A Guerra Greco-Romana escrita por Maresia


Capítulo 34
Capitulo 33 - A barca da morte


Notas iniciais do capítulo

Para construir a personagem do barqueiro, inspirei-me na obra literária portuguesa (peça teatral), intitulada "Auto da barca do inferno" da autoria Gil Vicente.



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Guerra, uma pequena e simples palavra, porém com efeitos destrutivos e inimagináveis. Uma simples e sórdida palavra capaz de destruir o espírito da humanidade, ferir o próprio e poderoso universo, dilacerar o oceano, pulverizar a bondade do coração dos seres humanos, roubar os sorrisos das crianças, sangrar a bela e pura natureza e apagar a luz do sol e da frágil Lua. É este fenómeno que assombrou o nobre e antigo santuário de Atena, filho da lendária e sábia Grécia, contudo finalmente ela se rendeu perante a coragem e valentia dos defensores da Deusa Atena. Por fim, o pérfido e maldoso Deus Júpiter tombou às mãos dos esforços unidos de mestre e aluno.

As reações dos cavaleiros presentes na escadaria que conduzia ao angelical templo da Deusa Grega foram diversas, alguns olharam incrédulos para o céu onde a tempestade divina se dissipava a grande velocidade, revelando um bonito e brilhante céu azul pintalgado de fofas nuvens de algodão emolduradas por um reconfortante sol, outros saltaram de alegria, outros ainda teceram comentários sobre a vitória do dourado de Carneiro. A jovem Sasha ajoelhada agradecia por ter sido bem guiada para mais uma difícil vitória. O Grande-mestre Sage recordava com algum pesar todas as infindáveis batalhas que cruzaram a sua longa vida, sangrando ainda no seu velho coração. Nas solitárias montanhas de Jamir, Shion e Hakurei partilhavam a sua felicidade com aquele lugar deserto e injusto, imerso em nevoeiro e mistério, repelindo qualquer calor e vida humana.

O supremo Deus Júpiter mergulhava vertiginosamente nas profundezas egoístas da negra morte, entrando por fim nas entranhas sombrias do submundo vazio e silencioso. Ali, no Inferno todos os mortos são destituídos dos seus estatutos sendo igualmente tratados, consoante os pecados que cometeram em vida, e cá para nós as atrocidades cometidas por Júpiter foram mais que imensas. Ele caminhava no meio de um grupo amontoado de almas silenciosas e vazias, esperando arrepiadas o seu destino, despojadas de esperança, coragem e força de vontade. O silêncio insuportável dos mortos apenas era quebrado por um lamento aqui e ali, ressuando tragicamente nas margens pútridas do rio Infernal.

A assustadora fila foi diminuindo drasticamente, até que chegou a hora do Deus dos Deuses. E ali estava ele, perante o assombrado rio escuro, o rio que o levaria à sua última morada infernal. Uma indesejada barca flutuava arrogantemente nas águas calmas e misteriosas.

– Vinde à barca homenzinho que a viagem ainda é longa! – Gritava um barqueiro, segurando na sua mão viajada um tremendo remo.

– Vê com quem falas, seu verme imundo. – Respingou Júpiter ofendido com o tratamento desapropriado.

– E o que temos nós aqui? – Perguntou o Senhor da embarcação negra, mostrando-se interessado.

– Quem eu sou, perguntas tu? E quem quer saber? – Provocou o Deus, não temendo a resposta.

– Bem, eu sou Caronte o barqueiro que faz a travessia entre a vida luminosa e a morte negra, agora que sabeis quem sou…

– Sim, claro eu sou Júpiter o Deus Supremo que habita o poderoso Panteão Romano. – Explicitou ele orgulhosamente.

– Ah!! Um Deus, hã!!! São raros os que por aqui passam. É de louvar meu caro! – Caronte exibia um sorriso sínico no seu rosto duro e sem piedade alguma. – Bem, vamos, vamos que a boa maré não espera, vamos! Vamos! Salta cá para dentro! – Aliciou o Barqueiro.

– Calma aí barqueiro! – Exaltou-se o Supremo Deus vendo a mão esticada de Caronte. – Já que não tenho escolha quero atravessar este rio imundo em condições que se adequem à minha posição. – Pediu o Deus fanfarrão.

– Condições especiais, dizeis tu? – Disse Caronte fingindo não ter compreendido a interrogação do morto. – Claro que terás tratamento VIP, sem dúvida, como me pude esquecer que o senhor é um Deus? AI! AI! – O discurso do barqueiro estava recheado de Ironia.

– Qual será? – Questionou Júpiter interessado e feliz pelo seu reconhecimento.

Caronte saltou da barca, trazendo consigo uma grossa e suja amarra, a qual colocou desajeitadamente em volta do corpo do divino homem romano. Num forte impulso içou-o para as pérfidas águas paradas, atando a corda à popa do barco.

– Seu desprezível, o que pensas que estás a fazer, eu sou um Deus! – Os gritos de Júpiter ribombaram nas margens tranquilas como uma pesada e violenta trovoada.

– Não faças barulho, vais acordar os mortos! – Pediu Caronte, enquanto o barco deslizava pelas águas da morte, conduzindo Júpiter até à outra margem.

– Vais pagar! – Berrava o Deus.

– Sim! Sim! Aqui tudo se paga, fica descansado. – Respondeu o barqueiro, começando a entoar uma melancólica e irritante canção que embalava os mortos na sua última derradeira viagem até ao reino das trevas.

No santuário de Atena o firmamento de um azul infinito assistia tranquilo ao cenário de felicidade que emanava dos espíritos dos habitantes sagrados. Lágrimas de alegria e sorrisos de companheirismo desfilavam pelos rostos corajosos e feridos dos cavaleiros de Atena, cosmos repletos de coragem beijavam o distante e vasto universo.

Shion conseguiu, ele conseguiu! – Exclamou Dokho emocionado. – O meu amigo conseguiu!

– Sim, ele teve coragem, demostrou que apesar de ser bastante jovem, o seu cosmo brilhou para além da negra maldade de Júpiter. – Disse Sage orgulhoso do jovem carneiro.

– Mas, talvez seja impressão minha. – Principiou Dégel de Aquário. – Penso que senti outra energia cósmica igualmente poderosa, no entanto nunca antes a tinha sentido, é plenamente desconhecida.

–Sim de facto eu também senti, não foi impressão tua. – Confirmou Sísifo de Sagitário, olhando para Sage inquisidor.

– O senhor, Grande-mestre sabe a quem pertence esse poderoso cosmo? – Perguntou Aldebaran de Touro corajosamente.

– Pertence a alguém que tal como eu está perdido no tempo. – Respondeu Sage enigmaticamente, observando o seu passado e aqueles com quem o dividia.

Uma intensa e ofuscante luz dourada iluminou o espaço, Shion estava de volta, radiante como todos os outros.

– Shion! – Gritou Dokho, abraçando fortemente o seu melhor e insubstituível amigo.

– As nossas vontades sem dúvida estavam bem entregues. – Murmurou Sísifo dando uma leve palmadinha no ombro do Carneiro Dourado.

– Obrigado Shion. – Disse Atena, aproximando-se.

– Não me agradeça apenas a mim Atena, esta vitória só nos sorriu porque tivemos uma ajuda preciosa, muito preciosa. – Disse Shion, com o reflexo do seu velho mestre a brilhar-lhe nos olhos decididos.

Todos eles estavam bastante desgastados pela Guerra. As feridas ainda ardiam de raiva nos seus corpos, os seus corações ainda mal recuperavam dos sucedidos, precisavam urgentemente de repousar. Todos eles perante a ordem de descanso do grande mestre dirigiram-se aos seus templos para abraçarem fortemente um merecido e desejado conforto, quando de novo os primeiros raios de sol nascessem eles estariam prontos para as construções e limpezas necessárias.


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