Escape escrita por Miaka


Capítulo 13
Waking up for you


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! ♥ Estou voltando do meu breve hiatus de quase um mês! Estive de férias e aproveitei para organizar algumas coisas, mas as fics voltam agora a ser semanais. Escape ás vezes falha nisso, mas... hahaha Anunciando também que estou trabalhando na Juhaku Week no Tumblr. Vocês podem achar minhas fics em inglês no meu profile do A03 e no meu Tumblr: mimichele. Porém, já estou traduzindo as minhas fics para o português e em breve trarei para cá também, espero que leiam e curtam! ♥



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Controlando seu próprio desespero, Sinbad rasgou com as próprias mãos aquele enorme saco, encontrando, assim, aquele rosto que era escondido pelos longos fios que estavam soltos, completamente bagunçados.

— Ja’far, traga àlcool.

Assim que ouviu a voz apreensiva do delegado, seu inspetor, imediatamente, assentiu e saiu daquele casebre em direção ao carro que os havia trazido até ali.

Apoiando o corpo mole do rapaz em seu colo, Sinbad afastou os fios escuros para descobrir seu rosto e franziu o cenho ao vê-lo tomado pelo arroxeado dos diversos hematomas. Sangue escorria de seu supercilio direito, a pálpebra fechada completamente inchada. As mangas de sua camisa estavam rasgadas, exibindo mais sequelas da violência que ele tinha sofrido ali. Mas ele estava respirando, o que trouxe alívio a Sinbad.

— Judal! Oe, Judal!

Tentando reanimá-lo, o delegado o sacudiu de leve. Temia feri-lo ainda mais.

Foi quando Ja’far voltou, trazendo consigo uma pequena garrafa e um lenço, o qual ele já embebia naquela substancia transparente quando se agachou ao lado de Sinbad.

— Meu Deus! - o alvo se surpreendeu com a aparência de Judal.

— Parece que o Judal já está sendo cobrado por estar trabalhando conosco. - Sinabd comentou enquanto tomava aquele lenço de Ja’far e o aproximava do rosto do moreno.

Não demorou muito para que os olhos, até então cerrados, apertassem pouco antes de Judal reagir, tossindo ao se sentir incomodado com aquele forte odor em suas narinas.

O alívio nas expressões de Sinbad e de Ja’far foi imediato, apesar do rapaz parecer completamente desorientado ao conseguir abrir apenas um de seus olhos, o outro impedido de fazê-lo devido ao inchaço. Piscou duas vezes, sentindo-se acolhido em braços quentes que o seguravam firmemente contra seu peito.

— Oe, Judal!

Sinbad lhe chamou e, conseguindo recuperar o foco, Judal o encarou, um tanto quanto confuso.

— S-Sinbad? - ele gaguejou.

— Vamos levá-lo para o hospital, não se preocupe. - o delegado avisou de antemão.

— Hospital?

Foi só então que Judal caiu em si de tudo o que havia acontecido e, aliás, do que estava acontecendo naquele instante.

Abruptamente ele tentou se levantar, sendo impedido por Sinbad e pelas dores que maltratavam seu corpo. Gemeu alto ao tentar apoiar o braço ao chão.

Tsc, não se mexa! - Sinbad o repreendeu.

— Está louco?! Já amanheceu! Eu fiquei aqui a noite toda! Merda! - resmungou. - Maldito Kouen…

— Kouen que o trouxe aqui? - Ja’far indagou.

— N-não te interessa. - Judal desviou o olhar.

— Judal, viemos aqui te ajudar. - Sinbad o encarou. - Olhe seu estado! Que tipo de tortura sofreu aqui?

— Eu preciso ir ver o Hakuryuu. - foi tudo o que ele disse, ignorando a pergunta do delegado.

— O horário de visitas já passou. - o moreno suspirou.

— Quê?! - ele arregalou o único olho aberto. - Que horas têm?!

— Já passa das cinco. - foi a vez de Ja’far se dirigir a ele.

Judal não podia acreditar.Havia ficado naquele cativeiro tanto tempo assim?

Como podia não ter ido visitar Hakuryuu? Como ele estava? E como havia ficado sozinho a lhe esperar? - ele se perguntava enquanto a culpa parecia destroçar seu coração.

— Só viemos até aqui porque o Sphintus-sensei se preocupou com sua ausência no horário de visitas. - Sinbad explicava. - Como sei que jamais faltaria, me preocupei e Ja’far rastreou seu celular.

Judal suspirou pesado. Tentava assimilar tudo o que havia sofrido mais aquela imensa decepção de não ter ido ao encontro de Hakuryuu.

Ansiou tanto por voltar a vê-lo para, no final, falhar daquela forma.

— Aquele filho da puta!! - Judal dizia entredentes, referindo-se a Kouen.

— Judal, o que aconteceu aqui? - o delegado insistia.

O rapaz se esforçou para se sentar, sendo amparado por Sinbad. Seu corpo doía por completo. Aqueles capangas haviam lhe surrado de todas as formas.

— O que acha? - retoricamente, Judal perguntou. - Depois que impedimos a bruxa de matar o Hakuryuu, Kouen veio me dar uma prensa! Botou seus capangas pra me foder assim! Nem sei como não me mataram, argh! - ele segurava o próprio braço esquerdo.

— Vamos para o hospital! Precisa tratar esses ferimentos! - Sinbad afirmou.

Tsc, eu quero ir ao hospital ver o Hakuryuu, isso sim! Eu estou bem!

E, com dificuldades, Judal tentava se levantar.

Sinbad suspriou, cruzando os braços e assistindo a patética tentativa daquele que espalmou a mão de Ja’far, que fazia menção de ajudá-lo a se reerguer. Seu orgulho era maior.

— Por que não usou a arma que lhe dei? - Sinbad perguntou.

— Porque não vou meter uma bala na cabeça do Kouen com uma arma que é registrada com teu nome. - Judal respondeu como se aquilo fosse óbvio. - E não tive nem como em defender. Fui rendido por aquele miserável! E a culpa é sua, Sinbad! SE EU NÃO ME ENVOLVESSE COM…

— COM O HAKURYUU?! - Ja’far interrompeu, os braços cruzados.

— NÃO SE METE, MAGRELO! - Judal retrucou quase cuspindo.

— Por que não pára de culpar suas próprias atitudes e conseqüências delas no Sin?!

Aaaaah! - Judal parecia surpreso com a firmeza nas palavras do alvo. - Agora a esposinha vai defender seu machinho? - irônico, ele indagou.

— Deixe de ser patético! - retrucou o inspetor de uma forma tão firme que Judal desconhecia. - Acha que Hakuryuu vai querer algo sério com alguém que fica em cima do muro?!

— Q-quê?!

Judal corou. Do que Ja’far estava falando? Era como ele tinha conhecimento do que sentia por Hakuryuu, como se soubesse que não havia apenas uma amizade, e sim um sentimento bem maior.

— Não é porque gosta de outro homem que não tem que agir como tal! - Ja’far permanecia falando com rispidez. - Se não tem pulso firme para assumi-lo, vá embora! Esqueça o Hakuryuu! Ele não merece quem fica do lado dos bandidos que querem matá-lo!

Sinbad observava sem questionar as palavras de Ja’far.

Já Judal estava bastante atônito. O inspetor costumava transmitir sempre muita calma e tranquilidade. Como se fosse incapaz de revidar qualquer ofensa, mas agora ele estava ali lhe dando uma lição?

— Você… - ele estalou a língua, não sabendo o que dizer. - não sabe de nada.

— Sei sim! - Ja’far deu um passo a frente. - Eu fui homem para assumir meu relacionamento com o Sin. Você acha que ama o Hakuryuu? - cruzando os braços, ele estreitou os olhos ao encarar Judal. - Pois que amor é esse que você continua aliado aos bandidos que querem matar quem você diz amar? Se toca, Judal! Ou vai querer perder mais uma pessoa que ama? Vai ser esse seu álibi para continuar na vagabundagem? No crime?!

E não é que ele estava certo?

Não tinha sido assim da primeira vez?

Ja’far permanecia a encará-lo e Judal apenas pôde abaixar a cabeça, o olhar perdido.

Percebendo o clima tenso que havia se instaurado ali, Sinbad coçou a nuca, decidindo se manifestar.

— Bem, vamos para nosso apartamento. Fique lá hoje!

— Eu tenho casa, Sinba… argh!

Judal foi surpreendido pela mão firme do delegado que havia segurado seu braço. Foi o suficiente para que seus joelhos fossem ao chão, tamanha dor que sentira.

— Oe, Judal!

Preocupado, Sinbad se agachou rapidamente para amparar o rapaz que ofegava, segurando o braço ferido.

Ja’far fez o mesmo para observar bem de perto o arroxeado que havia na região do ombro. Entreolhou Sinbad, que apenas assentiu, como se soubesse o que seu inspetor estava pedindo.

Judal mordia o lábio inferior, tentando se conter em meio àquela dor, quando sentiu as duas mãos suaves segurarem sua mão e seu cotovelo. Friamente, Ja’far puxou o braço do rapaz que urrou, debatendo-se, ao sentir aquela dor lancinante.

— Pronto. - o alvo sorriu ao soltar Judal.

— Seu idiota! - as lágrimas caiam dos olhos rubros. - O que pensa que...

Foi só então que ele percebeu que gesticulava usando o braço ferido. O que ele havia feito?

Atônito, Judal piscou, abrindo e fechando os dedos enquanto tentava entender como aquela dor havia cessado.

— Eu coloquei seu ombro no lugar. - Ja’far explicou, reerguendo-se. - E você devia ser mais agradecido. - ele cerrou os olhos, cruzando os braços.

Judal contorceu o lábio, tentando lutar contra seu orgulho.

— O-Obrigado…

Sinbad coçou a ponta do nariz enquanto escondia um risinho contido. Aquilo foi o suficiente para que as maçãs do rosto de Judal assumissem a mesma cor de seus olhos.

— Bem, vamos logo para casa!

— Eu já disse que não vou com vocês!

— Você está sem celular, sem dinheiro, todo machucado e sujo, parecendo um mendigo. - Sinbad o encarou. - Vai realmente ficar nesse lugar remoto sozinho?

Suspirando ao ouvir a constatação óbvia de Sinbad, Judal se levantou, sendo apoiado pelo delegado. Não tinha como negar que eles tinham razão.

E enquanto Sinbad o conduzia até o automóvel estacionado naquele terreno baldio, Ja’far inspecionava todo o ambiente. Tudo bem superficialmente porque, afinal, aquele lugar poderia ser cercado e atacado a qualquer momento.

O moreno fechou a porta traseira, a qual Judal havia usado para entrar no veículo e adentrou o mesmo. Observando-o pelo retrovisor central, ponderava se era prudente irem para casa e não a um hospital. Ele estava tão ferido...

— Você… nunca vai desistir, não é?

Ao ouvir a voz que vinha de suas costas, Sinbad recostou-se no banco e esboçou um sorriso. Era como se soubesse exatamente do que Judal estava falando, mas decidiu se fazer de desentendido.

— O que quer dizer com isso?

— De mim. - foi a resposta direta daquele que desviou o olhar do espelho para que não encarasse Sinbad. - Nunca desiste de mim. De me proteger e de… me tornar uma pessoa melhor.

Sinbad suspirou. Batia as pontas dos dedos ao volante quando decidiu não encará-lo também.

— Eu não preciso te tornar ninguém melhor. - e, pausando, o moreno voltou a fitá-lo. - Você é uma boa pessoa, Judal. Só precisa aceitar isso.

Judal respondia como sempre.  Um sorriso irônico e descrente.

Considerava Sinbad um homem tão ingênuo. Chegava a ser infantil, refletia.

— Judal… - foi a vez do delegado lhe chamar. - Preciso falar com você sobre o Hakuryuu-kun.

Hm?

Parecia que toda vez que Judal ouvia o nome de Hakuryuu, um alerta despertava nele. Alarmado, ele se esgueirou para frente, ficando entre os dois bancos dianteiros.

— O que aconteceu com o Hakuryuu?

— Primeiramente, nós conseguimos uma liminar que permite que você visite o Hakuryuu-kun quando quiser, inclusive, pode ficar de acompanhante enquanto ele estiver hospitalizado. Já que ele está sendo protegido pela polícia e só pode receber visitas autorizadas, como responsável por ele, alegamos que seria prudente e ajudaria na recuperação do Hakuryuu-kun se ele estivesse acompanhado. Infelizmente a liminar só vale a partir de amanhã. Então não tem como hoje você ir visitá-lo fora daquele horário estipulado.

Um largo sorriso cruzou os lábios de Judal. Mas este logo foi contido ao ver que Sinbad se mantinha sério. Como se houvesse algo mais que precisasse saber.

— Além disso...

Uma longa pausa torturou o coração do rapaz.

— Oe, Sinb…

— O Sphintus-sensei me ligou questionando sua ausência, mas também para comunicar que o estado do Hakuryuu-kun piorou.

— Quê?! - angústia e medo se mesclavam em sua expressão. - O que aconteceu?!

Como Hakuryuu tinha piorado? Ele já não estava péssimo? Parecia que tudo, absolutamente tudo estava dando errado! E justamente quando não havia ido visitá-lo!

— Sphintus-sensei não me deu detalhes, mas disse que ele já estava estabilizado.

— Não pode ser...

Judal voltou a se recostar no banco. Fechou os olhos na vã tentativa de reabri-los e descobrir que aquilo tudo havia sido um sonho, melhor, um pesadelo. Devia ainda estar no hospital, devia ter adormecido lá.

Não.

Ao abrir os orbes rubros, ele se viu de volta àquele carro. Não. Não era um sonho.

O que seria dele ao perder Hakuryuu? Agora que tinha… se apegado tanto a ele?

— Pronto.

Ja’far chegava trazendo, em suas mãos devidamente enluvadas, dois sacos transparentes. Um com um pequeno serrote que havia sido utilizado para torturar Judal e outro com algo que surpreendeu Sinbad. Nada menos que um crânio.

— Isso estava lá dentro? - os olhos dourados cresceram.

— Não. - Ja’far dizia ao entrar no carro. - Próximo àqueles pneus há várias ossadas. Realmente é um lugar para execução. - ele suspirou pesado.

— Espero que você consiga preparar o jantar depois do que viu. - Sinbad riu.

— É claro que sim! - o inspetor retrucou.

—------xxxxxx--------

Observando o fim daquele pôr-do-sol pelos vidros que iam do assoalho até o teto, Kouen girava na cadeira presidencial. As pernas apoiadas sobre a mesa de vidro enquanto ouvia, pelo celular, os detalhes do que havia ocorrido.

— Certo. Tem certeza de que não o mataram?

As portas duplas se abriram para revelar a bela mulher que chegava com um radiante sorriso estampado em seu rosto.

Usando um curtíssimo e rodado vestido vermelho, decotado o suficiente para exibir as curvas de seus fartos seios, Ren Gyokuen trazia alguns papéis em mãos, a bolsa Gucci pendurada em um de seus ombros.

— Meu querido Kouen!

O ruivo ergueu a mão direita, pedindo que ela esperasse ele terminar a ligação.

— Certo. Entendi.

Quando desligou o aparelho, aquela mulher já estava diante de si, sentando-se de pernas abertas em uma de suas pernas. Atritava sua intimidade com a coxa de Kouen.

Um tanto quanto incomodado, ele franziu o cenho ao sentir a calça de seu terno ficar úmida enquanto sua tia e mãe adotiva envolvia seus braços em seu pescoço.

— Sabe por que estou assim, Kouen? - ela sussurrou da maneira libidinosa de sempre.

— Você sempre está assim… - o ruivo arqueou as sobrancelhas. - Estou ocupado.

— Koumei acaba de me dar um grande presente. - ela começou. - Sabe o que é isso?

Kouen recebeu os papéis que ainda estavam nas mãos daquela mulher. Impossível não demonstrar o quão surpreso ficou quando leu o que estava escrito ali.

— N-não me diga que…

— Sim! - ela afirmou com o mais belo dos sorrisos. - Koumei realmente é incrível! Onde já se viu a justiça proibir uma mãe de ver seu filhinho que está hospitalizado? - ela dramatizava.

— Vai tentar matá-lo de novo? - ele perguntou com certa indiferença.

— Quaaaaando eu fiz isso, meu amado Kouen? Estou ansiosa para encontrar meu filhinho! Mas… quem sabe o que pode acontecer? - ela sorriu com malícia.

—------xxxxxx--------

Sentindo a claridade lhe incomodar, abriu os olhos para se ver em um lugar que ele desconhecia, ao menos de início. Como não se lembrava como tinha ido parar ali? - ele se questionava ao se levantar e perceber que suas roupas haviam sido trocadas e que cada arranhão que havia em seu corpo foi devidamente tratado. Os longos fios escuros estavam soltos.

Então, subitamente, tudo parecia bem claro. Aquele quarto era o quarto de hóspedes do apartamento de Sinbad… e de Serendine. Judal havia vivido ali por pouco tempo, mas o suficiente para que se sentisse em casa.

Levantou-se e viu sobre uma cadeira próxima àquela cama uma muda de roupas, barbeador, escova de dentes. A suite do quarto estava perfeitamente arrumada e perfumada.

Um tanto quanto curioso, observava tudo que estava tão bem organizado. Como se, ao abrir aquela porta, fosse dar de cara com Serendine.

E assim que aquele pensamento cruzou sua mente, a porta se abriu e seu coração falhou uma batida. Porém, quem adentrava aquele lugar era Sinbad.

— Descansou bem? - perguntou o sorridente moreno.

— S-Sim… - um tanto quanto confuso, Judal coçou a nuca. - Como vim parar aqui?

— Você adormeceu no carro. - ele explicou. - Aproveitamos e passamos em sua casa para buscar roupas para você ir visitar o Hakuryuu-kun. - Ja’far está fazendo o café-da-manhã. Ele que arrumou tudo para você. Não se preocupe, não o vi sem roupa. Foi o Ja’far. - Sinbad riu. - Vá se arrumar! Estamos indo para a delegacia e no caminho lhe deixamos no hospital.

— Sinbad!

O delegado já estava se retirando do quarto de hóspedes quando ouviu a voz daquele que se virou para encará-lo. Os olhos vermelhos de Judal brilhavam.

— Eu quero depor contra o Kouen! - ele dizia, decidido. - Assim que o Hakuryuu sair do hospital, eu quero depor contra ele… E vou dizer tudo!

Sinbad não estava crendo no que ouvia. Será que… as palavras de Ja’far tinham surtido tanto efeito? Via uma determinação sem par nos olhos e nas palavras de Judal. Tão diferente do irresponsável e debochado rapaz que costumava ser, ele falava com seriedade.

— Ótimo. Tenho certeza de que… você vai ajudar muito o Hakuryuu-kun assim!

—------xxxxxx--------

Não demorou muito para que chegassem ao hospital.

Estava bastante tenso após saber da piora do estado de saúde de Hakuryuu. E, percebendo isso, Sinbad e até mesmo Ja’far fizeram o possível para distraí-lo e tranquilizá-lo. Judal realmente era muito grato pelo bem que eles haviam lhe feito. Costumava implicar tanto com Ja’far. Não podia negar o quanto havia sido auxiliado por ele.

Sinbad o acompanhou até a recepção, já que devia se apresentar como responsável pela abertura do processo que dava permissão a Judal de ficar junto de Hakuryuu.

— Já posso ir ver o Hakuryuu? - Judal parecia uma criança, transbordando ansiedade.

— Acho que primeiro tenho que...

E ao olhar para o lado, Sinbad não o encontrou mais ali.

A euforia era tanta que, assim que viu um dos elevadores próximos chegar ao térreo, abrindo suas portas, Judal correu.

Com certeza Sinbad resolveria tudo e sua presença era desnecessária durante aquela burocracia. Afinal, ele precisava ir ver Hakuryuu, não importava que ainda o impedissem. Era uma necessidade.

Seu coração acelerou mais quando as portas se abriram e já estava no andar onde havia visitado Hakuryuu há dois dias atrás.

Quase atropelou os demais que estavam próximos a saída do elevador. Seguia apressado pelos corredores e avistou o quarto onde ele estava. A porta estava aberta.

Porém, ao chegar diante daquele lugar, Judal sentiu suas pernas enfraquecerem.

O leito que era ocupado por Hakuryuu estava… completamente vazio.

Lembrava-se das palavras de Sinbad… O estado de Hakuryuu havia piorado. Ele estava naquela UTI já há dois dias. Será que…

Suava frio quando sentiu uma mão tocar em seu ombro.

— Judal-san?

O pânico parecia estampado em seu rosto quando se virou para encarar o doutor que era dotado de uma exótica beleza. E o médico sabia muito bem o porquê de ele estar tão assustado.

— Por favor, acalme-se. Se está procurando o Hakuryuu-san, o transferimos daqui. - ele esboçou um ameno sorriso.

Judal suspirou aliviado, levando uma mão ao centro do peito. Por um instante, tudo o que pôde pensar é que havia chegado tarde demais.

— Onde o Hakuryuu está?

— Ele está se recuperando bem, por isso não vimos mais necessidade de mantê-lo na UTI. - o moreno cruzou os braços. - Seu amigo é bastante forte, hein?

— Q-que bom… - Judal apertava os punhos cerrados. Como sentiu medo. Mais medo do que quando sentiu o cano da arma de Kouen contra sua cabeça. - Posso vê-lo?

— Claro.

A ansiedade tomava o espaço do temor que assolou seu peito.

Seguiu o doutor até outro andar e caminharam por um longo corredor até chegarem ao único quarto que não possuía nome algum na porta. Claro, sendo a segurança de Hakuryuu a prioridade, não deveriam identificá-lo a quem passasse por ali.

Sphintus abriu a porta e Judal sentiu o coração acelerar ainda mais.

Deu dois passos a frente e se aproximou daquele leito onde encontrou Hakuryuu.

O alívio tomou conta de Judal ao ver que ele parecia dormir serenamente.

Podia ver, pela transparência da máscara de oxigênio que cobria parcialmente o rosto do rapaz, que ele já não estava mais tão pálido. Um leve tom róseo cobria suas bochechas.

Porém, estava tão receoso de se aproximar. Como se Hakuryuu fosse um cristal precioso que pudesse se quebrar unicamente com seu toque.

— Pode ficar tranquilo. Ele está muito bem! - o médico sorria, aproveitando para conferir os sinais vitais de seu paciente e anotar tudo em uma prancheta. - Acho que ontem ele não estava muito bem porque não veio vê-lo. - brincou o moreno.

Aquele comentário inocente de Sphintus fez Judal corar. Mas ele não sabia nem o que responder. A única coisa que podia fazer agora era contemplar Hakuryuu e, agora sim, ter a certeza de que ele estava bem.

— Ele já deve estar para acordar. Como o tiramos da ventilação mecânica há algumas horas, ainda está sob o efeito dos sedativos, mas creio que o Hakuryuu-san voltará a si logo. Bem, soube que o Sinbad-san está na recepção, então vou discutir alguns pontos com ele e deixá-lo à vontade.

— O... Obrigado.

A porta bateu e Judal, finalmente, reuniu coragem para se aproximar mais daquele leito.

Como era bom ver que Hakuryuu estava se recuperando. A inquietude quanto a sua saúde, depois daquele atentado terrível que sofreram, praticamente o corroía.

Levou uma mão até a maçã de seu rosto e acariciou aquela região, sentindo o calor de sua pele. Se tinha tanto medo de ter seus sentimentos expostos, agora era dominado pela certeza de que queria demonstrá-los. Afinal, seu maior medo ao perder Hakuryuu provavelmente seria o fato de nunca ter conseguido se declarar a ele. Como havia demorado a aceitar o que sentia!

A mão deslizou para cima e os longos dedos afundaram nos fios azulados, afagando-os.

— Você vai ficar bem logo, logo, Hakuryuu! - ele sussurrou, a outra mão capturando a que estava pousada sobre seu colo. - E quando você sair, vamos colocar aqueles filhos da mãe na cadeia, ouviu? Eu vou te ajudar! Eu prometo que vou! Mesmo que… mesmo que você não sinta o mesmo por mim, Hakuryuu.

Um leve espasmo dos dedos que estavam envolvidos pela mão de Judal chamaram sua atenção.

Surpreso, o moreno observou o franzir da fronte de Hakuryuu.

Em uma intensa expectativa, Judal observou aquele que apertava os olhos com força antes de, finalmente, abri-los. E foi inevitável se emocionar ao ver descoberto aquele par de azuis desiguais.

As lágrimas fizeram rastros no rosto do rapaz que permanecia apenas a admirar quem estava completamente desorientado, tentando focar em algo.

O teto e as fortes luzes fluorescentes foram as primeiras coisas que ganharam forma até que, finalmente, conseguiu ter o foco necessário para que Judal ganhasse nitidez aos seus olhos.

Piscou uma, duas vezes e, parecendo incapaz de reconhecê-lo, Hakuryuu balançou a cabeça para os lados antes de voltar a encará-lo. Judal, por sua vez, já assumia uma expressão preocupada. Será que estava com alguma sequela? Hakuryuu não se lembr…

— Ju… Judal?

Suas dúvidas foram interrompidas e sanadas pelo fraco sussurrar que era abafado por aquela máscara.

Ele, imediatamente, levou a mão de Hakuryuu junto aos seus lábios e depositou um carinhoso beijo.

— Bem-vindo de volta, Hakuryuu! - emocionado, Judal não conseguia se conter.

Hakuryuu tentava processar tudo o que estava acontecendo.

Onde estava? Por que Judal estava chorando? O que havia acontecido?

— Q-que lugar… anh?

Ele ergueu o braço direito e descobriu, ali, a punção e os catéteres que o ligavam aquela bolsa de soro pendurada sobre si. Ao lado da cama havia aparelhos monitorando seus sinais vitais. O que estava fazendo em um hospital?

Confuso e assustado, a primeira atitude que Hakuryuu teve foi a de tentar se levantar, mas Judal rapidamente o conteve.

— Oe! O que está fazendo?

— O que estou… - ele foi interrompido por tossidos. - fazendo aqui? O que significa isso?

— Calma, Hakuryuu! - Judal tentou ser sensato. - Você não pode se levantar nem agora nem tão cedo. Você ficou entre a vida e a morte! - ele explicou.

Anh?

E levando a mão saudável até a cabeça que latejava um pouco, a terrível lembrança do momento em que sentiu ser atingido por dois tiros voltou com um susto. Arregalando os olhos distintos, ele notou que o rosto de Judal estava coberto de hematomas, havia alguns curativos em seu braço e em eu supercilio esquerdo.

— J-Judal? Você… Você está bem?

O moreno sorriu enquanto afagava o rosto tão bonito de Hakuryuu.

— Eu estou ótimo! Melhor que nunca te vendo acordar!

— Seu rosto… - Hakuryuu sussurrou antes de uma série de tossidos o interromperem.

— Oe, acalme-se! - Judal tentava contê-lo. - Não pode se esforçar demais!

Recuperando o fôlego, Hakuryuu voltou a observar o ambiente, nem ao menos notando que, naquele instante, seus dedos estavam entrelaçados aos do rapaz que se mantinha de pé ao lado de seu leito.

— Quanto tempo eu estou aqui? - ele perguntou.

— Esse é o quarto dia desde que o trouxemos pra cá. - explicou,

— Nossa… - Hakuryuu ficara surpreso.

— Um dos tiros perfurou seu pulmão. - Judal prosseguiu. - Teve de passar por uma cirurgia de emergência para extrair a bala. - ele desvou o olhar, suspirando pesado. - Foi por um milagre que sobreviveu!

E, para sua surpresa, viu através daquela máscara um largo sorriso, mesmo que enfraquecido. Do que Hakuryuu estava rindo?

— O que foi?

— É a segunda vez na minha vida que dizem que sobrevivi por causa de um milagre…

Porém, o rosto do rapaz contorceu e aquele sorriso esmaeceu, dando lugar a uma expressão profundamente triste. Hakuryuu não encarava mais Judal.

— Eu não sei porque eu continuo vivo… - ele murmurou. - Quanto tempo mais vou ter que aguentar?

Judal arregalou os orbes escarlate.

Ouvir Hakuryuu dizer aquilo, ver-lhe esboçar tamanha melancolia era algo que o afetava de uma maneira que ele não conseguia compreender. Mas ele sabia que aquilo o incomodava. Que aquilo o machucava.

— Eu me lembro de quando foi até mim. Eu queria que tivesse ido embora. - Hakuryuu continuava. - Nos seus braços, apesar de eu dizer que lamentava não poder retribuir o carinho que você teve por mim… - agora tudo estava bastante nítido em sua mente. - o que eu desejei ali foi morrer em seus braços. Finalmente eu…

— CALA A BOCA!

O exclamar de Judal fora extremamente agressivo. Ecoando por todo seu quarto, a voz ríspida assustou Hakuryuu que, atônito, o encarou.

— Como pode falar tanta merda?! - retrucou um furioso Judal. - Você sabe o que fez comigo?! Você sabe o quanto eu sofri por te ver ensanguentado nos meus braços? Por te ver naquela merda de UTI cheio de tubos e fios?! Por temer não poder ficar ao seu lado?!

Do que estava falando? - Judal questionava a si mesmo, como se aquelas palavras estivessem sido cuspidas de seu âmago, sem que sua mente nem ao menos ponderasse se dizer aquilo era prudente. Ele estava dominado pela fúria. Era a única forma que ele tinha e conhecia para exprimir o que sentia, afinal, precisava colocar para fora todo aquele temor e… aquele sentimento que o sufocava há dias. Judal havia pensado pensado que aquilo ficaria preso em sua garganta para sempre, já que não teria oportunidade de confessar o que sentia a Hakuryuu.

— E não só comigo! - ele não deu a oportunidade de réplica ao rapaz que permanecia com o par azul arregalado, assistindo à explosão de Judal. - Alibaba veio correndo até aqui, extremamente preocupado! Não só ele! O Sinbad esteve constantemente entrando em contato com os médicos daqui para saber do seu estado! Todos se preocuparam muito com você para você agir como… se nosso sentimento fosse em vão!

— Não é isso, Ju…

— NUNCA MAIS OUSE DIZER QUE DESEJA MORRER! - vociferou o moreno, não percebendo que uma, duas lágrimas caíam por seu rosto. - EU NUNCA VOU DEIXAR VOCÊ MORRER, HAKURYUU! NUNCA! EU...

Faltava coragem.

Já havia ido longe demais e, ao encarar Hakuryuu, Judal só podia ser dominado pelo receio da rejeição. Como diria que estava apaixonado por ele? Afinal, eram dois homens. Hakuryuu, naturalmente, poderia rejeitá-lo e, pior, achar a ideia de ficarem juntos absurda. Afinal, ele mesmo pensara assim antes de se ver completamente entregue a Hakuryuu.

Os lábios entreabertos buscavam palavras que pudessem completar de outra forma que não a que realmente desejava. O rosto pálido de Judal foi tomado pelo rubor.

E enquanto se encaravam, o atônito Hakuryuu e o aflito Judal, o último cerrava os punhos, como se estivesse segurando a si mesmo. Tinha de evitar perder Hakuryuu da pior maneira, que seria com uma rejeição. Seria… ridículo falar aquilo para ele.

— Judal…

Estendendo a mão saudável, mesmo que fosse em vão por não ser possível alcançar Judal, Hakuryuu o chamou de forma débil. E, obviamente, Judal se aproximou para segurar a mão daquele que, logo notou, que o moreno tremia.

— Eu não tenho mais nada a perder. - disse a voz abafada por aquela máscara.

Ele insistiria em dizer que preferia a morte? Que seus esforços foram em vão?

A expressão de Judal se contorceu ao ser tomado, mais uma vez, pela revolta.

— Hakuryuu, não…

— Eu te amo.

As safiras não desviaram, nem por um segundo sequer, daqueles rubis que se arregalaram, espalhando seu tom avermelhado pelas bochechas daquele que recebera uma inesperada declaração.

Novamente seus lábios se entreabiram e procuraram, no ar, as palavras as quais ele não sabia escolher para usar naquele momento.

— Eu sei que… somos dois homens e pode não me aceitar, mas… eu precisava dizer que…

— EU TAMBÉM TE AMO! - foi a vez de Judal, convicto, interromper Hakuryuu. - Eu não posso viver sem você! Eu… achei que enlouqueceria sem você!

Os dedos se entrelaçaram novamente e Hakuryuu sorriu para aquele que parecia tão envergonhado ao se declarar.

— Sabe que você é bem fofo para um traficante perigoso? - o mais jovem riu.

— Ah, é? - Judal fez bico. - E você é muito abusado para um playboyzinho que gosta de estudar florzinhas.

Anh? Como sabe que… eu…

— Eu sei tudo de você!

Hakuryuu piscou ao notar a súbita aproximação de Judal. Estavam com os rostos tão próximos quando o moreno acariciou seu rosto. Era tão suave…

Foi quando o próprio Hakuryuu afastou aquela máscara, assustando um pouco Judal.

— Não se preocupe! Não vou morrer sem isso por um tempinho.

Um tanto quanto aliviado, mas sentindo o coração acelerar, Judal se aproximou mais. Já podia sentir a respiração quente de Hakuryuu, bem antes de cobrir sua boca com seus lábios.

Como o desejava! Como o amava! Como ansiava pelo momento em que poderia, finalmente, se declarar para ele. E nunca, absolutamente nunca, Judal tinha sentido algo sequer parecido com o que nutria agora por ele.

Já Hakuryuu, pela primeira vez em sua vida, sentia-se protegido, acolhido e… amado.

Judal o beijava com sutileza, mas ao mesmo tempo com certa lasciva. Uma paixão que era declarada em gestos que fugiam do controle e eram contidos aos poucos, ao menos por enquanto já que Hakuryuu se encontrava acamado.

Afastaram-se para se encarar e, um pouco constrangidos, riram um para o outro.

— Eu nunca pensei que fosse gostar de outro homem… - Judal sussurrou, analisando a beleza sem par daquele rosto, aquela não era abalada nem pela cicatriz severa que o marcava.

— E eu nunca pensei em gostar de alguém! - Hakuryuu declarou entre risos.

E como era gostoso vê-lo sorrir abertamente. Judal não se lembrava de tê-lo visto sorrir com tanta espontaneidade. Aquilo enchia seu coração de alegria!

— Bem, então acho que temos que conversar muito sobre isso. Mas depois de você melhorar completamente. - o moreno ajudou Hakuryuu, colocando a máscara de oxigênio de volta dele. - Sinbad conseguiu uma liminar que permite que eu fique com você aqui o tempo que quiser. - ele comentou.

— Então ficará aqui para sempre? - Hakuryuu perguntou.

Judal corou novamente ao ouvir aquele questionamento. Realmente… era especial para ele?

— Quando será que posso sair daqui? - os olhos azuis observavam o lado de fora da janela.

— Não faço ideia! Pra quem tomou duas balas você está com muita pressa! - Judal riu.

— Na verdade estou com fome… - ele comentou.

— Ah, verdade! Você não come nada desde… errr… muito tempo! - o moreno se levantou. - Então eu vou falar com o Sphintus-sensei que você acordou e pedir que tragam algo para você comer. Ou eu posso trazer alguns chocolates!

— Acho que não devo comer esse tipo de coisa ainda. - Hakuryuu ria.

— Bem, eu já volto então!

— Tudo bem!

Hakuryuu assistiu Judal deixar o quarto de forma apressada. Certamente não demoraria muito, mas só de pensar em ficar longe dele por um breve instante, sentia-se angustiado.

Não tinha muito o que fazer a não ser esperar e era isso o que ele faria.

Recostado aos travesseiros, ele cerrou os olhos. Sentia-se cansado, apesar de não ter feito nada, o que provava que Judal tinha razão. Precisava repousar.

Mas em menos de 5 minutos, quando Hakuryuu começava a adormecer, a porta se abriu.

— Judal?

Reabrindo os olhos, ele piscou para encarar, naquela porta, o seu pior pesadelo. Hakuryuu tinha certeza de que ainda estava sonhando. Um largo sorriso emoldurava o rosto da bela mulher que estava ali.

— Mamãe veio te visitar, meu querido Hakuryuu!


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Notas finais do capítulo

Capítulo longo para compensar a demora! ♥ E finalmente nossos pombinhos se assumiram! E que demora que foi, gente, já estamos no capítulo 14 e só agora conseguiram se acertar? Mas será que essa alegria vai durar? 8D Lembrando que comentários, críticas, elogios são sempre bem-vindos e respondidos! ♥ Obrigada por lerem!



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