Perversa escrita por Diamandis


Capítulo 37
Capítulo 37




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Hermione abriu os olhos decepcionada consigo mesma na manhã de domingo. Mal conseguiu dormir meia hora e a claridade a despertou. Olhou para a janela, no fim do quarto. Neve outra vez. Levantou devagar e viu pequenos flocos rodopiando e tingindo seu jardim e toda a rua de um branco puro e escorregadio. Na casa em frente, três crianças brincavam e atirar grandes bolas brancas umas nas outras. Lembrou do dia anterior: todo dentro do quarto comendo chocolate e recusando ligações da galera.

Tomou um banho e vestiu uma roupa bem quente com luvas de couro e uma toca de lã italiana. Pegou uma pêra e saiu pela rua mastigando. Andou muito, mas não se importou dessa vez.

Já passava do meio da manhã quando chegou ao Central Park. O chão estava alvo e os galhos das árvores sem folhas, também. O lago tinha grandes placas de gelo nadando sobre ele. Num tronco caído, havia alguém sentado, de costas.

– Oi... – Ela soprou, rezando para que ele não ouvisse.

– Oh! Oi.

Ronald estava com um smoking amarrotado – talvez de algum primo – a gravata frouxa e o cabelo embaraçado. Sua boca esta num tom de violeta pelo frio, e profundas olheiras haviam se alojado sob seus olhos. Tão profundas que Hermione teve vontade de tocá-las, duvidando que fossem reais.

– Há quanto tempo está aqui?

– Desde ontem, depois da festa. Não consegui dormir e vim pra cá.

– Nossa! – Ela exclamou surpresa. – Por que fez isso?

– Não sei.

Eles ficaram um momento em silêncio, olhando a neve derreter aos seus pés.

– Desculpe, Hermione, por ter acusado você.

Ela sorriu para os próprios pés e suspirou. Então, as lágrimas que ela havia segurado por todo o fim de semana embaçaram seus olhos e ela não conseguiu evitar que rolassem por suas bochechas geladas.

– Você está chorando? Hermione, não. – Ele levantou a mão e passou num dos lados do rosto dela. – Não fique assim.

Ela fez beicinho. Pensou em afastá-lo e descontar sua raiva sobre ele. Mas não quis.

– Eu estou sozinha, Ron. – Sussurrou.

– Não, você não está. – Hesitou um pouco. Mordeu o lábio e suspirou. – Eu estou aqui com você, não estou?

Ele a olhou nos olhos e sorriu.

– Sim, mas nós não somos exatamente... melhores amigos.

Ronald revirou os olhos e a puxou para seus braços. Hermione inspirou aquele perfume uma vez e o abraçou de volta.

– Eu sempre estive lá para te salvar, lembra?

Ela riu por entre as últimas lágrimas.

A neve parou de cair e Hermione retirou a toca, ainda nos braços dele.

– Ron, estamos abraçados.

– Estranho, não é?!

– O pior é que... – Então se arrependeu de ter falado e mordeu o lábio inferior.

– O que é pior?

Hermione suspirou.

– É que é bom.

Ele levantou o rosto dela devagar – as lágrimas já haviam cessado –.

– É muito bom. – Ele concluiu.
Então, suas mãos passaram pelo rosto frio dela e Hermione contornou os olhos dele com os dedos. Eles se aproximaram e selaram os lábios lentamente, sem pressa de acabar.

Depois, eles se olharam nos olhos e Hermione suspirou.

– É mais do que estranho nós dois aqui juntos Ron. É... assustador.

– Eu diria diferente.

Ela sorriu e passou a mão pela nuca gelada dele.

– Mas imagine Ron Weasley e Hermione Granger juntos. – Ela revirou os olhos. – Na escola, por exemplo.

– Nas festas! – Ele concordou gargalhando.

– Eu falo sério. Como vai ser daqui pra frente?

– Como deve ser.

Ronald olhou para o lado e imaginou seu dia-a-dia com Hermione.

– Apesar de que... – Ele ponderou . – Ia ser um tanto quanto cansativo para nós dois. Talvez desconfortável.

– É o que eu estou dizendo! Nós não íamos ter um segundo de paz e eu tenho medo que isso faça com que... – Ela baixou os olhos e suas bochechas ganharam uma cor avermelhada, intensa. – Com que a sensação que eu sinto quando eu olho seus olhos acabe.

Ronald sorriu.

– Ora, ora, ora... Há alguém sem máscaras aqui!

– Pare com isso. Eu só acho que devíamos esperar, e nos prepararmos para...

– Estarmos juntos?

– Aparecermos juntos.
Ele revirou os olhos com a preocupação dela com a reação dos outros. Mas não questionou.

– Aliás – ela continuou. –, isso se você não fizer como da última vez que estivemos no Central Park.

Ele tombou a cabeça para o lado e analisou a expressão crítica e desafiadora no rosto dela.

– Vai ser diferente agora.

Hermione sorriu e mordeu o queixo dele, com força.

– Ron, se eu estiver sonhando, quando eu acordar, eu acabo com você!

Ronald gargalhou.

– Isso é tão Hermione Granger... Por que você não me fala sobre a Hermione de verdade?

– Hermione de verdade? – Repetiu divertida. – Bom, ela tem medo de altura, é alérgica a ácaro e fica nervosa quando tem que falar em público.

– Não parece.

– Ela sabe disfarçar. Deixe-me pensar... Ela detesta os próprios olhos e tem fascínio por um certo par de olhos azuis. A Hermione de verdade ama desenhar e não quer ser editora ou âncora de droga de jornal nenhum!

– Mas você não precisa ser.

– Mas e meu pai?

– Diga e ele, por que não?

– Você não conhece o Sr. Granger.

Ronald levantou uma sobrancelha, passou o braço pelos ombros dela e estremeceu de leve

– Só tente, está bem?

Ela cedeu e os dois ficaram de lá, de frente para o lago congelado, até que Hermione o fez ir embora para se agasalhar.


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