Part Of Your World escrita por Maria Salles


Capítulo 3
You've Got To Pay The Toll


Notas iniciais do capítulo

"Estava tão calma e tão certo de que tudo ficaria bem. Seu toque a acalmava. Suas mãos eram quentes e calejadas. Nunca tocara mãos assim antes. Gostava delas."



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Príncipe Eric era um rapaz viajado. Desde cedo seu pai havia feito questão de ensinar a ele as responsabilidades da monarquia. Ensinou-o que ser rei era mais que sentar-se sobre um trono alto e usar uma coroa de ouro: era ser um líder bom para seu povo, entender suas necessidades, ser compreensivo, porém justo. Para tanto, o rei o levava consigo em muitas de suas viagens diplomáticas – fosse para outros reinos ou pelas aldeias – e foi com alegria e orgulho que o pai o enviou preparado para suas colônias no Novo Mundo.

Entretanto, em todos esses anos de viagens conhecendo parte do mundo, Eric nunca havia se deparado com alguém como a jovem ruiva em sua cama. Seus olhos grandes e azuis eram extremamente curiosos e alegres, e os cabelos vermelhos pareciam ser de uma cor única que nunca havia visto antes. A pele era branca e uniforme, parecia nunca ter sido exposta à luz do sol e adversidades temporais. O príncipe já conhecera nobres que se cuidavam com bastante afinco, mas mesmo eles possuíam algumas sardas. Ela era uma peça única no mundo. Uma criatura bela vinda do nada, encontrada por ele em sua praia. Se aquilo não era destino, não sabia do que chamar então.

Ele a observou com deleite a jovem ajoelhar-se na cama e olhar ao redor curiosa e em êxtase. Ela o divertia, e Eric estava feliz em ver que a moça parecia bem melhor. As maças do rosto estavam rosadas, parecia descansada e saudável, bem diferente da aparência que tinha ao encontra-la na praia naquela manhã.

– Alegra-me ver que esteja bem, senhorita! – exclamou o príncipe. A ruiva encarou-o docemente, com o sorriso largo no rosto. – Muito feliz.

A moça sorriu e abriu a boca para responde-lo, mas nenhum som saiu. Ela tentou novamente e levou as mãos à garganta com frustração, parecendo angustiada. Eric, percebendo o que ocorria, logo a acudiu.

– Oh, não consegue falar? – a jovem assentiu com a cabeça, sentindo lágrimas nos olhos – Ei, calma... seu corpo deve estar cansado, ainda não se recuperou totalmente. Nem imagino o que deve ter passado para chegar até aqui.

Com um suspiro, a menina abaixou a cabeça, olhando para as mãos.

– Vai ficar tudo bem.

Afirmou Eric, segurando as pequenas mãos entre as suas.

Ariel não imaginara que tudo daria tão certo. Estava tão, tão cansada. Seus membros pesavam, e gostaria de dormir por dias. Havia passado por tanta dor e desespero naquela manhã que achou que estava sob os cuidados de sua amável e firme governanta de volta ao seu reino, cuidando dela naquele estado de sonolência.

Mas ao acordar sobre algo macio e quente, em um quarto escuro e seco, percebeu que seu sonho havia virado realidade e que após tudo o que passara nos últimos dias – especialmente nas últimas horas – havia, aparentemente, valido a pena. Conseguia sentir por baixo dos cobertores duas pernas com seus respectivos pés e dedos. E estava onde os humanos moravam! Não qualquer humano...

O humano cuja vida salvara estava com ela.

Oh, como Ariel gostaria de chorar! Estava bem ao seu lado, da maneira que se lembrava: alto, cabelos negros e grossos um tanto compridos, sobrancelhas interessantes e aqueles olhos azuis que pareciam refletir o próprio mar.

Eric.

Belo nome. Eric.

Desviou os olhos dos dele para analisar onde estava. Gostaria de entender e explorar aquele local. Viveria ele ali? Parecia a sua caverna, cheia de tralhas e objetos diferentes e curiosos. O que era aquilo sobre o qual estava em cima? Era tão macio e confortável! E havia objetos cilíndricos brancos espalhados pelo local, para que serviriam? Tanto a se descobrir, tanto a aprender! E queria saber de tudo. Ansiava conhecer cada centímetro daquele mundo novo e que logo seria seu.

Estava emocionada. Por tanto tempo estudara de longe o mundo de cima, por anos colecionara cada pedacinho que caía em suas mãos, tentando adivinhar o que eram e para que serviriam. E agora estava ali, respirando ar! Poderia dançar e andar e correr e, oh, tantas coisas novas! Era tão excitante. Gostaria de poder contar a Linguado tudo o que via ali. Gostaria que seu pai pudesse ver as maravilhas daquele mundo e quebrar aquele preconceito ridículo que possuía.

Virou-se para Eric, exultante em poder conhece-lo e estar ao seu lado. Sentia suas esperanças renovadas, seus objetivos estavam sendo alcançados. Como fora tola ao achar que estava sendo punida! Havia sofrido pelo caminho, mas merecera sua recompensa no final.

Abriu a boca para poder dizer seu nome e o quanto estava feliz e agradecida. Mas nenhum som saiu de sua garganta.

Oh, não.

Tentou novamente. Qualquer coisa. Mas nem um ruído sequer se fazia ser ouvido. Aquilo era tão frustrante! Havia se esquecido do preço que pagara para ter o par de pernas. Justamente a sua voz, sua bela e cantante voz! Não imaginou que sentiria tanta falta dela. Justamente agora, no auge de sua felicidade, sentia tanta ânsia em cantar, em expressar o quão maravilhoso se sentia e não poderia fazer.

O desespero que sentia pareceu se esvair com Eric ali. Estava tão calma e tão certo de que tudo ficaria bem. Seu toque a acalmava. Suas mãos eram quentes e calejadas. Nunca tocara mãos assim antes. Gostava delas.

Tentou sorrir. Foi um sorriso tímido, mas definitivamente verdadeiro. O rapaz pareceu gostar e apertou suas mãos antes de esticar o braço sobre um móvel de madeira e puxar algo.

– Não pode falar, mas pode escrever?

Ariel segurou os objetos que ele lhe entregava. Um deles era plano e branco, estranhamente mole. O outro ela conhecia, uma pena branca, parecida com as do Sabichão, exceto que a ponta estava suja com algum material escuro. Como eles escreviam com aquilo? Como ela deveria proceder?

Com uma eterna paciência, Eric sorriu e tirou a pena dela, escrevendo em letras garrafais seu nome.

– Eric. Meu nome é Eric. – disse ele apontando para as palavras na folha. – Qual o seu nome? Consegue me entender?

Sim, sim Eric, meu querido, eu te entendo! Como isso é frustrante.

Ariel o observara com atenção e repetiu seu gesto, segurando a pena entre os dedos e deslizando a ponta sobre a superfície branca, marcando seu nome delicadamente abaixo do dele.

– Ariel. – leu Eric – É isso? Ariel?

A jovem assentiu com um sorriso.

– Lindo nome. Ariel.

A forma com a qual ele dizia seu nome era tão bonita e sonora. As letras pareciam deslizar em sua língua como um doce saboroso.

– Senhorita Ariel, vou pedir para alguma criada subir e ajudá-la a se vestir. Acompanha-me no jantar?

Jantar, sim! Estava com tanta fome, comer parecia uma ideia maravilhosa. O olhar esfomeado no rosto da menina foi resposta suficiente para Eric.

– Ótimo! O cozinheiro irá preparar lagosta para nós, gosta?

Os olhos azuis intensos de Ariel se abriram em choque e as mãos subiram para a boca em um grito silencioso. Lagostas! Ariel balançou a cabeça. Havia certos animais que os empregados de seu pai caçavam em alto mar. Mas as Lagostas eram servos leais e bons companheiros. Não poderia comê-las! O que ele tinha na cabeça?

Oh, lembrou-se do pobre Sebastião, que havia tentado de tudo para impedi-la a fazer o acordo. Será que estava bem? Teria ele voltado para casa e avisado seu pai? Não gostaria de imaginar como Tritão teria reagido com as notícias.

Consternado, Eric passou os dedos entre as mechas de cabelo.

– Não precisamos comer lagosta, se não quiser. Irei pedir para que ele prepare outra coisa! Não se preocupe!

Eric se levantou prontamente e Ariel sorriu, fazendo-o parar no meio do cômodo para encara-la. Ela não entendeu o que ele estava fazendo, mas seu olhar era tranquilo e parecia distraído. Inconscientemente, o sorriso da ruiva se abriu e Eric sorriu de volta, como se ambos compartilhassem algum segredo.

– Eu vou... Chamar alguém para lhe ajudar agora. – disse ele andando de costas em direção à porta. – Um prazer conhece-la, Ariel...

Com uma pequena reverência, Eric sorriu antes de se retirar do quarto, deixando Ariel mal se aguentando de felicidade.


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Notas finais do capítulo

Olá gente! Capítulo 3 postado, espero que vocês gostem ;)
Estou pensando em alternar entre visões do Eric e da Ariel, acho que assim vai dar uma perspectiva bacana para a história e mais profundidade também. Gostaram?
Espero que o capítulo esteja bom. Ando tão cansada com a milhões de coisas para fazer na faculdade que mal tenho tempo para dormir! =(

Agora me contem: tem alguma experiência da Ariel que vocês gostariam de ver escrito? Pode ou não ter passado no filme!

Beijinhos



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