Os braços de Kaori ainda estavam doloridos, mas a tensão que pairava entre ela e seu onii-san desde o início da viajem parecia ter se dissipado.

A brincadeira que ela e o time sete haviam feito dera tremendamente errado, tudo por causa de uma pequena falha técnica. Desde então, Kakashi os mantinha sempre 10 passos à frente, de modo que pudesse vigiá-los. Além de ter determinado um toque de recolher e não permitir que eles ficassem sozinhos e juntos. Qualquer ideia de um plano futuro havia sido destruída.

Ainda faltavam alguns dias para chegarem ao destino final, e Kaori sentia seu coração bater mais rápido a cada metro que avançavam. O lugar para onde se dirigia seria seu novo lar por tempo indeterminado. Estava apavorada. E foi esse nervosismo que a fez baixar a guarda.

Um pouco depois de terem cruzado a fronteira entre o País do Fogo e o da Terra, onde a vegetação frondosa de um se misturava com a rasteira do outro, o sexto sentido que todo ninja desenvolve alertou Kakashi de que presenças estranhas e hostis os rondavam de dentro da mata. Logo depois, seus alunos também perceberam e se atentaram para qualquer ruído. Kaori, muito preocupada com seus próprios pensamentos, foi a última a perceber a ameaça e só o fez quando ouviu o silvo de uma kunai cortando o ar em direção à sua cabeça.

O mais rápido que pôde, ela tentou desviar, mas sabia que se seu oniisan não tivesse segurado o cabo da arma em pleno ar antes que esta se cravasse em sua testa, ela estaria morta.

Assumindo uma formação, o Time 7 se posicionou em um círculo, um protegendo a retaguarda do outro e com Kaori no meio. Ela estava prestes a observar que podia se defender muito bem sozinha e que o fato de quase ter sido morta fora apenas um pequeno descuido, quando um pensamento a interrompeu.

"Ah, é mesmo. Estou sendo escoltada".

Kakashi olhou diretamente na direção da floresta onde ele sabia que o ninja que atirara a kunai estava escondido.

– Por que você e seus companheiros não se apresentam? - disse com a voz neutra.

Aos poucos, vários deles saíram dentre as árvores e os cercaram na estrada. Kakashi havia feito uma estimativa de 40 bandidos. Eram 47. Ótimo. Apesar da óbvia desvantagem numérica, não era isso que mais o preocupava. Uma única kunai, certeira, mirando a cabeça de Kaori. "Eles a querem" pensou.

– O que fazem aqui? - voltou a falar.

– Sabe - disse o que tentara matar sua imouto e que parecia ser o líder do bando - não costumo dar satisfação para cadáveres.

Os olhos do Hatake se estreitaram levemente e, às suas costas, ouviu Naruto bufar com raiva.

– Já que esse é o caso - Kakashi continuou no mesmo tom casual de antes - Faça o favor de realizar os últimos pedidos de um moribundo e me diga o motivo de nos atacar.

O homem riu. Ele tinha cabelos negros na altura dos ombros, pele bronzeada e olhos cor de âmbar. Seu porte era atlético e usava roupas simples. Mas o mais marcante de sua fisionomia era a grande cicatriz que cortava de cima a baixo o lado direito de seu rosto. Ele parecia se divertir com a atitude despojada de Kakashi, como se o fato de estar em desvantagem de quase oito para um não o incomodasse.

Por mais que seus homens não fossem exatamente a nata da sociedade ninja, ou qualquer coisa sequer perto disso, dariam conta do trabalho.

– Desculpa colega - ele respondeu - não fui pago pra isso.

Assim que terminou de falar, ele estalou os dedos e todos os bandidos atacaram juntos, sem a menor técnica ou formação, mas não deixavam de ser um problema.

Kakashi não esperou que eles se aproximassem muito e espalmou as mãos no chão, usando seu Doton. Uma grande coluna de terra se elevou do chão num rompante fazendo com que ele e suas crianças, que estavam no topo, ficassem em uma área alguns metros mais alta do que os inimigos.

– Oniisan - Kaori o chamou - lutamos ou corremos?

Kakashi analisou a área em que estavam. Fora a pequena porção de floresta em que os bandidos haviam se escondido, todo o caminho, além disso era tomado por uma vegetação rasteira até que virava um enorme descampado. Correr significaria se tornarem alvos fáceis.

– Lutamos - ele respondeu olhando para as crianças.

– Yosh! - Naruto gritou - Era disso que eu precisava!

Kaori o fitou descrente por um segundo, imaginando como alguém poderia "precisar" se envolver numa batalha de vida ou morte, mas, assim como os outros, assumiu posição de combate.

Estando em terreno elevado, estavam em vantagem. A ladeira íngreme dificultava a subida dos inimigos, mais ainda daqueles que sequer sabiam como usar chakra para escalar superfícies. Apesar de tudo isso, os números não mentiam e a desvantagem era gritante.

O primeiro que conseguiu alcançar o topo foi rapidamente jogado de volta por um chute certeiro de Kakashi, caindo estatelado no chão, de onde provavelmente não se levantaria mais. Depois desse os outros avançavam mais rapidamente.

Sasuke e Naruto se colocaram lado a lado, com Sakura e Kaori as suas costas. O primeiro inimigo correu na direção deles com uma kunai em punho, atirando-a em Sasuke. O moreno desviou o ataque com sua própria arma, correndo logo em seguida e acertando-o em cheio no rosto, fazendo com que o homem descesse ladeira abaixo, derrubando dois aliados no caminho.

Se aproveitando de Sasuke estar ocupado, três homens avançaram na direção de Naruto. O Uzumaki fez seus selos de mãos criando seis bunshins e atacou antes dos inimigos.

Usando do tempo que os meninos estavam ganhando, Sakura colocou papéis bomba nas laterais da elevação em que estavam. Assim que terminou e viu os bandidos subindo a ladeira, ela esperou que eles se aproximassem o suficiente, ativando as armadilhas logo em seguida. O deslizamento de terra levou pelo menos seis inimigos que subiam de volta para o chão. Depois disso, Sakura se concentrou em prender em um Genjutsu qualquer um que furasse a defesa de seus companheiros.

Kaori ficou bem no centro da batalha, usando seu Taijutsu contra os que se aproximavam demais. Um ninja estava prestes a lhe cravar um kunai nas costas, mas ela girou o corpo com o punho em riste, desviando e acertando-o com um soco no abdômen. Quando ele se curvou pela falta de ar, ela usou suas costas como apoio e girou sobre o próprio braço, pulando por cima dele e acertando um chute na cabeça de outro inimigo. Deu um mortal para trás, sentindo a lâmina de uma katana cortar o ar onde ela estivera um segundo atrás. Antes que pudesse revidar foi obrigada a pegar duas kunais para se defender da chuva de shurikens que cinco homens lançavam nela. Pela quantidade, deduziu que havia clones das armas entre as verdadeiras, mas não tinha como diferenciá-las.

Sentiu lâminas rasgando sua pele e gemeu quando uma shuriken atravessou sua defesa e perfurou a lateral de sua perna direita na altura da coxa.

Já estava exausta de tanto se defender quando Naruto e Sakura pularam a sua frente e bloquearam o ataque com suas kunais. Logo em seguida, Sasuke pulou por cima deles e lançou um jato de fogo sobre os ninjas.

À direita deles, Kakashi atirava os últimos dois bandidos ladeira abaixo com dois socos rápidos. Assim que terminou, ele se virou para as crianças a ia perguntar se elas estavam bem quando um estrondo abalou o chão violentamente.

Enquanto seus capangas atacavam o grupo da folha, o líder se ocupou de encher a base da coluna de terra com inúmeros papéis bomba e, agora, toda a estrutura desabava com uma grande explosão. Ele aguardou até o momento em que os ninjas de Konoha caíram desajeitadamente no chão e, antes que a poeira baixasse, ele avançou diretamente para a garota que vinham caçando.

Como esperado, ela sentiu sua presença e revidou. O homem desviou de dois socos velozes e viu uma de suas shurikens especiais, com ponta farpada, cravada na perna dela. Com um sorriso sádico ele pegou um os fragmentos de rocha que estavam no chão e, avançando com velocidade, chocou ele contra a shuriken, enterrando-a ainda mais na carne da garota.

O grito de dor que ela deu quase furou seus tímpanos e, obviamente, alertou a todos do que estava acontecendo. Sua breve luta havia durado apenas poucos segundos, mas precisava agir rápido se quisesse fugir ileso.

Assim como planejado, os capangas restantes atacaram o jounin de cabelos brancos de todas as direções, apenas para atrasá-lo, enquanto o líder agarrava a garota. Ele sentiu ela se debater violentamente para escapar, então simplesmente puxou, sem cuidado algum, a shuriken da perna dela, fazendo as farpas rasgarem de dentro pra fora. De novo ela gritou e, dessa vez, o homem sabia que deveria sumir no mesmo instante se não quisesse terminar o dia morto. Essa ideia foi confirmada quando o brilho ofuscante de relâmpagos partiu de onde o jounin estava.

O que ele não contava era que, no momento em que fizesse seu jutsu especial de tele transporte, as crianças da folha avançassem contra ele, se aproveitando do fato de todos os inimigos estarem focados em atrasar seu sensei.

Sem poder interromper o jutsu, uma intensa luz branca envolveu a todos e, assim, desapareceram, deixando para trás 46 ninjas inconscientes, uma paisagem devastada e um jounin mais preocupado do que jamais esteve.

...

Quando o chão começou a tremer, Kakashi teve certeza de que tinha cometido um erro terrível.

Na hora em que decidiu que fugir não seria sensato, fez o possível para que a desvantagem numérica não fosse tão decisiva, e lutar em terreno elevado resolveria esse problema. Infelizmente ele não esperava que o líder do bando não atacasse, mas percebeu isso no momento em que o viu esperando na base da elevação enquanto mais de 30 dos 46 inimigos o impediam de ir ajudar suas crianças. Ele deu graças a Kami quando seus alunos ajudaram Kaori a se defender das shurikens.

Aí o chão desabou sob seus pés e a poeira o impedia de ver um palmo à frente do rosto. Ele olhou ao redor tentando pelo menos sentir a presença dos outros quando o grito estridente de sua imouto gelou seu sangue.

Antes que ele pudesse ir ao seu socorro todos os ninjas simplesmente pularam nele. De novo, ele escutou a voz de Kaori e deixou seu chakra explodir em raios mortais, eliminando todos os que estavam a sua volta. Mas não deu tempo.

Assim que a poeira se dissipou o suficiente para que ele pudesse ver, estava sozinho. Durante os primeiros segundos ele ficou em choque. Que tipo de de sensei, de protetor ele era se todas as suas crianças foram raptadas?!

Seu momento de culpa foi interrompido pelo som de um muxoxo. Olhou para trás e percebeu que alguns dos homens que estavam inconscientes começavam a acordar.

Os olhos de Kakashi brilharam ameaçadoramente. Era muito bom que nem todos estivessem mortos. Ele tinha algumas perguntas para fazer.

...

Kaori sentiu seu corpo ser puxado para o vazio e sua cabeça girar.

Mas nada havia sido pior do que aquela maldita shuriken sendo arrancada de sua perna. Mesmo que tentasse se concentrar em lutar, a dor não permitia que ela reagisse. Só podia gritar.

Oniisan.

De repente o homem que a havia atacado a colocou sobre um ombro e uma luz brilhante a cegou.

Quando sua visão se normalizou, ela estava deitada sobre um tapete de grama. Olhou debilmente ao redor, sentindo seu corpo mole, entorpecido. As lembranças do que havia acontecido voltaram à sua mente num rompante e ela se sentou muito rápido.

No mesmo instante sua cabeça doeu e o ferimento em sua perna voltou a latejar violentamente. Mas a cena a sua frente a fez se esquecer da dor por uns instantes.

...

Assim que apareceram naquele lugar desconhecido, Sasuke, Naruto e Sakura tomaram conhecimento da situação. Estavam numa pequena clareira circundada por uma densa floresta. Junto com eles estavam o líder dos bandidos, em pé e os fitando com raiva, provavelmente por terem frustrado seus planos, e Kaori, desacordada e sangrando.

Quando Sakura fez menção de ir até ela, um chicote estalou ao lado de sua mão, a fazendo paralisar no lugar. Eles olharam na direção do homem que os havia transportado e o viram enrolando a arma

–Malditas crianças, estragando meus planos - disse.

Os três logo se posicionaram entre ele e Kaori, assumindo posição de batalha. Mas, pelo olhar debochado que o homem os direcionou, não se sentiram muito confiantes.

–Pra onde você nos trouxe? - Sasuke perguntou.

–Não importa - ele retrucou - Apenas saiam do meu caminho pra eu levar a garota.

Assim que disse isso ele andou calmamente na direção deles e apenas riu quando as crianças se moveram para proteger a amiga desacordada.

–Não se iludam, crianças - desdenhou - Vocês não vão me impedir.

– Ah é?! - Naruto gritou - Então tenta!

De novo, o homem apenas riu com desdém e, antes que qualquer um pudesse reagir, ele lançou o chicote em uma velocidade absurda e o enlaçou no pescoço de Sakura, a puxando violentamente para perto de si.
Naruto e Sasuke apenas arregalaram os olhos, espantados com a rapidez daquele golpe, mas o choque logo passou quando viram ele pressionar uma kunai na parte exposta do pescoço dela.

– Ainda acham que podem comigo? - ele perguntou.
Naruto e Sasuke já não sabiam como reagir, temendo pela vida de sua companheira, quando ouviram uma voz vinda de trás.

– Solta ela! - Kaori mandou, fitando o homem com raiva, enquanto apontava uma kunai para o próprio pescoço - Você me quer viva, não é? Se quisesse me matar teria feito isso antes. Você até sabia que aquela kunai nunca me acertaria com meu oniisan por perto. Solta ela ou nunca vai conseguir me pegar!

O homem estreitou os olhos na direção dela.

– Sabe que posso facilmente te prender e matar seus amigos, não sabe?

– Vamos ver se você consegue chegar aqui antes que eu me fure com isso - Kaori desafiou.

Ela manteve o olhar firme e a arma pressionada contra sua pele, mas, internamente, ela estava em pânico e tentava se manter consciente apesar da dor e da perda de sangue.

O homem assentiu lentamente, digerindo a ameaça, então tirou a lâmina de perto de Sakura e a obrigou a andar atrás dele, usando o chicote como uma coleira.

– Muito bem - declarou - Façamos o seguinte: vocês três me seguem e, se forem comportados, poupo a garota. Do contrário mato seus amiguinhos e te levo desacordada. Entenderam? - nenhum deles se mexeu, e ele continuou - E que fique bem claro que só estou fazendo isso porque acho que vai ser bem divertido ver vocês tentando salvar uns aos outros.

Dando um último sorriso sádico, ele seguiu em direção à uma trilha.
Os rapazes rapidamente improvisaram um curativo para Kaori com algumas ataduras que traziam na mochila e a ajudaram a caminhar atrás do homem.

Em suas mentes, eles temiam pelo que podia acontecer.