Lipstick & Cigarettes escrita por Mylanessa


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

Shikamaru Centered.



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Apercebeu­-se de que queria um cigarro. Era a primeira vez, desde muito tempo. Na verdade, desde a noite do enterro de Asuma. Mas, na atual ocasião, a dor do luto não era a razão para aquele seu estranho capricho.

Procurou nos bolsos da calça o isqueiro, seu amuleto inseparável. Depois, vasculhou os compartimentos de seu colete jounin em busca da pequena caixa que havia comprado num ímpeto de extravagância, que nem ele mesmo soube explicar. Abriu o maço de cigarros e retirou um. Acendeu.

Na primeira tragada, o gosto era um tanto amargo, meio ardente. A fumaça quente foi descendo pela sua garganta, fazendo o rapaz decidir-se que, de fato, aquele não era um dos sabores mais agradáveis que já experimentara em toda a vida. Mas não se importou com isso. Queria apenas usá-­lo como adorno para laurear aquele momento de inquietação. Uma travessura impensada, em vista de aplacar o mar revoltoso dentro do seu peito.

Soltando a fumaça para o ar frio de Konoha, ele observava sem interesse o céu escuro. Estava salpicado de estrelas veladas por nuvens que cobriam a noite como um lençol velho e puído. “Talvez o luar em Suna fosse mais bonito”, Shikamaru cogitou, deixando a mente vagar, traçando nela paisagens cor de cobre, encobertas pelo véu prateado do luar.

Enfiou mais uma vez a mão num dos bolsos da calça. Retirou lá de dentro o pedaço ínfimo de tecido fino que guardara secretamente desde aquele dia, é claro, sem que ela soubesse. Pendeu o pescoço para trás e esticou uma das mãos no ar, brincando com o lenço em meio a nuvem de fumaça que desprendia do canto de seus lábios. A brisa leve agitava o pedaço de pano acima do seu rosto.

Apertou o lenço frágil entre os dedos, como se através dele pudesse tocar, com sorte, em algum vestígio de sua dona. Então ele levou a parte manchada de carmim até o nariz, tragando o perfume dela misturado ao odor acre de cigarros. Nunca antes desejou tanto pelo calor violento do deserto. O deserto perigoso, de colinas douradas, da mesma cor dos cabelos dela. O deserto de sol incandescente que emanava labaredas semelhantes àquelas que incendiavam o seu peito.

Eram tão diferentes. Ela era sol e ele sombras. Com seu leque de guerra, ela era o sopro impiedoso da ventania que varre os relevos e planícies. Ele, com sua prudência e sabedoria, era a mansidão de um olhar que mira o curso das nuvens no alto de uma colina. Ela era o foco de luz abrasadora sob o qual todas as sombras dobravam-se, rendidas, contorcendo-se ao sabor do vento.

Mas algo de inexplicável parecia atrai-los, criando um elo insistente. Algo que unia a imponência daquela mulher aos seus modos despretensiosos de enxergar a vida. “A ausência de luz”, refletiu, “é outro nome que dão para as sombras". Shikamaru tragou do cigarro mais uma vez e expirou pesadamente. “Será que tem como isso funcionar?”, perguntou­-se, por fim, ouvindo o som da própria voz a zombar de si mesmo. Mas Temari, àquela altura, já estava distante. Tão distante que nem mesmo sua sombra poderia alcançá-­la. Mesmo naquela terra onde o sol brilhava ao seu favor. Era inútil.

Levantou-­se num suspiro lamentoso, atirando o que restara do cigarro no chão ladrilhado da praça. Botou um pouco de força nos pés para esmagá-­lo com o calcanhar. Recolheu os braços contra o corpo, sendo repentinamente desperto pela brisa do inverno rigoroso. Era fim de ano em Konoha. O frio fez seus pensamentos serem imediatamente dissolvidos com se atingidos por um balde de água fria.

Aspirou pela última vez o lenço e dobrou delicadamente aquele pedacinho de pano dentro do bolso. Era a única lembrança física que tinha dela. Não se aventuraria numa tarefa absurdamente complicada em tentar conseguir outra. Basta de loucuras. Além do mais, aquela era suficiente para uma simples lembrança. Ora, lembranças são assim, coisas simples, fragmentos da outra pessoa. Mas afinal, o que eram complicações perto da mulher pela qual foi se apaixonar? “Tão irônico.”

Seguiu seu caminho de volta pra casa. Andava devagar. O frio aumentava e seus músculos pareciam mais preguiçosos que o de costume. Castigou-­se pensando nela até o fim do trajeto, sem saber que a horas e quilômetros dali, Temari se castigava pelo mesmo curioso motivo.


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Notas finais do capítulo

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