Part Of Your World escrita por Maria Salles


Capítulo 4
Part Of Your World


Notas iniciais do capítulo

"Tinha raiva, dor e uma confusão de sentimentos dentro de si, o que não é uma combinação boa para tomada de decisões."



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— Isso é um ultraje!

Tritão gritara ao encontrar a caverna de Ariel. A moça havia voltado de uma de suas viagens à superfície, remexendo nos restos do naufrágio que presenciara na manhã anterior e trazendo consigo inúmero itens para sua imensa coleção. Com a ajuda de Linguado e mais alguns amigos peixes, trouxera consigo a estátua do rapaz que havia salvo. Ela agora tinha um lugar especial na coleção, como seu bem mais precioso. Porém, análise dos objetos novos havia sido brutalmente interrompida com a entrada furiosa do pai.

As barbas pareciam carregadas de eletricidade, seu tridente de ouro brilhava ameaçadoramente assim como sua coroa. Os olhos do rei do mar estavam exasperados ao encontrar tantos objetos e sua filha em meio deles.

— Ariel!

Gritou ele novamente. A pequena sereia estava assustada demais para se mover de onde estava – separando bruguzumba diversas.

— Fostes à superfície novamente! Fostes ao alto mar em busca dos naufrágios! Quantas vezes já lhe disse para não-se-aproximar-dos-humanos!­

O rei apontou o tritão para um dos lados da caverna da filha, disparando um raio dourado que destruiu tudo o que tocou. Foi o que Ariel precisava para nadar até o pai com muita raiva. Ele havia encontrado sua caverna, mas não tinha o direito de destruí-la!

— Papai, chega!

— Não! Eu digo chega! Chega dessa sua bobagem com os humanos! – Tritão disparou outro raio através da caverna – Sou seu pai e seu rei e você me deve obediência!— exigiu destruindo mais objetos.

Ariel tentou pará-lo, mas não havia muito que ela pudesse fazer. Ele era maior, mais forte e mais poderoso. Suplicou para que seu pai parasse de destruir sua coleção que conservava com tanto carinho e estudava há anos. Estava tudo sendo reduzido a pó.

— Pare! – gritava enquanto suas lágrimas se misturavam ao mar – Pare, papai. PARE!

— Estás proibida de visitar os barcos. Proibida de ir até a superfície. Não quero ouvir nada relacionado aos humanos sair de sua boca. Terá guardas que a acompanharão e estará de castigo até eu achar que essa sua tolice está controlada. Estamos entendidos?!

— O senhor está cego, não vê? Eu apenas ----

— Cale-se! – interrompeu-a – És uma sereiazinha tola, Ariel. Não compreende o mundo! Já lhe disse que os humanos são maus, eles são perigosos e não a quero próxima a eles!

Com um ar dramático, Tritão aponto seu tridente com reverência à estátua que Ariel salvara – o único item ainda intacto em tanta bagunça. – Está na hora de crescer, Ariel.

Com um estrondo a estatua foi reduzida a pedaços de mármore espelhados por toda a caverna. Ariel, que havia ficado muda pelo choque, virou-se para o pai com raiva no olhar.

— O único perigo que vejo aqui é seu preconceito e sua intolerância! – Retrucou rigidamente – Podes ser meu pai e meu rei, mas meu respeito não lhe pertence mais.

Antes que Tritão pudesse impedi-la, Ariel fugiu pela abertura superior, deixando para trás um pai cheio de sentimentos conflituosos e dor no coração.

 

 

Como ele pôde? Perguntou-se Ariel enquanto nadava a esmo entre corais e colônias de anêmonas. De onde vinha tanta raiva? O que os humanos haviam feito a seu pai para que ele os odiasse com tamanha convicção? Balançou a cabeça, afastando o pensamento. Seu pai era intolerante com a superfície. A chamara de tola, mas ele que era um tolo que não sabia conviver com aqueles que fossem diferentes. Não conseguia acreditar o tanto que o pai a magoara. Destruíra tudo o que construíra, havia a tratado tão mal. Ariel queria chorar, mas tinha raiva demais para isso.

Tinha raiva, dor e uma confusão de sentimentos dentro de si, o que não é uma combinação boa para tomada de decisões. Ela queria deixar o reino de seu pai, mas não tinha para onde ir. Pelo menos não ali. Estava na hora de Ariel seguir seus sonhos. De se libertar e ir atrás de sua própria vida.

E ela não era ali.

Com uma nova determinação, a jovem bateu as nadadeiras com rapidez, afastando-se cada vez mais do reino e atravessando águas turvas e escuras que não deveria se aproximar. Era uma escolha radical, sabia, mas era a escolha correta para ela; ainda assim, não deixou de sentir um arrepio na espinha conforme adentrava os domínios da Bruxa do Mar, muito menos de sentir-se surpresa ao encontra-la à porta de sua caverna a sua espera.

A mulher era imponente, com cabelos brancos ondulando ao seu redor com uma aura misteriosa e tentáculos negros que saíam de sua cintura como um manto sepulcral. Seu olhar era indiferente, porém intenso. Sua idade indecifrável. Parecia ser resistente ao tempo, e embora Ariel pudesse constatar sua solidez, não duvidava que, acaso quisesse, a Bruxa seria capaz de desaparecer a sua frente dissolvida na própria água.

— Ariel.

Evocou a mulher enigmática com sua voz baixa e profunda. A sereia respirou fundo, ergueu o queixo e levemente trêmula informou o porquê de sua visita, muito embora a Bruxa já soubesse.

— Eu gostaria de fazer um acordo.


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Notas finais do capítulo

Oi gente! Voltei com um capítulo pequeno mas voltei. Percebi que não tratei muito o passado da Ariel, então resolvi inserir um capítulo com os acontecimentos antes do primeiro capítulo. É curto, mas importante para compreendermos a relação da Ariel com o pai, termos uma noção da tal bruxa do mar e mesmo para a construção de Ariel. Espero que gostem.
Gostaria de pedir desculpas por demorar a postar. Estou passando por problemas pessoais então criatividade e escrever estão complicadas. Mas não esqueci da história e nem de vocês.



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