Lilith escrita por Lyria Danis


Capítulo 5
Cena V


Notas iniciais do capítulo

Editado em 19/04/2018.
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Capítulo final. Antes de tudo, três coisas:
1. Sim, eu mudei a categoria de Sobrenatural para Originais. POIS É, eu finalmente me toquei que tava categorizado errado. Me desculpem por isso.
2. EU TIVE UMA RECOMENDAÇÃO, MDS, OBRIGADA SUA LINDA
3. Obrigada a todos os comentários, favoritos e recomendação! Obrigada a todas as pessoas que acompanharam esta história, inclusive os anônimos. Todos vocês são importantes para mim. Obrigada aos possíveis comentários futuros também. Vocês são demais.



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Adão não tem culpa, repetia para si mesma. Mas por que as palavras de Lúcifer ainda estavam na sua mente? Pareciam terem sido fincadas...

E quando deu por si, Lúcifer estava a um passo de distância.

Ela o olhou chocada, e num piscar de olhos, Lúcifer havia sumido.

Aterrorizada, procurou-o pelo jardim ao seu redor.

— Onde está você? — ela gritou. — Apareça, por favor!

— Isto tudo é um sonho Lilith. Está na sua mente, mas ao mesmo tempo, é real. — A voz dele soou nos ouvidos de Lilith, como uma hipnose. Doce e suave, e não sentia mais medo ao ouvi-la. — Então, assim que você quiser, eu posso aparecer para você...

— Então como eu posso fazer você aparecer? —perguntou, desolada. — Eu preciso conversar...

— Mas enquanto você estiver com essa mente fechada eu não posso me sentir bem, entende?

— Mente fechada?

— Sim... Eu sofri por você, eu tentei te ajudar lá em cima sabia? Em parte, fui expulso por causa disso. Pelo meu gostar em excesso dos humanos, especialmente de você. Acho que o Senhor não gostou disso. — Ele suspira tristemente. — E você me trata assim, tão indiferente... Prefere Adão que te deixou sozinha, do que a mim, que te apoiei até agora.

Lilith não sabia exatamente como agir. A coisa que mais julgara Deus e Adão era por terem uma mente que não a permitira viver plenamente... E era o que estava fazendo com tal Lúcifer.

Talvez ele estivesse certo. Talvez todas as lágrimas que derramara pelos dois tivesse sido todas em vão. Talvez todo sofrimento...

— Você tem razão.

Os olhos de Lilith perderam o brilho completamente. Mesmo abandonada e desolada conseguia seguir em frente, pois ainda havia uma minúscula esperança dentro de si em relação a isso, mas agora...

Resolveu que nada mais importava, só a si mesma. Seus sentimentos, seus pensamentos, seu corpo, suas ações...

— Acho que você vai ficar surpresa com que tenho a dizer... Mas não posso mentir. — Lúcifer, ainda invisível sob os olhos de Lilith, começara a falar. — Tenho que te dizer a verdade... Deus-Todo-Poderoso te substituiu. Seu nome é Eva.

Ela arregalou os olhos em surpresa, até que finalmente o que Lúcifer disse foi entendido. Ele disse que o grandioso Pai a havia substituído...

Raiva. Talvez, a primeira vez que a invadiu tão completamente dessa forma.

— Ele parece que reparou o “erro” que tinha cometido com você. Uma nova mulher de olhos tão claros quanto os de Adão, e tão submissa quanto Ele queria...

Uma sensação diferente a acometeu. Não era como a cólera, ou como a tristeza... Mas sim algo segurava seu coração e o amassava. Pouco a pouco, o amassando.

O fazendo sangrar.

Lilith não sabia, mas, ela experimentou, talvez, a maior dor que o ser humano poderia sentir.

Traição.

— É mesmo? — A castanha começou, com sua voz saindo estranhamente rouca.

Contudo, juntamente com este sentimento de traição, outro crescia junto, tão forte quanto. Algo mais escuro e traiçoeiro; algo até então, inédito neste mundo.

— Mas... Eu acho que Ele errou, afinal, ela não tem traços tão delicados quanto os seus. De fato, seus olhos negros são algo único, Lilith.

Lilith ri em seco. A ironia nasceu ali.

— Não sei por que, mas não acredito nisso... — Mentiu. Ela se negava, em última instância, a acreditar que sua família havia feito isso com ela.

Mas ela poderia negar, mas ainda acreditava completamente.

— Então venha até mim que te mostrarei.

Então Lilith fez como pedido.

Primeiro veio a terrível sensação de enjoo. Depois, sem sequer se dar conta ela estava lá — no Éden.

Afastada de todos, no alto de uma colina. Lá, ela podia ter visibilidade da área onde Adão e ela costumavam ocupar. Sentiu uma lembrança acolhedora lhe invadir ao ver Adão deitado de barriga para cima.

Ele admirava as nuvens do céu, e o sentimento acolhedor que Lilith possuía quando via Adão não estava lá — agora, apenas o frio em seu estômago, e o calor doloroso em seu peito.

— Então ela é a nova mulher de Adão? — Perguntou-se com escárnio. — Eva?

Lá estava ela. Esticada, tentando pegar um cacho de uvas roxas do pé. Tinha cabelos tão amarelos quanto os de Adão, curtos e tão lisos quanto à pelagem de uma onça. Pessoalmente, não gostou desse detalhe, já que seus cabelos eram longos e ondulados.

Então, nasceu a inveja.

Eva tinha a pele tão branca quanto à dela, e possuía olhos que mais pareciam duas pedras de jade. Ela parecia se divertir no simples ato de colher uma fruta, Lilith observou com repugnância.

O movimento de suas mãos... Parecia mais grosseira que as dela, e Lilith se sentiu superior a isso.

— Haha. Afinal, ela nunca poderá ser plena... Ela não tem a minha liberdade... — começou, passando sua mão pelo pescoço. — Ficará sempre presa na ignorância.

Eva sorriu satisfeita, inconsciente de que estava sendo observada, quando viu que havia colhido vários cachos de uva com sucesso, e os colocou dentro de sua cesta feita de palha.

— A diferença entre ela e eu é muito maior do que Você acha, Pai. — Lilith disse, cheia de escárnio. — Sua tentativa foi inútil.

— Acho que Ele sentiu medo de tentar fazer alguém como você. — A voz ressonou agora já familiar ressonou em sua mente.

— Sim! — ela expressou seu contentamento. — Entretanto, Ele irá falhar miseravelmente...

Viu-a pegar a cesta e caminhar por uma trilha na floresta, e alguns minutos depois, chegar até onde Adão estava.

Eva sorriu quando encontrou Adão, que retribuiu prontamente. Ele se sentou e gesticulou para a mulher loira para se sentar junto a ele, que abaixou a cabeça e aceitou. Então, num gesto carinhoso, puxou uma uva de cada vez do cacho e deu-lhe na boca, entre risos e suaves beijos.

Uma suave brisa passou, e Lilith mordiscou o lábio inferior. Gotas de sangue saíram dos furos que os dentes fizeram em sua carne, mas, ela não se incomodou com o sabor do sangue; aquilo pareceu combinar perfeitamente com tamanha a ira que sentia.

— Ela...

Sua voz morreu na garganta. De repente, tudo estava muito seco.

De repente, algo que se quebrou; e naquele instante, Lilith sabia o que fazer.

— Você quer realmente se vingar deles?

Como Eva pôde? Eva não tinha o direito... Nem Adão tinha o direito.

Sentiu seus olhos encher-se de lágrimas, pela mágoa e raiva que sentia. E num passe de mágica, via-se novamente no maravilhoso jardim de antes.

— Você já viu o suficiente, não foi? — Lúcifer começou. — E agora Lilith... O que você pretende fazer?

Vingança.

Seria ela tão doce quanto às amoras? Tão vermelhas quanto...

Iria mostrar-se para ela única e insubstituível; iria ficar marcada tanto quanto a lua em meio à noite. — Sim!

— Então venha até mim. Eu irei fazer com que Deus e meus irmãos nunca se esqueçam de mim. E você?

A mulher estava decidida. Levantou seu olhar em direção ao céu, que antes achava que parecia estar num bonito por do sol... Mas agora entendeu que na verdade, estava em dançantes chamas escarlates.

— Eu aceito. Estou com você.

Assim, Lúcifer mostrou-se a menos de um passo de distância de Lilith.

— Era isso que eu queria ouvir.

—x-x-x-x-

Tudo ao redor estava escuro e denso. As algas do mar emaranhavam-se em seu cabelo castanho e o mar fazia ondulações nele. A água salgada entrava-lhe pelos ouvidos, nariz e boca, e sangue estava misturado a ela.

E lá, nas profundezas do mar jazia o corpo de Lilith, com seus olhos negros já irreconhecíveis.

Lúcifer havia a matado. Ou, talvez, a dado uma oportunidade de renascer.

O mar foi sua manjedoura. Seu corpo humano já não lhe interessava mais; que servisse de alimentos aos peixes. E neste momento, mesmo que muito parecida, agora era completamente diferente, pois possuía algo que sempre quis ter.

Olhos claros, tão claros... Mais claros que os de Adão ou de sua nova companheira.

Eram totalmente brancos. Seus olhos haviam queimados e renovados completamente.

E com estes, ela observava de longe e se divertia com a ironia poética da situação. Eva estava de frente para aquele pé de cerejeira, que tanto havia apreciado; aquela cerejeira, que havia fecundado a nova Lilith. Assim, como se iluminada pelos Céus, a vingança perfeita veio em sua mente.

E sorriu.

Você colherá dessa cerejeira o seu pecado, e dele se alimentará.


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Notas finais do capítulo

"Eu sou fêmea
Sou sexual
Sou o poder
E era muito temida."

Trecho de poema de autoria anônima. Retirado da internet em 2010. Todos os direitos do poema reservados ao seu autor.



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