Perversa escrita por Diamandis
Hermione chegou em casa exausta. Arrastou a mochila escada à cima – como sempre – e jogou-a num canto do quarto. Retirou o casaco de moletom branco e deixou-o sobre a cama, junto com o objeto prateado – teria tempo para ele mais tarde –.
Uma pasta grossa e preta caiu de dentro da mochila. Granger a pegou e se jogou na cama, entediada. Abriu e deixou as folhas de lá se espalhassem pela colcha roxa. Escolheu uma e observou crítica seu desenho mais recente: faltava cor. Pegou um lápis na escrivaninha e coloriu aquele par de olhos profundamente expressivos. Azul. Bem melhor.
— Hermione, minha filha. – Disse o pai, do lado de fora. – Hoje você tem patinação. Não se esqueça.
— Eu sei, papai. Não vou esquecer.
Guardou as folhas na pasta novamente e foi tomar um banho para relaxar.
Granger entrou no ringue de patinação tremendo de frio – um frio diferente, desconhecido –. Uma sensação estranha – ruim – invadia seu corpo, nascendo nos joelhos e desaguando na nuca. Estava com medo e todo aquele gelo a assustava.
Os patins oscilaram e ela perdeu o equilíbrio. Apoiou-se no corrimão, prevenindo-se do mico do tombo.
— Qual é, Hermione! – Sussurrou para si mesma. – Você faz isso há nove anos! O que está acontecendo?
Encostou-se na mureta e colocou as mãos nas coxas – ainda tremiam –.
Olhou para a pista e todo aquele gelo espirrando com as freadas da galera fez seu estômago revirar. As pessoas patinavam felizes e distraídas, com seus suéteres e tocas de lã. Riam, aprendiam, arriscavam e até caíam. Seu treinador bebia água do outro lado do ringue e, subitamente, Hermione foi tomada por uma sede incontrolável.
— Água. Água. Água.
Suava frio. Não entendia o que estava acontecendo consigo mesma. Aquele medo só aumentava e aumentava. Retirou os patins com pressa e jogou-os no canto da pista de patinação. Ela só queria sumir dali e beber um pouco de água.
Correu de meias para a ala dos banheiros, procurando um bebedouro. Curvou-se para beber e ficou lá durante um bom tempo. Ainda tremia quando acabou; e clamava a Deus por alguém que a protegesse.
“Eu quero o meu pai.”, pensou.
Virou-se para correr sem rumo outra vez, mas seu corpo gelado se encontrou a um outro, quente – muito quente –.
Seu coração estava disparado e a voz não saiu quando tentou gritar.
— O que você tem? – Perguntou, preocupado.
Ela não respondeu e encostou-se na parede. Deixou o corpo deslizar até o chão, onde enlaçou as pernas com os braços.
— Estou com medo. – Finalmente conseguiu pronunciar.
Ele se abaixou ao seu lado. Nunca havia a visto daquela forma, desprotegida e desarmada.
— Está tudo bem. Vai ficar tudo bem. – Disse, aconchegando a cabeça dela em seu ombro.
— Eu quero ir embora. – Sussurrou com a voz trêmula. – O que está acontecendo comigo? Eu não estou sendo eu.
— Acho que você está tendo uma crise de pânico. – Respondeu sério. – E mais uma vez, sobrou o garotão aqui para te salvar.
— Me tira daqui. – Disse, ignorando o comentário dele. – Me tira daqui...
Ele se levantou e colocou-a de pé. Então, finalmente, ela o olhou nos olhos. Aqueles profundamente expressivos olhos azuis.
Hermione respirou fundo. Segurava as mãos dele com força, enquanto as suas paravam de tremer lentamente. O som dos patinadores rindo e gritando foi ficando mais baixo. Só era possível ouvir sua respiração falha e levemente trêmula.
— Está melhor? – Indagou, com sincera preocupação.
Hermione olhou para seus ombros, os braços e, finalmente, as mãos – coladas às dela. –. Subitamente, caiu em si e largou-o, num arranco.
— Estou. – Respondeu seca. – Até que para um babaca você está quebrando bem o galho.
Ronald deixou o queixo pender, surpreso.
— Garota, será que pelo menos uma vez em sua vida você poderia fingir entender que o mundo não gira em torno de você?! Essa é a segunda vez que você é praticamente salva por mim.
— Ponha-se no seu lugar! – Disse alterada. – Este é o resultado quando se dá crédito a pobre.
Ele franziu a testa e riu alto.
— Como você é inacreditavelmente tola!
— Não seja petulante.
— Ingrata!
— Ingrata, eu?! – Perguntou irônica. – Você fez apenas um favor à humanidade.
Ronald revirou os olhos e começou à caminhar de volta para a pista de patinação.
— Eu não preciso de ninguém para me salvar! – Gritou ela, às suas costas.
— Não é bem isso. Você, simplesmente, não merece. – Respondeu, já no fim do corredor.
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