Escape escrita por Miaka


Capítulo 14
Lying for you


Notas iniciais do capítulo

Eu lembro que quando comecei Escape, planejava 5... 10 capítulos para ela. E onde já estamos? Hahaha! Espero que estejam gostando. E como em todas as minhas histórias, em meio ao mar de rosas, sempre há tantos espinhos...



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Os olhos, que possuíam distintos tons de azul, cresceram ao vê-la ali, apoiando as duas mãos ao batente da porta daquele quarto.

Bem arrumada como sempre, era difícil dizer que aquela mulher, de aparência tão jovem, era mãe de um rapaz de mais ou menos vinte anos. Nem ele mesmo, às vezes, acreditava ser filho de Ren Gyokuen.

Ela tinha um largo sorriso talhado no escarlate do forte batom que contrastava com a pele branca, cuja única “imperfeição” era a pinta próxima ao queixo. E apesar de usar um elegante blazer salmão por cima dos ombros, aberto ele não era o suficiente para esconder a fartura dos seios que eram praticamente espremidos pelo tubinho preto que ia até o começo de suas coxas. Nem de longe suas roupas condiziam para uma mulher que chegava aos cinquenta também.

E por mais que, instintivamente, Hakuryuu rangesse os dentes e rosnasse para ela, subitamente ele sentiu tal sentimento ser impelido. Ela realmente estava ali para visitá-lo? Parecia surreal.

Observando-a caminhar em sua direção, o único barulho que ecoava no ambiente além dos sapatos daquela mulher, eram aqueles constantes bips que monitoravam os batimentos cardíacos de Hakuryuu. Ele não pôde esconder quando aquela frequência acelerou, a medida em que ela se aproximava.

— Está tenso comigo aqui, meu querido Hakuryuu? - perguntando com uma ternura que há muitos anos ele não via, Gyokuen finalmente chegou á lateral de seu leito. - Ah, como eu estava preocupada…

Hakuryuu permaneceu com os olhos arregalados, assustado e sem saber como agir quando a mulher afagou seu rosto, encarando-o tão de perto.

— Não vai dizer nada? - ela ainda segurava a maçã do rosto do rapaz quando perguntou. - Ah, eu entendo… Deve estar bem assustado ainda com tudo o que aconteceu! Eu passei noites em claro preocupada com você, meu filho querido! Ah, e tínhamos brigado… - ela suspirou.

Ele balançou a cabeça, como se aquele movimento pudesse tirar de sua mente aquela estranha ilusão de que as palavras de sua mãe eram reais. Ele a conhecia muito bem e não podia se esquecer da última vez que se viram, como ela o ameaçou, como ela o desejava ver morto.

— Você está tão maduro, Hakuryuu… - Gyokuen sorria. - Já é um homem. Tão bonito e parecido com meu Hakuy…

Subitamente ele usou da mão saudável para arrancar a que a mulher usava para acariciar seu rosto.

— NÃO OUSE FALAR DO MEU IRMÃO! - ele vociferou, a voz abafada pela máscara de oxigênio.

Surpresa com a reação inesperada de seu filho, mas satisfeita ao ver que estava o perturbando, Gyokuen teve de conter seu melhor sorriso. Forjando a maior tristeza do mundo ao insistir, segurava agora as duas maçãs do rosto, o qual Hakuryuu fez questão de virar na direção oposta, a testa franzida.

— Meu filhinho… Do que está falando? Shhh, eu entendo que está confuso. Quando você acordou daquela vez, depois do incêndio, você também dizia coisas sem sentido.

— Coisas que me confirmou… como o assassinato dos meus irmãos e do meu pai!

— Eu nunca falaria uma mentira dessas, Hakuryuu… - ela chegava a lacrimejar. - De novo está delirando com coisas que não existem, meu amor?

A sinceridade que aquela mulher conseguia simular chegava a por em dúvida o coração de Hakuryuu. Ele voltou a balançar a cabeça para os lados, tentando convencer a si mesmo de que ela estava, novamente, lhe enganando, apesar de estar, de fato, em dúvida. Sentia-se tão confuso.

— Se eu estou aqui é porque os capangas do Kouen, os seus capangas, me sequestraram, me encheram de tiros!

— O quê?!

Ela arregalou os olhos, chegando a se afastar. Suas mãos tremiam.

Hakuryuu, incrédulo, assistia àquilo que ele tentava acreditar ser uma encenação, como sempre, mas ela realmente parecia chocada.

— Não, não pode ser! Me disseram que você se envolveu em uma briga! Kouen jamais faria isso, ele sabe que eu não o perdoaria!

E, bastante aflita, Gyokuen tirou o celular da bolsa. Como se naquele momento ela estivesse tão nervosa a ponto de ignorar Hakuryuu, que permanecia a encará-la completamente atônito, em especial porque, subitamente, ele começava a acreditar nas palavras daquela mulher e… duvidar das suas próprias convicções.

Será que, realmente, ele tinha delirado quanto à revelação de Hakuyuu, que havia usado seus últimos suspiros para lhe revelar que sua mãe havia planejado aquele atentado contra eles?

Será que estava tão atordoado com aquilo tudo que imaginou sua mãe confirmando, há tantos anos atrás, ter tramado tudo aquilo?

Será que ela realmente não sabia de nada sobre a emboscada de Kouen?

— Tsc, ele não atende! Mas… - ela voltou a se aproximar da cama e tomou a mão de seu filho. - Hakuryuu, eu prometo que vou falar com Kouen. Não vou permitir que o machuquem, tá? Não mais.

Hakuryuu estava completamente atordoado ao encarar aquela mulher. Era como se tudo o que acreditasse, subitamente, ruísse.

— Não se preocupe quanto ás coisas que você tem imaginado. Eu entendo que você precisa de ajuda, meu filhinho…

Ele não afastou sua mãe quando ela voltou a acariciar seu rosto, beijando com carinho sua fronte. E foi nesse exato momento que a porta voltou a se abrir.

— HAKURY...

Aquele que adentrava extremamente sorridente enquanto trazia duas sacolas de mercado interrompeu seu próprio caminho, chocado por ver aquela mulher ali. Ela acariciava o rosto de Hakuryuu, que não ousava reagir contra.

As duas sacolas escaparam por entre suas mãos e foram ao chão.

Judal praticamente marchou até o leito de Hakuryuu, de onde puxou o braço de Gyokuen.

— O que pensa que está fazendo?! - ele vociferou, os olhos centelhavam sua fúria.

— Aaaah! - a mulher gemeu, sendo afastada de seu filho.

— J-Ju… - Hakuryuu foi interrompido por fortes tossidos. - Judal! Acalme-se!

— Hakuryuu! O que pensa que está fazendo deixando essa louca aqui assim com você?! Por que não chamou um enfermeiro?! É só tocar essa campainha! - ele se voltou rapidamente para a mulher que estava em seu encalço. - E você, como conseguiu entrar aqui?!

— Pela porta da frente como você, seu traficantezinho! - ela sorria.

— Quê?! - ele arqueou a sobrancelha.

— Quer ver a minha autorização judicial? - Gyokuen abriu a bolsa com a mão livre e tirou de lá uma pasta.

— Não… não é possível…

Judal estava chocado.

Soltou o braço de Gyokuen para abrir aquela pasta e, incrédulo, folhear aquele processo.

Ela estava autorizada a visitar Hakuryuu da mesma forma que ele.

— Isso é ridículo! - ele praticamente arremessou aquela pasta de volta para a mulher que tinha um largo sorriso no rosto.

— C-calma, Judal…

— Hakuryuu!

— Quem é esse rapaz sem educação, meu querido Hakuryuu? - ela quase chorava.

O sangue de Judal fervia. Não tinha como se conter.

— O MESMO QUE IMPEDIU QUE ENVENE...

Cruzando olhares com Hakuryuu, o moreno se conteve imediatamente. Ele ainda não sabia que Gyokuen havia tentado lhe matar no hospital. Ainda estava tão abatido e se recuperando, não era uma boa ideia falar sobre aquilo naquele instante.

— Judal? - ele piscou, como se pedisse que Judal prosseguisse. - Vocês se conhecem?

Não respondendo nada, apenas cruzando os braços, evitou encarar Hakuryuu, que nada entendeu.

— Bem, Hakuryuu, eu vou embora por enquanto. - ela se voltou ao filho. - Voltarei amanhã com Hakuei, o que acha?

— Anh? Minha irmã? Mas…

Lembrava-se da última vez que havia visto sua irmã. Quando ela havia pensado que estava atentando contra a vida de sua mãe. Pensava que ela estaria tão magoada.

— Ela estava tão preocupada! Vai ficar tão feliz!

Judal sentia náuseas ao ver os polegares de Gyokuen deslizando pelo rosto de Hakuryuu, que parecia completamente alheio à verdade que ele mesmo pregava. Se sua família tanto tentava se livrar dele, era por culpa daquela mulher. Mas não queria, definitivamente, naquele momento fazê-lo passar por alguma situação ruim. Ele precisava se recuperar e a prioridade era sua saúde. Então Judal respirou fundo e esperou ela se despedir.

— Trarei coisas gostosas pra você comer também! Preocupe-se apenas em melhorar, Hakuryuu.

Ele apenas assentiu, estando tão confuso e não sabendo como reagir.

Judal apenas desviou o olhar quando a mulher depositou um beijo na fronte de seu filho, antes de sair. Hakuryuu apenas encarava o rapaz, questionando si mesmo o porquê de tanta indignação. Ao mesmo tempo se sentia tão confuso.

— Judal… - ele chamou. - Por que se irritou tanto ao ver minha mãe aqui?

— Anh?! Esqueceu do que você mesmo me contou? De tudo o que ela fez?! - o moreno o encarou. - E do que passamos por culpa dela, do Kouen…

— Ela não sabia, Judal! - Hakuryuu o interrompeu. - Quando a contei, ela disse que não sabia, inclusive tentou ligar para o Kouen para cobrar satisfações!

— E você acreditou nisso?! - Judal massageava as têmporas.

— Ela estava muito diferente e, Judal, eu estava pensando se… se eu realmente não devaneei as coisas e não foi… não foi nada como pensei.

— O quê?! Hakuryuu, operaram seu pulmão e não seu cérebro!

O mais jovem suspirou, recostando-se de volta aos travesseiros. Ainda se sentia tão cansado e… faminto.

— Eu só queria acreditar que ela realmente não é esse monstro que acho! Talvez eu… tenha delirado com o que meu irmão disse, Judal.

— Você sabe que não foi delírio, Hakuryuu! - rebateu.

— Fiquei dois meses em coma! Quando acordei, mal sabia quem eu era direito. - ele tentou explicar. - Talvez eu tenha tido um pesadelo e assumi ser real…

— Você disse que ela confessou o que fez…

— Eu posso ter delirado isso também… - Hakuryuu apertava os dedos entrelaçados sobre seu colo.

Judal suspirou. Agora ele tinha que lidar com mais um problema além de Gyokuen estar autorizada a transitar naquele quarto: convencer Hakuryuu de que sua mãe não prestava, mas ele não se permitiria contar agora sobre a primeira visita que aquela mulher o fizera.

Tudo o que fez foi beijar o topo dos fios azulados e afagá-los.

— Tudo bem, tudo bem. Você tem que descansar. - ele tentava ser compreensivo.

Hakuryuu apenas cerrou os olhos, recostado àqueles travesseiros. Sentia-se tão confuso. Será que estava sendo injusto com sua mãe e ela poderia estar sendo tão usada por Kouen quanto… sua irmã? Será que queria afastá-lo para protegê-lo?

— Disseram que o doutor logo vem te examinar e vão trazer uma boa comida pra você também. - ele se sentou na poltrona ao lado da cama. - Enquanto isso não posso te dar chocolates. - ele tirou duas barras daquela sacola de plástico.

Os olhos desiguais cresceram. Aquela marca de chocolate belga era a favorita de Hakuryuu, além de ser bastante cara.

— J-Judal, como sabia que gosto desse chocolate? - ele perguntou.

— Você não devia deixar sua conta do Instagram aberta. Sempre que você compra desse chocolate você tira foto. - o moreno corou, constrangido ao revelar ter espionado as contas de Hakuryuu.

— Você ficou procurando, é? - o mais jovem riu.

Tsc, nada a ver. - Judal estalou a língua. - Também fiquei com seu celular e acabei dando uma olhada nas fotos… Fui procurar o telefone do Alibaba agora também para avisar que você acordou.

— O Alibaba-dono? - ele abriu um largo sorriso. - Ele esteve aqui?! - animado, Hakuryuu logo perguntava.

Judal revirou os olhos e, sem perceber, fez bico ao ver como o rapaz parecia exasperado e feliz meramente por ouvir o nome daquele “loirinho sem-graça”, como o apelidara.

Ao notar a expressão de desagrado, Hakuryuu voltou a rir baixinho.

— O-oe, do que está rindo?! - as bochechas ficavam ainda mais vermelhas.

— Não precisa ter ciúmes do Alibaba-dono! - ele ria.

— Q-que ciúmes? Está louco?! Eu não tenho que sentir ciúme nenhum, afinal, nós… nós ainda não temos nada… - Judal coçou a nuca. - digo, oficialmente.

— Alibaba-dono é um grande amigo, Judal. Ele era… a única pessoa com quem sempre pude contar. - Hakuryuu declarou com um grande carinho. - Eu espero que fiquem amigos também!

—-----xxxxxx-------

Ele esperava pacientemente sentado naquele confortável sofá. As obras do luxuoso apartamento já haviam terminado e a decoração estava quase completa. Tudo havia sido escolhido a dedo pela noiva de Alibaba.

Naquele momento ele tinha um largo sorriso estampado no rosto enquanto digitava uma mensagem para Aladdin. Estava tão feliz ao saber que Hakuryuu já estava fora de perigo e se recuperando tão rapidamente!

Alibaba ouviu o suave soar da campainha e do elevador que já dava para o salão do amplo apartamento, saiu Kougyoku. Assim que a moça deu o primeiro passo, o loiro se levantou, dando a volta no sofá e se aproximando dela.

— Kougyoku! Tenho ótimas notícias!

A animação dele contrastava perfeitamente com a melancolia gravada no rosto da moça.

Kougyoku tinha os olhos bastante inchados e Alibaba podia sentir que, misturado ao aroma do doce perfume de sua noiva, estava o forte cheiro de erva impregnado em suas roupas.

Ao notar aquilo, de imediato, ele franziu o cenho.

— Andou usando drogas de novo? - ele foi direto.

Ela, por sua vez, nada respondeu. Cabisbaixa e hesitando encará-lo, desviou de Alibaba, depositando a bolsa no mancebo que ficava próximo à entrada. Aquilo irritou ainda mais o rapaz que, obstinado a seguiu, segurando-a firmemente pelo braço.

— Kougyoku, o que tínhamos combinado?! - questionando com rispidez, Alibaba segurou os dois braços da moça, chegando a sacudi-la um pouco. - Disse que nos casaríamos, mas você tinha que largar as drogas. - ele lembrou. - Me chamou aqui para isso? Para eu ver que está descumprindo nossa promessa?

Por mais que estivessem sendo obrigados a casar, Alibaba tinha um grande carinho por Kougyoku. Era sua melhor amiga, junto de Hakuryuu, e ele pensava que, talvez ao se casar com ela, pudesse ao menos impedi-la de continuar se drogando. Sabia que ela usava a droga como um escape.

— Eu te chamei aqui… - ela finalmente se vez ouvir. - pra te avisar que não vamos mais nos casar, Alibaba-chan.

As duas gemas douradas cresceram. Do que ela estava falando?

— Está louca? Se não nos casarmos, Kouen te deserda e eu vou para a cadeia por causa dos débitos que meus irmãos fizeram! - Alibaba relembrou, mais uma vez, algo que eles tinham pleno conhecimento. - Sem contar que.. - ele corou. - você é minha melhor amiga, eu gosto muito de você…

— Eu sei que você não me ama, Alibaba-chan.

Kougyoku finalmente ergueu o rosto e o mostrou com duas trilhas de choro. Ela estava tão triste e Alibaba sabia que aquilo não era um mero efeito do uso de drogas.

— Do que está falando, Kougyoku? - abrandando, ele suavizou a voz. - Eu adoro você.

“Adoro”... Ele nunca fora capaz de dizer que a amava e ele sabia o porquê daquilo.

— Não está certo o que estamos fazendo. - a moça soluçava. - Eu vou me resolver com os meus irmãos. Se precisar ficar um tempo fora da cidade, vou te ajudar.

— K-Kougyoku, eu quero me casar com você!

— Pare de dizer besteiras… - ela evitava encará-lo. Como temia pela veracidade dos sentimentos de Alibaba. Como desejava que ele a odiasse.

— Não é besteira. Ei… - ele sussurrou, tomando o rosto dela numa mão. - Eu quero ficar com você, acalme-se. Não tem porque ficar assim...

A mão suave do loiro deslizava por seu rosto. Ele era tão delicado, tão doce e aquilo fazia a culpa corroer sua alma. Afinal, quantas vezes durante aquele noivado que acreditava ser meramente por interesse não havia ido para a cama com Judal? Como só após aquela recente descoberta, o medo avassalador de perder Alibaba, a fizera cair em si de que o amava de verdade? E como era doloroso pensar que havia posto a perder a chance de ter alguém tão especial como Alibaba, exatamente como Judal lhe dissera.

— Eu vou aprender a te amar.

E dizendo aquelas palavras, Alibaba se aproximou o suficiente para selar os lábios de Kougyoku nos seus. Com os olhos arregalados, ela não acreditava no que estava acontecendo. Ele parecia tão decidido e aquele beijo tinha tanto sentimento. E pensar que havia chegado ali decidida a terminar tudo com ele, tendo se drogado justamente para que Alibaba tivesse raiva dela, sabia como ele odiava o fato de ela usar entorpecentes. Mas não. Agora ele estava ali, novamente dizendo que não desistiria dela e mostrando o quão maravilhoso poderia ser àquilo que, a tanto contragosto, tiveram de aceitar.

Alibaba se afastou para que recuperassem o fôlego, mas ele permaneceu a segurar o rosto da jovem, que tinha as bochechas completamente vermelhas. Ele sorria abertamente.

— Recebi uma notícia ótima!

— Hm? - ela piscou.

— Hakuryuu já está fora da UTI e acordou!

Kougyoku engoliu a seco e o loiro logo estranhou aquela atitude. A alegria que estava tão nítida em seu rosto, subitamente, desapareceu.

— Não ficou feliz? - indagou. - O estado dele era muito grave!

— C-claro que sim… - ela gaguejou. - Apesar de tudo, não tenho nada contra meu primo. Pelo contrário, o que fazem com ele é bastante injusto…

— Vamos visitá-lo? Judal me passou o horário da visita! Eu não sei se você vai conseguir vê-lo, mas eu consegui uma liberação pelo Sinbad-san. Pode me dar uma carona, Kougyoku?

Alibaba tinha as mãos juntas como se implorasse para a moça que, ainda tão atordoada, apenas assentiu. Aquilo estava errado. E se ela encontrasse Judal? O que faria? O que falaria?

Tinha decidido resolver aquele problema sozinha, sem ajuda dele nem de ninguém. E vendo Alibaba tão obstinado a conquistá-la para serem felizes de verdade ela tinha mais confiança. Não seria difícil…

— Kougyoku?

Vendo que ela estava tão distraída, perdida em pensamentos tão distantes, Alibaba a chamou, um tanto quanto preocupado. Ela piscou, voltando à realidade e a encará-lo.

— C-claro, vamos!

— Então, Hakuryuu-san, acho que em breve poderá sair daqui!

—-----xxxxxx-------

O médico de beleza exótica terminava de anotar algumas coisas em sua prancheta, após examinar o rapaz que parecia animado com aquela notícia.

— Posso ir embora amanhã?!

— Não, não. - ele riu. - Em breve para alguém que teve o pulmão perfurado. Acho que daqui a algumas semanas.

— Semanas?! - Hakuryuu arregalou os olhos e suspirou, desolado.

— Tem alguma urgência para resolver? - Sphintus apiedou-se.

— Na verdade… eu acho que já perdi minha vaga na universidade em Londres. - o jovem parecia conformado, sorrindo melancolicamente.

— Ah, você vai estudar fora, Hakuryuu-san? Posso perguntar qual curso?

— Iria estudar Botânica… - ele ainda sorria com tristeza. - Aconteceu tanta coisa, acho que já não vou poder começar mais.

— Sinto muito… Mas você é jovem, pode tentar no próximo semestre. De qualquer forma, aquele rapaz sentiria muito sua falta se fosse bem agora, não é?

Hakuryuu corou no mesmo instante em que o médico disse aquilo com um doce sorriso em seus lábios. Era como se ele soubesse de algo. Será que havia os visto se beijando?

— Como?

— M-me desculpe, acho que confundi as coisas. - ele riu, meio sem jeito. - É que é impossível não notar como seu amigo gosta de você! Praticamente todos no hospital se comoveram em como ele ficou preocupado.

— V-verdade? - Hakuryuu gaguejou, querendo saber mais.

— Sim, em especial quando estava na UTI e aquela senhora invadiu seu quarto.

— Anh?

Do que o médico estava falando? Judal não havia lhe contado nada sobre aquilo.

— S-Sim, quando a sua mãe entrou aqui e tentou… err…

— Minha mãe esteve aqui enquanto eu estava desacordado? - aflito, Hakuryuu questionou.

Sentindo que havia contado mais do que devia, o moreno deu um passo para trás. Então Judal não tinha dito nada sobre, talvez para poupá-lo. De qualquer forma, já era tarde demais.

— Me desculpe. Sinto que não era pra ter contado logo…

— Por favor, Sphintus-sensei. - o jovem o interrompeu. - Preciso saber! Minha mãe esteve aqui e o que ela fez?

— Bem… ela tentou envenenar você. Conseguiu despistar toda a segurança e, se não fosse por Judal, ela teria injetado no seu soro uma substância que o mataria rapidamente.

Lembrava-se de ter, por um breve instante, questionado todas as suas convicções, acreditando que sua mãe realmente estava preocupada com sua saúde. Judal não o contara nada, apesar de ver sua aflição. Por que havia agido assim? Por que aceitara que estava convencido da inocência de sua mãe? Não podia ser possível… Mas era compreensível, afinal, Judal trabalhava para Kouen. Era óbvio que poderia tentar lhe matar. Como tinha sido ingênuo.

— Hakuryuu-san?

— Hm? O-obrigado por me contar, sensei

Foi tudo o que Hakuryuu disse. O médico apenas sorriu e assentiu.

— Bem, meu plantão por hoje acabou, mas os enfermeiros e o plantonista que vão assumir agora estarão de prontidão, ok? Qualquer coisa, pode chamá-los e não se preocupe que há policiais fazendo guarda na porta do seu quarto.

— Obrigado de novo, Sphintus-sensei.

— Vou chamar o Judal, ele já deve estar ansioso lá fora.

O moreno sorriu antes de deixar o quarto de seu paciente e, como esperado, encontrar Judal do lado de fora. Ele parecia bastante ansioso para voltar para junto de Hakuryuu.

— Como ele está, doutor?

— Está ótimo! Se não fosse pela fragilidade depois de uma situação tão drástica, certamente poderia liberá-lo logo, mas vai demorar um tempo até que tenha alta. Você já pode entrar e ficar à vonta…

— PAPAI!!!

Ambos se surpreenderam ao ouvir o exclamar de uma voz infantil. Passos apressados vinham pelo corredor daquela pequena menina que se soltou da mão de quem a acompanhava. Assim que se aproximou do moreno, que abriu um largo sorriso ao vê-la, a criança pulou em seu colo.

— Marga!

Sphintus a tomou no colo. A menina de medianos cabelos ruivos, presos em baixas maria-chiquinhas, beijava o rosto daquele que ela chamava de pai.

— Marga, seu pai ainda está trabalhando!

Judal olhou para o lado e se surpreendeu com o rapaz que tinha um rosto de traços suaves, bastante femininos. Longos cabelos tão loiros caiam por suas costas. Algumas mechas eram trançadas e se misturavam àquelas ondas douradas tão bonitas e que contrastavam com o intenso azul de seus olhos.

— Papai Titus ficou zangado porque corri até você, papai Sphintus!

Para Judal aquela situação era bastante atípica. Foi inevitável não se surpreender ao ver a menina que chamava os dois homens de pai. Mas mesmo notando a estranheza no olhar do rapaz, Sphintus permaneceu a sorrir, com bastante orgulho.

— Permita-me apresentar meu companheiro, Titus, e nossa filhinha, Marga, Judal-san.

— Muito prazer. - Titus estendeu a mão para Judal, que o cumprimentou esboçando um sorriso curioso. - Me perdoe nossa filha ter interrompido a conversa entre vocês.

— O… O prazer é todo meu. Não se preocupe, é uma criança. - ele sorriu.

— Se me dá licença, tenho que ir, Judal-san. - Sphintus avisou sem tirar a pequena do colo. - Prometemos levar a Marga ao cinema hoje. Ela está muito ansiosa. Amanhã o vejo por aqui. Boa noite e, qualquer coisa, pode me ligar.

— C-claro. Muito obrigada. Boa noite...

Judal respondera tudo de forma automática. Estava abobado assistindo aquela bela família que deixava os corredores do hospital. A menina que foi posta no chão seguiu entre o casal, de mãos dadas ao médico e ao seu companheiro.

Um sorriso bobo cruzava seus lábios e um pensamento que nunca tivera antes parecia divertido em sua mente. Sentia-se tão patético por ter reprimido seus sentimentos por outro homem, em especial ao ver uma família como aquela e que… quem sabe um dia ele poderia construir ao lado de Hakuryuu também?

Aquela situação tão típica fez com que Judal se sentisse mais leve ao adentrar o quarto onde… seu companheiro - ele havia aprendido aquela forma de se dirigir agora - estava.

— Soube que está se comportando muito bem! - divertido, Judal comentou ao fechar a porta atrás de si. - Então acho que já pode comer um daqueles chocolates que trouxe!

Ao terminar de falar, Judal estranhou a quietude de Hakuryuu.

Não respondendo nada, os olhos azuis pareciam duas pedras de gelo ao lhe encararem. O que estava acontecendo?

— O que foi? - o moreno apoiou os punhos nos quadris. - Está chateado porque ainda não pode sair daqui? Ou era saudade de mim?

Rindo de forma inocente, Judal tirou de cima do criado-mudo aquela sacola e, de lá, um dos chocolates que havia trazido para Hakuryuu.

— Se continuar com essa cara feia, não vou te dar chocolate. - ameaçou.

— É com ele que vai me envenenar?

— Hm?

Judal piscou. O que Hakuryuu queria dizer com aquilo?

Devolvendo o que tinha em mãos sobre aquela superfície, Judal o encarou.

— O que você quis dizer com isso? - desentendido, Judal perguntou.

— Eu já sei que está trabalhando com Kouen, Judal! Já chega! Eu descobri que você é tão podre como eles!

— Anh?! Do que você está falando, Hakuryuu? Bateu com a cabeça enquanto eu estava fora, é?

Tentando amenizar a situação, Judal levou a mão até o rosto de Hakuryuu, que espalmou sua mão. O mais jovem praticamente rosnava para ele.

— SAIA DAQUI AGORA! Suma da minha vida para sempre!


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Notas finais do capítulo

Será que já está ficando claro o que a Kougyoku está escondendo?
Fazia tempo que eu queria fazer essa cena do Sphintus e do Titus com a Marga. O engraçado é que escolhi o Sphintus para ser um médico figurante meramente pela compatibilidade dele com magia do tipo vida. Acabou que eu dei muito mais importância a ele. Provavelmente ele permanecerá na fic, mesmo depois que eu terminar esta parte. ♥
Espero que estejam gostando e lembrando que comentários, elogios, críticas são sempre bem-vindos e respondidos com muito carinho! ♥



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