Divergent escrita por GG


Capítulo 4
III


Notas iniciais do capítulo

Olá



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Eu me levanto do assento e caminho tranquilamente até o palco, bem, ao menos eu finjo estar tranquila pois minhas pernas bambeiam mais a cada passo que eu dou no caminho até o palco. Sinto meu coração acelerar, parece que ele vai sair da minha boca. Pego a faca que Marcus estende-me, ele parece já saber a minha escolha, ao menos acha que sabe o que eu escolherei, ele está esperando que eu deixe a minha gota de sangue cair nas pedras cinzentas da Abnegação, mas não é isso que eu farei, hoje eu irei surpreender todos daqui.

Faço um corte na palma de minha mão, talvez um pouco maior do que o necessário, e abro na direção das pedras, apenas para causar um impacto maior em Marcus, vejo que há pessoas realmente prestando atenção em mim, sou filha de um conhecido líder de facção, Marcus Eaton é um nome falado por toda Chicago, tenho certeza disso.

Assim que a gota ameaça pingar nas pedras cinzentas da Abnegação eu mudo o meu rumo, é aí que eu mudo minha vida inteira, apenas um segundo mudou toda uma vida. A gota cai nas brasas ferventes da Audácia e em poucos segundos se desfaz.

O choque está estampado no rosto de Marcus, a multidão enfurecida da Audácia grita em comemoração e eu caminho animadamente até lá, sou recepcionada por vários desconhecidos, eles me abraçam o que me deixa um pouco corada, O.K, mais vermelha do que um tomate. — e me congratulam pela 'boa escolha'.

Marcus está me encarando odiosamente, abro um sorriso vitorioso para ele, para provocá-lo ainda mais, funciona, ele dá-me as costas e mescla-se aos outros abnegados. As facções começam a se dissipar do edifício, os integrantes começam a retornar para os seus complexos.

Começo a seguir os integrantes da Audácia para misturar-me, eles correm escada abaixo mas não é para ceder o lugar para os outros nos elevadores apertados, é apenas para desfrutar das delícias da adrenalina, corro mas fico para trás, ao menos não sou a mais atrasada, duas garotas e um garoto ficam em meus flancos, eles parecem se esforçar bastante para não pararem agora mas duvido muito que os outros os espere, acho que a iniciação já começou agora mesmo, desde o momento em que deixamos nosso sangue cair nas chamas crepitantes da facção dos corajosos.

Minhas pernas começam a suar na altura em que chegamos ao calçamento, estamos nos aproximando das bases da ferrovia, não conseguia acreditar que eles estão realmente escalando aqui — eles não, nós. —, imito-os rápida e cuidadosamente, não olho para baixo pois sei que se o fizer irei acabar despencando por causa do meu medo de altura, respiro fundo e conto até chegar ao topo da estrutura, quando chego tenho que correr atrás de um trem em movimento, nem acredito que escolhi essa vida cheia de esforços físicos.

Assim que pulo dentro do trem me sinto maravilhosamente cansada, minhas pernas gritam por descanso, fico encostada na parede metálica do transporte, ofegante e tentando reorganizar a minha respiração. Funciona após uns segundos, é quando eu escuto alguns gritos e coloco o rosto para fora, vejo duas garotas despencando da estrutura e um menino prestes a cair, ele logo cai e grita com elas, eu sinto-me terrível por não poder fazer nada, fico encarando o longe.

— Alguém tem que ajudá-los! — exclamo assim que escuto os gritos, me levantando com certa dificuldade do chão metálico e começo a me pendurar na porta do trem, estou prestes a saltar de volta para a ferrovia estreita quando uma mão grande agarra-me pelo ombro.

— Já era, menina. — diz a voz masculina me puxando de volta, eu caio no chão com o garoto ao meu lado, logo me sento e aperto meus braços ao redor de minhas pernas, desesperadamente.

— Eles....eles morreram!

— Sim. — ele assente rapidamente.

— E ninguém liga! — eu digo indignada.

— Não há nada que possamos fazer, menina.

— Eu tenho um nome, sabia?

— Adoraria saber. — ele diz brincalhão, eu quase rio, riria se não tivesse acabado de presenciar três mortes agora mesmo, abro um sorriso bem fraco, um vislumbre de sorriso na verdade.

— Magdalena. — eu digo timidamente, minhas mãos tremendo por causa da terrível cena que acabei de presenciar.

— Eu sou Luke Jacobson. — ele se apresenta e beija a minha mão com um sorriso gigante no rosto, rio baixinho e meu rosto fica corado em questão de segundos, eu sempre fui ensinada a rejeitar esse tipo de demonstração de afeto publicamente mas sempre achei desnecessário desencorajar algo assim, é tão doce, puro e bonito. — Tem certeza que sempre viveu na Abnegação?

Nem preciso perguntar como ele sabe, as vestes falam por mim, mexo nas vestes nervosamente, não irei me reconhecer sem elas mas ao mesmo tempo parece errado continuar com elas, será impactante quando finalmente puder olhar o meu rosto no espelho.

— Não devemos ficar falando de nossas antigas facções, lembra? — eu indago tentando mudar o rumo de nossa conversa, ele assente rapidamente, parecendo constrangido.

— Bem, espero que lá na Audácia eles tenham um complexo tão interessante quanto o da Erudição!

— Foi de lá que você veio? — a pergunta é óbvia mas escapa de meus lábios antes que eu possa contê-la, ele assente com um sorriso no rosto.

— Deixei para trás pais e dois irmãos.

— Como era lá...na Erudição? — eu pergunto e percebo que eu mesma estou me contradizendo, mas o garoto parece não se importar, ele desliza para o meu lado e ficamos sentados no chão sem nos importar com o que nos espera lá na Audácia.

— Era bastante bom.

— O que fez você deixá-la…? — indago e seu rosto fica sem uma expressão definida, mordo meu lábio inferior me sentindo idiota por feito uma pergunta tão indiscreta quanto esta. — Não precisa responder, finja que eu não lhe perguntei isso. Afinal eu mesma não responderia.

— Está tudo bem. — ele diz. — Eu saí de lá pois nunca fui inteligente o suficiente, sabe? E na iniciação da Erudição há uma bateria de testes para saber se você é suficientemente inteligente para fazer parte dos grupos de elite e de verdadeira importância e eu não teria chance alguma nesses testes, foi por isso. Mas fico triste por deixar minha família para trás.... Vou sentir saudade até dos meus irmãos mais novos.

— Sinto muito por isso. — eu digo e ele sorri encontrando compaixão nas minhas palavras.

+++

— Eles estão pulando do trem para aquele prédio, tipo, de verdade?! — eu pergunto para Luke nada calma, ele ri baixinho e levanta-se, puxando-me juntamente com ele, levo um susto e quase caio mas ele me segura com suas mãos.

— Sim, e acho que está na hora de nos juntarmos a eles, não acha?

— Pular do trem…? Tenho um pouco de medo.

— Venha comigo, não precisa ter medo, vamos conseguir. — ele estende a mão e eu novamente hesito mas logo a pego. — No três. Conte pra mim.

— Um. — eu digo enquanto estamos perto da beirada, se nós formos devagar acabaremos presos nesse trem e nos tornaremos uns sem-facção, não quero isso, preciso provar que sou realmente corajosa, que pertenço a este lugar e não a Abnegação. — Dois....

— Três! — ele grita quando fico paralisada, juntos nós caímos no topo de um prédio, rimos alto, levanto com certa dificuldade e tiro a poeira de minhas vestes.

— Foi divertido! — eu digo soando surpresa, e realmente foi divertido pular de um trem em movimento, mesmo que pareça inacreditável.

— Deveríamos repetir a dose. — sugere Luke piscando, eu rio alto e espero por uma repreenda mas ela não vem, é aí que lembro que não estou mais na Abnegação, agora eu sou livre. Com esse pensamento o meu sorriso se alarga.

Vamos nos juntar aos outros que estão reunidos perto da ponta do edifício em que nos encontramos. Quando chego mais perto encontro um homem discursando na ponta do fim do edifício, se fosse eu com certeza cairia, do jeito que sou desastrada. Encarei o desconhecido e ele era o perfeito estereótipo de endiabrado da Audácia.

Ele tem olhos com um fervor escuro, uma pele clara que contrasta com o metal das dezenas de piercings espalhados pelo seu rosto, o cabelo loiro está penteado para trás com mais creme ou gel do que o necessário e quando ele sorri alguns piercings são repuxados dando a impressão de que ele é todo de metal. Meu pai o teria chamado de endiabrado nas mesma hora e se afastado dele.

— O meu nome é Eric, sou um dos líderes da Audácia. — disse ele enquanto eu o encarava fixamente, havia algo em seu rosto que não deixava que eu desviasse o meu olhar, quase hipnótico. — E estou aqui para dizer que o próximo passo da iniciação é adentrar o Complexo da Audácia.

— E quando vão colocar uma escada para descermos? — indaga uma garota de cabelos ruivos e olhar desolado. Pelas suas vestes, presumo que ela tenha se transferido da Erudição, o cabelo ainda puxado num coque e um óculos deslizando pelo nariz.

— Qual é o seu nome, iniciada? — pergunta Eric observando-a meticulosamente.

— Emmeline Johnson. — ela diz com um olhar altivo.

— Minha cara Emmeline Johnson, você não é corajosa o suficiente para pular? — pergunta Eric com a voz macia, como se estivesse acariciando cada palavra proferida.

— Pu....Pular? — indaga a garota soando assustada, nesse momento todos estão olhando atentamente para a conversa entre os dois. — É loucura pular, é ilógico fazer isso, visto que ainda não conheço o ambiente, é burrice.

— Você fala como uma erudita. — rosna Eric.

— Eu vim de lá, o que você esperava? — perguntou a menina cruzando os braços, Eric encarou-a com um olhar assustador.

— Então que alguém corajoso pule daqui, e logo, não tenho o dia todo. — ele diz revirando os olhos.

Ficamos quietos. Eu comecei a pensar em Tobias, ele deve ter pulado para o Complexo há poucos anos atrás, ele deve ter sido corajoso, o primeiro a pular, e eu estava tão ansiosa para vê-lo. Dei um passo para frente fazendo com que todos dessem um para trás, afastando-se instintivamente.

— Vocês vão mesmo deixar uma Careta pular primeiro? Eu teria vergonha. — diz Eric ferozmente.

— Não sei se você percebeu, — eu digo me aproximando de Eric, é como um surto de adrenalina com coragem de brinde. — mas agora eu não sou mais da Abnegação, pertenço a Audácia.

— Isso é o que veremos, Careta... — murmura Eric. — Agora vá, prove sua coragem!

Eu sorrio aceitando seu desafio, retiro o casaco cinza de lã que me envolve e ouço risadas ao longe. Eu fico apenas com as calças largas e a blusa que é uns quatro números maior que o meu, respiro fundo.

Inclino-me e penso em Tobias, penso em meu irmão que não vejo faz tanto tempo, sinto saudade dele. E quando vejo estou caindo no aberto, o ar chicoteando o meu rosto acaba se tornando um calmante quando caio numa rede que balança e chacoalha meu corpo de volta.

Rio alto, estou segura.

Vou rolando para a 'saída' da rede e quando o faço uma mão me ajuda a descer, assim que encaro o garoto que me ajudou, eu vejo um rosto conhecido.

É Tobias Eaton, o meu irmão.


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