Perversa escrita por Diamandis
Hermione abriu os olhos decepcionada consigo mesma na manhã de domingo. Mal conseguiu dormir meia hora e a claridade a despertou. Olhou para a janela, no fim do quarto. Neve outra vez. Levantou devagar e viu pequenos flocos rodopiando e tingindo seu jardim e toda a rua de um branco puro e escorregadio. Na casa em frente, três crianças brincavam e atirar grandes bolas brancas umas nas outras. Lembrou do dia anterior: todo dentro do quarto comendo chocolate e recusando ligações da galera.
Tomou um banho e vestiu uma roupa bem quente com luvas de couro e uma toca de lã italiana. Pegou uma pêra e saiu pela rua mastigando. Andou muito, mas não se importou dessa vez.
Já passava do meio da manhã quando chegou ao Central Park. O chão estava alvo e os galhos das árvores sem folhas, também. O lago tinha grandes placas de gelo nadando sobre ele. Num tronco caído, havia alguém sentado, de costas.
– Oi... – Ela soprou, rezando para que ele não ouvisse.
– Oh! Oi.
Ronald estava com um smoking amarrotado – talvez de algum primo – a gravata frouxa e o cabelo embaraçado. Sua boca esta num tom de violeta pelo frio, e profundas olheiras haviam se alojado sob seus olhos. Tão profundas que Hermione teve vontade de tocá-las, duvidando que fossem reais.
– Há quanto tempo está aqui?
– Desde ontem, depois da festa. Não consegui dormir e vim pra cá.
– Nossa! – Ela exclamou surpresa. – Por que fez isso?
– Não sei.
Eles ficaram um momento em silêncio, olhando a neve derreter aos seus pés.
– Desculpe, Hermione, por ter acusado você.
Ela sorriu para os próprios pés e suspirou. Então, as lágrimas que ela havia segurado por todo o fim de semana embaçaram seus olhos e ela não conseguiu evitar que rolassem por suas bochechas geladas.
– Você está chorando? Hermione, não. – Ele levantou a mão e passou num dos lados do rosto dela. – Não fique assim.
Ela fez beicinho. Pensou em afastá-lo e descontar sua raiva sobre ele. Mas não quis.
– Eu estou sozinha, Ron. – Sussurrou.
– Não, você não está. – Hesitou um pouco. Mordeu o lábio e suspirou. – Eu estou aqui com você, não estou?
Ele a olhou nos olhos e sorriu.
– Sim, mas nós não somos exatamente... melhores amigos.
Ronald revirou os olhos e a puxou para seus braços. Hermione inspirou aquele perfume uma vez e o abraçou de volta.
– Eu sempre estive lá para te salvar, lembra?
Ela riu por entre as últimas lágrimas.
A neve parou de cair e Hermione retirou a toca, ainda nos braços dele.
– Ron, estamos abraçados.
– Estranho, não é?!
– O pior é que... – Então se arrependeu de ter falado e mordeu o lábio inferior.
– O que é pior?
Hermione suspirou.
– É que é bom.
Ele levantou o rosto dela devagar – as lágrimas já haviam cessado –.
– É muito bom. – Ele concluiu.
Então, suas mãos passaram pelo rosto frio dela e Hermione contornou os olhos dele com os dedos. Eles se aproximaram e selaram os lábios lentamente, sem pressa de acabar.
Depois, eles se olharam nos olhos e Hermione suspirou.
– É mais do que estranho nós dois aqui juntos Ron. É... assustador.
– Eu diria diferente.
Ela sorriu e passou a mão pela nuca gelada dele.
– Mas imagine Ron Weasley e Hermione Granger juntos. – Ela revirou os olhos. – Na escola, por exemplo.
– Nas festas! – Ele concordou gargalhando.
– Eu falo sério. Como vai ser daqui pra frente?
– Como deve ser.
Ronald olhou para o lado e imaginou seu dia-a-dia com Hermione.
– Apesar de que... – Ele ponderou . – Ia ser um tanto quanto cansativo para nós dois. Talvez desconfortável.
– É o que eu estou dizendo! Nós não íamos ter um segundo de paz e eu tenho medo que isso faça com que... – Ela baixou os olhos e suas bochechas ganharam uma cor avermelhada, intensa. – Com que a sensação que eu sinto quando eu olho seus olhos acabe.
Ronald sorriu.
– Ora, ora, ora... Há alguém sem máscaras aqui!
– Pare com isso. Eu só acho que devíamos esperar, e nos prepararmos para...
– Estarmos juntos?
– Aparecermos juntos.
Ele revirou os olhos com a preocupação dela com a reação dos outros. Mas não questionou.
– Aliás – ela continuou. –, isso se você não fizer como da última vez que estivemos no Central Park.
Ele tombou a cabeça para o lado e analisou a expressão crítica e desafiadora no rosto dela.
– Vai ser diferente agora.
Hermione sorriu e mordeu o queixo dele, com força.
– Ron, se eu estiver sonhando, quando eu acordar, eu acabo com você!
Ronald gargalhou.
– Isso é tão Hermione Granger... Por que você não me fala sobre a Hermione de verdade?
– Hermione de verdade? – Repetiu divertida. – Bom, ela tem medo de altura, é alérgica a ácaro e fica nervosa quando tem que falar em público.
– Não parece.
– Ela sabe disfarçar. Deixe-me pensar... Ela detesta os próprios olhos e tem fascínio por um certo par de olhos azuis. A Hermione de verdade ama desenhar e não quer ser editora ou âncora de droga de jornal nenhum!
– Mas você não precisa ser.
– Mas e meu pai?
– Diga e ele, por que não?
– Você não conhece o Sr. Granger.
Ronald levantou uma sobrancelha, passou o braço pelos ombros dela e estremeceu de leve
– Só tente, está bem?
Ela cedeu e os dois ficaram de lá, de frente para o lago congelado, até que Hermione o fez ir embora para se agasalhar.
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