Blaine sentia-se particularmente animado naquela tarde. Não eufórico com mais algum solo que deveria ter ganhado, ou com o fato dos Warblers estarem sendo mais receptivos quanto às ideias de apresentarem-se em lugares diferentes para públicos diferentes, mas sim com a animação de Kurt Hummel, seu namorado, o qual ele iria prestigiar dentro de algumas horas.

O Hummel havia passado a semana inteira falando da lição que Mr. Schue havia dado e o quão feliz e ansioso ele estava para performar Born This Way de uma de suas cantoras preferidas. Todos pensavam que seria apenas uma apresentação para as cadeiras vazias do auditório da escola depois do horário das aulas, mas apenas Kurt e Mr. Schue, obviamente, sabiam que alguns Warblers, incluindo o seu namorado, estariam na plateia.

Não como rivais, mas sim como amigos. Amigos que o castanho havia conquistado.

A lição da semana no Coral consistia em fazer os alunos aceitarem as coisas que possuíam diferentes das demais pessoas. Fazê-los amarem-se como realmente eram. Fazê-los aceitarem-se como indivíduos diferentes e únicos.

Como nasceram.

– Eu estou tão curioso com o que os outros integrantes do Coral colocaram em suas camisetas! A de alguns será algo bem óbvio, como Rachel e o nariz dela ou Sam e a sua boca enorme. Tudo bem que a minha também parece meio óbvio, mas ainda assim, eu irei manter segredo. Até mesmo para você. – Kurt piscou pegando a mão livre do namorado, já que a outra segurava um copo de café, enquanto sorria apaixonadamente para ele.

Devolvendo o sorriso caloroso que recebia e apertando levemente a mão do castanho que a essas alturas, já corava, Blaine falou:

– Eu não acho isso justo. Pelo menos eu deveria saber. Jeff também ficou curioso quando eu lhe falei, assim como Nick, Trent, Wes e Thad, porém curiosos com essa tarefa. Vocês fazem apresentações para vocês mesmos? Com músicas que não vão entrar na competição? – Às vezes o moreno não entendia os métodos de ensino do professor do namorado. Tudo bem, os Warblers não tinham um representante que fosse professor e talvez fosse por isso que aos olhos de Blaine, as coisas pareciam estranhas.

– Sim. Digamos que, se nós gostarmos da apresentação e Mr. Schue aprovar, ela entra na nossa playlist. Se não, vira apenas diversão mesmo. Vocês também vivem fazendo isso pelos corredores da Dalton. – Kurt sorriu vitorioso, porém o namorado fora mais rápido.

– Mas nós nos apresentamos para os outros alunos. Não para um auditório vazio.

– Ele não estará vazio. Vai ter alguns Warblers e o mais importante para mim: Você. – O castanho sorriu timidamente, logo mudando seus olhos para a boca avermelhada do namorado.

Kurt nem percebeu como ou quando aconteceu. Apenas sentiu a pressão dos lábios de Blaine, com leve sabor de café, sobre os seus. Os beijos do Warbler, mesmo que rápidos como aquele, conseguiam fazer o coração de Kurt Hummel saltar tanto que poderia facilmente sair do peito.

Quando já haviam experimentado os lábios um do outro suficientemente, os garotos se afastaram. Levantando os olhos, o menino completamente corado, de olhos azuis, encontrou Blaine o olhando de forma apaixonada enquanto sorria, devido à timidez do outro.

– Não adianta. Você não vai conseguir arrancar de mim o segredo da minha camiseta. Nem com todos os beijos mais maravilhosos do mundo. – Quebrando o gelo, Kurt estendeu sua mão sobre a mesa até encontrar novamente a mão do outro, que ele não lembrava de ter soltado, observando o quão perfeitamente seus dedos se encaixavam.

– Ah é mesmo? Você não vai me contar? – Blaine perguntou fazendo a sua melhor cara de cachorro abandonado.

– Por mais que você seja absolutamente lindo com essa expressão que me lembra e muito o Gato de Botas do filme Sherek, você vai precisar estar lá se quiser saber o que estará escrito nela. – e consultando o relógio, Kurt se sobressaltou. – Oh droga, esqueci que preciso ajudar Carol com algumas coisas em casa. Te vejo no auditório as cinco? – Levantando e indo até o namorado enquanto falava, o castanho abaixou-se na altura do moreno e beijou seus lábios docemente antes de sair do Lima Bean com o rosto corado e um sorriso bobo.

– Te vejo as cinco. – Blaine respondeu baixinho, seguido de um suspiro mesmo que seu namorado já não estivesse mais ali para ouví-lo.

(...)

– Todos já chegaram? – Subindo no palco, o professor inspecionava a todos com alegria. Todos os participantes tinham algum casaco por cima de suas camisetas, afim de não revelar o que havia por baixo até a hora da apresentação.

– Eu sei o que tem escrito na minha. – Brittany sorriu olhando para Mercedes, que lhe encarava com uma expressão confusa.

– É claro que você sabe Britt. Foi você quem escreveu. – Ao notar o ar de desapontamento da outra garota, Mercedes lhe deu leves tapinhas no ombro.

Do outro lado do auditório, nos bastidores, Kurt terminava de ajeitar seu topete milimetricamente empinado para cima, quando sentiu duas mãos macias tampando lhe os olhos enquanto uma voz baixa e um pouco rouca, muito familiar, sussurrava em seu ouvido.

– Adivinha quem é?

Aquilo com certeza fora o suficiente para fazer o castanho arrepiar-se dos pés à cabeça, sentindo o rosto arder instantaneamente conforme pensamentos nada decentes pairavam sobre sua cabeça. Sacudindo a cabeça levemente, Kurt virou-se dando de cara com Blaine maravilhosamente vestido em seu uniforme dos Warblers sorrindo para si. Antes mesmo que pudesse perceber que eles não estavam sozinhos, o castanho aproximou seu corpo do moreno enquanto suas mãos subiam quase que instantaneamente até a nuca do garoto aproximando seus rostos o mais próximo possível sem que seus lábios se tocassem.

Blaine deixou suas mãos pousarem delicadamente no quadril do namorado puxando-o mais para perto enquanto levantava-se um pouquinho na ponta dos pés, até que sua boca conseguisse alcançar o seu objetivo: os lábios macios e convidativos de Kurt.

O beijo teve início primeiro timidamente romântico, porém em alguma parte dele, tornou-se um pouco mais quente.

Sentindo a combinação da pressão que as mãos do moreno faziam em seu quadril e da língua dele tentando entrar em contato com a sua, Kurt aproximou-se o mais humanamente possível do outro e separou os lábios com um suspiro incontido enquanto suas mãos bagunçavam um pouco os cabelos gelificados, porém com alguns cachos rebeldes que teimavam em sair do lugar, do namorado.

– Com licença? – Jeff exclamou um pouco alto demais seguido de uma série de tossidas falsas, enquanto Nick, seu namorado, sorria maliciosamente com a cena. Trent, Wes e Thad, um pouco constrangidos, encontraram um ponto muito interessante na parede ao lado deles para ficar observando. Ao ouvir a voz do amigo, com um salto, um Kurt corado afastou-se de um Blaine sorridente.

– D-desculpem por isso... – Fora tudo o que o castanho conseguira dizer antes que seus amigos explodissem em gargalhadas. Mas antes mesmo que pudessem dizer alguma coisa, Mr. Schue surgiu de trás das cortinas com uma expressão animada no rosto.

– Só falta você no palco Kurt. Nós já vamos começar. E quanto a vocês – Falou dirigindo-se ao grupo de garotos uniformizados. – Tomem seus lugares na plateia e aproveitem o ensaio.

– Boa sorte baby. Eu te amo. – Blaine sussurrou rapidamente para o namorado que sorriu, antes de seguir seus amigos até a frente do palco onde se sentaram.

Blaine sentia-se ansioso. Kurt havia falado muito tempo sobre aquilo e a julgar pela animação dele, o moreno desconfiava que ele teria algum destaque a mais do que os outros.

Logo as luzes foram diminuindo e no centro do palco apareceu uma figura esguia, alta e magra com um casaco cobrindo sua camiseta. Antes que a voz preenchesse o local, Blaine percebeu que era Kurt ali, lançando lhe um olhar confiante e apaixonado, que fez o coração do moreno saltar.

It doesn't matter if you love him, or capital H-I-M
Just put your paws up
'Cause you were born this way, Baby

Logo Mercedes e Tina tomaram seus lugares ao lado do castanho e com agilidade, abriram o casaco que revelava o que continha em sua camiseta.

Por segundos Blaine demorou para processar o que estava escrito ali. Tudo bem que “Gay” seria algo bem obvio e talvez até monótono para o namorado, porém algo o incomodou em “gosto de garotos”. O que era uma grande bobagem, já que o namorado realmente gostava de garotos. Mas ele não podia gostar de garotos, não de outros garotos. Aquilo não fazia o menor sentido e o moreno sabia disso. Porém, obviamente, o se coração e seu ciúmes não.

Blaine e os Warblers se divertiam com a apresentação a cada camiseta revelada. Elas eram engraçadas, mas não no sentindo de caçoarem dos alunos da McKinley, e sim, por que os Warblers notaram algumas coisas nos integrantes apenas quando revelaram suas camisetas.

Não como Sam, Artie, Finn ou Rachel que tinham literalmente estampado na cara (ou no corpo) o que dizia em suas camisetas, mas em Tina, que usava lentes de contato, ou Mike que não sabia cantar, Quinn que pelo que tudo indicava possuia outro nome que remetia o seu passado, ou até mesmo Mercedes e apliques de cabelo.

Os Warblers realmente haviam adorado a apresentação e quando começaram a bater palmas no final da apresentação foi que o New Directions notou que havia pláteia, tirando Santana e Karofsky que estavam sentados lado a lado na última fileira de cadeiras. Blaine conseguiu identificar que estava escrito, erroneamente, “lésbica” na camiseta da latina. Como bom entendedor, logo ele compreendeu que a garota não quisera realmente se assumir, mesmo que ele tivesse uma leve suspeita de que todos já sabiam. E melhor, eles não ligavam.

– Isso foi genial! – Nick falou sorridente enquanto todos os outros concordavam com ele falando sobre a apresentação. Blaine seguiu Kurt com o olhar até ele entrar na parte traseira do palco e sem pensar muito foi atrás dele.

(...)

Kurt levou um tremendo susto ao notar, através do espelho onde ajeitava seus cabelos novamente, alguém parado atrás de si, olhando-o fixamente através do reflexo.

– Blaine! Então, me diga, o que você achou? Eu acho que essa performance tem grandes chances de entrar para a nossa playlist. – Kurt sorriu feliz, virando-se para o namorado que olhava fixamente para a sua camiseta agora. – Blaine?

– Vocês foram ótimos, querido. E eu adorei a sua camiseta, porém, eu acho que falta algo nela. – O moreno falou baixo apontando para a palavra “garotos” no plural, o que fez Kurt rir.

– Eu não entendi. Como assim? Eu pensei que colocar “gay” seria algo obvio demais, então tive a ideia de dizer isso, porém com outras palavras. Eu mesmo quem fiz. Não ficou ótima? – O castanho havia se virado novamente para o espelho para contemplar sua obra prima e Blaine o fez virar-se novamente.

– Eu adorei. Porém acho que podemos melhorá-la. – Sorrindo, o garoto menor caminhou até uma mesa onde, vasculhando, encontrou uma caneta preta.

– Blaine, o que você vai fazer? Ela está ótima assim. – Kurt tentava não rir. Como era esperto, ele já tinha entendido tudo e tentava não gargalhar do ciúmes-não-revelado do namorado, mas era praticamente impossível.

– Você me ama, certo? – Blaine murmurou sem olhar para Kurt que fazia um esforço enorme para se controlar diante dele.

– Claro que eu amo querido, mas não acho que você precise mudar algo na minha camiseta. – O castanho abafou uma risada com as mãos que levou até a boca e viu os Warblers aparecerem atrás de Blaine.

– Kurt, a apresentação foi ótima, foi algo tão diferente e... – o garoto obrigou-se a se interromper. – Blaine? O que você está fazendo aí? – Nick falou assim que notou o amigo, com os joelhos um pouco flexionados e com a tampa da caneta na boca, enquanto uma de suas mãos puxava a barra da camiseta do namorado para baixo, a outra segurava a caneta.

– Nada gente. Vocês poderiam nos dar uns cinco minutos? – Mais do que depressa o moreno tratou de despachar seus amigos, sem sequer, olhá-los.

Confusos, os Warblers olharam para Kurt que divertido, fez sinal com as mãos de que estava tudo bem e de que eles deveriam ir.

– Amor, eu não acho isso necessário. – Sem conseguir se controlar, Kurt soltou uma pequena risadinha, que logo foi reprimida pelo tom sério do namorado.

– Kurt, você está errado. Eu estou certo. E você sabe que isso faz todo o sentido, não é? – Blaine exclamou enquanto riscava as palavras contidas ali e fazia as suas próprias.

– Okay... – O castanho murmurou sentindo-se vencido.

(...)

– Vamos lá pessoal! Mais uma vez!

O grito de Mr. Schue ecoou por todo o auditório enquanto as luzes baixavam e Kurt tomava o seu lugar no palco.

– O que você estava fazendo com a camiseta do Kurt antes? – Jeff perguntou sentindo a curiosidade queimando-o por dentro.

– Vocês vão ver. – Com um sorriso enorme, o garoto ouviu a voz do namorado preencher novamente o auditório.

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Quando as garotas tomaram suas posições novamente e abriram o casaco de Kurt como no ensaio anterior, o olhar de todas as pessoas, até de Santana e Karofsky pairaram sobre o castanho que por segundos sentiu-se envergonhado.

– Kurt? – Mercedes o chamou com ar interrogativo enquanto apontava para a sua camiseta.

– Digamos que eu tenha um namorado um pouco ciumento. – Kurt murmurou baixo enquanto seguia com a música e com a coreografia. Todos do New Directions quando entravam no palco, prendiam seu olhar na camiseta e com algumas risadas se dispersavam da coreografia.

– Eu não acredito que você fez isso com a camiseta dele! – Jeff olhava incrédulo para Blaine que sorria.

– Nós nos amamos. – Blaine rebateu simples, sem tirar o olhar do castanho.

– Isso ficou bem óbvio na camiseta dele. “Amo Blaine”. Você sabe que está fazendo-o pagar um grande mico, não sabe? – Nick cochichou tentando não atrapalhar ainda mais a apresentação que já estava atrapalhada, pois os integrantes do Coral não paravam com as risadinhas, deixando-os desconcentrados.

– Mico? Não acho que ele esteja pagando mico nenhum. – Olhando para o palco, o moreno viu Kurt com as bochechas vermelhas e os amigos do namorado rindo de algo que Blaine não conseguia identificar como engraçado. – Você acha mesmo que eles estão rindo da camiseta dele? Eu achei tão melhor assim.

– Francamente Blaine. Se Nick fizesse isso comigo, eu ficaria muito puto com ele. – Jeff revirou os olhos e voltou a focar na apresentação que se encerrava.

Blaine sentia-se terrivelmente culpado. Havia deixado seu ciúme sem explicação tomar conta de si e agora seu namorado era motivo de piada entre os amigos. Mas Kurt o amava certo? E ele era um menino, certo? Então por que o castanho não havia colocado seu nome logo na camiseta? Assim Blaine não precisaria ter feito nada. Se bem que era apenas uma camiseta e uma apresentação para quase ninguém.

Mas e se eles levassem aquela apresentação para as Regionais? Com certeza ao verem Kurt com uma camiseta gritando que ele era gay, não que fosse realmente necessário, todos os outros gays iriam atrás do lindo e doce Kurt. Não, Blaine e seu incrível companheiro chamado ciúmes não poderiam lidar com aquilo.

(...)

Kurt tentava abrir a porta de seu carro, mas por algum motivo desconhecido ela aparentemente havia emperrado. O castanho tentava entender por que Blaine praticamente fugira dele. Ele não havia se importado tanto em usar aquela camiseta, tudo bem que seus amigos fizeram piadinhas do início ao fim da apresentação, porém Kurt até tinha achado fofo o namorado, sempre tão seguro e confiante, com ciúmes.

– Me desculpe pela camiseta. – Kurt ouviu uma voz baixa e amuada atrás de si.

– Desculpar por ter me feito passar vergonha? – Tentando usar suas técnicas teatrais, Kurt virou-se cruzando os braços e levantando uma de suas sobrancelhas, divertindo-se com a expressão de culpa no olhar do namorado.

– E-eu sinto muito, muito mesmo... – Mantendo o olhar em seus pés, Blaine não se atrevia a levantar o olhar, com medo de que o outro poderia fazer.

Ainda com uma expressão séria, Kurt se aproximou do outro e deixou suas narinas serem invadidas por aquele perfume que ele tanto amava.

– Tudo bem.

– Como? Tudo bem? – Finalmente levantando o olhar, Blaine encontrou aquele belo par de olhos azuis fixos nele. Ele também notou um pequeno sorrisinho no rosto do outro garoto.

– Sim, querido. Tudo bem. Claro, você pareceu meio psycho com esse lance da camiseta, porém eu te amo e não tenho vergonha de expressar isso. De nenhuma maneira. – Kurt sorriu apontando para a camiseta.

– Então está tudo bem? Por que Jeff disse que se Nick fizesse a mesma coisa com ele, ele iria ficar muito puto e eu não quero que você fique assim comig... – E antes que Blaine conseguisse terminar de falar, ele sentiu os lábios quentes e macios do namorado sobre os seus.

– Tudo está realmente bem entre nós. – Olhando dentro dos olhos dourados do namorado, o castanho sorriu.

– Okay...

Assim que Kurt conseguira abrir a porta do motorista, deixando que Blaine entrasse do outro lado, ao ligar o carro, o castanho sentiu uma mão sobre a sua livre e ouviu pacientemente o moreno voltar ao assunto.

– Eu te amo tanto. Eu não me importaria em usar uma camiseta escrito “amo Kurt”. Assim nós dois poderíamos sair com a mesma roupa e... –

– Sério Blaine? – Kurt perguntou com uma expressão tediosa no rosto.

– Você está certo. Eu estou errado. – O moreno resolveu simples.

– Exatamente. – e beijando Blaine delicadamente nos lábios, Kurt completou. – Agora, vamos para a minha casa assistir algum filme da Disney. – O castanho viu os olhos do namorado brilharem.

– Parece perfeito para mim.