Escape escrita por Miaka


Capítulo 12
Regretting for you


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, muito obrigada a todos que estão acompanhando e tem paciência para minha demora em postar! ♥ Devido a meu trabalho semanal com minhas fics sinja, acabo demornado mais com Escape. Justamente por isso, tenho feito capítulos maiores e eu espero que vocês estejam gostando! ♥



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Um arrepio lhe cruzou a espinha ao sentir o cano frio daquela arma ser posto contra sua cabeça.

Respirando fundo, Judal ergueu as mãos, lembrando-se de que a pistola que Sinbad havia lhe dado estava debaixo do banco do carro. Não havia como pegá-la. Não havia como reagir.

A arma que Kouen empunhava estava destravada e seu dedo pronto no gatilho. Mas Judal tinha certeza de que ele não teria coragem de lhe matar ali. Chamaria muita atenção. Como fugiria? Afinal, Kouen era um chefe do crime, mas se levantassem sua ficha, não havia nada em seu nome, afinal, quem fazia o trabalhinho sujo eram seus capangas.

Não podia se arriscar, depois de ter deixado bem claro que atrapalhara seus planos para proteger Hakuryuu. Então saiu do carro ainda com as mãos para cima enquanto o ruivo recolhia aquela pistola, guardando-a discretamente dentro do paletó do terno italiano que vestia.

— Vamos dar um passeio?

Judal apenas assentiu enquanto mordia o lábio inferior. Para Kouen ir pessoalmente a seu encalce… Seria aquele seu fim? - perguntava-se.

Seguiram até a BMW estacionada na esquina do condomínio onde Judal morava e, como se faz com uma dama, Kouen fez questão de abrir a porta do carona. Porém, após fazê-lo, praticamente arremessou, violentamente, o moreno para dentro, empurrando suas costas a ponto de cair de joelhos sobre o assento.

Ouviu a porta bater e assim que se viu no interior daquele automóvel, Judal teve o reflexo de procurar alguém que pudesse estar no banco de trás, temendo uma emboscada. Então suas suspeitas se concretizaram quando foi surpreendido pela total escuridão e o ar, subitamente, ficar rarefeito.

Um dos capangas de Kouen, que estava escondido, cobrira a cabeça de Judal com um saco preto. O moreno se debateu ao ver o ar que tinha para respirar ser reduzido pela grossa lona que o envolvia.

— MERDA! - ele exclamou, a voz abafada.

E enquanto tentava tirar aquele saco preso em sua cabeça, ouviu novamente o gatilho daquela arma junto a sua cabeça, o que o fez, imediatamente, parar.

— Quietinho. - uma voz grossa sussurrou. - Se continuar assim, estouro seus miolos, ou você morre sem ar. Pode escolher.

Ofegante, tanto pela dificuldade em respirar quanto pelo temor, Judal tentava se manter calmo, mesmo tendo mais uma vez uma pistola contra sua cabeça.

Escutou o barulho de outra porta bater e, logo em seguida, a partida do automóvel.

— Não assuste ele tanto assim. - Judal ouviu a voz de Kouen.

— Kouen, eu entreguei toda a mercadoria hoje na universidade. - a voz abafada alegava. Sentia-se patético, mas o receio era forte. - Não entendo porque…

— Como sempre você é muito eficiente fornecendo drogas, Judal. - o ruivo o interrompeu, os olhos fixos no trânsito. - Pena que está com vontade de viver uma história de amor com a pessoa errada.

— Q-quê?!

O coração de Judal disparou. Não era possível que ele havia chegado áquela conclusão.

— Do que está falando? - era impossível não demonstrar quão nervoso estava.

— Vamos conversar no lugar que quero o levar. - foi tudo o que ele disse.

Judal engoliu a seco.

Ele sabia muito bem como Kouen lidava com seus rivais nos negócios e como aquelas execuções aconteciam. Mas se estava lhe ocultando para onde estavam indo, quer dizer que não tinha a intenção de matá-lo? - ele se questionava, seu coração acelerando cada vez mais.

Pela primeira vez temeu por sua vida e ele sabia o porquê: não desejava mais morrer.

Diferente do que seu estilo de vida imprudente ditava e a falta de temor que Judal tinha, abusando de drogas e situações perigosas, agora ele temia por sua vida. Ele tinha um motivo para continuar vivo agora: desejava viver para ficar ao lado de Hakuryuu.

Passaram-se quinze minutos.

Durante aquele tempo, Judal só ouvia o motor daquele carro, porém ele mesmo não tinha a menor ideia de quanto tempo havia se passado desde que começara a ser conduzido até ali. O carro parou, o barulho do motor cessou e ele realmente não sabia se deveria sentir alívio ou se preocupar mais quando sua cabeça foi descoberta e foi arrancado daquele carro.

Finalmente fora daquele automóvel, olhou ao redor e se viu em um pequeno terreno à beira de uma estrada deserta. Não havia mais nada ao redor daquela cerca de madeira podre, a mesma que erguia um pequeno casebre aos fundos daquele quintal. No chão de terra batido havia alguns pneus empilhados e uma vasilha velha com um resto de água, que provavelmente era usada para alimentar um animal que o dono daquele lugar possuía. - Se é que alguém habitava a espelunca.

Não houve muito tempo para contemplar o cenário, pois logo o guarda-costas de Kouen, quem Judal presumiu tê-lo vendado, o puxou pelo braço e o conduziu até aquele barraco.

Assim que se aproximaram, a porta de madeira rangeu quando foi aberta por alguém que estava do lado de dentro e já os esperava.

Não havia energia elétrica e Judal percebeu aquilo ao ver as fracas velas acesas que estavam sobre uma bancada de ferro. O lugar era extremamente sujo e abandonado. Havia uma cadeira de ferro bastante enferrujada no centro daquele lugar que não parecia ter mais do que 3m².

Facas, serras, ferramentas em geral eram penduradas nas frágeis tábuas de madeira que eram as paredes daquele casebre que só possuía um cômodo. Seria ali uma oficina?

Não… Judal se lembrava dos pneus nos fundos daquele terreno. Observara a fuligem negra espalhada pelo chão naquele terreno. Ele reconhecia muito bem: ali era um lugar de execução.

Ainda parado à porta, foi empurrado para dentro por Seishuu Ri. O homem que era bem mais alto que ele segurou seus braços para trás e amarrou seus pulsos com uma grossa corda de sisal, forçando-o a se sentar naquela cadeira.

Judal não se via capaz de protestar, afinal, se suas hipóteses estivessem corretas, se não se fizesse de inocente, morreria ali mesmo.

Kouen entrou logo em seguida. Os olhos, que eram tão vermelhos quanto seus cabelos, pousados sobre o moreno que rangia os dentes, tentando afrouxar aquelas cordas que apertavam seus pulsos firmemente.

— A noite promete ser bem agradável, Judal. - o ruivo afirmou. - Tudo depende de você.

— Kouen, eu não sei por que me trouxe aqui! Eu vou depositar a sua parte do dinheiro amanhã, mas se você quiser, tenho todo…

— Não quero dinheiro. - ele o interrompeu. - O único cachorro aqui que se vende por migalhas é você, Judal.

As palavras de Kouen eram cruéis, mas para alguém qeu fora acostumado a tantas humilhações, desde que nascera, afinal, aquilo não era nada. Judal tinha prioridades maiores e, definitivamente, aquilo não lhe ofendia.

— Então pra que isso?! - o moreno indagou. - Por que estou aqui e assim? Não somos parceiros? - ele sentia náuseas ao pedir aquela confirmação.

— Por quê?! - Kouen perguntou ironicamente enquanto arqueava uma sobrancelha. - Por que será que Hakuryuu está entre a vida e a morte no hospital?

Judal o encarou sem saber o que dizer. Quais eram as intenções daquele homem?

O melhor a fazer era se passar por dissimulado. E só naquele momento Judal pensou que Hakuryuu poderia estar em perigo tanto quanto ele, já que sua mãe fora capaz de invadir o hospital para tentar o matar.

— Eu… não sei do que está falan… AAAAH!

Ele teve de interromper a si mesmo quando sentiu aquela água fria lhe ser jogada sobre a cabeça.

O homem que já estava ali a sua espera havia despejado todo o conteúdo daquele balde de ferro sobre ele.

— Tsc, - ele estalou a língua e rosnou. - que merda é essa?! - Judal tremia, as mechas escuras úmidas grudadas em seu rosto.

— A cada vez que mentir, Judal, vai ser pior.

E assim que Kouen disse aquilo, o moreno observou seu capaganga buscar, sobre aquela bancada de ferro, um alicate.

O moreno balançou a cabeça negativamente. Certamente o que passaria ali seria bem pior do que se o executassem. Eles planejavam torturá-lo. E pelas histórias que costumava ouvir, requinte de crueldade era um luxo para aqueles que ousavam trair os membros mais poderosos daquela família.

— Responda, Judal. - Kouen cruzou os braços, recostando-se à parede. Sua expressão transmitia a maior calma do mundo. - Por que Hakuryuu está entre a vida e a morte? Que eu saiba você é, até mesmo, o único que a polícia permitiu visitar.

Judal via Seishuu Ri abrir e fechar aquele alicate de pontas de ferro. Engoliu a seco, trêmulo, evitando encará-lo.

— Ele levou um tiro… - Judal murmurou.

— Um só? - Kouen indagou, nitidamente sabendo a resposta.

Viu o homem se aproximar com um largo sorriso. Foi o suficiente para se corrigir.

— Dois. - respondeu cerrando os olhos.

— Certo… - o ruivo assentiu. - E em que ocasião ele foi baleado dessa maneira?

Não queria responder. Era como se estivesse traindo a confiança de Hakuryuu, como se estivessem lhe forçando àquilo. E era muito claro que Kouen sabia passo-a-passo do que havia acontecido. Era como se estivesse testando sua lealdade que, ele sabia, não existia.

Angustiado, Judal mordeu o lábio inferior, cerrando os olhos. Não responderia.

— Judal. - Kouen chamou, o tom de voz elevado.

Não havendo resposta, ele suspirou.

— Seishuu Ri.

Ao ouvir o chefe daquela máfia chamar seu subordinado, o moreno arregalou os olhos. O que ele faria?

Ergueu o rosto para sentir aquele enorme alicate bater violentamente contra seu rosto. A dor foi tão imediata quanto o arroxeado que tomou conta de sua face esquerda. O sangue quente escorreu pelos lábios de um atônito Judal.

— Responda ao Kouen-sama! - o homem exigiu, lhe dando um novo golpe no lado oposto de sua face.

Judal se sentia tonto com as duas fortes pancadas que recebera. A dor combinava com o sabor metálico do sangue que vertia por sua boca.

Se continuasse daquele jeito, morreria, tinha certeza.

— Q-quando… o levaram… para aquele cativeiro…

— Certo também. - Kouen, inabalável ao vê-lo ser torturado, suspirou novamente. - E quanto a Koumei? Quem atirou em meu irmão, Judal?

A adrenalina subitamente aumentou quando se lembrou de quando, sem hesitar, ao ver Hakuryuu sendo alvo da pistola de Ren Koumei, ouvia aquelas palavras:

Bem, Judal, vamos fazer um jogo aqui. Posso matar o Hakuryuu de forma mais digna, mas se não colabroar, vou ter que cancelar com a funerária o belíssimo caixão que permitiria vermos o rosto do meu primo morto por algo mais fechado... Se é que vai sobrar algo para enterrarmos.

Lembrava-se de como sentia asco, ojeriza por Koumei naquele momento.

Como ele era capaz de falar da vida de Hakuryuu daquele jeito?

Então, sem hesitar, como se aquela adrenalina fosse um poderosíssimo combustível para sua coragem, a gargalhada de Judal ecoou por aquele casebre, trazendo insatisfação à expressão de um furioso Kouen, ao ver que o rapaz, mesmo naquela situação, ousava rir daquela forma.

Os olhos vermelhos encararam o homem de pé, desviando do lacaio que estava entre eles, quando abriu um largo sorriso ao se recompor daquela risada.

— Fui eu que meti bala nas pernas daquele idiota do seu irmão, Kouen! Espero que ele nunca mais volte a andar! Eu devia ter acertado era a cabeça... - o ruivo subitamente enfiou a mão por dentro do paletó. - … de merda…  - e arrancou dali, em um único movimento, sua pistola. - … daquele…  - destravando-a em seguida. - desgraç...

Judal foi interrompido pelo disparo. Ele nem ao menos piscou ao ver a bala passar de raspão em seu braço.

Praticamente sem respirar, ele ficou a encarar o ruivo.

A mão de Kouen tremia enquanto continuava a apontar para ele, ajustando a mira para a cabeça do rapaz amarrado ali e que fora tão audacioso a ponto de enfrentá-lo assim.

O silêncio era angustiante enquanto se encaravam sem hesitar, como se Judal soubesse que qualquer suspiro seu pudesse ser o suficiente para fazer aquele homem apertar o gatilho. Sabia muito bem que Kouen não tinha nada a perder.

Tentando se recompor, o chefe daquela gangue abaixou a arma. Ofegante, ele mordiscou o lábio inferior. Como desejava matá-lo ali mesmo! - mas precisava manter sua compostura. Ainda mais tendo Seishuu Ri e Kin Gaku como testemunhas. Ele não podia sujar suas mãos. Afinal, se o fizesse, teria de eliminar não só Judal, mas todos ali. A queima de arquivo seria fundamental.

Acalmando-se, Kouen fitou aquele que se mantinha firme a encará-lo.

— Hakuryuu deve ser eliminado, Judal. - convicto, ele afirmou.

O moreno lambia o sangue que escorria pelos lábios ao ouvir as palavras de Kouen.

Desviando o olhar, temendo ainda que o ruivo ainda pudesse lhe matar, apenas ouviu os passos daquele que se aproximou e depositou aquela pistola sobre suas pernas.

Bastante confuso, Judal ergueu o rosto para dar de cara com o impassível chefe daquela família mafiosa, sentindo o peso daquela arma pousada em seu colo.

— E se continuar andando ao lado dele… Quem vai ficar a cargo de matar o Hakuryuu é você.

Os orbes escarlate cresceram ao ouvir aquilo.

Se Kouen ordenasse que matasse Hakuryuu, preferia sua própria morte. Mas que saída tinha agora? Precisava ao menos se assegurar de que aquele que estimava tanto ficaria bem. Poderia se comprometer a elimina-lo e forjar sua morte para que fugisse, pensou de forma rápida.

— Por que odeiam tanto o Hakuryuu? - ousado, ele decidiu questionar.

— Eu não odeio o Hakuryuu. - Kouen respondeu com franqueza e Judal sentia a sinceridade em seu olhar, por mais gélido que este fosse.

— Então por que quer matar seu próprio primo? E não foram criados como irmãos?! Mesmo adotivos, de qualquer forma, partilham do mesmo sangue. - ele explicava o óbvio.

— Pela mesma razão que, se ficar no caminho dos meus objetivos, será eliminado, Judal.

Estalando a língua, o moreno balançou a cabeça negativamente. Não conseguia compreender como conseguiam ser tão cruéis.

— Pedras no sapato incomodam e Hakuryuu é uma delas.

— Ele só quer ir embora do país para estudar o que gosta! - Judal contestava, como se pudesse, de alguma forma, convencê-lo de que Hakuryuu não era nenhuma ameaça a eles. - Ele não quer nada com vocês! Nem ao menos com os negócios da máfia!

— Isso não muda o fato de correr nas veias dele o sangue do meu tio. - calmamente, Kouen deu as costas, por mais que deixasse aquela arma sobre o colo de Judal. Não tinha como o rapaz reagir estando amarrado.

— T-tio?

Gaguejando, Judal arqueou uma sobrancelha, sem entender sobre o que o ruivo falava.

Kouen, então, cruzou os braços, voltando a encará-lo para suspirar pesado.

— Para você, um pobre coitado que cresceu em um orfanato e depois foi criado por uma marginal como a Falan, isso não faz sentido, mas Hakuryuu é o legítimo herdeiro das empresas Kou.

— Legítimo herdeiro? - ele piscou de forma desentendida.

— Judal… Mesmo que eu me case com Hakuei, teria apenas a parte equivalente a porcentagem que pertence a ela. - ele seguia explicando. - É uma porcentagem mínima do nosso conglomerado. Apenas 5% de tudo, enquanto nós, filhos do sócio do pai deles, temos apenas 10% divididos entre meus irmãos e eu. Já Hakuyuu e Hakuren fizeram o favor, antes de morrerem, de passar todas as suas ações para o nome de seu irmão caçula. - ele mordia os lábios, exprimindo a raiva que sentia ao falar daquilo, em especial dos irmãos de seu primo. - Hakuryuu tem 85% das ações das empresas em seu nome.

Judal estava assustado ao ouvir tudo aquilo. Primeiramente porque agora sabia que o único motivo de quererem eliminar Hakuryuu, mesmo sendo um parente próximo, era apenas uma disputa financeira. Era como se não houvesse o menor afeto entre eles ou, ao menos, empatia pela vida de seu primo.

— Ele não quer isso! Se esse é o problema, duvido que Hakuryuu exigiria sua parte! Ele é uma boa pessoa que não se atém a dinheiro! - Judal contestou. - Ele só quer se tornar um pesquisador na área de biologia e viver em paz! Como podem querer matá-lo apenas por dinheiro?! - ele estava indignado, chegava a lacrimejar. E por que se emocionava tanto ao defender Hakuryuu? - Falem com ele! Eu tenho certeza de que ele passaria tudo para o seu nome, Kouen!

— Ele não pode. - o ruivo concluiu. - Existe uma cláusula no testamento tanto de meus primos quanto de meu tio que impede que Hakuryuu venda ou repasse suas ações. Eles já suspeitavam de que sofreriam o atentado e temiam por suas vidas.

— Então...

Atônito, Judal tentava processar todas aquelas informações. Tudo estava muito claro.

— Então foram vocês que tramaram o incêndio que os matou?!

— Eu era muito jovem na época, mas tudo foi tramado pela mãe de Hakuryuu e por meu pai. - ele explicou como se estivesse falando do tópico mais banal que existisse. - Infelizmente ele acabou sobrevivendo, e isso foi péssimo para ele, já que sofreu muito para se recuperar. Hakuryuu, realmente, é digno de pena.

— Vocês… são monstros…

Judal murmurou enquanto balançava a cabeça negativamente. Estava chocado.

Sentia-se extremamente sujo por estar vinculado àquelas pessoas.

O arrependimento de não ter ajudado nas investigações de Sinbad, de não tê-los denunciado, lhe corroía, ainda mais porque, após Kouen lhe revelar tantas coisas, ele tinha certeza: morreria ali. E sem ajudar Hakuryuu, que provavelmente seria alvo de uma nova emboscada, se é que sairia daquele péssimo estado em que se encontrava no hospital.

— Você tem razão. - a voz grossa lhe chamou atenção. - Somos monstros, Judal. - ele caminhou até o prisioneiro e se inclinou para frente, os rostos agora bem próximos. - Não só meus irmãos e eu, mas você também.

— Não me compare a vocês!

E ao retrucar daquela forma, Judal cuspiu no rosto do ruivo. Mas a resposta de Kouen foi imediata ao desferir um soco no rosto do moreno. Porém, não houve tempo para que fizesse mais nada.

O corpulento homem chutou a cadeira onde ele estava, fazendo com que fosse direto ao chão. A deixa perfeita para que Seishuu Ri o chutasse na altura do estômago. Judal urrou, sem ter como reagir. Sentia o sisal trançado daquelas cordas começando a cortar a pele de seus pulsos.

— O aviso está dado, Judal. - Kouen esfregava o punho que ainda ardia devido à força que havia investido naquele golpe. - Agora você vai divertir meus capangas. Tenha uma boa noite.

Judal só pôde sentir mais chutes serem desferidos contra seu corpo enquanto via aquele homem se afastar tranquilamente.

— Filhos da… - Judal gemeu, já sentindo a visão escurecer enquanto era surrado por aqueles dois homens.

— Ei, ainda não é hora de dormir!

E quando se via perdendo a consciência, recebeu um novo banho de água fria. O suficiente para dar um susto em seus sentidos e fazê-lo ficar desperto novamente para voltar a apanhar.

— A noite vai ser muito longa! Nem pense que vamos deixá-lo dormir!

—----xxxxx----

Os olhos dourados pousados sobre aqueles papéis pareciam, de fato, focar o nada. Aquele dossiê aberto sobre sua mesa era capaz de levar a um passado não tão distante, mas que o perseguiria para sempre enquanto não desarticulasse aquela máfia.

— Sin?

Aquela voz o tirou de seus devaneios.

O inspetor adentrar seu escritório. Ele vinha acompanhado pela moça de longos cabelos azuis que trazia uma prancheta junto a seus fartos seios.

Sinbad sabia muito bem o que ela trazia consigo, afinal, já esperava por aquilo.

— Delegado. - ela chamou ao se aproximar da mesa.

— Conseguiu? - ele afastou aquela papelada de cima da superfície de mogno.

— Sim. - a moça assentiu, entregando a prancheta ao moreno. - E os resultados não foram nada bons.

Ele desfolhava aqueles resultados até que encontrou o que procurava.

— Fluoroacetato de sódio? - ele piscou.

— O que é isso? - foi a vez de Ja’far perguntar.

— É um veneno muito forte. - a perita criminal explicou. -  Não há antídoto para ele e uma dose mínima é letal. Além do que ele dissolve facilmente e, dificilmente, se alguém fosse vítima tendo esse tipo de veneno injetado, dificilmente descobririam a causa da morte. Os efeitos são terríveis, seria… uma morte terrível. - ela parecia bastante chocada.

— Não dá para imaginar que uma mãe poderia fazer isso contra seu próprio filho. - o alvo refletia, tão perplexo quanto ela.

— Tem certeza desses resultados, Yamu? - Sinbad os surpreendeu. - Não estou questionando toda sua capacidade, mas eu estarei anexando o resultado dessa perícia ao caso do Hakuryuu-kun.

— C-claro que sim, delegado. - a moça, que era muito orgulhosa de sua competência em seu serviço e era considerado uma gênia, afirmou. Dou minha palavra!

— Ótimo! Então, Ja’far, - ele estendeu a prancheta. - quero que arquive esse resultado e, junto disso, como está o pedido que fizemos para o Judal poder visitar o Hakuryuu mesmo na UTI?

— Amanhã de manhã deve sair a liberação. - o inspetor esboçou um sorriso.

— Certo! Então...

O delegado foi interrompido pelo toque de seu celular. E, pensando ignorar aquela chamada, viu que ela estava sendo feita do hospital onde a vítima que estava protegida por sua equipe estava internada.

Rapidamente tomou o aparelho e, ao atender, o levou até seu rosto.

— Alô?

— Delegado?

Sinbad já conhecia aquela voz. O médico que estava cuidando de Hakuryuu.

— Sphintus-sensei! - ele parecia animado. - Que surpresa! Como está? - perguntou. E o Hakuryuu-kun?

Ouvindo um suspiro do outro lado da linha, o delegado se preocupou.

— Bem… houve uma piora considerável hoje no estado do Hakuryuu-kun. - ele afirmou com pesar.

— Como? - Sinbad franziu o cenho ao ouvir aquela notícia.

— Estou ligando para você porque o Judal-san não veio no horário da visita e também não atendeu minhas ligações desde que tentei entrar em contato com ele. Sabe onde ele está?

O delegado arregalou os olhos.

Como Judal não tinha ido visitar Hakuryuu? Ele, mais do que ninguém, até mesmo que Alibaba, estava inquieto por não ter podido ficar ao seu lado. E justamente isso o motivara a abrir aquele pedido junto à justiça para que Judal pudesse ficar ao lado de Hakuryuu o tempo que quisesse. Sabia que o faria bem. Aquilo, definitivamente, estava muito estranho.

— Sinbad-sama?

— Me desculpe. - ele retornava de seus devaneios. - Eu não sei porque Judal não foi. Mas… - Sinbad se levantava da mesa e recolhia o paletó pendurado às costas de sua cadeira. - qual o estado do Hakuryuu-kun?

Yamuraiha e Ja’far observavam confusos a urgência que seu superior tinha, como se estivesse se aprontando para sair dali de imediato.

— Estável. Felizmente ficou tudo bem e foi só um susto. - o médico respondeu. - Eu só queria mesmo dar a notícia. Foi bem após o horário de visita acabar que ele teve uma recaída.

— Certo! Eu vou tentar entrar em contato com o Judal, então. - ele apanhava as chaves do carro no meio de toda a algazarra que havia em sua mesa. - Muito obrigada, doutor!

Ele desligou o telefone e o guardou no bolso da calça social para, em seguida, começar a vestir o paletó de forma apressada.

— Sin, o que aconteceu? - Ja’far estava aflito ao ver Sinbad tão apreensivo.

— Tudo! - ele respondeu de forma sucinta. - Hakuryuu piorou e… Judal desapareceu!

— Desapareceu? - Yamuraiha arregalou os olhos.

— Vou rastrear o celular dele pelo GPS e encontrá-lo. Definitivamente, isso não está cheirando bem!

— Eu vou com você, Sin! - o inspetor se prontificou.

— É perigoso. - Sinbad advertiu.

— Justamente por isso.

Verdes e dourados se encontraram. Sinbad sabia bem que não tinha como impedir Ja’far.

Só pôde suspirar, em resignação, acatando a decisão de seu inspetor.

— Vamos, então!

— Tomem cuidado, por favor!

Apenas ouviram a voz de Yamuraiha quando deixaram, às pressas, a delegacia.

E enquanto caminhavam em direção ao carro, Ja’far já usava o tablet que tinha em mãos para tentar localizar Judal.

— Não acredito que aqueles miseráveis foram atrás do Judal! - Sinbad resmungava enquanto entrava no carro.

— Você subestima demais esses criminosos, Sin… - Ja’far não tirava os olhos daquela tela. - Achei! A última vez que foi localizado, o celular dele estava nesta área afastada do centro. - ele indicou no mapa exibido.

— A bateria deve ter acabado e ele está lá ainda. - o delegado rangia os dentes enquanto manobrava o carro para fora daquele estacionamento. - Espero que esteja vivo.

— Vaso ruim não quebra, Sin. - Ja’far suspirou. Não escondia suas ressalvas para com Judal.

— Esteja pronto para entrarmos em conflito, Ja’far. - Sinbad parecia aflito. - Não estou nem um pouco afim de chamar reforços.

— Como se precisasse… - o alvo sorriu ao abrir o único botão fechado de seu paletó para exibir as facas que haviam penduradas ali, além das duas pistolas no coldre.

— Nem brinca porque eu não quero colocar você nesse tipo de situação.

Sinbad estava tenso demais e Ja’far podia perceber claramente aquilo.

A testa franzida, os dedos firmes no volante, o mordiscar em seu lábio inferior e a rigidez em seus ombros. Era um mau sinal.

Esperou que um pequeno engarrafamento se formasse para, então, o delegado não quer como avançar mais nenhum semáforo. Sinbad permanecia a resmungar e ter as piores ideias possíveis.

— Se estiverem…

— Sin!

Ja’far o interrompeu e o moreno o encarou, um tanto quanto assustado com aquele exclamar. Assim que se virou de frente para o alvo, foi surpreendido por um intenso beijo. As mãos do inspetor se agarravam firmemente às suas vestes enquanto suas línguas dançavam.

Aquele carinho, tão cheio de segundas intenções, só teve fim quando os carros que vinham atrás começaram a buzinar. Só então Sinbad abriu os olhos e percebeu que o sinal já havia aberto.

O inspetor riu ao se afastar, voltando a mexer no tablet.

— Espero ter te acalmado.

Sinbad suspirou, entre risos, quando assentiu.

— Mais tarde você terá oportunidade de fazer isso melhor.

—----xxxxx----

Não demorou muito para que se distanciassem da região mais movimentada da cidade, já em sua saída, seguindo a autoestrada que os conduziria até onde Judal estava. Era impossível não estarem tensos e Ja’far, por sua vez, ao ver como Sinbad parecia preocupado com a situação que poderiam encontrar, preparou-se para defendê-lo.

Sem alarde, pararam o carro do outro lado do casebre indicado pelo GPS. Atravessando a autoestrada, ambos sacaram cada um uma arma, posicionando-se, cada um, em uma lateral do portão que estava entreaberto.

Sinbad gesticulou para Ja’far e ambos, apontando a arma para frente, adentraram aquele terreno.

Tudo estava extremamente silencioso e já passava das cinco da tarde. O único som que ouviam era dos poucos carros que passavam ali, mas que faziam Ja’far ficar sempre alerta, temendo que reforços de seu inimigo chegassem.

Pé-ante-pé, com suas pistolas em punho, inspetor e delegado repetiram o que fizeram na mureta daquele quintal na porta daquele casebre. Era necessária uma atitude mais invasiva, já que se preparavam para enfrentar, de frente, quem estivesse ali dentro.

Ja’far então chutou, de uma só vez, a porta de madeira poída, dando espaço em seguida para o delegado que adentrou agora não apenas com uma, mas duas pistolas em mãos.

— POLÍCIA! - ele exclamou.

O alvo o seguiu e, ficando de costas um para o outro, ambos perscrutaram todo o pequeno local. Foi quando viram próximo ao chão, próximo à porta, um volumoso saco plástico preto. Para fora dele haviam pés tingidos de vermelho, já que suas unhas haviam sido arrancadas.

Os olhos dourados cresceram.

Era tarde demais.

 


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Notas finais do capítulo

Pessoal, muito obrigada por lerem! ♥
Para variar, essa fic me fazendo pesquisar coisas extremamente bizarras!
E agora? O que aconteceu com o Ju? Eu planejava coisas piores para ele nessa tortura, mas eu preferi preservar vocês das insanidades que vocês já aguentam em outras fics minhas! Hahaha! Obrigada por lerem e lembrem-se que todos os comentários, críticas, elogios, são respondidos com muito carinho! ♥



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