A Guerra Greco-Romana escrita por Maresia


Capítulo 22
Capitulo 21 - Dúvidas




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O líquido que Július ingerira escorregava arrastadamente pela sua garganta como se fosse algo bastante doloroso de consumir. A sua cara contorcia-se num esgar de dor e sofrimento devido ao ardor fervilhante que aquela poção provocava nas suas entranhas. Por momentos o medo tomou conta dele, o medo de não resistir aquele tenebroso vinho.

No cemitério onde repousavam os antigos Cavaleiros, Asmita voltara a posicionar-se em forma de Lótus levitando suavemente como uma pétala. Porém, uma sensação desconfortável percorreu de súbito o seu coração. As suas aguçadas capacidades sensoriais ainda reconheciam ao longe aquele cosmo tão poderoso. Será que o Imperador conseguira escapar das afiadas garras dos seis caminhos?

– Nunca pensei que este vinho sagrado colocasse a vida de quem o bebe à margem da morte. Tenho que me libertar desta prisão ilusória! Tenho que resistir! Não penses que a nossa batalha já terminou, Virgem! – O imperador arquejava contorcendo-se, agonizava e suava terrivelmente.

Num repente milagroso, uma força descomunal apoderou-se do corpo, da mente, do coração e do sangue do adversário do dourado. A sua força de vontade completamente restaurada aliada ao seu estrondoso e restituído cosmo quebraram a dimensão temporal e espacial que o separava de Asmita.

– Como é que o seu cosmo se tornou tão poderoso, está imerso numa perigosidade extrema, sedento de sangue e morte! – O Cavaleiro estava preocupado com a nova aparição do cosmo do Imperador.

Július caminhava calmamente em direção ao seu oponente. A sua habitual tranquilidade fora substituída por uma expressão pesada e repleta de maldade.

– Surpreendido, Virgem? – Perguntou arrogantemente, ainda segurando o pote de ouro na sua mão.

– Não irei negar que estou de facto surpreendido, porém isso não se deve ao teu novo e aparente poder mas sim a teres conseguido escapar do meu ataque. – Afirmou serenamente Asmita. – Todavia, acredito plenamente que todo esse grandioso poder deve ter uma falha, qual será o preço a pagar?

– A tua sabedoria é algo louvável e impressionante, de facto existe um preço a pagar. – Confirmou o Imperador, pousando o potinho na areia fria e humedecida pelo orvalho matinal. – Este vinho não é um vinho qualquer que se bebe em situações de lazer ou em ocasiões de festejo, este líquido sagrado é conhecido pelo povo Romano como Vinho de Baco.

– Vinho de Baco! – Exclamou Asmita.

– Sim Vinho de Baco. Baco era um dos grandiosos e poderosos Deuses que habitam o panteão Romano, ele é conhecido por ser o Deus do vinho e das emboscadas. Há muitos milénios atrás, Baco criou este suco com a funcionalidade de ofertar a quem o bebesse certos privilégios com o intuito de proteger a civilização romana, desta forma ganhei força e poder ilimitado quase divino.

– Força suprema! – O dourado estava embasbacado com a explicação narrada por Július.

– Agora que já sabes um dos mais preciosos segredos do nosso reino não podes decerto continuar vivo. Por isso, despede-te do mundo que nunca conheceste realmente. – Ao enunciar estas palavras o Imperador retirou a sua magnificente coroa da cabeça., dando-lhe um demorado beijo.

Asmita esperava calmamente o novo avanço do seu inimigo queria testar o seu poder, queria verificar se a lenda do Vinho de Baco de facto era verdadeira, queria superar o seu próprio cosmo. Será que iria conseguir, ou o fim do combate já estava escrito nas estrelas?

– Se me queres matar podes vir estou pronto. – Desafiou o Cavaleiro intensificando o seu desconhecido cosmo.

– Ilusão da Coroa Imperial! – Gritou o Imperador. – Se este ataque falhar é o meu fim. O tempo de eficácia do poder do vinho é curto. Se ele escapar…

– Kahn! – Bramiu Asmita, contudo era tarde de mais.

Um menino de tenra idade de longos cabelos louros caminhava descalço queimando os seus pequenos pés na areia fervilhante devido ao sol tórrido que se fazia sentir. Na sua dolorosa caminhada passou perto de um rio onde o reflexo triste e sofredor de Asmita de Virgem flutuava ao sabor da lenta corrente. Aquele dia era igual a todos os outros dias da solitária e penosa infância do menino. O cenário catastrófico onde vivia era salientado e reconhecido pela miséria, fome, crenças impuras e desumanas, lágrimas, gritos, perda, dor e caos. Era desolador avistar crianças de forma carente que rezavam quase desnutridas por um pouco de comida, atenção ou apenas um pequeno laivo do sentimento definido como amor.

Asmita continuava a sua deprimente travessia, a dor que envolvia o cenário entranhava-se profundamente na sua alma, no seu espírito, no seu coração, no seu sangue, quase o levando à loucura. A perda e a dor daquele povo afogava-o em trevas demoníacas. O caos, o sofrimento e o desespero aniquilavam a esperança de uma mudança urgente e repleta de luz, sorte e felicidade. O mundo que tanto desejava estava a um tímido piscar de olhos, porque nunca mais o alcançava.

Num outro plano, Asmita já não era mais um menino, agora era um jovem bastante forte, caminhava nas montanhas esquecidas pelo tempo e perdidas no vasto globo de Jamir. Apesar de estar num lugar diferente e de ser uma pessoa diferente, o sofrimento, a dor e a perda do seu povo ainda o enlaçavam profundamente à sua infância. Os seus olhos nada viam, no entanto o seu nobre e puro coração sentia com uma intensidade tremenda os lamentos, gritos e lágrimas do mundo, como se estivesse dentro da sua alma.

De repente, uma voz omnipotente invadiu o ar rarefeito da montanha.

– Asmita, como podes ter a ousadia de venerar dois Deuses? Como te atreves a desafiar o teu destino? Como te atreves a questionar os princípios impostos por Buda?

– Esta voz! – Murmurou. – Escutei-a tantas vezes na minha infância em momentos de aflição.

– A tua punição será algo terrível, Asmita. – Ameaçou a voz.

– Punição! – Exclamou o jovem de bonitos cabelos de ouro.

– Sente o peso do sofrimento universal. Afoga-te nas lágrimas das crianças. Apodrece nos gritos de pavor das mulheres. Morre tentando desesperadamente alcançar comida. AHAHAH!!!

– Nããããããõ! – A voz transtornada de Asmita de Virgem imergiu no cemitério do santuário de Atena na Grécia como uma pequena bomba de energia dourada.

A dúvida plantada pela ilusão do Imperador martelava na mente de Asmita como o ribombar de uma trovoada. Será que ele algum dia a qualquer momento a qualquer hora iria sofrer a terrível penitência por se ter atrevido a venerar dois Deuses, seria isso possível?

– Como voltaste seu desgraçado? – Questionou Július atónito.

– Graças a minha vontade e sensatez. Ilusões não passam de manipulações imperfeitas da realidade. – Explicou Asmita, ainda imerso em pesadas e sufocantes dúvidas.

– Não me tentes ludibriar, as dúvidas percorrem o teu ser como um rio corre desenfreadamente para o mar. Bem, qual é afinal a sensação de saberes que a punição pelo teu incontestável pecado está escondida atrás das sombras do teu espírito? – O Imperador estava extremamente satisfeito com os prejuízos que a sua ilusão fizera na alma do dourado.

– As curvas do destino são atribuladas, escuras e perigosas, contudo existe sempre a possibilidade de atravessá-las pelo caminho da luz, verdade e amor. – Foi a resposta dada pelo Cavaleiro.

– Tanta filosofia para me dizeres que não tens uma resposta concreta que suporte a tua traição.

Asmita pela segunda vez juntou as suas mãos separando-as depois numa linha obliqua. O seu cosmo expandiu-se até ao território estelar.

– Seu estúpido, vais utilizar novamente esse golpe mesmo sabendo previamente que ele não resultará? – Zumbou Július ardendo de satisfação.- Se ele me assertar é o meu fim! – Pensou no seu íntimo.

– As ilusões são falsas e imperfeitas passagens da realidade. – Afirmou Asmita calmamente.

Será que as dúvidas afetaram as capacidades de combate de Asmita? Será que este ataque de facto é o que parece? Qual será a resposta dada por Virgem?


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