Beijo Escarlate escrita por Lailla


Capítulo 1
Medo da escolha




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Há uma aliança entre o Rei dos vampiros e o líder dos humanos para se manter a paz: quando o rei pedir, o líder deve dar uma de suas filhas para se casar com o filho do rei.

...

Centenas de anos atrás os vampiros matavam sem piedade, tanto para se alimentar como por prazer. O líder da vila humana não suportava mais ver seu povo sofrer e se esconder durante a noite. Ele decidiu assim ir até o rei dos vampiros em sinal de paz. Solicitou por um acordo para que as pessoas parassem de ser atacadas. O rei, o primeiro de sua linhagem, era um sádico que também caçava por prazer e com um sorriso maldoso pediu a filha do líder humano para si em troca de uma aliança eterna entre os vampiros e humanos. O líder o fez e depois do casamento sua filha foi transformada para que o sangue real corresse nas veias do filho. Com intervalos grandes de tempo, o acordo sempre fora cumprido e renovado. Isso seria um sacrifício para que a vila humana fosse preservada e não mais atacada.

O lar dos vampiros é um lugar gigantesco, fechado e obscuro, aonde não se chega luz do sol. Próximo a esse reino há a vila dos humanos, ao qual também é reinada pelo rei dos vampiros: Kazuhiro-sama. Seu sucessor chegara à idade de se casar e aquela grande colmeia, repletas de vampiros, precisaria de uma princesa. E agora... Era nossa vez, uma de nós três seria a escolhida para o sacrifício.

...

Papai recebera a carta com o selo real e tinha esperanças de que não fosse o que tanto temia, porém... Era justamente aquilo: chegou a data temida. Depois do choro incessante da minha mãe e do consolo do meu pai a ela, Tane, Seiko e eu começamos a nos arrumar. Normalmente usávamos vestidos simples, mas teríamos que nos vestir da melhor forma possível para ir ao castelo. Eu me olhava no espelho enquanto escovava o cabelo. Seiko fazia uma bela trança em seu cabelo loiro e Tane amarrava seu cabelo preto.

- Como será que é lá? – Seiko perguntou.

- Escuro... – Murmurei, elas não ouviram.

- Por que quer saber? – Tane perguntou – Somos obrigadas a ir para lá e uma de nós vai ter o azar de casar com aquele esquisito.

- Ah, normalmente eles são bonitos. – Seiko tentou sorrir.

- E bebem nosso sangue. – Ela deu um sorriso debochado – Vamos ter que viver para sempre com esse cara sem saber se ele vai nos tratar bem ou não. Isso é tão injusto.

- Verdade, mas é o nosso dever.

- E o pior! – Tane exclamou – O rei tem um segundo filho! Se ele pedir uma de nós de novo, vai ser azar em dobro!

- Só espero que se eu for escolhida, ele seja bom. – Seiko disse, cabisbaixa.

Não sabíamos o nome do príncipe e nem como ele era. Depois do acordo há centenas de anos, eles pararam de sair em direção a nossa vila para “caçar”. Só o que nos restou foram os boatos que passaram de gerações para gerações. “Criaturas com forma humana e extremamente belas.”, “Elas nos hipnotizam para se alimentar do nosso sangue”, “São monstros!”. Eu não sabia o que esperar se eu fosse escolhida, nem fazia ideia de como ele poderia ser. Mas sabia que ele não me mataria, afinal seria para uma de nós se casar com ele. A única coisa que me incomodava era a dúvida de se ele seria bom.

Eu ainda escovava meu cabelo, agora com o olhar baixo. Tane veio até mim e me abraçou.

- E você, Megu?

- Hum?

- O que acha?

- Não sei... – Disse quase inaudível – Mas... É o nosso dever pelo nosso povo.

- Você e essa sua mania de cumprir as regras. – Ela riu – Acho que eu me mataria antes de me deitar com ele.

- Não fale essas coisas, Tane! – Seiko exclamou em reprovação.

- Eu vou sentir falta da neve. – Comentei com o olhar baixo, abaixando a escova.

- Não fique assim. Tenha esperanças. – Seiko disse – Com certeza você não vai ser escolhida.

- Pare de tolices. – Tane franziu a testa – Ela é bonita e com certeza isso conta. Além do mais se uma não for outra terá que ir.

Seiko abaixou o olhar. Meu pai bateu levemente no batente da porta e nos fitou com um olhar desolado.

- Estão prontas?

O olhamos.

- Hai, otoosan. – Tane disse tentando sorrir.

Descemos as escadas e nossa mãe nos abraçou forte, chorando mais. Eu não demonstrava expressão. Tinha muito medo de ser escolhida e no que isso acarretaria, porém eu sabia que deveria fazer isso pelas pessoas de quem gostávamos e de quem queríamos seguras. Era de noite e entramos na carruagem que nos esperava. Enquanto nos encaminhávamos para aquela colmeia gigantesca, as pessoas olhavam para a carruagem sabendo que uma de nós não voltaria. Meu pai ficou o tempo todo em silêncio. Tane e Seiko olhavam pela janela e eu fiquei com o olhar baixo. “Se eu for escolhida...”, pensava, “Espero que ele seja gentil, espero que ele me trate bem de alguma forma.”. Vários minutos depois, sentimos a carruagem parar e barulho de armaduras. Um guarda deles abriu a porta e saímos.

O muro era impossível de se descrever, a colmeia era dentro da montanha. Era imenso, assustador e havia apenas uma entrada: uma porta grande de pedra esculpida em desenhos dançantes. Passamos por ela e vimos que aquele lugar era realmente escuro. Havia apenas tochas para iluminar o lugar e vários vampiros nos olhavam com aqueles olhos vermelhos indicando sede por sangue. Seiko arregalou os olhos e abaixou o olhar com medo, nós nunca os tínhamos visto antes. O guarda nos conduziu para o castelo, que mais uma vez era gigantesco, e passamos por uma imensa porta. Depois de passarmos por um grande corredor luxuoso, entramos em um salão magnífico e andamos pelo grande e comprido tapete vermelho. O rei estava em seu trono com a rainha ao lado. Ele era realmente um homem assustador, porém com uma beleza ao qual eu nunca vira antes. Era pálido, o cabelo escuro como a noite e os olhos vermelhos. A rainha possuía um cabelo comprido e rosa e parecia ser gentil, porém seus olhos também eram vermelhos.

- Oh... Otohime-san. Chegou finalmente. – O rei disse com um sorriso – Que belas meninas você tem.

Meu pai fez uma reverência, o que nos conduziu a também fazê-la.

- Kazuhiro-sama.

- Hum... Chamem-no. Ele está atrasado. – O rei disse impaciente a um guarda.

O guarda fez uma reverência e passou por outra porta próxima dali. Minutos depois um jovem alto de cabelo preto surgiu passando pela porta. Ele estava de terno e era muito bonito.

- Está atrasado. – O rei disse em tom de reprovação.

- Não vi sentido em vir. – O jovem disse.

Sua voz era calma tanto quanto seu semblante. Vi que seus olhos não eram vermelhos e me perguntei por quê.

- Senhoritas, esse é meu sucessor... Shu.

Ele nos olhou, nos analisando. Paralisei ao ver aqueles olhos. Eram azuis, penetrantes e intensos. Acalmei o olhar enquanto o olhava.

- Shu.

Ele olhou para o rei.

- Faça sua escolha. – O rei disse com um sorriso.

- É mesmo necessário?

- Pare de bobagem e ande logo. Os guardas não vão aguentar muito mais. – Ele deu um meio sorriso.

Senti Seiko tremer de medo. O príncipe fechou os olhos e franziu a testa. Quando os abriu me fitou.

- A ruiva.

Arregalei os olhos, respirando nervosamente.

- Satisfeito? – Ele disse ao pai, saindo em seguida.

O rei suspirou.

- Bom. – Ele sorriu – Obrigada às outras belas damas. Por favor, despeçam-se e se encaminhem para a saída.

Seiko começou a chorar baixo. Me virei para ela com os olhos um pouco marejados e limpei suas lágrimas com o dedo, tocando levemente sua bochecha. O príncipe andava e se virou por um momento, me fitando fazer aquilo. Franziu um pouco a testa, me olhando dos pés a cabeça. Seiko me abraçou, assim como Tane, que parecia não conseguir acreditar que eu fui a escolhida.

- Gomen... Gomen... – Seiko dizia com a voz embargada.

- Daijoubu. – Sorri.

Ela balançou a cabeça. Meu pai me abraçou e eles foram embora com as duas chorando. Abaixei a cabeça, queria tanto chorar. O príncipe me escolheu a dedo, ele nem me olhou direito, apenas escolheu sem pensar.

- Qual seu nome, senhorita? – O rei disse carismático.

- Eh? – Me virei para ele e abaixei o olhar – Megumi,... Majestade.

- Ah... Que nome bonito! – A rainha sorriu – Ne, Fumiko vai lhe acompanhar até seu quarto.

Uma empregada se aproximou com um sorriso leve.

- Escolhi um quarto lindo para você! – A rainha sorriu alegremente com as mãos juntas – Você gosta de ver o sol, ne?

- Hum, hai... Majestade. – Disse sem jeito.

- Que bom! – Ela sorriu – Há uma grande janela onde você pode ver o lado de fora.

- A partir de amanhã começarão suas aulas. – O rei disse.

- Aulas? – Disse em dúvida.

- Hai. – Ele sorriu – Sobre etiqueta, nossa história e o ritual de transformação, claro. Depois de casar você vai virar uma de nós.

- Hum, hai... Majestade.

- Então, por favor, descanse um pouco.

Fiz uma reverência e segui a empregada, que usava um longo vestido com um avental branco e uma tiara branca na cabeça. Entramos por onde o príncipe passou e passamos por um longo e deslumbrante corredor. Havia quadros magníficos de paisagens e pequenas mesas com vasos de flores. Não havia janelas, claro. O castelo, o reino dos vampiros era dentro de uma montanha e até onde eu sabia, não havia nenhuma brecha para a luz do sol. Fumiko abriu uma porta à esquerda para mim e fez uma reverência. Entrei em dúvida e vi meu quarto: uma cama grande de casal, belíssima, uma penteadeira e um armário.

- A senhorita deseja jantar? – Ela perguntou. Sua voz era suave.

- Hum, não... Arigatou. – A olhei – Anou... Eu não trouxe nada...

- Ah, sim. – Ela andou até o armário e o abriu – Há alguns vestidos e roupas para dormir. Se a senhorita quiser eu posso costurar um vestido novo.

- Ah... – Fiquei surpresa – Arigatou... Anou...

- “Fumiko”, senhorita. – Ela fez uma reverência – Se precisar de mim é só puxar aquela corda. – Ela apontou para uma corda ao lado da cama.

Ela saiu em seguida e eu fiquei pensando. Fumiko era gentil e suave, ela também não tinha os olhos vermelhos. Me perguntava se havia outros como ela. Talvez se houvesse, não seria tão horrível viver lá. Me virei em direção à janela e fui ver a paisagem. Ela era grande e eu conseguia ver a vila dali. Estava escuro, mas com as tochas e os guardas eu podia ver a estrada para minha casa. Meus olhos marejavam, eu queria chorar. Toquei a janela e abaixei a cabeça, fungando. Eu não sabia, mas o príncipe estava me assistindo da brecha da porta do meu quarto. O olhar dele estava calmo e ele me analisava. Me ouviu chorar e franziu um pouco a testa, fechando a porta sem fazer barulho e indo embora.


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Notas finais do capítulo

Gostaram do primeiro? *-*



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