A OFERENDA - Season 2 escrita por Lervitrín8


Capítulo 5
Capítulo 04.


Notas iniciais do capítulo

Mudei meus planos? Sim! Quem me conhece sabe que não consigo ficar segurando capítulo pronto! hahahaha.
Vou tentar responder a todos os comentários agora. Ah, não vejam o site antes de ler, afinal, sempre há spoilers. HAHAHAHA
Espero que vocês curtam. Boa leitura.



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“Não Lex!” eu grito, assim que percebo que aquilo está ocorrendo de verdade. Harrison, depois de tentar entender como funciona a periodicidade dos buracos, responsáveis por todas as mortes, começou a apresentar comportamento muito estranho e agressivo. Ninguém mais conseguia conviver com Harrison, que além de tudo, foi o causador de uma das mortes, empurrando uma pessoa na direção de um buraco recém aberto, caindo num abismo escuro sem a certeza do que iria encontrar depois. Quando Lex percebeu a ameaça que tínhamos em nosso grupo, resolveu livrar-se dela, mas Harrison teve a mesma ideia, embora Lex não represente perigo para os demais.

“Fique longe, Kate”, foi o que Lex me disse, antes de receber um soco no lado direito do rosto. Os demais estavam imóveis, acompanhando o confronto. Na realidade, todos sabiam que, mais cedo ou mais tarde, precisaríamos acabar com Harrison. Lex o segurou pelo pescoço e o prensou na parede rochosa da Caverna. Harrison chutou Lex com toda a sua força, que retribuiu socando a cabeça do garoto contra a parede. Harrison se debatia, enquanto suas mãos atacavam o rosto de Lex, que se mantinha firme sem hesitar.

Lex soltou o garoto e correu em direção ao local onde deixamos nossos objetos. Harrison o seguiu, correndo a toda velocidade. Lex olhou para trás e percebeu que ele se aproximava rapidamente. Sem contar muito tempo, Lex pegou algo do chão e virou-se para receber o corpo de Harrison se chocando contra o seu. Lex vai ao chão, suportando o peso do outro e, só então, percebi que a estaca de metal atravessava o corpo de Harrison.

Acordo ofegante ao repassar a cena mentalmente enquanto dormia. Meus olhos estão pesados e demoro alguns segundos para identificar onde estou: de volta a campo. Levanto prontamente e olho em volta, na tentativa de identificar algo ou alguém, porém, a única que consigo identificar é uma ponte a alguns quilômetros. A única coisa que me vem à cabeça é a possibilidade de tomar água, embora não acredite na possibilidade de existência de água potável aqui.

A caminhada foi longa e exaustiva. Apesar de ter me alimentado ‘bem’ nos últimos dias, meu corpo está cansado e por não ver possibilidade de melhorias, meu psicológico está um pouco abalado. Parecia que a cada passo que dava para frente, eram três para trás. A ponte não parecia se aproximar de modo algum, todavia, permaneci forte até o fim. Ao chegar ao local percebo a presença de um garoto dormindo sobre a ponte, rapidamente identifico como sendo o oriental do E18, Won, trocamos algumas palavras no dia anterior.

― Won? – toco seu braço, chacoalhando seu corpo levemente. – Acorde.

Ouço o garoto resmungando, como se pedisse para permanecer mais alguns minutos dormindo, exatamente como os meninos do meu Experimento faziam toda vez que precisávamos acordar.

― Sou eu, a Kate – digo ao sentar ao lado do garoto.

Eu precisava acordá-lo de todo modo. Sabia que Won não era um garoto ruim, daqueles que me matariam na primeira chance. Sei também que a probabilidade de conseguirmos algo em dupla é maior do que sozinho, por isso, tê-lo ao meu lado seria benéfico, sem falar que faria bem para a mente também.

― Acorde, Won! – falei mais uma vez, balançando-o com mais forte. O garoto abre seus olhos e abre um leve sorriso ao me ver.

― Difícil de me fazer acordar? – ele questiona ao sentar-se.

― Mais do que você imagina – respondo brincando.

― Que local é esse? – ele olha para os lados, tentando identificar onde está.

― Maltrak, lembra? – comento.

― Infelizmente sim – ele responde.

― Eu acordei a alguns quilômetros daqui e a ponte era a única coisa que eu conseguia identificar – explico. – Tive sorte de encontrá-lo aqui.

― E o que devemos fazer? – ele pergunta, nitidamente intrigado com a situação.

― Será que podemos tomar da água que corre sob a ponte? – questiono. Won levanta-se e debruça seu corpo sobre o apoio da ponte, olhando pequena faixa de água corrente.

― Acredito que não – ele responde. – Não seria ruim.

― Não teríamos água tão fácil assim – sorrio decepcionada e ele assente com a cabeça. – Acho que deveríamos caminhar em direção à cidade – aponto para o local onde existem diversos prédios, embora distante, é a nossa única opção.

― Acredito que seja o melhor a fazermos – ele diz.

A caminhada é bastante longa, inúmeras vezes maior do que a distância entre o local que acordei e a ponte. Won não e muito de conversar e eu decido respeitar o seu jeito, sua opção. Porém, em todo o trajeto ele andou próximo a mim, do meu lado ou um pouco atrás e eu me senti completamente protegida com a sua presença, se bem que não há com o que se preocupar aqui. Estamos em um local totalmente aberto, repleto de areia e pedra e sem sinais de vida por perto.

Não tenho ideia de quanto tempo se passa até nos aproximarmos de um casebre, que fica consideravelmente antes dos prédios. Estou exausta e a noite se aproxima, não sei se chegaremos antes do anoitecer ao local desejado.

― Será que não é melhor parar e descansar aqui? – sugiro um pouco constrangida por desejar interromper nossa caminhada.

― Tudo bem – ele se limita a dizer, me deixando um pouco desconfiada por tamanha rapidez em responder.

― Mm, ok – esboço um pequeno sorriso e tomo a iniciativa de entrar no casebre primeiro, que possui a porta entreaberta. O local não é muito grande, deve ter o tamanho das salas individuais que Ambrol nos ofereceu. O casebre de madeira continha apenas feno, provavelmente utilizado para os animais. De todo modo, seria mais confortável dormir ali do que ao relento.

Won entra em seguida, deixando a porta aberta, com intuito de iluminar o local. Ele avalia o local e parece se dar por satisfeito, considerando as opções que temos.

― Passaremos a noite aqui? – ele questiona.

― Acho que sim. Você concorda?

Aham – ele assente ao caminhar em direção ao feno e organizá-los lado a lado.

― Estou com fome – reclamo, mesmo sabendo que não há o que fazer.

― Eu também estou – ele concorda. – O que vocês costumavam comer na Caverna?

― Descobrimos que todos os dias surgiam alimento de uma espécie de buraco, sempre próxima de onde estávamos, não importa o quanto caminhássemos. E era basicamente daquilo que sobrevivíamos – explico. – E vocês?

― Cocos, na maioria das vezes – ele responde. – Dávamos sorte quando pegávamos algum peixe que vinha parar na faixa de areia ou sobre as pedras e não conseguia voltar pro mar.

― E essa pulseira? – questiono. – Tens desde que acordou na Ilha?

― Não – responde seco.

― Não precisa comentar, se não quiser – digo, tentando aliviar o clima. Won termina de arrumar o feno, formando uma espécie de retângulo. Ele deita sobre o local, deixando o lugar encostado à parede para mim, que rapidamente ocupo.

― Era de um grande amigo que fiz na Ilha – ele explica. Com o tempo, me apeguei muito ao Mark, se tornou um irmão para mim. Infelizmente ele não conseguiu chegar até o fim.

― Entendo – ele parecia desconfortável ao falar disso e então, resolvi permanecer em silêncio. Não muito tempo depois, passei a escutar a respiração calma de quem dorme profundamente e foi então que percebi que essa seria uma noite difícil pra mim.

Apesar de me sentir segura com Won ao meu lado, não consegui pegar no sono. O silêncio era quebrado somente pela respiração do garoto e aquilo estava me levando à paranoia. Levantei, tentando não me movimentar muito, para não acordá-lo. Caminhei de um lado para o outro dentro do casebre, incansavelmente, por longos minutos. Quando cansada, sentei ao chão e escorei minhas costas na parede de madeira, e por fim, meus olhos se fecharem. Brevemente. Ao escutar barulhos de passos se aproximando do casebre meus olhos se abriram rapidamente.

― Won? – chamo em voz baixa, não o suficiente para acordá-lo. A porta está semiaberta e ir despertar Won poderá me entregar.

Levanto sutilmente e encosto meu corpo na parede, ao lado da porta. Os passos estão mais próximos, porém noto que a pessoa diminuiu a velocidade. Quando os passos cessam, imagino que a pessoa está o mais próximo possível da entrada, e por isso, tranco minha respiração por alguns segundos. Quando o corpo passa correndo pela entrada, em direção ao fundo do casebre sem me notar, sei que é a minha chance de correr e sobreviver. Olho para trás constantemente e percebo que o garoto me viu, porém, preferiu continuar com seus planos.

Corro com toda minha força em direção aos prédios e ao longe escuto os gritos de dor, supondo ser de Won. Com o tempo não escuto mais berro algum, não sei se devido à distância ou... à morte.

Continuo correndo até minhas pernas se negarem a realizar o movimento que meu cérebro solicita. Tropeço em meu próprio pé e vou ao chão, sem forças para me levantar. O tempo todo imagino o garoto me alcançando e tirando minha vida também, mas, estou ofegando e ainda jogada ao chão, meu olhos pesam e se fecham vagarosamente.

Assim que a luz retorna à cidade, meus olhos se abrem e vibro por ter sobrevivido à primeira noite de Maltrak. Caso eu tivesse dormido ao lado de Won, provavelmente seríamos os dois primeiros mortos. Interrompo meus devaneios ao perceber que os prédios estão a alguns passos de mim, o que justifica o cansaço em minhas pernas antes de tombar. Levanto rapidamente, verificando se não existe ninguém próximo em nenhuma das direções, e como sempre, tudo tão vazio.

Não sei se é seguro entrar em algum desses prédios, afinal, me parecem tão antigos que não sei se suportariam um peso a mais antes de desmoronar. Continuo caminhando entre os prédios e admito, o único pensamento que me ocorre é encontrar água ou comida.

Passo por um beco sem saída e vejo um tipo de movimentação no final da rua e, após sair do campo de visão, começo a correr desesperadamente, acreditando que mais um assassino – se não o mesmo – pode estar ali. Escuto passos atrás de mim, tento aumentar a velocidade com que corro, mas, parece que a pessoa também esta aumentando. Evito olhar para trás para não me distrair e então, me surge uma alternativa. Repentinamente, paro de correr e encolho meu corpo junto ao chão, como se fosse uma pedra no caminho. Sinto as pernas da pessoa se chocarem contra o meu corpo rígido e vejo-a voar de encontro ao chão.

― Ai – ela geme baixinho e começa a rir logo em seguida. – Não imaginei que você faria isso.

― E eu não imaginei que era você que estava me perseguindo – acho graça também. Levanto e estendo minha mão para levantá-la.

― Queria testar sua resistência física – Serena responde, me abraçando logo em seguida.

― Você deveria ter visto a distância que eu corri essa madrugada – comento. – Ficaria orgulhosa.

― E correu por quê? – ela me estende a mão e juntas caminhamos em direção... Bem, em direção nenhuma.

― Encontrei Won, o oriental do E18 próximo a uma ponte – explico. – Passamos o dia juntos e, próximo da noite, encontramos um casebre, para repousarmos. Acontece que alguém invadiu o local na calada da noite, felizmente eu consegui fugir, porém, acho que Won já era.

― Fico feliz que não tenha sido você – ela sorri.

― Eu também – assinto com a cabeça. – E o seu primeiro dia?

― Sozinha o tempo todo – ela dá de ombros. – Acordei dentro de uma lixeira em um desses becos e resolvi passar o dia de beco em beco, procurando algo para comer.

― Não encontrou ninguém? – pergunto intrigada.

― Vi o outro oriental, o do E21 e uma menina correndo por essa rua, enquanto eu estava em um dos becos. Mas eles não estavam sendo seguidos, nem nada do tipo, corriam por vontade própria.

― Será que descobriram algo? – questiono.

― Poderíamos seguir na mesma direção – Serena sugere.

― É seguro? – deixo transparecer um pouco de receio.

― Não – ela rapidamente enfatiza –, mas pode ser nossa chance de sair daqui.

― Vamos – afirmo. – Caminhando, não aguento mais correr – brinco.

― Certo.

Caminhamos a manhã inteira e no início da tarde começamos a intercalar corrida e caminhada – julgamos o início da tarde a partir do momento em que o sol passou sobre a linha central imaginária no céu. A estrada é bastante extensa e em saída. Um muro comprido interrompe a estrada, fazendo-nos optar em ir para esquerda ou direita.

― Acho que para esquerda voltaremos para o imenso deserto que eu estava ontem – opino, sem saber se a informação é de fato, real.

― Vamos para a direita então – ela diz.

O caminho à direita segue rente ao muro e, em poucos minutos de caminhada, identificamos que existem outras quadras como aquela em que estávamos. A cidade não parece ser pequena, muito pelo contrário.

Adentramos em uma área onde os prédios e as estradas estão pintadas com tinta branca e não desgastada, como se a pintura fosse recente. Assim que invadimos a área, sinto um mal estar tomar conta do meu corpo e, sem contar tempo, sinto ânsia de vômito e em segundos ponho a bile para fora, afinal, não há mais o que sair.

― Estou com muita dor de cabeça – Serena reclama. – Está tudo ok aí?

― Definitivamente não – vomito um pouco mais, fazendo meus olhos lacrimejarem.

― Você escutou? – questiona.

― Meu vômito? – brinco. – Escutei.

― Não, Kate. Shhhh! – ela põe um dedo sobre a boca, pedindo silêncio. – Tem alguém vindo, temos que ir.

Ela pega em minha mão e me puxa para dentro de um dos prédios do outro lado da rua, que não faz parte da zona branca. Prontamente me sinto melhor e Serena também parece estar bem. Ainda no térreo, ficamos observando pela janela e avistamos o oriental passar correndo acompanhado por uma garota de cabelos loiros. Ficamos em silêncio até que eles retomem o caminho rente ao muro.

― Estão mapeando a área – ela comenta pensativa.

― Então não encontraram nada de importante nesta quadra – suponho.

― Provavelmente não – concorda. – Você notou que eles evitam a área branca?

― Foi só sair dela que me senti melhor – acrescento.

― Há algo estranho lá – Serena conclui. – Por isso está demarcado. Não nos aproximaremos mais.

― Certo – assinto. – Acho que devemos segui-los – sugiro, saindo de perto da janela.

― Cautelosamente – ela sorri de canto.

― Exatamente.


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Notas finais do capítulo

E então, o que vocês acharam? Espero que tenham curtido, assim como eu =D
No site dA Oferenda temos uma enquete, questionando de quem deve ser o PoV do próximo capítulo do Spin-off do Experimento 26. Votem lá ;)
Enfim, sugestões, comentários e críticas são bem recebidos! Beijos e até mais.