A Guerra Greco-Romana escrita por Maresia
A lua refletia um cenário de contraste aterrador na entrada do nobre Santuário. Como dois homens tão diferentes como o fogo e a água podiam ser os melhores amigos? Como podiam ter sucesso no campo de batalha? Como o gelo e o fogo se completavam de forma imperturbável?
Dégel de Aquário estava sentado no chão de areia lendo um grosso e pesado livro de capa brilhante. Tudo naquele cavaleiro transbordava tranquilidade, calma e inteligência. Os seus peculiares olhos transmitiam uma concentração plena, como se nada naquele mundo o fizesse despertar daquela profunda leitura.
Por outro lado, Kardia de Escorpião caminhava de um lado para o outro sem parar, pisando o chão com força, abrindo pequenos buracos aqui e ali. No seu rosto traquina estava estampado um entusiasmo fervilhante de quem anseia com toda a sua alma que a luta comece. O dourado era conhecido pela sua sede de lutar, por desafiar os limites que suportam a vida humana e pela sua impulsividade tremenda. Era um homem corajoso, persistente, nunca voltava a cara a uma boa luta.
– As nossas presas estão perto Dégel, mal posso esperar para lhes mostrar o magnifico poder escarlate da minha unha! – Kardia falava vibrando de emoção.
– Kardia se fosses mais atento compreenderias que eles já chegaram. – Afirmou Dégel gelidamente desprendendo-se da sua leitura.
– Finalmente! – O entusiasmo dançava furiosamente dos lindos olhos azuis do escorpião. – Mas já agora! – Olhava confuso para o cavaleiro do gelo. – Porque é que ainda não arrumaste esse livro estúpido? Pensas que vais ganhar esta batalha com o nariz enfiado nessa lógica idiota? – Kardia esbracejava descontrolado.
– E que mais tens tu para me dizer Kardia? – Perguntou o Aquário na mesma voz fria.
– Eu bem disse ao Sage que não precisava de ti! Bem fica aí sentado e assiste tranquilo à minha vitória!
Enquanto Kardia falava desenfreadamente Dégel fechara o pesado livro e colocara-o em segurança.
– Kardia! – Chamou calmamente o dourado Francês.
– O que queres? – Respingou arrogantemente o dourado de lindos olhos azuis.
– Se falasses menos e prestasses mais atenção ao que te rodeia compreenderias que já guardei aquele maravilhoso livro repleto de conhecimento, e compreenderias igualmente que estou pronto para cumprir com as minhas funções. Nós fomos ambos destacados para proteger a entrada do santuário quer tu queiras quer não seja do teu agrado. Por isso porta-te à altura do teu estatuto! – Cada palavra saia da fina boca de Dégel como lanças geladas que perfuravam a mente calorosa de Kardia.
– Que lata!
Porém, algo desviou as atenções de Kardia fazendo com que este não completasse a frase, que provavelmente seria infindável. A presença dos inimigos romanos transformara a calmaria nocturna num misto de pressão e ansiedade. Os cinco vultos estavam discretamente parados a assistir atentamente à discussão entre os dois cavaleiros.
– Bem-vindos ao vosso túmulo! – Afirmara Kardia avançando para o grupo, porém a mão fria de Dégel o fez recuar ligeiramente.
– Não sejas imprudente. Queres deitar tudo a perder? – Murmurou.
– Vejam só, estavam a discutir como duas idosas! – O grupo riu-se com desprezo.
– São estes os cavaleiros que pretendem impedir-nos de penetrar no santuário? Que piada de mau gosto! - A única mulher do grupo voltara a prenunciar-se com aquela voz afiada como um punhal.
– Como se atrevem? Suas doninhas fedorentas! – A raiva queimava com intensidade nas veias do escorpião.
– Não sedas a provocações Kardia! – Pediu o Aquário.
– Bem acho que vamos terminar com estes dois rapidamente. – Afirmou um homem encorpado.
– Não pensem que vai ser assim tão fácil! – Disseram os dois amigos em uníssono.
Dois gigantescos cosmos fizeram a escuridão da noite vibrar.
– Bem finalmente os coelhinhos saíram da toca, bestial! – Disse um homem que se mantivera imerso pelas sombras.
– Parece que sim maninho. – Um outro homem prenunciara-se.
Kardia e Dégel observaram com interesse as figuras dos dois homens. A semelhança era aterradora, sem dúvida seriam gémeos.
– Companheiros sigam em frente nós trataremos de limpar este caminho. – Comprometeu-se o primeiro gémeo.
Os dois cavaleiros não conseguiram deter os restantes Imperadores da Justiça que se impulsionaram a uma velocidade tremenda para as entranhas do santuário.
– Afinal quem são vocês? – Questionou Kardia.
– Eles são Rómulo e Rémulo os fundadores da nação de Roma. – Dégel falava convicto da sua sabedoria. Os gémeos olharam Dégel intrigados.
– Como sabes tu isso! – Perguntou Kardia surpreendido.
– Estava escrito no livro que eu tenho estado a analisar. – Explicou.
– Ah! Então era isso.
Os criadores moviam-se impacientemente em redor dos dois dourados.
– Bem chega de conversa que já se faz tarde. – Disse aquele que seria Rómulo.
– No entanto, felicito-te cavaleiro, por saberes quem nós somos. – Saudou Rémulo.
Dois cosmos anunciaram a sua presença superiorizando-se aos dos cavaleiros de Ouro.
– A morte que vos espera será lenta e dolorosa. Porém, daremos a oportunidade de fugirem como coelhinhos assustados. – O gémeo falava arrogantemente.
– Seu maldito! – Berrou Kardia. – Agulha Escarlate!
Uma unha de um tom vermelho intenso voou da ponta do dedo esticado do Dourado, direcionando-se para o irmão que se encontrava mais perto de Si. No entanto, a velocidade do ataque de Kardia fora superada com facilidade.
– Então é esta a famosa velocidade da luz de que os cavaleiros tanto se orgulham! Brincadeira de crianças! – Gozou Rémulo.
De facto aqueles dois Imperadores não eram para brincadeiras. Que poderes ocultariam nas profundezas dos seus cosmos?
– Agora é a nossa vez! Vejam se podem com isto! Uivo do Lobo Divino! – Duas vozes ouviram-se no ar. – Venham a nós criaturas adoráveis!
O ataque dos gémeos foi algo arrepiante. Um número infindável de lobos cósmicos rodearam os dois cavaleiros. A noite ressuava agitada com os uivos ensurdecedores das criaturas. Apesar de não serem mais do que aparições não corpóreas os golpes desferidos sobre o Aquário e o Escorpião eram fatais. Arranhões, mordidelas, ondas de energia atiravam os dois amigos de um lado para o outro. Porém, o que mais os enfraquecia era o terrível uivo que penetrava bem fundo nas suas mentes impossibilitando-os de se defenderem adequadamente, pois os seus movimentos estavam bastante restritos.
– Então porque fogem de animais tão adoráveis? – Questionou Rémulo, a sua voz estava banhada pelo prazer que aquelas imagens lhe proporcionavam.
– Como alguém não gosta destes bichinhos amorosos? – Rómulo partilhava o mesmo prazer do irmão.
A alma dos cavaleiros estava cada vez mais afundada naquela terrível melodia uivada. Tentaram tapar os ouvidos mas foi em vão, os uivos ultrapassavam as fortes mãos penetrando nos seus espíritos.
– Agulha Escarlate! – Berrava Kardia, porém, o seu poderoso e inflamado ataque não sortia qualquer efeito.
– Não esgotes as tuas forças sem êxito. Os nossos ataques de nada servem. – Avisara Dégel sendo arremessado brutalmente contra um pilar caindo estrondosamente ao chão.
– Dégel! Seu lobo maldito! – Kardia tentara inutilmente pontapear a criatura mas acabou por assertar no melhor amigo. – Desculpa Dégel!
–Kardia escuta com atenção. – O Aquário falava ofegante com um fio de sangue a escorrer da testa. – Eu tive uma ideia. Eu ficarei aqui e servirei de isco para os lobos. Tu dirigir-te-ás aos gémeos e tenta derrotá-los.
– Mas Dégel! Eles vão devorar-te! – Kardia estava chocado com a proposta.
– Não te preocupes, agora vai! – Ordenou o Aquário.
Dégel elevou o seu cosmo gélido, formando uma enorme prisão de gelo em volta daqueles animais. Ele tinha consciência de que não iria suportar aquele uivo infernal durante muito tempo, porém daria a oportunidade que Kardia precisava.
– Os uivos cessaram! – Exclamou o escorpião. – Dégel! Seu estúpido!
O dourado de Escorpião compreendera o que o amigo tinha feito. A prisão de gelo criada por Dégel encerrara os uivos gritantes dos lobos, apenas ele os conseguia ouvir.
– Aguenta Dégel! – Pensou Kardia, aproximando-se dos gémeos criadores de Roma.
– Tanta coragem Cavaleiro. – Zumbou Rómulo.
– Será coragem ou estupidez? – Gozou Rémulo.
– Eu estou aqui para acabar com vocês! Recebam o poder flamejante das minhas agulhas! – A raiva de Kardia percorria dolorosamente o seu corpo queimando como fogo ardente. Várias agulhas incandescentes voaram elegantemente em direcção aos criadores.
Finalmente os irmãos levaram o cavaleiro a sério. Kardia despertara nos seus corações uma ameaça que nunca antes sentiram. Ambos entre olharam-se perplexos.
– Mãe vem dar uma ajuda aos teus queridos filhos! – Afirmou Rómulo.
– Muralha da loba! – Invocou o outro criador.
Uma bela loba branca apareceu diante dos seus filhos protegendo-os como se fosse uma muralha inquebrável. As suas garras eram afiadas como espadas e os seus dentes faziam lembrar pequenos sabres antigos.
– Mas que raios isto significa? – Kardia estava atónito com aquela imagem.
– Gostaríamos de apresentar a nossa mãe. – Indagou Rémulo confiante.
– Mas, como uma loba pode ser mãe de dois humanos? A vossa loucura não tem limites? Olhem que a minha também não. – Desafiou o protetor da oitava casa.
– Esta loba amamentou-nos livrando-nos desta forma da morte certa. – Principiou Rómulo.
– E nada mudou até então, ela continua a proteger-nos como se ainda fossemos inocentes bebés. Os laços que nos unem nem o próprio tempo pode romper. – Finalizou Rémulo orgulhosamente acariciando a cabeça da loba.
– Esta história da treta nada me diz. Não me interessa que ela seja uma fêmea vou tira-la do meu caminho!
Todavia, antes que Kardia pudesse mexer um dedo a loba saltara sobre ele atacando fatalmente com aqueles dentes e aquelas garras demoníacas.
Na prisão gelada, Dégel estava praticamente inconsciente, porém, apelava a todas as suas forças para dar tempo ao amigo.
A fúria dos lobos era cruel e mutiladora. Qual será o destino que aguarda os nossos heróis?
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