Lillia’s POV

Tá bem, com toda a certeza eu estava maluca ou algo do tipo. Hospedar um quarteto de criminosos mais procurados de Sidney na minha casa?

Certo, Lillia. Você realmente se superou!

Os garotos já estavam confortáveis em seus sacos de dormir. Luke já estava dormindo, e em questão de segundos, já estava todo espalhado pelo chão, com um quilo de cobertas o esquentando. Calum e Ashton demoraram um pouco a dormir, mas logo caíram no sono. Michael virava de um lado para o outro, parecia desconfortável.

Levantei-me e caminhei até ele, que estava perto da janela, do outro lado do quarto. Tive que tomar um pouco de cuidado, mas mesmo assim, tropecei no pé de Luke e quase caí em cima de Michael. Ele percebeu minha presença e se virou.

— Não está confortável? — Perguntei.

— Estou sim. — Respondeu, com um enorme sorriso sincero no rosto.

— Desculpe, é que te vi se mexendo sem parar e... — Michael me interrompeu: — Lillia, está tudo bem.

— Ok, ok. — Me sentei no chão ao lado dele e fitei a janela.

A lua é uma coisa tão fascinante para mim, e hoje, ela brilhava mais do que nunca, realmente linda.

— Você não tem medo de mim? Ou do Calum? — Perguntou Michael depois de um tempo, com a voz baixa.

Olhei para ele, que fitava meus olhos profundamente. Estremeci.

— Não. — Respondi e lancei um sorriso sincero. — Acha que teria te hospedado em minha casa se tivesse medo? — Ele riu baixo e eu fiz o mesmo.

Depois de um tempo em um silêncio desconfortável e ensurdecedor, soltei:

— Está com fome?

Ele demorou a responder. Talvez tivesse hesitado. Ele corou violentamente e eu ri baixinho.

— Sim. — Michael sorriu.

Levantei-me, peguei sua mão e o ajudei a levantar-se. Fomos para a cozinha e ele se sentou na cadeira; abri o armário e tirei de lá um pote de geleia de uva e um pacote de torradas.

— Desculpe, eu não sei cozinhar. — Falei, soltando uma risadinha em seguida. Ele sorriu.

— Está fazendo muito por mim e eu nem sei como agradecer.

Sorri e me juntei a ele na mesa. Michael comia e eu fitava o nada, quando um barulho surgiu do lado de fora. Olhei para Michael, que também me olhou. Levantei-me devagar, fazendo Michael o mesmo, e olhei para a porta de vidro, que dava para o quintal. Michael tirou uma pistola preta de seu bolso e mirou para a porta. Ele se aproximou e a imagem de Katherine surgiu do lado de fora da porta de vidro. Eu me assustei e Michael também, fazendo-o disparar um tiro contra a porta.

—Ai meu Deus, eu matei a garota? — Perguntou ele, me olhando de olhos arregalados. Ri.

— O vidro é blindado. — Respondi. Destranquei a porta e Katherine me abraçou forte. Ela chorava muito e soluçava. Não se dava conta da presença de Michael e de sua pistola ali. Eu acariciei seus cabelos e a abracei de volta. — Kat...

Ouvi o barulho de passos descendo a escada e vindo a nós. Os garotos. Katherine me soltou e eu a observei. Maquiagem borrada, rosto cansado, lágrimas e sem brilho nos olhos.

— Quem é ela? — Ouvi Calum sussurrar.

— Não sei. — Respondeu Michael, alto o bastante.

— Lil... — Katherine finalmente me olhou. Ela realmente não ligava para os outros presentes. — M-meu pai... — Ela soluçou. — E minha mãe brigaram... Eu cansei, juntei minhas coisas numa mochila e vim o mais rápido que pude.

Mais uma para hospedar.

— Tudo bem, você pode ficar... — Coloquei uma mão na cabeça e comecei a andar pra um lado e pro outro. Katherine olhou para os garotos e arregalou os olhos.

— LILLIA! — Berrou ela. — Eles são os mais procurados de Sidney. Ai meu Deus! O que vocês querem? — Katherine se direcionou a eles.

— Oi pra você também. — Disse Luke.

— Eles estão hospedados aqui. E eu te explico mais pra frente... Eu... — Me sentei. — Estou com a cabeça a mil, doendo. — Michael guardou a arma e vasculhou os armários.

— Você precisa de um remédio. — Disse ele. Michael tirou uma cartela de pílulas e me ofereceu.

— Mikey, ta tudo bem. — Ele sorriu triste.

— Lillia, quatro? Você não tem tantos buracos assim! — Disse Kat, rindo.

Fiquei de boca aberta.

— Kat! — Corei violentamente e os três riram. Menos Michael, que estava com uma expressão assustadora, como se estivesse prestes a matar alguém.

— Qual é! Está estampado na sua cara! Vamos, para qual desses você já deu?

Bufei, corada. Os meninos se entreolharam e deram de ombros.

— Onde está sua mochila? — Mudei de assunto.

— Lá fora. — Respondeu Katherine, dando de ombros. — Tive que deixar minha mochila pra pular seu muro. Meu Deus, como é alto!

Fui correndo lá pra fora, sendo seguida pelos cinco. Avistei a mochila de Kat encostada em um poste não muito longe. Comecei a caminhar em direção da mochila, quando um cara de capuz preto pegou-a e saiu correndo.

— Oh meu Deus! — Exclamei.

— Eu cuido disso. — Falou Luke, que começou a correr atrás do homem.

Luke é extremamente alto, o que facilitou para alcançar o sujeito.

— Corre atrás do ladrão, Luke! Arrasa ele! — Disse Calum, socando o ar.

— Um ladrão correndo atrás de outro ladrão? Tá, isso não se vê todo o dia. — Comentou Kat, me fazendo rir.

Luke recuperou a mochila e deu uma boa surra no homem. Ele se aproximou de Katherine e entregou a mochila.

— O-obrigada... — Disse ela, claramente encantada com os olhos extremamente azuis de Luke. Ele sorriu. Também parecia muito atraído pelos olhos castanhos claríssimos de Kat.

— Ok, ok! — Disse alto, batendo umas palmas. — Casal, Michael, Ashton e Calum, vamos entrar e dormir, amanhã tem faxina! — Ri.

Michael’s POV

Estava tendo um soninho ótimo e ficara bem confortável no saco de dormir, quando acordei — acredito que não fui o único — com Lillia gritando:

— Vamos, levantem! — Gritou, rindo. Katherine, a amiga de Lillia, estava do seu lado, rindo também. — Faxina, faxina, faxina.

Cocei os olhos semicerrados e resmunguei alguns palavrões. Os meninos estavam reclamando algo que não entendi direito, quando Lillia os interrompeu e disse:

— Vamos fazer o seguinte: Vamos formar grupos para a limpeza ser mais rápida. Michael, comigo, Kat e Luke e Calum e Ashton.

Concordamos e nos levantamos. Lillia me deu as coordenadas de um banheiro desocupado e eu as segui. Tomei um banho gelado e escovei os dentes.

Depois de alguns minutos, estávamos todos na sala de estar e Lillia estava decidindo o que cada dupla iria fazer.

— Michael. — Chamou-me Lillia e eu voltei minha atenção à ela. — Ficamos com os quartos. Tem três ENORMES quartos na casa...

— Na boa, a sua casa é enorme — Ashton deu ênfase ao "é", interrompendo Lillia.

— ...O quarto do meu irmão, que não mora mais aqui, dos meus pais e o meu. — Continuou ela, ignorando Ashton. — Kat e Luke, vocês ficam com a sala de estar e a cozinha. E por último, mas não menos importante — Ela sorriu brincalhona para Ashton e Calum. — Vocês ficam com os banheiros.

— Você tá de zoeira! Lavar QUATRO banheiros?! — Retrucou Calum.

— E bem lavados, por favor. — Lillia sorriu e me puxou para o andar de cima.

Levamos algumas horas para limpar o quarto dos pais de Lillia, mas no fim, deixamos tudo um brinco. Eu a segui até o quarto do irmão. Ela pegou um pano e começou a tirar a poeira do criado mudo. Peguei a vassoura e varri toda a poeira que estava no chão.

— Para onde seu irmão foi? — Perguntei, quebrando o silêncio ensurdecedor entre nós. Ela pareceu meio triste com a pergunta.

— Nos abandonou. Isso que aconteceu. — Respondeu, seca. Depois de um tempo, ela suspirou e me olhou com olhos suplicantes. — Me desculpa, Mikey, é que... Ele nos deixou por uma garota... Ele nos odiava, odiava tudo que nós fazíamos por ele. Eu tentava me aproximar, eu só queria um irmão mais velho de verdade, um que pudesse me ajudar em tudo... — Lillia suspirou. Seus olhos estavam marejados. Ela desviou o olhar rapidamente e voltou a limpar o quarto. Fiz o mesmo. — O motivo de ele nos odiar? Bom, não sei. Talvez seja por influências... Tudo isso é muito vago. — Disse ela depois de um tempo — Acho que ele não aceitava ser disciplinado pelos pais, nunca aceitou...

— Olha, Lil. — Comecei — Me desculpe pela pergunta, eu só...

— Tá tudo bem, Mikey. — Ela sorriu, sincera e eu retribuí.

***

O fato era que Lillia é simplesmente incrível e eu a admirava de verdade. Terminamos toda a limpeza no final da manhã. Fomos para a cozinha e encontramos Luke e Katherine tirando uma enorme travessa de lasanha do forno e pondo na mesa. Lillia arregalou os olhos e passou a língua nos lábios, fazendo-me rir.

— Quem fez? — Perguntou.

Sentamos todos à mesa enquanto Luke tirava a luva e se juntava a nós.

— Eu. — Ele deu um sorriso sincero em direção à Lillia. — Kat me disse que é sua comida preferida, então eu fiz para você, agradecendo tudo o que você fizera por nós... Sei que não é muita coisa, mas...

— Luke! — Lillia estava maravilhada. — Eu que digo obrigada! Não faz ideia do quanto eu amo lasanha.

Luke sorriu e nos servimos com comida. Conversamos, contamos piadas, rimos e nos conhecemos uns aos outros. Olhei para Lillia e percebi o tanto que seu sorriso era bonito. Seus olhos sempre cheios de luz brilhavam e ela era realmente linda. Sorri com o pensamento e voltei à refeição.

— Michael. — Chamou-me Calum. Eu o olhei e ele estava sério. — Temos um trabalho, mano.

Não, de novo não...

— Quem? — Perguntei, meio inseguro. Olhei para Lillia, que estava com uma expressão confusa.

— Um riquinho metido a playboy. Às vezes as pessoas são tão banais... — Respondeu.

— Você não pode cuidar desse sozinho? — Engoli seco. Calum me olhou estranho. 

— Tá, mas a grana vai ser toda minha. — Ele riu.

— E aquele racha, Mikey, ainda de pé? — Perguntou Ashton.

— Como? Estamos sem carro! — Protestou Luke.

Olhei com olhos suplicantes e fiz biquinho para Lillia. Ela revirou os olhos e bufou com a minha atitude.

— Não, nem vem. Não vou emprestar meu carro. — Ela cruzou os braços e Katherine riu.

— Por favoooor! — Falamos todos juntos numa voz fofa.

Ela acabou cedendo e comemoramos entre si.

— Quanto vale o racha? — Perguntei.

— Quatrocentos dólares na mão, mano. — Respondeu Calum.

— Amanhã iremos correr. — Falei, olhando pra minha comida.

— Não, Mikey. Você irá correr. É o melhor piloto entre nós. — Respondeu Ashton. — E se conseguirmos o dinheiro, podemos dar o fora e deixar a Lillia em paz.

— Mas... — Começou Lillia , mas em seguida parou. Parecia triste.

Mas eu não quero ir embora...