O aniversário de Ichiro era próximo ao natal, então sempre comemorávamos os dois ao mesmo tempo. Porém com menos decoração de natal esse ano já que ele faria vinte anos e a festa seria para ele escolher uma futura esposa. Enfim, Ichiro não queria aquela festa, mas como tradição ele teve que ir. Eu já estava arrumada e fui para o quarto dele, batendo na porta em seguida.

– Nani? – Ele disse do lado de dentro.

– Posso entrar? – Perguntei.

O ouvi suspirar alto.

– Hai.

Entrei e o vi tentando pôr a gravata. Ele se olhava no espelho e sua expressão era de extrema irritação e desânimo.

– Deveria estar mais contente. – Sorri, tentando fazê-lo se sentir melhor.

Ele me fitou e ficou levemente surpreso, voltando-se para o espelho.

– Está bonita. – Ele comentou.

– Uhm... Arigatou. – Corei, abaixando o olhar.

Meu cabelo estava solto e uma mecha presa no alto por uma presilha dourada. Meu vestido era vermelho e tinha mangas compridas e justas com faixas douradas na barra do vestido e no decote reto, assim como abaixo da cintura. Ichiro reparou em mim e me senti lisonjeada, era raro ele me elogiar, mas eu sabia que meu irmão não era nenhuma pedra.

– Nee, Momoko-chan está linda também. Acabei de vê-la. – Disse.

– Hum. – Ele tentava pôr a gravata, mas bufou quando não conseguiu.

Eu sorri levemente e me aproximei, pegando a gravata e a amarrando corretamente. Ele me olhava enquanto eu o fazia.

– Logo será a sua vez. – Ele disse calmamente.

– Eu sei. – Disse um pouco desanimada.

– Mas você tem sorte, sabia?

– De que? – Deixei escapar uma risada.

– Você não gosta de um das outras famílias.

– Isso é uma confissão? – O olhei com um sorriso.

Ele sorriu e se voltou para o espelho.

– Ichiro... Quem eu gosto acho que também não poderia me casar. – Terminei o nó e ajeitei a gravata dele, assim como a gola da camisa – Estamos na mesma situação. – Abaixei os braços e sorri.

– Quem? – Ele me olhou.

– Você não conhece. – Sorri – Mas ele é maravilhoso.

– Tenho certeza, você é toda fresca com isso. – Ele riu.

– Baka. – Ri – Ne, vamos? – Ofereci minha mão a ele.

Ele sorriu levemente e pegou minha mão. Fomos para o grande salão e ao entrarmos, todos nos aplaudiram. Ichiro fitou nossos pais e minha mãe levantou com um sorriso largo. Ela usava um vestido completamente vermelho com babados na saia longa e rodada, seu cabelo estava preso em um coque com cachos. Mamãe veio até nós e abraçou Ichiro, cochichando algo em seu ouvido quando ele abaixou até sua altura. Ela me abraçou em seguida.

– Você está linda, querida. – Ela disse com um sorriso.

Eu sorri, lisonjeada e mamãe pegou minha mão, nos direcionando até onde papai estava. Ichiro olhava para todas aquelas pessoas. Havia homens, mulheres e jovens moças arrumadas para um baile como aquele. Elas sorriam e Ichiro as observava, porém eu sabia que ele estava procurando por Momoko-chan. Eu sorri e corri o olhar pelo salão, fitando-a no canto ao lado de Hana. Olhei para Ichiro, que me olhou e mostrei com o olhar onde ela estava. Ele disfarçou o sorriso e começou a andar. Em meio aquele tempo, vi os Saburo. A irmã da rainha, Mayu, sorria assim como Aiki-chan, que usava um vestido dourado. O pai de Momoko-chan olhava Ichiro ir na direção dela e não compreendeu exatamente a razão. Mizuna-sama sorriu ao vê-lo oferecer a mão para Momoko.

– Ichiro-san... – Momoko-chan disse surpresa, quase como um sussurro.

Ele sorriu e continuou a oferecer a mão. Ela acalmou o olhar e a pegou, o que fez todas as jovens cochicharem. Ichiro levou Momoko-chan até o centro do salão e os violinos começaram a tocar sua suave harmonia e os dois a dançar com a música lenta. Momoko estava com um vestido branco com dourado de decote reto e mangas até os cotovelos, mas com seus seios grandes havia como ver a curva que eles faziam no decote. Seu cabelo estava solto e tinha cachos nas pontas. Ichiro procurou pelo seu olhar, já que ela estava com o olhar baixo.

– Momoko-san, você está linda. – Ele disse.

Ela o olhou, admirada e corou levemente.

– Arigatou. – Sorriu.

Suspirei aliviada. Meu pai andou e ficou a frente de mamãe, oferecendo a mão a ela.

– Megu. – Ele sorriu.

Mamãe sorriu e pegou sua mão, indo com ele para o centro do salão e começando a dançar. Eu sorri e logo depois vi Arata-sama pegar Nana-sama para dançar assim como Kazuo-sama com Mizuna-sama. Acalmei o olhar com um leve sorriso. Pensei em Yuuro e como desejava que ele estivesse ali para dançar comigo. Vi Hiroki pedir a um jovem que dançava com Akane para dançar com ela e olhei Hana, que dançava com um rapaz de cabelos pretos. Fitei Daichi, que às vezes olhava Hana enquanto dançava com uma jovem de cabelos ruivos. Aiki corria de um lado para o outro com as outras crianças e de repente Hiro apareceu ao meu lado. O olhei surpresa e ele ofereceu sua mão a mim.

– Hiro? – Disse surpresa.

– A-Anou... Não sei fazer isso direito, mas... – Ele deixou uma risada escapar – Me daria a honra de uma dança?

Eu o olhava, na verdade não queria dançar com ninguém. Engoli a seco e peguei na mão dele. Hiro me levou até onde os outros estavam dançando e suspendeu nossas mãos, pondo a outra no meio das minhas costas e o que me deixou um pouco nervosa. Começamos a dançar e eu não conseguia olhá-lo.

– Haru-hime, você está bonita. – Ele disse.

O olhei e corei levemente.

– Arigatou. Você... Também.

Ele sorriu. Dançamos até o final da música e o medo de Ichiro chegou. Ele teve que dançar com as jovens do reino. Sua expressão enquanto dançava com cada uma delas era calma, mas eu sabia que ele não queria dançar com nenhuma. Ele queria Momoko-chan. Foram dezenas de jovens até finalmente chegar na última dança, o que levou algumas horas. Como ele dançara com todas, teria de repetir a dança com uma delas antes de cortarem o grande bolo na mesa comprida e retangular no outro lado do salão. Ele olhou todas, mas quando andou pegou na mão de Momoko-chan. Ele sorriu e dançaram uma valsa. Ela sorria levemente e um pouco corada, Ichiro parecia bem feliz. Todos os olhavam dançar no centro do salão até que quando a música cessou um silêncio estranho se instalou. Eles sabiam, sabiam que Ichiro tinha afeição por Momoko e que isso não poderia acontecer. Mas como não? Todos nós moramos juntos, isso aconteceria de uma forma ou de outra!

Eu não sabia o que fazer, todos estavam em silêncio. Olhei para os dois e comecei a bater palmas com um sorriso contente no rosto. Isso fez consequentemente todos aplaudirem. Suspirei aliviada e logo depois o bolo foi cortado. Várias conversas se instalaram pelo salão e eu fui até a mesa do bolo, me escondendo atrás dele. O bolo era bem gostoso, tinha quatro andares e um metro de comprimento. Tirei uma sacola que escondi no meu decote e peguei alguns pedaços de bolo e alguns doces que havia ali. Andei disfarçadamente, escondendo a sacola do lado do meu corpo e saí do salão. Quando saí, comecei a correr e fui para dentro do túnel mais próximo.

– Que estranho. – Momoko comentou.

– Nani? – Ichiro disse.

– Haru-chan saiu do salão com algo na mão.

– Hum. – Ele deixou uma risada escapar – Ela deve ter ido para o quarto esconder os doces para mais tarde.

Momoko sorriu.

– Não esperava aquela primeira dança. – Ela comentou – Pensei que seria apenas a última.

– Nem eu. – Ele sorriu – Olhei pra você e quis que a primeira e última dança fosse com você.

Ela sorriu, lisonjeada.

– Arigatou. – Disse docemente.

Ichiro sorriu.

...

Esperei um pouco próxima ao rio, que estava congelado, e logo depois Yuuro chegou, sorrindo e vindo até mim.

– Pensei que não viesse hoje.

– Eu também. – Sorri.

Nos sentamos ao lado de uma árvore e eu mostrei a sacola, o que o fez sorrir. Comemos juntos e ficamos olhando o céu nublado, escorados na árvore.

– Acho que vai nevar. – Comentei.

– Também. – Ele disse – Você saiu escondida da festa?

– Hai.

Ele riu, o que me fez rir.

– Como foi?

– Todos perceberam que Ichiro gosta da Momoko-chan. – Disse – Ele dançou com ela duas vezes e ainda sorria.

– Isso é ruim?

– Não sei, mas... Agora não sei o que vai acontecer.

– Ah... – Ele abaixou o olhar – Você dançou com alguém?

– Hum. – Assenti – Com um amigo.

– Hum.

Olhei para ele.

– Mas eu queria dançar com você. – Sorri.

Ele me olhou surpreso e sorriu.

– Você está bem bonita.

– Hum, arigatou. – Corei, desviando o olhar.

– Ne. – Ele levantou e me ofereceu a mão.

– Eh?

– Também quero dançar com você. – Ele sorriu gentilmente.

Corei levemente e peguei sua mão, levantando. Começamos a dançar sem música, o que eu achei engraçado e romântico. Dançamos ali por um tempo, no meio da neve e ao lado do rio congelado. Logo depois começou a nevar e sorrimos, continuando a dançar.

Porém o que não sabíamos... É que tinha alguém nos observando.