Nasci Inojin, um menino de três quilos, com cabelos loiros e olhos azuis. Cresci Inojin, um menino que gostava de vestidos e maquiagens, e que pedia para a mãe trançar os cabelos. Apanhei Inojin, no momento em que perceberam que eu era diferente, apesar de ser igual a todos ali.

Minha mãe dizia que eu era especial, enquanto meu pai me olhava como se eu fosse uma aberração. Já eu, pobre criança, inocente demais, não entendia o porquê de todos acharem tão ruim quando eu colocava as saias de mamãe, ou passava batom rosa claro. Por que era tão ruim, se eu me sentia tão bem?

Aprendi a resposta anos depois, apesar de ainda não entende-la.

– Mamãe, posso ser menina? – eu perguntei, e ela, sempre calma e paciente, negou.

– Claro que não. Você nasceu menino, e vai morrer menino.

Sim. Eu tinha nascido menino, ou será que não? Eu tinha corpo de menino, vestia roupas de meninos, e era obrigada a fazer coisas que meninos faziam. No entanto, por que me sentia tão estranha? Como se aquele não fosse o meu corpo?

Passei anos nesse dilema, me olhando no espelho e desejando ter seios, ao invés do peito liso. Olhando o órgão sexual que me foi dado, mas que não me pertencia.

Sentava no banheiro, puxava o meu pênis, tentava machuca-lo.

Eu não queria aquilo! Eu não era aquele corpo! Devolvam meu corpo!

Eu gritava, mas ninguém me respondia. Me calei.

Aos quinze, conheci Gaara. Me apaixonei por ele, no entanto, ele não “gostava dessa fruta”. Conheci Genma, mas ele mal me olhava. Conheci Kiba, e ele me bateu.

Depois de tantas desilusões, desisti de amar alguém. Eu não me amava, então como poderia amar outra pessoa?

Minha vida era um tormento.

Aos dezoito, conheci Karin, e ela foi a luz no fim do meu túnel. Era trans, nascida mulher em um corpo de homem. Ela me contou sua vida, e compartilhamos do mesmo sentimento, de situações pelas quais tivemos que passar, e que ainda passaríamos. Choramos, rimos, e muitas coisas eu aprendi com ela. Ela tinha feito a cirurgia, tomava hormônios, e estava mais feliz do que nunca. E eu fiquei maravilhada, pois não sabia que eu podia ter tudo aquilo também.

Aos vinte e um, eu finalmente me libertei. Mudei meu nome para Ino, em homenagem a minha mãe, que, apesar de seus preconceitos e ideologias, me apoiou. Meu corpo agora era meu, me sentia completa e feliz quando me olhava no espelho.

Agora sim, pensei. Quero amar alguém.

Depois de dois anos, conheci Sai, no meu trabalho. Ele era lindo, cabelos e olhos negros, a pele alva, e tinha um corpo bem estruturado. Além de tudo, era super gentil e carinhoso comigo. Saímos, conversamos, namoramos. Quando chegou aos finalmente, a hora h, me senti muito feliz.

Ele tinha sido o primeiro.

Quando nosso relacionamento ficou sério, decidi que era hora para lhe contar o meu passado, pois a verdade já era o meu presente. Estava nervosa e ansiosa, mas finalmente falei tudo.

Ele me olhou, abraçou e sorriu. Disse que me amava, e que sentia muito por eu ter passado pelo que passei. No entanto, fez uma promessa: estaria comigo no futuro, para segurar minha mão e me ajudar a enfrentar o que ainda estava por vir.

Pois nossa luta nunca acaba.

Mas eu tinha ele, então tudo estava bem. Finalmente, estava feliz.