e Alibaba, bastante confuso, suspirou.

— Nunca me amou desse jeito, Kougyoku. O que está acontecendo?

— Eu já disse que quero ser sua! É tão difícil entender?! - ela começava a perder a paciência.

— Cla-claro que é! Até ontem achávamos um saco termos que casar e… sempre fomos tão amigos!

— Sim, somos ótimos amigos, Alibaba. Você é meu melhor amigo! É por isso que… - os olhos dela brilharam por um instante. - vamos ser ótimos amantes! Vamos ser um casal muito feliz!

Alibaba estava transtornado. Podia jurar que Kougyoku estava sob efeito de algum entorpecente porque jamais imaginava que ela pudesse sentir algo por ele. Nem amor e muito menos… desejo.

— Está dizendo que está apaixonada por mim? - ele perguntou, um tanto quanto trêmulo.

Ela apenas assentiu enquanto mordia o lábio inferior. Alibaba voltou a suspirar quando desviou o olhar.

— Olha, Kougyoku… Eu… Eu não sei o que dizer, mas… Mesmo se me ama e quer começar algo comigo de verdade, eu não vou desrespeitá-la.

— O quê?! - ela engoliu a seco, incrédula ao ver o rosto do loiro avermelhar.

— Não vou fazer isso com você antes de nos casarmos! Você é virgem!

Aquela última afirmação fez o coração de Kougyoku doer. Era terrível mentir para ele, mas agora aquela mentira tinha um peso muito maior. Foi a vez da ruiva evitar encará-lo, saindo de cima do colo daquele que era seu melhor amigo.

Alibaba, por sua vez, sentia-se péssimo. Era nítido que Kougyoku ficara magoada com sua rejeição, mas jamais poderia desrespeitá-la. Era contra seus princípios e Kouen, se acontecesse algo, se ela engravidasse, provavelmente o mataria.

— Me desculpe…

— Saia daqui, Alibaba.

Kougyoku sussurrou, inclinando a cabeça para a frente e escondendo o rosto com os longos fios rubros. Ela não se sentia capaz de encontrar os olhos de Alibaba. Sentia… vergonha.

— Vamos conver…

— Sai daqui! - a ordem veio antes que a mão de Alibaba conseguisse tocar seu ombro.

Alibaba apenas assentiu, soltando o cinto e saindo daquele carro, deixando ali uma decepcionada Kougyoku que se pôs a chorar o máximo que pôde.

— Alibaba-kun! Ei, Alibaba-kun!

A voz de Aladdin, tão distante, o libertou daquela perturbadora lembrança. Só então Alibaba se tocou de que estava diante daquele balcão do McDonalds.

— O que você vai querer?! - perguntou o garoto.

— Anh!? McDonalds?! - Alibaba coçou a nuca. - Aladdin, seus pais não são vegetarianos e proíbem você de comer carne?!

— Vovô David disse que eu posso! - ele cruzou os braços e fez bico.

O loiro tratou de procurar o avô de seu aluno. Onde ele estava? Por que Alibaba sentia que estava, cada vez mais, entrando em uma cilada?

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— Bem-vindo de volta!!!

Enquanto que, com a mão esquerda Sinbad segurava aquela pequena bolsa de viagem que trazia os poucos pertences de Ja’far, com a direita ele girou aquela maçaneta e empurrou a porta de seu apartamento.

Ja’far parecia bastante receoso quanto a dar o primeiro passo para adentrar sua própria residência. Notando o quão apreensivo seu amado estava, Sinbad tomou sua mão e sorriu na tentativa de lhe transmitir segurança.

— Meu amor, está tudo bem! É nossa casa! Aqui ninguém vai fazer mal algum a você!

O alvo apenas assentiu. Os dedos mais finos entrelaçaram aos de Sinbad. Tremia enquanto caminhava pelo corredor de entrada até a sala-de-estar. Os olhos verdes observavam tudo como se o inspetor não reconhecesse aquele lugar.

Sinbad conduziu Ja’far até o sofá, onde ele se sentou, para então finalmente conseguir soltar a mão do mais jovem e ir trancar a porta.

Naquele breve momento ele suspirou pensando o quão difícil aquilo seria - aliás, já estava sendo. No que Ja’far estava pensando? - Sinbad se perguntava.

Voltando para a sala ele encontrou Ja’far parado, sentado no mesmo lugar, sem emitir qualquer som. Havia sido assim todo o trajeto do hospital até sua casa e aquele silêncio trazia inquietude ao delegado.

— O que você quer jantar? Está com fome?! Que tal comida mexicana que você adora?

A única resposta foi um pequeno sorriso que o inspetor esboçou.

Tirando os sapatos, Sinbad foi até a porta de vidro da varanda para abrir as cortinas. Certamente seria bom arejar o apartamento. Ja’far se sentiria melhor! Mas assim que o fez, levou um susto com o exclamar de seu amado.

— NÃO!

Ja’far praticamente pulou do sofá e correu para puxar de volta as cortinas de linho.

Sinbad apenas observou a inesperada atitude de seu marido que, bastante assustado, voltou ao sofá.

— Po-Por que não quer abrir as cortinas, Ja’far? - receoso, ele indagou.

Percebendo o quão sem sentido era sua atitude, o inspetor corou ao ser inquirido.

Ele abraçou uma almofada firmemente em seu colo enquanto era alvo do olhar curioso do delegado que, intuitivamente, tentava ligar os pontos que faziam Ja’far ter aquela atitude.

— Estamos no vigésimo quinto andar, Ja’far. Ninguém vai te achar aqui, meu amor.

— Só não abra, ok?! - com a voz trêmula ele pediu.

— Meu amor… - Sinbad farfalhou os próprios cabelos. - Fique cal…

O telefone tocou, interrompendo a fala do delegado. Ele rapidamente foi até a mesa de centro e tirou o telefone da base.

— Alô?!

— Delegado Sinbad? - uma voz feminina indagou.

— Sim, sou eu. - ele arqueou uma sobrancelha. Não reconhecia aquela voz, tampouco o número de onde ligavam.

— É a madre superiora do convento que tem o orfanato onde seu marido estava adotando uma criança.

Sinbad olhou de canto o apático Ja’far. Ele nem ao menos sabia que já tinha conhecimento de toda a “surpresa” que o inspetor lhe preparava.

— Ah… sim… Pois não.

— Estive durante todo o dia ligando para sua residência.

— Eu sinto muito, mas só chegamos em casa agora. - ele explicou.

— E como está o Ja’far-san?

— Err… - Sinbad foi, sutilmente, andando em direção à cozinha para se afastar. - Se recuperando... - ele diminuiu o tom de voz. Não queria que Ja’far soubesse com quem falava. - Está muito sensível.

— Imagino! Foi brutal o que aconteceu com uma pessoa tão iluminada como ele! Que Deus o conforte! E… Sei que não é um bom momento mas, infelizmente, eu não estou ligando para trazer boas notícias.

— Hum?! - Sinbad se assustou.

— O processo de adoção da criança que queriam foi barrado. Depois da divulgação do vídeo onde… cometem aquela violência com o Ja’far-san e pelo fato de ele estar bastante abalado, estando com uma licença médica, tudo o que tínhamos andado foi perdido! Ele não vai poder vir buscar a Esla-chan na semana que vem.

Era como se o mundo desabasse sobre suas costas. Sinbad ficara desconcertado. Ja’far desejava aquela criança com todas as suas forças, era seu sonho. Era o que, provavelmente, o ajudaria a se reerguer naquele momento tão difícil.

Depois de um golpe tão duro, provavelmente a chegada daquela criança lhe devolveria a alegria que o fora arrancada.

— Não, não! Eu… eu tenho certeza de que podemos dar um jeito!

— Infelizmente não, Sinbad-san. - ela prosseguiu. - Já me foi dada a ordem para disponibilizar a menina para outra família que também desejava adotá-la. Além de vocês uma outra família estava na fila de adoção.

— Não faça isso, por favor! - ele se desesperou. - Ja’far precisa dessa menina! Ainda mais agora! Ele com certeza vai melhorar mais rápido se tiver nossa filha! Por favor!

— Eu não posso fazer nada, Sinbad-san. Acredite, eu tentei de tudo! Não havia quem quisesse mais que eu que o Ja’far ficasse com essa pobre menina. Com todo o histórico dela, eu não via alguém mais que pudesse dar o amor que ela precisa. Eu sinto muito!

— Tudo bem… - Sinbad suspirou enquanto massageava as têmporas. - Obrigado por avisar, madre.

— Por nada! Peça ao Ja’far para vir aqui quando puder. Venha com ele também!

— Si-Sim… Nós iremos. Boa noite.

— Sin?!

Recostado ao balcão da cozinha, Sinbad ainda desligava o telefone quando se surpreendeu com Ja’far na porta. Desde quando estava ali? Será que tinha escutado toda sua conversa? - ele se perguntou antes de perceber que o alvo parecia bem alheio a tudo, até mesmo à perplexidade em sua expressão. O delegado estava pálido. Como diria a ele que, depois de tudo o que havia passado, seu grande sonho de terem uma filha havia chegado ao fim?

Um longo silêncio permaneceu até que, após um suspiro, ele reuniu coragem.

— Ja’far… Nós precisamos ter uma conversa.

Parecia tê-lo repreendido. Ja’far imediatamente se encolheu e a tensão se manifestou em seu semblante. Aquele não era um bom momento. - Sinbad pensou, mas agora já era tarde demais. Mas, tentando amenizar a situação, ele segurou a mão do alvo e o conduziu de volta à sala, mais especificamente, ao sofá.

Assim que Ja’far se sentou, o delegado se ajoelhou, colocando-se entre suas pernas. Os olhos verdes permaneciam curiosos, apesar da resignação do inspetor que não ousava perguntar nada. A angústia estava bastante presente em sua expressão.

Um novo suspiro e Sinbad desviou o olhar antes de encará-lo para segurar as duas mãos de seu amado.

— Ja’far, meu amor, eu... já sei de tudo!

— Hm?! - ele piscou em resposta.

— A… A surpresa que queria me fazer no dia do meu aniversário.

Sinbad prosseguiu e o par de esmeraldas cresceu. Aquilo era um bom sinal? Ja’far parecia mais temeroso do que irritado com o fato de sua surpresa ter sido estragada.

— Procurando por você encontrei seu carro próximo àquele orfanato e… conheci a madre superiora. Também… - o moreno mordeu o lábio inferior, um tanto quanto constrangido de revelar aquilo. - me desculpe, mas acabei lendo algumas mensagens do seu celular e…

— Entendi.

A interrupção veio num sussurro quase inaudível. Se Sinbad não estivesse ali, entre suas pernas, ele teria se levantado imediatamente.

— Hm?! - foi a vez de Sinbad ficar deveras confuso.

— Eu… Me precipitei e foi uma má ideia. Ainda bem que… você descobriu tudo e está deixando bem clara sua posição e…

— Ja’far?! Do que está falando?!

— Como sou estúpido também! Você perdeu uma filha e eu estava… - ele riu de forma melancólica enquanto engolia o choro preso. Mas algumas lágrimas escaparam e, com a mão livre, ele as limpou de forma desleixada. - Eu estava... tentando substituí-la! Me desculpa, Sin…

Não era possível! Ja’far havia entendido da pior maneira. O moreno balançou a cabeça negativamente, desesperado ao ver como havia sido mal interpretado.

— Claro que não, Ja’far! De forma alguma! Quando soube do que pretendia eu… adorei a surpresa e você sabe o quanto eu sonho em termos nossa própria família!

Ja’far, soluçando, encarou o delegado que esboçou um pequeno sorriso. Só de pensar em criarem uma criança já deixava Sinbad tão feliz. Mas aquele sorriso esmaeceu tão rápido quanto surgiu. Retomando a seriedade, o moreno voltou a capturar as mãos de seu amado.

— O que estou querendo dizer é que, infelizmente, esse sonho vai ter que ser adiado por um tempinho e…

— Quê?! - Ja’far piscou.

— A madre me ligou bastante preocupada com você, Ja’far. Aliás, ela ligou várias vezes desde que desapareceu. - por que estava desviando do assunto? Faltava coragem. - Mas… Mas ela também queria avisar que… Aconteceu um probleminha e… - os olhos de Ja’far, encarando-o, pareciam fuzilá-lo naquela ânsia. - e... infelizmente, o processo de adoção foi interrompido.

— Não… - o alvo balançou a cabeça negativamente. - Não pode ser…

— Mas é temporário, meu amor! - Sinbad tentou acalmá-lo, levantando-se para abraçá-lo. - Assim que provarmos que você está em condições de criar nossa filhinha tudo vai…

Sinbad apoiou a cabeça de Ja’far contra seu corpo e afagou os fios brancos. Ele só não esperava ser, subitamente, empurrado. Ja’far o afastou com toda a sua força.

— Não! - vociferando, o inspetor se reergueu - Eu vou buscar a Esla-chan semana que vem! - ele chorava. - Eu vou trazer ela na sua festa de aniversário!

— Ja’far!!!!

— Não tinha problema algum! Eu tenho os documentos da justiça! Só… Só faltava sua assinatura e o advogado que está cuidando de tudo disse que poderia ser feito depois! Eu sou o responsável pela Esla-chan!

— Meu amor… Foi a justiça! Tiveram alguns problemas e você está precisando descansar! Eles não acham prudente trazermos a… a Esla-chan - ele usou a mesma forma de falar. - para cá enquanto você se recupera.

Era como se o mundo desabasse sobre os ombros de Ja’far. O tempo parecia ter parado quando ele ficou imóvel, os lábios entreabertos. Agora tudo fazia sentido.

— Então é isso, não é?! - a voz chorosa tremeu.

Sem saber o que dizer, Sinbad se preocupou ao ver como a notícia devastara Ja’far. Mais do que isso, como era doloroso vê-lo se referir à menina que adotariam de uma forma tão carinhosa. Ja’far já a via como sua filha.

— Eu… Eu fui tratado como um lixo por aquele homem… - Ja’far murmurou ao tocar o próprio rosto e tatear os curativos que ainda estavam ali. - Não só apanhei, mas… - ele não tinha coragem de falar. - Sin…

O delegado estava transtornado ao ver Ja’far tão arrasado. Seu amado parecia que ia se afogar em tanta tristeza. Sinbad nem ao menos teve coragem de encará-lo quando o inspetor o chamou. Como se sentia culpado por não ter conseguido protegê-lo! Por Ja’far estar passando por tudo aquilo!

— Sin… O que eu fiz pra merecer tudo isso?! É… É um erro tão grande assim se apaixonar por outro homem? Eu sou… uma má pessoa…? Deus está nos castigando, não é?!

— É claro que não, meu amor! É claro que não!

Foi quando o olhar perdido do alvo encontrou sobre o aparador o porta-retrato com aquela linda foto da falecida esposa do delegado. Serendine estava sorrindo, segurando como podia os longos cabelos rosados que eram bagunçados pelo vento.

— Cla… Claro… - ele abraçou a si mesmo. - A Serendine-san… Eu deito na cama que era de vocês… Vivo na casa de vocês… E queria dar uma criança pra substituir a filha de vocês! Eu sou um monstro! Ela… Ela está me castigando!

— Pelo amor de Deus, Ja’far, pare com isso! - Sinbad se assustou ao ver Ja’far tão perturbado.

— Eu roubei a vida dela! Eu roubei você!

— Chega!

Não houve mais hesitação. Sinbad o puxou e envolveu em seus braços com todo o seu amor.

Após receber aquele abraço, Ja’far não pôde se conter mais. Chorou copiosamente, o máximo que pôde e o delegado sabia que, cedo ou tarde, aquilo aconteceria. Aquela apatia era um mero dispositivo de defesa de seu amado para que não chegasse àquele ponto. Como ele precisava chorar!

Ja’far precisava de todo seu apoio e seu carinho, mas era difícil transmitir aquilo se, tudo o que Sinbad conseguia sentia, naquele momento, era ódio.

Desejava ter o maldito sangue de Barbarossa em suas mãos… Quando ele só precisava usá-las para abraçar Ja’far. Aquela dor, algum dia, chegaria ao fim?

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Assim que deu a última mordida em seu sanduíche, Alibaba girou o pulso para ver que horas eram e, imediatamente, empalideceu ao ver os dois ponteiros, o maior e o menor, se encontrando no doze.

— Meu Deus!

— Algum problema, Alibaba-kun?

Aladdin, que balançava as pernas penduradas e estava sentado de frente para seu amigo se surpreendeu com o espanto do loiro.

— Vamos pedir a sobremesa? - David, ao lado de seu neto, propôs enquanto desligava outra ligação. A vigésima daquela noite. Um sorriso malicioso cruzava seus lábios.

— Está muito tarde! - Alibaba subitamente se levantou. - Preciso ir embora!

— Ir embora?! - o mais velho piscou. - Mas e quem vai levar meu netinho para casa?!

Alibaba piscou, perplexo. David não os levaria de volta? Aquilo estava muito estranho.

— É verdade, Alibaba-kun! Você tem que me levar pra casa!

— E-Eu?! - apontando a si mesmo ele indagou. - Mas… só se for de ônibus e… o senhor não vai pra casa também?!

— Isso não é problema! Pensa rápido, Alibaba!

Ele teve de ser rápido para segurar a chave que David arremessou em sua direção.

— Leva o carro e meu neto pra casa que daqui eu pego um uber. E casa? Ah, hoje eu tenho um compromisso! Você entende, não é?

David lhe deu uma piscadela e Alibaba corou. Jamais imaginava, quando ouvia Aladdin falar sobre seu avô, que ele era… assim. Geralmente os avôs eram senhores tranquilos que falavam do passado, criticavam os jovens e… Não assistiam filmes pornográficos e iam se divertir na noite, certo?

— Be-Bem… Eu posso levá-lo de uber também…

— Claro que não! Não quero que gaste nada. - foi a vez de David se levantar e estender a mão para o loiro. - Foi um prazer conhecê-lo, Alibaba! Cuide bem do meu neto!

— Ebaaaaa! - Aladdin pulou ao sair da cadeira. - O Alibaba-kun vai me levar pra casa!

— Comporte-se, hein?! - David sorriu ao farfalhar os cabelos azuis do garoto.

De alguma forma, Alibaba sentia como se aquela noite estivesse bem longe de terminar.

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Por que não responde minhas mensagens? Onde você está?!

Hakuryuu engoliu a seco ao ler a mensagem que sua irmã havia lhe enviado. Uma das diversas naqueles últimos dias, desde a última vez que havia a visto na visita do hospital e tudo terminou de uma maneira… tão ruim.

Ele olhou para fora do carro e avistou Judal saindo daquela loja de conveniência com uma pequena sacola. Será que estava com fome? Deviam ter jantado, ele pensou. Aquele era o primeiro estabelecimento que viam depois da longa subida da serra. Hakuryuu queria acompanhá-lo, mas Judal fez questão que esperasse dentro do carro.

— Prontinho! - Judal anunciou ao abrir a porta e se sentar. - Trouxe energéticos!

Ele tirou duas latinhas da sacola e deu uma delas para Hakuryuu.

— Obrigado, Judal. - ele agradeceu antes de abrir a lata. - Trouxe algo pra comer?

Assim que viu Hakuryuu fazer menção de pegar a sacola plástica que havia deixado sobre o porta-luvas, os olhos vermelhos cresceram.

— Não! Não tem nada pra comer! - ele exclamou.

— Hm?! Então o que trouxe?

Curioso ele via a caixinha que mais parecia de um remédio.

— Um remédio? Não está se sentindo bem?!

— Hakuryuu, eu fiquei com um pouco de dor de cabeça. É só isso!

Judal sorriu da forma mais falsa que Hakuryuu já tinha visto. Era óbvio que ele estava escondendo algo, mas o mais jovem decidiu dar de ombros e se recostar, aproveitando a viagem. Foi quando avistou uma placa: “Pousada Recanto das Montanhas a 500m”.

— Já estamos chegando! - Judal sorria de orelha a orelha.

Tentando conter a empolgação, Hakuryuu observava tudo enquanto Judal manobrava o carro. Dava para ver vários postes iluminando um belíssimo jardim. Uma casa de telhados e paredes de vidro onde, dentro, havia uma enorme piscina. A densa camada de fumaça sobre a água demonstrava o quão quente ela estava.

Mais distante havia duas dúzias de lindos chalés, alguns iluminados, outros apagados.

— Eu mandei mensagem hoje para vocês. Pedi que reservassem um dos maiores chalés.

Só então que Hakuryuu, tão distraído, percebeu que Judal falava com o guarda que ficava na entrada. O homem assentiu e abriu a cancela.

— Na recepção irão orientá-los melhor. Creio que seja o chalé número 24.

Judal estacionou onde havia uma dezena de carros, apesar do lugar ser grande o suficiente para comportar bem mais. Havia um casebre próximo e as luzes estavam acesas.

Assim que Hakuryuu saiu do carro sentiu seu corpo tremer. Como estava frio! Também pudera, estavam no alto de uma montanha.

Mas aquela sensação não durou muito. Ele sentiu suas costas serem cobertas pela grossa jaqueta de couro de Judal.

— Se não se agasalhar aqui vai ficar doente. - ele advertiu.

— E você, Judal? Vai ficar com frio?! - perguntou Hakuryuu ao vê-lo abrir o porta-malas e tirar, de lá, outro casaco.

— Eu vim prevenido!

Judal sorria quando segurou a mão de Hakuryuu. O rubor tomou conta de seu rosto ao sentir seus dedos se entrelaçando aos dele quando seguiram em direção àquele casebre. Havia uma placa fincada na grama onde dizia: “Recepção”.

Sem soltar a mão de seu companheiro, exibindo-o como um troféu, Judal abriu aquela porta de vidro, segurando-a tempo suficiente para Hakuryuu passar.

— Boa noite! Sejam bem-vindos!

A moça que estava atrás do balcão sorriu ao ver o casal.

— Boa noite! - Judal deu um passo à frente. - Reservamos o chalé master.

— Sim, sim. É o 24, senhor Judal.

Hakuryuu estava bastante inquieto enquanto a jovem se agachava e pegava, sob o balcão, as chaves.

— O jantar ainda está servido no restaurante, mas se desejarem pedir algo no chalé, é só ligar para a recepção. O número está na mesa, abaixo do telefone.

— Obrigado!

Levando as chaves consigo eles seguiram de volta ao amplo jardim. Caminhando sobre o caminho de pedras fincadas naquela grama tão bem cortada, Judal aproveitou para atravessar um braço por cima dos ombros de Hakuryuu, mantendo-o assim abraçado.

— Gostou do lugar?

— Eu… Eu adorei! Nunca vim em um lugar assim!

— Que bom! Amanhã vamos passear pela cidade. É pequena, mas bem bonita!

— Obrigado por me trazer aqui, Judal!

Bastante envergonhado, Hakuryuu parou para encará-lo. Os olhos azuis tremiam e ele parecia estar emocionado.

— Você… tem feito tantas coisas para me deixar feliz!

— Hakuryuu…

— Durante muito tempo, - ele prosseguiu. - eu desejei ter morrido naquele incêndio. Sempre me vi como alguém muito infeliz, mas hoje… eu me arrependo muito de ter desejado morrer porque… Eu hoje sou muito feliz tendo você ao meu lado!

Uma lágrima escorreu e Judal simplesmente não resistia à toda aquela ternura.

Hakuryuu era tão doce! Aquilo o cativava tanto!

Sem resistir mais, ele deslizou os braços pelo pescoço do mais jovem e selou seus lábios antes de recostar sua fronte na dele.

— É o mínimo que posso fazer por quem eu amo, Hakuryuu! Eu quero te fazer muito feliz!

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Passava da uma da manhã quando Alibaba entrou com aquele conversível no jardim dos Jeoahaz Abraham. Precisava não só levar Aladdin de volta como devolver aquele carro. Aliás, como havia conseguido dirigir até ali? Nunca havia dirigido um carro totalmente automático. E o medo de causar um arranhão naquela lataria o deixava em pânico. Mas, felizmente, ele conseguiu dar a volta naquele pomposo chafariz.

As portas duplas da mansão se abriram em um estrondo que assustou não só Alibaba, mas Aladdin, que ainda soltava o cinto de segurança.

— O que significa isso, Aladdin?!

Ninguém menos que o diretor da faculdade onde estudava, seu patrão, aparecia com a expressão mais carrancuda possível. Não só ele, mas aquela bela mulher que desceu correndo a escadaria da entrada para, abrindo a porta do carona, abraçar seu filho. Ela estava em prantos.

— Aladdin, meu filho! Onde você estava?!

— Eu estava passeando com o Alibaba-kun, mamãe!

Alibaba tinha certeza: havia se metido em uma enrascada.

Logo saiu do carro e, sem saber o que falar, viu aquele homem descer com os braços cruzados.

— Por acaso eu o pago para passear com meu filho?!

— So-Solomon-sama! - o loiro tremia. - Eu posso explicar!

— Que eu saiba amanhã ele tem uma prova importantíssima e você foi sair com ele?! E NO MEU CARRO?! Você sabia que eu poderia ter ligado para a polícia e denunciá-lo por sequestro e roubo?!

— Po-Por favor, - Alibaba gaguejava nas poucas chances que aquele homem o dava para falar algo. - eu posso explicar! Estávamos com o David-san e…

— Não venha com mentiras que meu pai odeia dirigir no trânsito daqui! Você tem muita sorte que eu sinta pena de você por toda a vida de merda que você leva graças às falcatruas da sua família, senão o colocaria na cadeia!

— Solomon, meu amor, - a mulher, ainda abraçada a Aladdin, finalmente falou. - Vamos deixar o Alibaba-kun se explicar. Ele com certeza…

— Não há explicações! Ele devia estar em casa estudando com meu filho! Eu pago ele para isso! Mas ele preferiu sair sem autorização levando nosso filho e meu carro! - ele se voltou a Alibaba. - Você está demitido! E agradeça aos céus que eu não o expulse da faculdade amanhã mesmo!

— Na-não! Eu não posso perder esse emprego!

— Papai, o Alibaba-kun queria me dar aula, mas o vovô preferiu sair! - foi a vez de Aladdin intervir.

— É isso mesmo! - o loiro agradecia em pensamento as palavras de seu amigo. - O David-san insistiu ao me ver um pouco abatido. Mas ele que nos levou e…

— Agora eu estou percebendo a besteira que fiz! Está manipulando meu filho! Mas é claro que ele ia te defender! Levou ele pra passear, brincar, e não estudar! Saia daqui imediatamente!

— Mas… Solomon-sa…

— AGORA! FORA!

Alibaba, completamente sem ação, apenas trocou olhares com um angustiado Aladdin que não sabia como defendê-lo. O loiro deu meia-volta e marchou até o portão. O que faria agora? - ele perguntava a si mesmo. Desempregado, como pagaria o aluguel e… como sustentaria não só a si mesmo, mas agora também tinha Morgiana em sua casa. Como viveria?!

Não! Definitivamente ele precisava resolver aquele mal-entendido. Do contrário… seria obrigado a aceitar o casamento com Kougyoku.

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Judal acendeu, de uma só vez, os quatro interruptores que havia próximo à entrada do chalé. Isso fez com que, não só o lustre principal, que ficava sobre aquela enorme cama king size, tão bem forrada em lençóis de linho branco e vermelho, se acendesse, mas como todas as que se estendiam, acopladas ao teto rebaixado e trabalhado em gesso. As arandelas da varanda, por onde entrava uma brisa gélida que açoitava as cortinas alaranjadas, também se acenderam.

Hakuryuu estava boquiaberto encarando o brilhante chão de mármore frio. Deu dois passos a frente e admirou as paredes em tons pastéis, exceto a que ficava a cabeceira da cama que era revestida em tijolos vermelhos.

Sobre uma das mesinhas da cabeceira, bem rústicas em mogno, havia um balde de gelo com um Don Pérignon fincado naquelas pedras. Duas taças longas acompanhavam o set.

De frente para a cama havia um televisor suspenso à parede e, seguindo a mesma, havia a ampla lareira que estava acesa. Judal logo se preocupou com aquilo. Lembrava-se do receio que Hakuryuu tinha com fogo.

— Quer que eu apague a lareira? Te incomoda?

— Não. De jeito nenhum. - sorriu um tranquilo Hakuryuu.

— Venha aqui!

Correspondendo àquele sorriso, Hakuryuu tomou a mão do mais jovem e o conduziu até uma pequena porta. Ele estava tão distraído reparando tantos detalhes daquela luxuosíssima suíte que nem havia notado a existência de uma saída para outro ambiente.

Assim que atravessaram a porta chegaram em um enorme banheiro onde havia, em seu centro, um deck de madeira. Feixes azuis saiam de dentro da gigante hidromassagem que já estava coberta de espuma. Sobre o deck havia outro balde, dessa vez com um Giacomo Conterno. Hakuryuu podia não entender muito de bebidas, mas ele sabia que uma garrafa de um vinho daquele porte custava em torno de mil dólares.

Um largo box blindex esverdeado estava no canto, bem menos importante que aquela banheira fantástica. Os olhos azuis de Hakuryuu brilhavam como se ele fosse uma criança.

— Que lugar incrível!

— E a água é quentinha. Eu garanto!

Judal riu, mas ele se sentia tão inquieto. Afinal, Hakuryuu não havia dado nenhuma abertura para um momento assim, por enquanto. Inclusive, ele tinha vergonha de mostrar seu corpo. Ele então coçou a nuca e, meio sem jeito, sem saber como tomar iniciativa por respeitá-lo - coisa que nunca havia feito com nenhuma parceira sua. - se dirigiu à porta.

— Bem… você vai tomar banho primeiro, então? Eu vou… lá pra fora então.

— Lá para fora? - Hakuryuu piscou. - Errr… Digo, a banheira é tão grande… - ele corou.

Como dizer aquilo? Judal havia o trazido para um lugar tão romântico. Era presumível que desejasse… Algo mais. E apesar de bastante tenso, Hakuryuu não podia negar que, de certa forma, ansiava muito por aquele momento. Desde que fora morar com Judal, aliás.

— Hakuryuu… - começou Judal. - Eu… Não quero que pense que o trouxe aqui porque quero o obrigar a algo. - por acaso ele estava lendo seus pensamentos? Hakuryuu questionou a si mesmo, bastante surpreso por aquela colocação. - Estamos namorando, mas… entendo que estamos bem no início do nosso relacionamento e você é um rapaz mais reservado. Não pense que eu…

— Eu quero!

O rosto claro de Hakuryuu foi tomado pela vermelhidão.

Seus lábios se moveram e palavras escaparam deles como se não tivesse o menor controle sobre si. E, assustado com a própria afirmação e a expressão surpresa de Judal, Hakuryuu levou as mãos até a boca, como se quisesse impedi-la de falar algo a mais.

— Digo…

— Você quer… o quê? - Judal perguntou. Por que seu coração batia tão rápido?

— Não. É que… eu…

Sem saber o que responder e temendo que seu corpo tomasse mais uma atitude involuntária, Hakuryuu encarava o moreno que permanecia à espera de sua resposta. O que eles não esperavam era que o celular de Hakuryuu começasse a vibrar, o que ele acreditou ser uma provenção divina.

— Só-Só um instante, por favor!

Hakuryuu agradeceu aos céus - e a Alibaba - quando viu a foto do loiro antes de deslizar o indicador pela tela e levar o aparelho à altura do rosto.

— Alibaba-dono?!

— Te acordei?! - ele parecia ofegante.

— Não, não. Mas… Algum problema? - Hakuryuu se preocupou, afinal, já era madrugada.

— Eu tô fodido, Hakuryuu…

— Você tá na rua, Alibaba-dono?!

Judal observava a aflição no rosto de seu amado e… revirou os olhos. Era inevitável sentir ciúme da relação que Hakuryuu tinha com Alibaba. Um tanto quanto desolado Judal deixou a suíte e se sentou na cama para começar a desamarrar seus tênis.

— Eu tô pegando um ônibus!

— E está falando comigo no celular na rua? Você enlouqueceu? Quer ser assaltado?!

— Hakuryuu, se me matarem agora vai ser melhor porque eu tô fooo-diii-dooo! - ele silibou enquanto fazia sinal para o terceiro ônibus que passava e não parava.

— Me diz o que aconteceu! - Hakuryuu estava inquieto.

— Fui demitido!

— Quê?! Mas você era o professor de confiança do Aladdin! O que houve?!

— Depois eu te conto… Mas me faz um favor! Sei que você conhece muitos empresários! Pelo amor de Deus, eu preciso de um emprego! Qualquer emprego! Se você precisar que faxinem a casa do Judal, me chama!

— Não se preocupe, Alibaba-dono! Você está precisando de dinheiro? Posso depositar agora para você!

— Não, não! Só faz isso pra mim, tá?

— Fique calmo!

— Vou desligar, um ônibus decidiu parar pra mim!

— Me avise quando chegar em casa!

Quando Hakuryuu desligou ele encontrou um Judal nada satisfeito. Ele tinha os braços cruzados e parecia ter esperado por séculos pela atenção de seu amado.

— Me desculpa, Judal, mas o Alibaba-dono precisava de ajuda…

— Eu já vi que ele é mais importante pra você do que eu sou!

— Hm?! - os olhos azuis desiguais piscaram. - Do que está falando?!

Foi então que Judal, bastante irritado, se levantou.

— Eu estou falando que estou de saco cheio de você “Alibaba-dono” pra cá, “Alibaba-dono” pra lá! Você, por acaso, é apaixonado por ele, Hakuryuu?! Abra o jogo comigo! - exigiu Judal.

— Você enlouqueceu?! O Alibaba-dono é meu melhor amigo!

— Melhor amigo e o que mais?! - Judal ergueu o tom de voz. - E o que EU sou pra você!?

Hakuryuu, bastante sério, não respondeu Judal. A única coisa que ele fez foi empurrá-lo, fazendo-o cair sentado na cama para, então, se colocar sobre o moreno, ajoelhando-se tendo Judal entre suas pernas.

— Você é quem eu amo e… a quem eu quero pertencer!

Os olhos vermelhos estavam arregalados quando Hakuryuu, sem dar chance de resposta a Judal, o agarrou pelas laterais da jaqueta e o puxou para um beijo intenso, inclinando-o para se deitar naquela cama.

Por mais que Hakuryuu estivesse nervoso, ele estava decidido a se entregar a Judal e, precisava deixar aquilo claro, ao se afastar dele para recuperar o fôlego.

— Eu espero que você tenha entendido o que eu quero, Judal!


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Notas finais do capítulo

Uffaaaaa, que capítulo enorme!!!! Eu pretendia trabalhar tooooda essa situação juhaku neste capítulo, mas aconteceu tanta coisa que tivemos que adiar. Mas prometo que será inesquecível! ♥
Alibaba está com sérios problemas! Tudo por conta do vovô churrasqueiro! Será que ele vai conseguir um novo emprego ou ter que se sujeitar a Kougyoku?
A música no começo do capítulo é Paradise City, do Guns'n Roses. Acho que é uma música bem juhaku loucões, em especial o Ju! Hahaha!
A pousada para onde Judal e Hakuryuu foram foi baseada em um lugar real que fica em Penedo, no Rio de Janeiro, tirando alguns detalhes! ♥ Hahaha!
No próximo capítulo entrarão novos - novos? - personagens e se de um lado as coisas vão ficar mais leves... do outro vão ficar mais sérias!
Obrigada por lerem e lembrem-se que eu demoro, mas respondo todas as reviews, então mandem críticas, elogios, ou só pra conversar comigo! ♥ Um beijão!



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