Passo a Passo escrita por Alice Alamo


Capítulo 1
Capítulo Único




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Eu nunca quis dizer muita coisa. Eu não era de dizer muita coisa, nunca havia sido. Por isso, as palavras ficavam presas na minha garganta, paravam antes dos lábios e eu, mais uma vez, não conseguia nem ao menos te dizer o quanto estava bonita naquele vestido simples que usou na primavera.

Como sempre fiz, te acompanhei em silêncio. Diferente do que possa achar, ouvi cada palavra, escutei cada história, prestei atenção em cada intervalo que você fazia para respirar e corar, abaixando os olhos, imaginando que eu não estava dando importância. Compreensível.

− Continue.

Era isso que eu dizia quando sua voz não me atingia por mais de alguns minutos. Seu silêncio não me era confortável; muito pelo contrário, ele gritava em meus tímpanos que você não estava bem, que havia algo errado e isso me fazia agir.

As missões ao seu lado eram horríveis. Sim, horríveis. Eu te conhecia há tanto tempo, já tínhamos passado por tanta coisa que ficar sozinho com você, sabendo de seus sentimentos, era pedir demais para minha sanidade. Nunca passou pela sua cabeça que eu saía de madrugada para aliviar a tensão que seu corpo provocava em minhas veias? Nunca passou pela sua cabeça que quando eu te encarava era para poder captar um pouco mais do seu corpo? Não. Você era ingênua demais, ainda é. Mesmo com a guerra, mesmo com tudo que aconteceu, você é ingênua demais sobre si mesma.

Acha-se indesejável, não é? Sei que tenho minha culpa nisso. Você deve ter entendido cada rejeição minha como "não sou boa o suficiente". Eu sei que sim, ouvi sua conversa com Naruto certo dia. Contudo essa não é a verdade. Eu te rejeitei, te afastei, mas não coloque a culpa em seu corpo ou em sua aparência, meus motivos são muito mais profundos do que essa banalidade. Aliás, se deseja mesmo saber, gosto do tom da sua pele, do contraste com seus cabelos rosa, dos olhos verdes que chamam tanta atenção, de cada curva do seu corpo, cada ondular harmônico e sensual. E parece que não era só eu que gostava. Até mesmo hoje, parece que não sou o único a te olhar com mais desejo do que o recomendado pelos bons costumes.

Vi você saindo com alguns outros caras da vila, vi você sorrindo e corando para eles. Vi e não gostei. Mas sou um Uchiha. Depois do que fiz com Konoha, não posso simplesmente chegar na vila e te arrastar ou então começar uma briga com qualquer que seja o infeliz. Minha indiferença nunca foi por não sentir algo, foi por sentir demais e saber que isso me arruinaria. Você conhece a história do meu clã, sabe bem como somos passionais e perdemos a cabeça fácil com o que nos pertence mesmo que você ainda não me pertencesse. Tsc, detalhe irrelevante.

Achei, uma ou duas vezes, que te perderia para Gaara. Ele te enxergou como mulher antes que eu a visse dessa forma. Ele te quis como mulher durante a guerra. Ele só esperou a poeira baixar para se aproveitar de uma reunião dos kages em Konoha e se aproximar. Você aceitou todos os toques. Te odiei naquela noite. Te odiei tanto que nem mesmo Naruto com sua conversa de "Sakura ainda te ama" pode me fazer sentir melhor. Você gostou ao menos? Ele te fez se sentir bem? Ou você fechou os olhos e me imaginou como muitas vezes me peguei fazendo enquanto estava com outra mulher?

Não quis te olhar no dia seguinte. Aliás, fiz questão e me esconder durante o dia todo e me senti extremamente satisfeito quando você chorou achando que eu havia ido embora novamente. Sua dor me fez bem naquele dia por aplacar a minha.

Gaara felizmente voltou para Suna. Não sem antes te convidar, não é mesmo? Seus olhos verdes estavam opacos, seco de tanto chorar. Resolvi que era um bom momento para aparecer.

Ainda me lembro de como seus lábios tremeram sem que as palavras saíssem, de como você recuou achando que era uma ilusão e do quanto me xingou, revoltada. Gaara entendeu tudo naquele momento e se despediu formalmente. Agradeci. Não queria arrumar uma confusão logo com ele que tanto me odeia e apenas me tolera por Naruto.

Você estava uma graça. É... Sério. Eu não ouvi quase nenhum dos seus xingamentos. Perdi-me na sua face corada, nos olhos marejados, na postura frágil e delicada. Sem pensar, acabei erguendo a mão e segurando algumas mechas do seu cabelo. Rosa... Sempre gostei, sabia? Era algo que não dava para passar despercebido, algo que te tornava tão única no meio de tantas outras shinobis.

Você perdeu a voz. Tremeu. Abaixou o olhar. Esperou.

Eu quis te beijar naquela hora. Quis te segurar nos meus braços e me aproveitar daquela sua timidez irritante para descobrir o sabor dos seus lábios. Porém, para você, isso ia ser demais. Cada ato meu renovava suas esperanças numa velocidade muito superior à velocidade com que eu queria me envolver. Te beijar para mim seria um beijo, apenas; para você, seria um compromisso. Você pode não entender, mas eu te respeitei naquele momento, não quis quebrar mais ainda o seu coração, não quis dormir mais uma vez ouvindo o som do seu choro na minha mente.

Meses se passavam. Você é esperta, você notou quando eu comecei a aceitar comer com Naruto, Shikamaru e os demais, percebeu quando a vila já não me olhava como "traidor" e sim como novamente o "Uchiha sobrevivente". Aquilo te fez sorrir. Imaginou que aquilo significaria que poderia se aproximar de mim sem que te julgasse, não foi?

Você reparava demais. Isso era um defeito. Era um defeito porque não éramos mais crianças, Sakura, não somos mais crianças. Nem tudo o que você via podia te fazer bem. Eu não podia me afundar em algo com você sem me ver nisso para sempre, entende? Mas também não era por isso que eu viveria em celibato. Deve saber melhor do que eu com quantas mulheres eu estive, com quantas me deitei em hotéis ou com quantas me diverti fora da vila. Sei disso. Você nunca me olhava nos olhos no dia seguinte, evitava até mesmo falar comigo. Quis te confrontar, abrir seus olhos, gritar para que parasse de prestar tanta atenção porque eu não te responderia naquele momento. Não fiz. Por quê? Porque achei mesmo que fosse inteligente o suficiente para entender o meu olhar irritado durante o dia todo.

Acho que você deve ter se cansado de esperar, deve ter se cansado de chorar e de desabafar com Naruto porque pediu a Kakashi que não fizesse mais missões comigo. Aquele idiota atendeu seu pedido e eu concluí que finalmente você estava mesmo tentando me esquecer. Depois de tudo, de tanta corrida e busca, de tanta persistência, você sentia que estava prestes a quebrar e resolvia sair do jogo. Eu sabia que não era fraqueza. Você foi um dia fraca, mas não mais. Acredite em mim, você não é fraca, Sakura.

Mesmo assim, me evitou e, assim, nos evitamos. Por incrível que pareça, quem veio falar comigo foi Hinata. É... Até eu estranhei em ver a Hyuga entrando no distrito Uchiha e parada na frente da minha porta. Ela não me pressionou ou algo assim. Conversamos sobre Konoha, sobre como a vila estava mudada e o que isso traria de bom para todos. Ela se aprontou para partir, mas antes me entregou uma flor de Sakura.

− Há flores que murcham apenas porque não há ninguém para contemplar sua beleza, sabia? − ela perguntou sorrindo doce antes de sair.

Conselho de uma Hyuga. Há que ponto eu havia chegado? Invadi o escritório de Kakashi e não precisei dizer muito. Aquele idiota sempre tinha bons palpites, não é mesmo?

Sua expressão, Sakura, ao me encontrar no portão de Konoha para nossa missão foi de apatia, indiferença. Não comentei. Você não falou o trajeto todo. Acampamos. Comemos. Bebemos. O som das respirações chegava a ser o barulho mais alto que produzíamos e aquilo era sufocante.

Eu já sabia que te amava. Só não sabia se era justo, se não era uma paixão que depois sumiria e fosse te machucar de novo e de novo. Não é como se eu estivesse acostumado a amar, não é mesmo? Todos os que eu havia amado estavam mortos, apenas você e Naruto continuavam ali e eu temia vê-los perecer a qualquer momento.

Quando se levantou para entrar em sua tenda, te segurei por reflexo. Não foi pensado ou planejado. Eu só não queria ficar sozinho, não queria que você se isolasse em pensamentos dolorosos porque sei o quão perigoso isso é.

Você se sentou de volta, sem nada perguntar, mas eu percebi seus olhos verdes fitarem curiosos a minha mão ainda segurando a sua. Ingênua demais para não perceber o que aquilo significava. Insegura demais para cogitar que eu tinha me esquecido de te soltar. Como você podia ser um shinobi tão inteligente e, ainda assim, tão imatura?

− Você se afastou − falei olhando para o céu, mas notando você querer recolher sua mão em uma atitude de defesa.

− Às vezes, os espinhos das rosas machucam demais para que possamos continuar a adorá-la.

Era para soar triste, eu sei, mas não consegui não rir baixo. Sério? Me comparando com uma rosa? Não fode, Sakura, sabemos que estou longe de ser algo semelhante a isso.

Indignada, tentou usar daquela sua força sobrenatural para se soltar. Não quis, não deixei. Toda sua mágoa, toda sua pose de durona, todos os seus escudos caíram quando te derrubei no chão e deixei meu corpo sobre o seu.

Você corou, debatendo-se envergonhada para sair dali. Esperei, esperei porque sabia que não iria demorar para você acabar me olhando nos olhos e, assim, darmos sequência ao óbvio.

Céus... Como eu amei seus gemidos, como os guardei fundo na memória para poder ouvi-los depois. Como admirei cada expressão, cada arfar, cada rolar de olhos e cada arranhão pelas minhas costas. Você me marcou, me marcou tanto que eu soube que aquilo era para que no dia seguinte pudesse ter uma prova do ocorrido; era para ter a certeza de que havia me tido por um momento.

A sorte era que isso aconteceu no fim da missão, quando voltávamos para Konoha. Seu passo vacilou ao meu lado quando cruzamos o portão. Te olhei sem entender e não gostei mesmo ao te ver seguir em uma direção que não era minha.

− Onde está indo?

Tenho certeza que minha voz saiu irritadiça, autoritária. Vi o encolher dos ombros, a dúvida em seus olhos verdes enquanto piscavam confusos.

− Para casa, não precisa me acompanhar.

Eu bufei. Juro que não estava com paciência para aquilo, juro que não entendia como você podia cogitar simplesmente ir para casa depois de tudo. Tudo bem que eu não era, e ainda não sou, a pessoa mais carinhosa e sutil da vila, mas achou mesmo que eu era tão filho da puta para transar com você e simplesmente te deixar ir embora?

− Sua casa não fica para esse lado.

Você com certeza pensou que eu estava cansado da viagem e que me confundia com as ruas de Konoha. Cogitei até me sentir ofendido com isso.

− Claro que fica. Do outro lado, é o distrito Uchiha.

− Como eu disse − falei mais alto, atraindo sua atenção de fato − Sua casa não fica mais desse lado. Vamos, estou cansado.

Voltei a andar. Não precisei te olhar para saber que você ainda assimilava as palavras, para saber que ainda duvidava. Demorou cerca de quatro minutos e meio para que seus passos me atingissem e você caminhasse ao meu lado. O medo presente fazia com que andasse um pouco distante de mim e eu pedi paciência aos céus para não ser rude com você. Em vez disso, passei os braços pela sua cintura e a fiz caminhar na minha frente, abraçada comigo.

Seu corpo tremeu, eu sentia seu coração acelerado batendo e, pela primeira vez, gostei de entrar no meu clã porque sabia que já não era o único pertencente a ele.


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Notas finais do capítulo

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