Perversa escrita por Diamandis


Capítulo 27
Capítulo 27




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Hermione entrou no quarto e trancou-se por lá. Encostou-se na porta e deslizou de costas até o chão. As lágrimas corriam fartas pelo rosto e os olhos arregalados encaravam o nada, um tanto atordoados. Colocou as mãos na cabeça. Latejava. Sentia uma veia pular rápido no pescoço junto com a respiração ofegante.

Levantou-se e deitou-se na cama. Apertou uma almofada com força contra o corpo e desejou estar sonhando, como todas as outras vezes. Agora ela iria acordar e tudo voltaria ao normal. Mas ela não acordou e, muito menos, tudo voltou ao normal.

“Eu já estou acostumada”, sua mãe havia dito. Não podia ser. Ele nunca havia batido nela antes. Nunca, não é?!

– Você nunca fez isso antes, não é papai?! – Repetiu. – Não é, papai?!

Suas pálpebras foram ficando pesadas demais para ela conseguir mantê-las abertas. Então, finalmente, ela cedeu ao cansaço.

“ – Cale a boca! – Ele ordenou. – Você não tem direito de falar assim comigo!

Ele gritava. Seu rosto estava repleto de gotículas de suor e seus cabelos despenteados caiam sobre a testa.

– Eu falo como quiser! – Ela gritou de volta. – Quem você pensa que é para me dar ordens?

Sua voz estava rouca e seu lábio inferior tremia, como se estivesse segurando as lágrimas.

– Não vou responder quem eu sou. Seria muito complexo para sua capacidade de entendimento. – Provocou.

Ambos marcharam para o quarto aos berros. Enquanto isso, uma pequena garotinha loira ouvia tudo num canto do quarto, com as mãos na cabeça. Seus olhos estavam molhados e seu rosto, vermelho e inchado.”

Seu corpo descoberto se contorcia na cama. As sobrancelhas estavam franzidas e o corpo molhado de suor, mesmo com o sonho frequente. Até que tudo começou a tomar um novo rumo, desconhecido.

“Ela se levantou e seguiu os dois até o quarto. Ficou ao lado da porta, olhando tudo escondida.

– Eu odeio você! – Sussurrou a mulher, raivosa.

Ele se aproximou e a olhou fundo nos olhos.

– Eu nunca bati em Hermione, mas às vezes tenho vontade de bater em você.

A menininha se abaixou na soleira da porta, silenciosa. Era muita informação para seu cérebro de criança.

– Então bate! – Provocou confiante no recuo dele. – Bate.

Ele levantou a mão e bateu.

A menininha chorou alto e seus pais correram em seu encontro. Foi suspensa no ar e aconchegada delicadamente no peito do pai. Não estava entendendo nada, mas sabia que aquilo não era nada bom.

– Não se preocupe, minha filha. – Disse a mãe sorrindo, com os olhos profundos. – É só um sonho, não é de verdade. Você não vai mais ver essa cena. É só um sonho.

Um sonho. Um sonho. Um sonho.”

Um sonho.

Hermione abriu os olhos e pôs-se sentada na cama. Sua cabeça explodia e a colcha estava toda desarrumada.

Estava tudo explicado.

Suas mãos estavam tremendo e ela caminhou vacilante até o banheiro. Olhou-se no espelho. Seu olhar estava obscuro, com um misto de raiva e susto. Um par de marcas arroxeadas havia se formado debaixo dos olhos.

Ela teve medo. Um arrepio percorreu seu corpo, do joelho à nuca, e ela reconheceu e terrível sensação. Como o dia no ringue. Encostou-se tonta na parede, seus ouvidos zumbiam. As lágrimas já embaçavam seus olhos outra vez, mas ela se esforçou para se concentrar.

– Eu vou me acalmar. Eu consegui aquele dia. – O suor gelado molhava sua testa e a raiz dos cabelos claros. – O que eu tenho que fazer é...

Suas pernas perderam a firmeza e ela despencou sentada no chão.

Insistiu.

– Como eu me acalmei aquele dia? – Lembrou.

“– Acho que você está tendo uma crise de pânico. – Respondeu sério. – E mais uma vez, sobrou o garotão aqui para te salvar.

– Me tira daqui. – Disse, ignorando o comentário dele. – Me tira daqui...

Ele se levantou e colocou-a de pé. Então, finalmente, ela o olhou nos olhos. Aqueles profundamente expressivos olhos azuis.

Hermione respirou fundo. Segurava as mãos dele com força, enquanto as suas paravam de tremer lentamente. O som dos patinadores rindo e gritando foi ficando mais baixo. Só era possível ouvir sua respiração falha e levemente trêmula.

– Está melhor? – Indagou, com sincera preocupação.”

– Os olhos. – Sussurrou para si mesma.

Ainda sentada sem forças no chão, inspirou fundo e mentalizou os olhos de Ronald. E o sorriso, e a pele, e o cheiro, e a voz, e o toque.

Lentamente, seu coração foi diminuindo o ritmo e suas pernas recuperando a força para ficar de pé. Lavou o rosto aliviada e, parcialmente, com raiva. Ele não tinha o direito de conseguir acalmá-la daquela maneira. Mas conseguia.


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