As aulas passavam rápidas, regadas de bilhetes, chicletes, equações, bolas de papel. O último horário acabava de começar: prova de Biologia. Logo após um falso ‘boa sorte’, o professor entregou as avaliações viradas. Só depois que todos receberam, as folhas puderam ser desviradas. Crueldade: só para o prazo ser menor.

– Eu não sei porcaria nenhuma! – Cochichou Cho.

– Fica calma. Dá aqui a sua prova.

Cho arregalou os olhos mas estendeu a prova em branco para Hermione.

– Só um minuto e eu faço pra você.

“Tenho certeza que essa cola vai custar caro para ela.”, pensou Gina, “Ainda bem que eu estudei...”.

Cho tremia da cabeça aos pés, até que Hermione arregalou seu par de olhos castanhos.

– Droga! As provas são diferentes!

– E o que tem isso? – Cochichou Gina, da carteira ao lado de Hermione.

– Eu só decorei o gabarito de uma – Então este era o truque. –, mas não sei qual!

Estavam ferradas! Simplesmente destroçadas em Biologia.

– E agora? – Perguntou Cho, uma carteira atrás.

– Não sei!

– Eu não posso passar cola. Nossas carteiras são muito distantes. – Justificou-se a ruiva.

– Mas que conversa é essa aí no canto? – O professor a encarava com seu olhar penetrante. – Fiquem quietas. Não quero ser obrigado a zerar suas provas
Elas se calaram e corrigiram a postura nas cadeiras. Estavam fadadas à falta de média. O pior era ser em Biologia. Quando se decepcionava o professor Arnold W. – que também era vice-diretor da escola – era difícil ganhar prestígio em sua aula outra vez. Mas Hermione pensou rápido.

Levantou a mão graciosa:

– Professor, eu não estou me sentindo bem. Posso sair para tomar um ar?
Ele pensou um pouco.

– Está bem. Mas não demore.

Granger se levantou e desfilou para fora da sala. Pelo menos teria um tempo para pensar no que fazer.

Seus olhos percorreram os corredores vazios e cinzentos do colégio. Ninguém de cá, nem de cá, nem... ‘Epa’! Tinha alguém no fim do corredor sul, vindo em sua direção. Hermione caminhou em direção àquela pessoas até perceber que...

“Ah, não!”, pensou “O novato não!”.

Virou-se para voltar à sala.

– Hey! Você aí!... – Ele chamou.

“Porcaria!”

– Está precisando de alguma coisa?

Ela se virou esnobe. Quem ele pensava que era para se intrometer em sua vida daquela maneira?!

– Não. – Ela o olhou de cima a baixo com desprezo e seus olhos pararam no que ele carregava. – O que faz com esses livros?

– Eu estava passando pela biblioteca e a bibliotecária pediu para eu levar uns livros até a secretaria.

– Tem algum do segundo ano aí? – Perguntou, fingindo desinteresse.

– Sim: Português e Biologia.

O rosto de Hermione se iluminou num sorriso impecavelmente branco. Mas ela refletiu e deu as costas para o garoto. Não ia pedir nada a ele só por causa de uma mísera prova. E caminhou rumo à falta de média, prestígio, preferências na aula e cartão de crédito. Seus dias de boa aluna estavam no fim.

“Não acredito que vou fazer isso.”

– Me empresta um de Biologia?

– O que houve? – O novato perguntou irônico. – Não estudou para a prova?

– Não é da sua conta. – Aquele bolsista idiota se intrometia outra vez em sua vida!

Ele estendeu o livro, sorrindo. Hermione folheou rápido, tentando lembrar as questões das provas. Munida da informação necessária fechou o livro e o devolveu para o novato.

– Tenho que ir. – Disse, virando as costas.

– Por nada! – Ele respondeu, sorrindo outra vez.

Hermione parou e o olhou com desprezo.

– Qual é o seu nome mesmo?

– Ronald Weasley, prazer em conhecê-la.

– O prazer é mesmo completamente seu.

– E você, quem é? – Indagou, ignorando a frieza de Granger.

– Pergunte por aí. Todos me conhecem.

Ela voltou para a sala com duas convicções: a) não ia mais se ferrar na prova; b) aquele novato era mais babaca do que aparentava.