A Guerra Greco-Romana escrita por Maresia


Capítulo 6
Capitulo 5 - O desvendar do véu




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Manigold caminhou pelo terreno arenoso que circundava o cais. Olhava em todas as direcções procurando um ponto de referência que lhe fosse familiar. Alguns anos foram suficientes para mudar quase tudo naquela bela cidade. Manigold vagueava por ruas apinhadas de pessoas correndo apressadas, era uma grande confusão. Manigold avistou algumas famílias felizes, algumas comiam em restaurantes igualmente cheios, outras amontoavam-se desesperadamente à porta das gelatarias. O estômago do Caranguejo deu um ronco bastante audível, bem tinha razão de queixa há muitas horas que não ingeria nada. Dirigiu-se ao café que encontrou mais vazio, e comprou um pão e um sumo para saciar aquela fome incontrolável. Após esta paragem seguiu o seu caminho.

Manigold percorreu a lindíssima Veneza até ao extremo oposto de onde tinha atracado. Passou por inúmeras ruas, avenidas, praças e pelos cristalinos canais, onde os passeios de gôndola faziam as maravilhas de miúdos e graúdos. Manigold sorriu, lembrava-se de quando era criança também ter andado várias vezes naqueles barquinhos, embora clandestinamente, e aí é que estava a graça!

Após uma hora a caminhar o Italiano encontrava-se perante uma paisagem campestre muito bonita. O chão era coberto por uma erva verde muito limpa, que abanava com a leve brisa que se fazia sentir. Flores de todas as cores, tamanhos e formas brotavam alegremente do chão. Pequenos arbustos cresciam aqui e ali embelezando ainda mais aquele cenário paradisíaco. Ao fundo um rio navegava feliz no seu leito. Olhando mais adiante Manigold avistara uma enorme casa que completava o quadro.

O coração do Caranguejo batia descompassadamente, no misto de tristeza e ansiedade. Chegou perto da enorme casa. Era um pequeno palácio senhorial, as paredes estavam pintadas de um branco que outrora fora limpo e brilhante, agora estava sujo e do brilho já não havia vestígio algum. A sebe crescera e cobrira as janelas. A enorme porta de madeira de carvalho que dava aceso à enorme mansão estava ferrugenta e sem cor. Aquela casa antigamente costumava ser uma das mais ricas e nobres mansões italianas, agora, não passava de ruínas abandonadas pelo tempo.

Manigold não se oprimiu com a degradação da habitação, pelo contrário sentiu raiva e ódio por algo ainda coberto por um véu bastante espesso. Dirigiu-se à pesada porta, foi difícil de abri-la, com o decorrer dos anos a fechadura ficara presa. Depois de algumas tentativas o aceso à casa estava a menos de alguns paços. Manigold estancou na ombreira da porta, era muito complicado voltar a entrar naquele lugar passados tantos anos.

Finalmente a coragem veio em seu auxílio. Manigold penetrara na antiga mansão. Encontrava-se no vasto hall de entrada, o chão estava coberto de uma enorme camada de pó que saltava em novelinhos de cada paço que o recém-chegado dava. A tinta caía abundantemente das paredes quase descascadas. Avistou uma enorme escadaria de pedra no passado era impecavelmente limpa e reluzente, que conduzia aos andares superiores. Manigold subiu a escada, no topo olhou em volta. Ele não queria acreditar no que os seus olhos lhe mostravam, tanta nobreza, tanto luxo, tanta riqueza. Todavia, o seu olhar fixou-se no quadro pendurado na parede oposta.

A pintura representava uma linda paisagem campestre, com um rio muito azul ao fundo. Em primeiro plano estava retratada duas figuras, um homem e uma mulher, certamente grávida.

– Pai! Mãe! – O choque era a expressão descrita no rosto de Manigold. A janela do passado abre-se finalmente.

Encontravam-se num quarto bem iluminado por muitas velas colocadas em candelabros de ouro. Uma mulher alta e magra, exibindo um bonito vestido creme embalava um pequeno bebé que dormitava tranquilamente num berço azul banhado a fina prata. Um pouco distante estava sentado no sofá de pele de chita um majestoso homem que lia concentrado um pequeno papel.

Pela janela avistava-se uma noite escura como o ébano. A chuva e o vento fustigavam as paredes, o telhado e os vidros de forma violenta. O homem ergueu-se e disse em tom urgente e aflito:

– Querida temos que partir rapidamente. – A mulher olhou-o assustada.

– Porquê? Fala mais baixo vais acordá-lo. – Disse apontando para o bebé adormecido.

– Não há tempo para muitas explicações. Alguém engendrou um plano para nos matar. Temos que fugir esta noite. – O homem estava bastante perturbado.

– Quantas mais desgraças se abaterão sobre a nossa família meu Deus? – Desabafou a bela mulher. – Querido prepara uma mala enquanto eu agasalho o nosso filho. Depois trataremos juntos da carruagem. Vai depressa! – Ordenou.

O tempo agravava-se gradualmente. Os relâmpagos iluminavam a noite escura, o vento uivava violentamente, a chuva caía pesadamente e os trovões ribombavam de forma ensurdecedora., o bebé acordara e chorava a plenos pulmões. A tempestade fazia antever a tragédia que aconteceria.

– Vamos embora! – Disse o homem entrando aos tropeções no quarto.

– Sim querido. – Assentiu a doce mulher pegando o seu filho nos braços.

Ao longe, vindo da entrada principal da casa, fez-se ouvir um enorme estrondo, a porta tinha sido derrubada. Era tarde de mais.

O pânico e medo apoderaram-se do jovem casal. Esconderam o melhor que lhes foi possível o pequeno menino e ficaram à espera do inevitável. Os segundos que se seguiram foram de enorme terror e espectativa. Até que a porta do quarto foi escancarada agressivamente.

– Ora, ora, o que temos nós aqui? – Um homem seguido por outros três irromperam quarto dentro.

O casal estava encostado à parede no fundo da divisão, tremendo descontroladamente.

– Iam a algum lado? – Perguntou o mesmo homem, avistando a mala no chão de madeira castanha.

Os homens trajavam longas capas pretas, calçavam pesadas botas de biqueira de aço, a sua aparência era descuidada, possuíam longas barbas emaranhadas e longos cabelos sujos e oleosos.

– O que vocês querem de nós? – Perguntou corajosamente a mulher.

– Olhem para isto, eles falam? – Zumbou outro homem.

– Bem como não vão sair daqui vivos, acho que merecem uma explicação. – Afirmou aquele que parecia ser o líder do grupo.

– Não vamos sair daqui vivos? Então era mesmo verdade. – Constatou a mulher começando a chorar.

– Vejo que foram avisados, mas foi tarde de mais, não serviu de nada. – O grupo riu maldosamente ao ver o casal ainda mais apavorado.

– Onde é que eu ia? Há sim as explicações. – Fingiu falsa confusão antes de prosseguir. – A vossa morte foi-nos encomendada pelos duques de Florença. E acreditem pagaram-nos bastante bem por isso.

– Os duques de Florença? – Murmurou o homem incrédulo. – Mas com que objetivo? Qual é o motivo de tanto ódio?

– Eles não querem ter concorrência no comércio de cereais. E vocês são neste momento os maiores fabricantes de toda a Península Itálica.

– Tanta ganância, tanto ódio, tanta ambição… - Chorava a mulher caindo de joelhos no chão.

– Acabou a conversa que já se faz tarde. E eu mal posso esperar por pôr as mãos na massa.

Os mercenários avançaram sobre o casal impiedosamente, revelando afiadas katanas que traziam encobertas pelas ferozes capas negras.

– Esperem um momento! – Disse um dos homens olhando em volta. – Eles não tinham um filho! Onde ele está?

– Ele não está aqui connosco já há alguns dias. – Mentiu o homem.

A mentira resultara, porém não os livrara da morte. Os mercenários assassinaram o jovem casal aristocrata com diversos golpes.

O chão castanho estava pintado de vermelho vivo e os dois amantes estavam mortos, o serviço estava feito. A vida de uma criança fora arruinada pela crueldade e maldade de alguém que só se interessa por dinheiro e soberania.

As lembranças assombravam a cabeça de Manigold com um peso tenebroso. Estava sentado no chão olhando o quadro. As lágrimas escorriam-lhe em torrente pelo rosto desfigurado pelo ódio, tristeza e sofrimento.

Manigold queria sair daquela casa manchada de sangue, mas o seu corpo não lhe obedecia, estava pregado ao chão.

– Então tudo se resume a dinheiro e prestigio! – Gritou Manigold desesperado.

O sangue queimava como o fogo, o ódio sufocava o seu coração, as lágrimas cegavam os seus olhos habitualmente traquinas, tinha que fazer algo se não morreria afogado em tanto desespero.

Levantou-se e começou a disferir golpes com toda a sua força, atingindo o chão, as paredes, o teto, as janelas, tudo o que os seus punhos e pés conseguissem alcançar. A raiva parecia não dar tréguas. Até que passadas horas caiu exausto no chão destruído da assoalhada.


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