Beijo Escarlate escrita por Lailla


Capítulo 17
Guerra de uma noite




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Nós víamos aquela cena e não tínhamos reação. Saburo-sama segurava a esposa nos braços. Mesmo pelo modo ao qual foi morta, ela parecia apenas dormir tranquilamente. A filha caçula dos Saburo, Mayu, chorava enquanto segurava a mão da mãe. Mizuna levantou, começando a andar.

– Mizuna... – Seu pai a chamou quase inaudível.

Ela fuzilava Isitsey com o olhar, seus olhos estavam vermelhos.

– Hum. – Isitsey cantarolou – Nani? Coitadinha.

Mizuna estava com os olhos marejados e levantou a mão para bater no rosto dela, mas vi que suas unhas ficaram afiadas. Arregalei os olhos, ela queria desfigurá-la. Isitsey sorriu e o rei Akihiko bateu em Mizuna, jogando-a para o outro lado onde sua família estava.

– Shu... – Disse perplexa, agarrando em sua roupa.

– Mãe, leve-a daqui. – Ele disse sério.

– Hai. – Ironi-sama acatou.

Ela me pegou pelo braço e saiu andando.

– Shu...! – Exclamei com os olhos marejados.

Saímos do salão. Corremos poucos corredores até a rainha chegar a um quadro e destravá-lo na parte de trás.

– O que está acontecendo? – Eu perguntava quase chorando.

– Aqueles miseráveis... – Inori-sama dizia – Eles planejaram isso. Fomos tão tolos.

Ela abriu o quadro e naquele momento Fumiko chegou com Seiko.

– Inori-sama, Keiji-kun me ordenou para tomar conta de Seiko-san.

– Hai. – A rainha disse – Sigam-nos.

A rainha subiu na mesa e em seguida na entrada para o túnel, atrás do quadro. Seiko chorava e eu a ajudei a subir na mesa com Inori-sama pegando sua mão em seguida, ajudando-a a entrar no túnel. Fumiko ia me ajudar a subir, mas olhei para a direção que viemos e pensei em Shu. Ele ainda estava lá...

– Megumi-chan, vamos! – Inori-sama exclamou, estendendo a mão – Estaremos seguras no esconderijo!

Engoli a seco e desci da mesa, começando a correr na direção do salão.

– MEGUMI! – A rainha me gritou.

– A trarei de volta, majestade! – Fumiko disse – Fiquem seguras! – Ela exclamou, fechando o quadro.

– Fumiko...! – Inori-sama exclamou enquanto o quadro fechava a passagem.

Fumiko correu atrás de mim, mas apenas me viu quando eu estava parada na porta da entrada para o salão. Eu via aquela carnificina. Vários súditos mortos, alguns correndo e outros sendo atacados pelos vários guardas de armaduras vermelhas. Uma gritaria ensurdecedora. Eles invadiram o reino, o castelo! Meus olhos marejaram e lágrimas escorreram sem eu perceber. Corri o olhar pelo salão a procura de Shu e apenas achei Keiji, que protegia a irmã caçula de Mizuna. Ele nos viu e correu até nós.

– Bakayarou! – Exclamou – O está fazendo aqui?! Se esconda e leve-a com você!

– Onde está Shu? – Perguntei, chorando.

– Lutando! Vá agora!

Ele exclamou e voltou para aquele tumulto assombroso.

– Megumi-hime, vamos! – Fumiko implorava.

– Leve-a para o esconderijo. – Eu disse.

– Nani?! Não! Você tem que vir comigo! – Ela exclamou.

– Hime, vamos. – Mayu pedia.

– Onde está sua irmã? – Perguntei a ela.

– Lutando. – Ela disse com os olhos cheios de lágrimas.

Arregalei os olhos. De repente um dos guardas do Akihiko nos atacou. Gritei, abraçando a irmã de Mizuna para protegê-la, mas nada nos aconteceu. Olhei para a direção que veio o ataque e vi Fumiko com a espada vermelha que o guarda tinha em suas mãos e o corpo dele ensanguentado no chão.

– Fumiko...?

Ela me fitou e vi seus olhos vermelhos da cor do sangue. Eu nunca vira Fumiko desse jeito.

– Vamos, hime. – Ela disse com autoridade.

Eu estava paralisada enquanto tudo aquilo acontecia. Queria encontrar Shu, queria ajudar em algo. Do nada ele apareceu, correndo em nossa direção.

– O que está fazendo aqui?! – Ele exclamou.

– Queria achar você. – Disse chorando.

– Baka, você é inútil assim! Vai morrer! – Ele exclamou, me pegando pelo braço.

Fumiko pegou na mão de Mayu e saímos correndo dali em direção ao corredor. Corremos alguns corredores e Shu abriu outro quadro, nos pondo dentro do túnel e entrando também. Tenho certeza que ele foi conosco para saber que eu iria para o esconderijo de fato. Percorremos o túnel e ele se abriu no hall, onde tinha as quatro entradas. Entramos na que dava em direção ao esconderijo e voltamos a correr. No final do túnel, havia outro hall com guardas em suas armaduras prateadas e uma grande porta de metal.

– Abram! – Shu ordenou.

Eles a abriram e entramos. Vimos a rainha, Seiko e várias empregadas, que estavam amedrontadas.

– Baka! – Seiko exclamou, correndo para me abraçar.

– Gomen. – Disse chorando.

– Shu, o que está havendo? – Inori-sama perguntou preocupada – E seu pai? E Keiji?

– Estão bem. – Ele dizia – Akihiko tentou matá-lo, mas Saburo-sama o ajudou. Ele fugiu para o lado de fora, está muito pior.

– Meu Deus. – Inori-sama levou as mãos à boca.

– Onde está Nana? – Seiko perguntou chorando.

– Não sei. – Shu disse – Várias pessoas tentaram fugir para o lado de fora, mas todo o reino está sendo atacado. “Saber sobre o reino.” uma ova. – Ele disse irritado – Fomos tão idiotas, aquele desgraçado...

– Querido, se concentre. – A rainha pegou gentilmente no rosto dele – Ajude seu pai, por favor.

– Hai. – Ele disse.

Shu me abraçou e beijou minha testa, indo em seguida para a porta de metal.

– Shu! – Segurei sua roupa – Onegai...! – Pedi chorando – Não me deixa aqui.

– Fique aqui. – Ele disse – Você não pode fazer nada lá fora.

– Isso mesmo! – Exclamei chorando.

Ele me olhou em dúvida.

– Me transforma. – Pedi chorando.

– Megu...

Eu o abracei chorando, não queria que ele fosse embora. Não sabia se ele voltaria pra mim! Shu olhou para sua mãe e ela assentiu com a cabeça. Ele suspirou e tirou meu cabelo da frente do meu pescoço, abaixando o ombro do meu vestido em seguida. Apertei sua roupa mesmo antes de ele me morder e então ele o fez. Senti uma tontura forte depois de minutos, ele bebeu quase todo meu sangue. Quando terminou, mordeu sua própria mão e a ofereceu a mim para que eu bebesse. O olhei em dúvida e ele confirmou com a cabeça. Encostei os lábios em sua mão e comecei a beber seu sangue. Tinha um gosto estranho, gosto de ferro. Ele me fez beber por muito tempo, devia ser porque eram apenas dois furos e não o corte planejado para a cerimônia. Ele beijou minha cabeça enquanto eu bebia.

– Está bom. – Ele disse suavemente.

Parei e o olhei. Ele me olhou nos olhos e limpou meus lábios com o dedo. Senti uma forte tontura, ainda pior que a anterior.

– Shu... – Disse, caindo desmaiada em seus braços.

Ele me pegou no colo e se aproximou das outras.

– Cuide dela. – Pediu a Fumiko e Seiko.

Shu me deitou no chão e Seiko apoiou minha cabeça em seu colo. Ele passou pela porta de metal e foi embora.

– É assim a transformação? – Mayu perguntou.

– Hai, Mayu-sama. – Fumiko disse.

Escutávamos o barulho ensurdecedor vindo de cima. O castelo todo estava sofrendo o ataque, assim como todas as casas do reino. Homens eram mortos, mulheres e crianças tinham seu sangue sugado e ao fim disso, viraram pó. Eu não escutava nada, estava desmaiada e mudando. Para todos ali eu estava apenas dormindo, mas no meu subconsciente eu sentia uma dor horrenda. Era como se meu corpo se despedaçasse por completo, como se eu ruísse em mil pedaços. Seiko me fitou e eu suspirei, começando a respirar ofegante.

– O que está...? – Ela perguntou assustada.

– Está acontecendo. – Inori-sama disse, se aproximando.

Minha pele ficou acinzentada e eu parei de respirar. Aos poucos voltou a normal e ficou pálida. Seiko me analisou e agora eu respirava calmamente. Ela encostou a mão em minha bochecha e a recuou pelo susto.

– Ela está gelada! – Ela levou a mão à boca.

– É normal. – Inori-sama sorriu e tocou sua mão para mostrar-lhe que também era gelada.

– Mas... Keiji não é assim. – Ela disse.

– Ele sempre bebe seu sangue, ficamos com a temperatura normal quando bebemos sangue humano.

Seiko me olhou de novo e eu abri os olhos lentamente.

– Megu...?

Elas me olhavam e viram meus olhos em um tom intenso de vermelho, como o sangue. Eu olhei para o teto e pus o dedo num dos meus caninos, que fez um pequeno furo em meu dedo. Olhei para ele e o levei a boca, provando meu próprio sangue. Seiko me olhou assustada e eu me sentei, pondo a mão na cabeça.

– Bem-vinda. – Inori-sama disse gentilmente.

A olhei e vi Mayu e Fumiko sorrirem. Eu sorri e senti aquele cheiro, mudando minha expressão aos poucos.

– Megu? – Seiko disse em dúvida.

Eu a olhei e pulei em cima dela, deitando-a à força e fazendo-a exclamar em dúvida.

– Megu!

Sorri e me aproximei de seu pescoço, sentindo seu cheiro e lambendo-o. Abri a boca e meus caninos ficaram ainda mais à mostra.

– Megumi-chan! – Inori-sama exclamou, me recriminando.

Parei na hora, vendo o que eu estava fazendo. Saí de cima dela e recuei, pondo as mãos em frente à boca e respirando nervosamente. Eu não conseguia me controlar, a sede era imensa. Eu quis sugar o sangue de Seiko!

– Shu... – Me lembrei – Onde ele está? – Perguntei a elas.

Elas não souberam responder. Rangi os dentes, me lembrando de quem era o responsável por tudo aquilo e levantei.

– Megumi-chan. – A rainha me chamou.

– Não me peça para ficar, por favor. Não consigo ficar perto de Seiko. – Eu disse sem olhá-la – Serei mais útil lá fora.

Ela acalmou o olhar. Na verdade, eu achava que seria mais útil lá fora, não conhecia ainda minha nova forma.

– Por favor... Não morra. – Ela pediu.

– Hai.

...

Andei por quase todo o castelo, todos os pontos por onde ele foi atacado. No grande salão agora só havia corpos e sangue. Corpos de guardas, súditos, porém nenhum rei ou herdeiro estava ali. Shu não estava ali. Franzi o cenho com raiva e saí dali, indo em direção à saída do castelo. Quando saí olhei o lugar surpresa, ainda com o cenho franzido. Algumas casas pegavam fogo e mais corpos estavam pelas ruas, misturados com o pó de quem teve seu sangue sugado até a última gota. Rangi os dentes, furiosa e fui para a saída do castelo. O massacre agora estava do lado de fora e os portões arreganhados ao som de fundo de espadas, armaduras e gritos. Corri para o lado de fora e vi tudo aquilo. Mulheres sendo atacadas, homens tentando lutar assim como os guardas e crianças correndo desesperadas.

Vi de relance Nana sendo atacada. Um dos guardas de Akihiko a segurou pelo pescoço e a jogou contra a parede rochosa da montanha. Arregalei os olhos e ia correr para ajudá-la, mas parei ao ver Arata correr na direção deles e matar o guarda, quebrando seu pescoço e jogando-o longe. Ele pegou Nana pelos ombros, vendo se ela estava bem e visivelmente ele demonstrava estar preocupado. Fui até eles e peguei Arata pelo braço, jogando-o contra a parede e o empurrando mais. A parede começou a rachar com o barulho de que estava se quebrando aos poucos. Eu rangia os dentes e ele viu meus olhos vermelhos enquanto torcia a expressão por causa da dor.

– Megumi-hime! – Nana pediu.

– Você... – Rangia os dentes para ele – Acho bom protegê-la se não eu mesma vou te matar.

Ele me olhou surpreso e eu o larguei.

– Nana, melhor vocês irem para o esconderijo.

– Megumi-hime...

– Vão! – Exclamei séria – Se ele ficar aqui, vão matá-lo. Vão os dois agora e digam a Inori-sama que eu os mandei!

Ela assentiu e pegou na mão de Arata, saindo correndo em seguida. Corri o olhar pelo lugar. Ao longe vi minha vila e logo depois Mine e Goro prestes a serem atacados. As crianças do dia que conhecia a pequena floresta da montanha no inverno. Elas se abraçavam chorando e gritando, suplicando. O guarda de armadura vermelha ia matá-las, mas Mizuna deu um soco nele, o afastando. Ela foi ajudar as crianças, mas o guarda ia atacá-la pelas costas, vendo que ela estava distraída. Eu corri até eles e pulei nas costas dele. As crianças exclamaram e Mizuna arregalou os olhos, abraçando-as para protegê-las. Cravei minhas unhas no pescoço dele e quebrei seu pescoço, virando-o até que arranquei sua cabeça. Aterrissei os pés enquanto o corpo dele caía sem vida no chão e o capacete ao lado. Eu ainda estava com sua cabeça na mão, segurando-a pelo cabelo.

– Megumi... – Mizuna disse surpresa – Shu fez...

– Hai. – Disse séria, largando a cabeça – Por favor, leve-os para o esconderijo.

– Eu não sei onde fica.

A olhei surpresa, me lembrando de que ela não vive no reino.

– Goro! Mine! – Alguém gritou por eles.

– Pai! – Eles exclamaram, levantando e abraçando o pai.

– Arigatou! – Ele disse, chorando.

– Vão para o esconderijo! – Eu disse.

– Hai, Megumi-hime! – Ele disse, pegando as crianças no colo e saindo correndo.

Olhei para Mizuna, que ainda estava surpresa por me ver transformada. Corri o olhar pelo lugar, estava horrível. Vi corpos de crianças no chão, mulheres fugindo e vários homens defendendo seu lar dos guardas vermelhos. Até vi Toshi lutando! Seu cabelo cinza estava solto e ele tinha um corte no rosto, que logo cicatrizou ao morder ferozmente um guarda vermelho e matá-lo. O homem gentil que me ensinou tudo sobre os vampiros agora lutava pelo seu lar e eu não o culpava por matar os inimigos daquele jeito. Ainda corria meu olhar pelo lugar, que agora estava pegando fogo do lado de fora em algumas partes da grama. Era uma verdadeira guerra! Eu não conseguia encontrar Shu, não o achava em lugar nenhum! Senti Mizuna tocar em meu ombro. A olhei e ela se assustou ao ver meu olhar incisivo.

– Cadê ela? – Perguntei.

– Uhm...

– Isitsey. – Rangi os dentes.

Corremos o olhar e vimos a rainha Akihiko atravessando a mão em uma jovem de cabelos loiros. Franzi o cenho e o vermelho dos meus olhos se intensificou.

– Você queria arrancar a cabeça dela, certo? – Perguntei a Mizuna, mesmo olhando sem parar para Isitsey.

– Hai, hime.

– Vamos.

Comecei a andar e Mizuna me seguiu. Eu queria matar Isitsey da pior maneira possível, porém achei melhor Mizuna fazê-lo já que ela matou sua mãe. Isitsey terminava de sugar o sangue da loira, que virara pó e eu parei logo atrás dela.

– Espero que tenha aproveitado. – Disse séria – Pois nunca mais fará isso novamente.

Ela me olhou surpresa e ao mesmo tempo parecia se deliciar com minha nova forma.

– Gostando da nova vida? – Ela disse em tom sedutor.

– Não com a sua presença nela.

Ela deu um meio sorriso e ajeitou os cachos ruivos, o que me deu mais raiva. Acalmei o olhar. Com a transformação eu não havia apenas me transformado em vampira, mas havia mudado algumas coisas em mim também. Me sentia calma agora na presença dela, como se aquela mulher não fosse nada. De repente desapareci da vista dela e apareci ao seu lado com as unhas afiadas e prontas para perfurar seu peito. Ela riu maldosamente e desviou facilmente, me dando uma joelhada no abdômen e me fazendo perder o ar. Torci a expressão e desapareci de novo, surgindo mais uma vez ao seu lado e tentando dar um soco em seu rosto. Ela desviou, recuando e sorrindo vitoriosa. Eu dei um meio sorriso, o que a fez desfazer o seu. Ouvimos um barulho vindo dela e Isitsey arregalou os olhos, engasgando com seu próprio sangue. Mizuna atravessou as costas dela com o braço, que agora eu conseguia ver do lado de fora do peito da rainha Akihiko. Parei e a olhei, ela não tinha reação.

– Como... Como...? – Ela tentava dizer, mas tinha dificuldade.

– É pela minha mãe, vadia! – Mizuna disse – Não nos subestime por não bebermos sangue humano!

Mizuna tirou o braço de dentro do peito de Isitsey e eu vi um buraco em seu peito, onde deveria ficar o coração. Ela não tinha mais expressão e caiu no chão, morta com os olhos arregalados para o céu.

– Mizuna.

Ela me fitou, meus olhos estavam expressando preocupação agora.

– Volte para o castelo, passe pelo salão e entre no corredor pelo qual eu entrei na cerimônia. – Eu dizia rapidamente – Você vai achar um quadro acima de uma mesa com a pintura de um lago. Há uma trava atrás dele. Destrave-a e abra o quadro, você verá um túnel. Entre nele e siga em frente até achar um local com quatro entradas. Da esquerda para a direita, entre na segunda entrada! Segunda entrada! – Repeti, ela prestava atenção – Você vai encontrar no final dessa entrada dois guardas protegendo a entrada para o esconderijo, sua irmã está lá! Diga aos guardas que eu a mandei para lá!

– Hai...

– Tome cuidado. – Disse – Vá logo! – Exclamei.

Ela assentiu com a cabeça e saiu correndo em direção à entrada para a montanha. Olhei para os lados, tentando encontrar Shu novamente, mas apenas vi uma movimentação estranha. Apertei os olhos e comecei a ver pelos arredores pessoas atacando os guardas vermelhos com machados e facas. Arregalei os olhos, eram as pessoas da vila! Tampei o nariz com uma das mãos, aquele cheiro era como alguém cortando minha garganta. Queria beber o sangue de alguém, mas não podia! Não podia fazer isso com eles! Recuei e tentei ir para outro lugar, mas naquele momento vi Tane atacando um guarda vermelho, porém sem sucesso. Exclamei e corri em sua direção ao ver o guarda a jogando no chão e prestes a sugar seu sangue. Pulei em cima de suas costas e mordi seu pescoço violentamente. Ele gritou desesperado e eu arranquei um pedaço de sua pele ao mesmo tempo em que desfigurei seu rosto com minhas unhas, saindo de cima dele em seguida e o deixando sangrar. Ele me olhou apavorado com a mão no pescoço, tentando estancar o sangue e me viu com a boca suja de sangue, o fitando cair morto no chão. Passei o braço na boca pra limpar o sangue, mas apenas sujei mais o rosto. Tane sentou no chão, me olhando apavorada.

– Megu... – Ela disse surpresa.

A olhei com os olhos vermelhos e sentia as veias de seu pescoço pulsando. Andei um passo, mas me obriguei a parar. Ela era minha irmã! Pus as mãos em frente à boca, também tampando o nariz e ela não entendeu.

– Nani...?

Olhei para os lados e vi Toshi vindo correndo em nossa direção.

– Hime, nani...? – Ele me olhou surpreso.

– Onegai... – Pedi com a voz abafada pelas mãos – Não consigo ficar perto dela!

Ela viu meus olhos e compreendeu, ajudando Tane a se levantar.

– O que vocês estão fazendo aqui?! – Exclamei.

– Você e Seiko estão aqui! – Ela exclamava – Eu sabia que tinha algo errado, então pedi ao papai para ficar tomando conta. Ele viu a movimentação desses guardas vermelhos e não podíamos deixar vocês indefesas! Todos estão ajudando!

– Cadê papai e mamãe? – Perguntei ainda com as mãos em frente à boca.

– Em casa com as crianças e alguns jovens, eles não podiam vir. – Ela disse – Eu... Fugi pela janela.

– Louca... – Apertei os olhos e os abri, olhando para Toshi – Leve-a para o esconderijo, por favor! Proteja-a!

– Hai, hime. – Ele disse, pegando Tane no colo, o que a fez exclamar, e saindo correndo, o que o fez desaparecer rápido.

Olhei em volta e comecei a andar apressadamente, tinha que achar Shu! Na direção para o rio onde meu pai pegava as pedras para nós, vi uma árvore cair logo depois de um estrondo. Corri para lá, desviando do ataque de guardas vermelhos e acertando-os com uma espada vermelha que peguei no chão ao lado de um corpo. Larguei a espada e saí correndo, entrando na floresta e indo em direção ao rio. Quando cheguei não achei ninguém, porém vi rastros de destruição. Os segui e de longe vi quatro sombras lutando. O rei Akihiko, Kazuhiro-sama, Keiji e... Shu! Arregalei os olhos e quis ajudar, mas visivelmente eu apenas atrapalharia.

Kazuhiro-sama o atacava, depois Keiji e Shu. Nunca pensei que o veria lutar em minha vida! Mesmo Akihiko estando sangrando, ele sorria vitorioso.

– Mesmo ganhando, você perdeu! – Ele exclamava – Perdeu metade de seus súditos e guardas! Está acabado! Mesmo se eu morrer, Arata vai voltar ao reino e trazer mais! – Ele gargalhou maldosamente.

Não consegui me conter. Corri e apareci para eles.

– Mentira! – Exclamei.

Eles me fitaram surpresos e com os olhos arregalados. Minha boca estava manchada de sangue e havia uma grande mancha de sangue em meu vestido, do topo até a barra dele.

– Arata está com Nana, baka! – Gritei – Ele não vai fazer isso!

Ele rangeu os dentes e começou a andar em minha direção.

– Pirralha intrometida...! – Ele gritou, levantando a mão para me atacar.

Shu apareceu na minha frente do nada e atravessou o peito do Akihiko, que não teve sequer reação. Arregalei os olhos ao ver aquela velocidade.

– Ela é minha. – Ele rangeu os dentes, olhando nos olhos de Akihiko.

Shu fez um movimento para o lado com o braço e dilacerou o corpo de Akihiko, que estava apenas com os olhos arregalados, creio eu que com o entendimento claro de que havia perdido. Ele caiu no chão, fazendo uma grande poça de sangue se formar na grama. Shu ainda estava naquela posição tensa, respirando ofegante. Kazuhiro-sama e Keiji se endireitaram e acalmaram o olhar.

– Shu... – Eu disse sem reação.

Ele se endireitou e me olhou, me abraçando de repente.

– Idiota... – Ele disse quase inaudível – Devia ter ficado no esconderijo.

– Não consegui. – Disse – Quase mordi Seiko... – Meus olhos marejaram.

Kazuhiro-sama nos despertou daquele momento e voltamos ao “campo de batalha” comigo dizendo o que acontecera e informando que a vila estava ajudando. Kazuhiro-sama ficou surpreso com a atitude das pessoas da vila. Quando chegamos, estavam apenas lutando os guardas prateados de Kazuhiro contra os guardas vermelhos. Vimos de longe o fim daquela batalha e tudo se acalmou naquela noite, que ao fim do fogo e sua fumaça se dissipando, conseguíamos ver as estrelas no céu.

Voltamos para dentro do reino. Shu estava com o braço em volta de mim, nos guiando para dentro. Eu via toda a destruição que os Akihiko fizeram e esperava que a noite seguinte fosse consoladora e a contagem de mortos mínima.


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