Imouto escrita por Mitsue chan


Capítulo 5
Vermelho


Notas iniciais do capítulo

Fico tão feliz quando vocês dizem que gostam da história! Acham que merece recomendação? Se não, me falem o que tem de errado que eu tento consertar. Então, aqui vai mais um capítulo Kawaii! Boa leitura.



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Eles ficaram assim a tarde inteira, cada um com seus afazeres. Kakashi achava seus pergaminhos absurdamente entediantes, mas era seu dever. Vez ou outra ele checava Kaori, se certificando de que ela ainda desenhava. A criança tinha o cenho franzido e rabiscava o papel com determinação e, embora o ninja não pudesse ver o que ela criava, parecia ser algo de extrema importância para ela.

Assim que terminou seu trabalho, Kakashi soltou um suspiro cansado, fechando os olhos. Ele ouviu uma movimentação e, ao levantar as pálpebras, viu Kaori parada ao seu lado com um grande sorriso no rosto e o pergaminho nas mãos.

– Ne, oniisan! Quer ver meu desenho? – perguntou, o que foi completamente desnecessário já que ela colocou seu desenho em cima da mesa antes que ele pudesse responder. Kakashi achou melhor apenas assistir enquanto a garota apontava para suas obras de arte e explicava o que eram – Olha, isso é eu e o oniisan! Kaori é ninja igual o oniisan!

Ele olhava para o pergaminho, vendo uma abstrata e colorida representação dele mesmo, empunhando kunais, ao lado de Kaori, esta estava soltando fogo pelas mãos. Curioso. Ao observar melhor, ele percebeu que seu olho esquerdo fora representado com um vermelho brilhante, sem a bandana para cobri-lo.

– Oniisan – Kaori o chamou – Por que seu olho é vermelho?

Kakashi se surpreendeu com a pergunta. Na verdade, ele se surpreendeu com o quanto demorou para ouvi-la. Era como se, de algum modo, ela soubesse que aquele assunto era delicado para ele e não quisesse deixa-lo triste. Mas a curiosidade de uma criança tendia a ser maior que seu respeito pelo silêncio alheio. Então o ninja tirou a bandana para mostrar seu olho esquerdo.

– Isso foi – ele começou, sem saber como explicar isso para uma criança – um presente de um amigo.

Kaori fez uma cara desconfiada para ele.

– Seu amigo te deu tinta de olho de presente? – ela perguntou, confusa.

Kakashi teve vontade de rir daquela suposição sem pé nem cabeça. Bom, pelo menos ela não havia visualizado um olho sendo arrancado do rosto de alguém e enfiado em outro.

– Isso mesmo – ele concordou – tinta de olho. – A garota pareceu digerir essa informação. Então fez outra pergunta:

– E seu paninho de esconder a boca? É pra não entrar mosca ou porque você tem cheirinho ruim aí?

Mais uma vez, ele quis rir. Kaori tinha uma imaginação muito fértil mesmo.

– Isso é um segredo. Nem adianta perguntar.

Ela ficou emburrada. Queria uma resposta melhor do que essa, mas achou melhor não questionar seu oniisan. O mais estranho era que ela nunca demonstrara medo em relação ao olho esquerdo dele. Simplesmente aceitara isso como parte dele. Isso era... bom.

Kakashi ficou olhando para aquele desenho. Os dois, lado a lado como... como uma família. Isso era muita pressão para o ninja. Kaori parecia estar convicta de que ele era seu oniisan, mas ele sabia que isso era temporário. Em algum momento ela seria levada embora e tudo voltaria ao normal. E isso era bom, certo? Ela poderia ficar com alguém que fosse ensina-la coisas de mulher, que soubesse como comprar roupas e arrumar seu cabelo.

– Kaori – ele chamou, com uma pergunta surgindo de repente. Ela olhou para ele, esperando que continuasse – Você gostaria de morar com Kurenai-san?

O homem esperava qualquer reação, menos a que se seguiu. A expressão da criança se alterou num instante, de curiosa para extremamente triste. Kakashi arregalou levemente os olhos. O que ele havia dito de tão ruim?!

– O-Oniis-san não quer m-mais ficar c-com eu? – ela quase chorava.

Ela acha que eu a estou mandando embora!

– N-Não, digo... sim! – ele tentou se corrigir – Apenas achei que você gostasse dela, ela consegue cuidar de você melhor do que eu.

– Não acho! – Kaori respondeu decidida, engolindo o choro – Meu oniisan é forte. Pode cuidar de eu!

Dito isso, ela sorriu confiante, como se quisesse transmitir toda sua certeza através de seu sorriso. Kakashi não sabia o que dizer. Nem se lembrava da última vez que alguém depositara tanta fé nele. Não era como nas missões, era mais profundo. Kaori confiava seu futuro ao ninja e esse tipo de laço era muito forte. Seria Kakashi capaz de ter laços novamente? Não teria uma resposta agora, então apenas riu com os olhos.

Antes que pudesse impedir, ela soltou um bocejo profundo o que fez com que o ninja voltasse à realidade. Kakashi percebeu o quanto ela devia estar cansada, mas não podia a colocar pra dormir sem jantar. Ele rapidamente preparou alguns dangos e os entregou à criança (acabou descobrindo que aquele era seu doce favorito). O sono dela pareceu sumir em um passe de mágica por alguns instantes enquanto apreciava os doces. Kakashi revirou as sacolas até encontrar um pijama, de mangas e calças compridas, azul claro. Ele deixou que ela se trocasse, dispensando o banho da noite. Não ia fazer tanta falta e estava frio. Depois ele mesmo se trocou e foi para o seu quarto. Encontrou Kaori desmaiada no seu saco de dormir, provavelmente estava muito cansada para esperar por ele. Ele cogitou a ideia de apenas cobri-la e se deitar no seu lugar usual, mas algo o deteve. Ele foi até a criança e carregou seu corpinho até sua cama, a depositando confortavelmente. Então ele se deitou ao seu lado, esperando que o sono viesse.

...

– K-Kakashi! – Rin estava deitada em uma possa de sangue, sem vida. Ele sentia vontade de arrancar seu próprio coração. Havia matado Rin. A doce, prestativa e corajosa Rin. A única companheira que ainda tinha em sua vida. Ele olhou para suas mãos, estavam vermelhas. Vermelhas carmesim do sangue de sua amiga. Tão vermelhas quanto o olho de Obito que agora ele carregava e tão vermelhas quanto a sua raiva. Tão vermelhas quanto... a blusa novs de Kaori... e o giz de cera que ela usa para desenhar o olho esquerdo dele. Tão vermelhas quanto as bochechas dela ficam quando ele a flagra fazendo algo errado.

O vermelho não era tão assustador agora.

...

Um mês depois...

O ninja acordou no meio da noite ouvindo gemidos baixinhos. Ele abriu os olhos e virou a cabeça. Ao seu lado Kaori tremia em seu sono. Ela estava toda encolhida, como se estivesse se escondendo, gemia e murmurava coisas sem sentido e, pra surpresa de Kakashi, chorava. Ele se apoiou sobre um braço para que pudesse olhá-la diretamente. Sentia vontade de saber com o que a criança sonhava para assustá-la tanto. Claro, ele já havia cogitado perguntar sobre o que ela se lembrava sobre a destruição de sua aldeia, mas achou melhor não fazer com que ela recordasse isso. Na verdade, considerando o quão bem Kaori havia aceitado sua nova vida, Kakashi já suspeitava que ela sequer se lembrasse de sua terra natal.

De repente ela gemeu um pouco mais alto e mais lágrimas caíram de seus olhos cerrados com força. Ela parecia estar prestes a gritar. Aquilo amoleceu o normalmente frio coração do homem como nada mais faria. Ele havia sofrido tanto, mas não fazia ideia de como seria confuso para uma criança de cinco anos perder tudo de uma só vez. A única coisa que ele podia afirmar com certeza era que pesadelos eram terríveis, estava tendo um logo antes de ser acordado pelos gemidos de Kaori, embora aquele não tivesse sido tão ruim por algum motivo. Ele não se lembrava. Infelizmente, o sonho da pequena parecia ser bem assustador, e ela obviamente se sentia indefesa, como qualquer criança se sentiria. Será que ele seria capaz de ser seu guardião? Com certeza existiria alguém melhor, uma família para ela. De qualquer modo, precisava ajudar a pequena a se acalmar. O que ela havia dito mesmo? Deitar juntinho para afastar os sonhos ruins.

Eu posso derrotar um exército de ninjas assassinos, eu posso fazer isso.

Completamente sem jeito, Kakashi deitou de costas e aconchgou-a em seu peito, cobrindo ambos com a coberta, porque ventava estranhamente forte pela janela aberta. Kaori ainda tremia, então ele começou a acariciar aqueles cabelos tão incomuns. Gradativamente, ela foi se acalmando, parando de gemer e chorar. Ela começou a se agarrar à camisa de Kakashi, se aconchegando mais nele e pareceu entrar em um sono profundo e tranquilo.

O ninja suspirou aliviado. Não sabia quando começara, mas agora ele parecia se importar muito com o que a pequenina sentia. Ele havia aceitado o dever de cuidar dela sob ordens do Hokage, mas agora era uma questão pessoal. Talvez existissem pessoas mais capazes para aquela tarefa do que ele, mas ninguém a compreenderia tão bem, ou sentiria essa vontade desconhecida, mas mesmo assim tão intensa de deixá-la feliz. Só Kakashi. Ele cuidaria de sua imoutosan.

Eu posso derrotar um exército de ninjas assassinos, eu posso fazer isso.

...

Vários homens invadiram sua casa, derrubando a porta, todos tinham armas grandes e brilhantes. Eles entraram e começaram a quebrar algumas coisas e levar outras. Um deles tentou chegar perto dela e de sua okaasan, mas seu otousan não deixou. Ele brigou com o homem grande e mau, mas de repente ele caiu no chão. Ela tentava chamar ele, mas ele não queria acordar. Sua okaasan chorava muito e tentava se afastar do homem grande e mau. Kaori se sentiu ser arrancada dos braços dela e jogada sem cuidado em um canto. Aquilo doía muito, tanto no corpo como no coração, mas ela não sabia o porquê. Quando procurou por sua okaasan, viu que ela havia dormido igual seu otousan e não queria levantar. Ela ficou muito assustada porque os homens maus estavam andando na direção dela. Não sabia onde estava sua família e o que os homens maus queriam com eles, mas Kaori estava mais assustada do que já estivera em toda a sua vida. E se sentia triste porque sua família tinha sumido. Eram emoções tão confusas e intensas para uma criança que ela não aguentou e gritou. De repente ela viu tudo ficar vermelho e sentiu muito calor. O chão tremia e ventava muito. Estava com tanto medo que só queria um lugar para se esconder. Antes que pudesse entender o que estava acontecendo ela se sentiu presa dentro de uma caixa dura, como se fosse de pedra. O que era aquilo? Seu otousan e sua okaasan tinham desaparecido, a sua casa estava destruída e ela estava presa e sozinha. Tudo que conseguiu fazer foi chorar.

Aí tudo sumiu. Kaori sentia que alguém a abraçava, segurando-a bem pertinho e deixando-a quentinha. Sentiu uma mão fazendo carinhos suaves em sua cabeça. Ela adorava carinho na cabeça. Os sonhos maus estavam sumindo e outra imagem aparecia em sua mente. Uma pessoa. Seria sua okaasan? Não, era um homem. Talvez seu otousan? Não, era mais jovem. Ah, claro! Ela se lembrou. Aquele era seu oniisan.

...

Hummm... aquele tinha sido o soninho mais gostoso dela em muito tempo, nem se lembrava de seu sonho ruim e ainda tinha alguém fazendo carinho em sua cabeça. Nem tinha vontade de acordar. Queria ficar ali o dia todinho. Contudo, sentiu alguma coisa em suas costas a balançando de levinho. Ela resmungou irritada. Não queria acordar!

– Kaori? – seu oniisan a chamou – Kaori-chan? Eu preciso trabalhar e já são 9 horas.

Tão ceeeeedo! Espere... Kaori-chan? Ele nunca havia chamado ela assim! Nossa, como isso a deixava feliz! Desde que ele parou de reclamar dela o chamando de oniisan, ela fez disso um hábito. Por algum motivo se sentia melhor sabendo que tinha alguém que fosse como um irmão para ela. Mas era a primeira vez que ele era tão... carinhoso.

Kaori levantou seu rostinho rapidamente, olhando nos olhos coloridos dele.

– Ohayo, oniisan! – ela gritou e deu um beijinho em seu nariz.

Ela viu ele se surpreender por um instante, para depois sorrir com os olhos. Kaori viu uma mão tapar seus olhos e, antes que pudesse reagir, sentiu um beijinho na pontinha de seu nariz. Ele tinha tirado a máscara? Quando conseguiu enxergar de novo seu oniisan já estava com o rosto coberto de novo.

– Ohayo, imoutosan.


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Notas finais do capítulo

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