Divergent escrita por GG


Capítulo 18
XVII


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores!
Eu planejava terminar a fanfic no vigésimo primeiro capítulo mas uni um capítulo a outro e agora ela termina no vigésimo. Bem, muito obrigada por tudo e boa leitura ♥



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O dia se arrastou de uma forma inacreditável.

Eu quase desmaiei de sono várias vezes mas na hora do almoço me entupi de café, minhas olheiras profundas ainda assim chamavam bastante atenção e eu desisti de tentar disfarçá-las. Não falei com Tobias ou Tris mas sabia que logo ele veria as gravações da madrugada, por isso planejava ir até a casa deles para falar sobre aquilo, não suportaria guardar tantas coisas só pra mim, apenas o inferno que Eric fazia na minha vida bastava por enquanto.

Foi extremamente difícil passar pelas simulações do medo, parecia que eu enfrentava Eric em cada um deles, mas de maneira diferente, era quase como se ele fosse toda a analogia dentro dos meus medos, ele era indiretamente todos eles e aquilo deixou Tobias irritado, ele tentava me fazer falar mas eu não conseguiria falar sobre aquilo, não podia colocá-lo em risco, não mesmo, preferia guardar só pra mim.

Eric me fazia sentir em um relacionamento abusivo sem nem mesmo estar em um relacionamento, ele despertava os piores sentimentos em mim, ódio, rancor, medo, horror, repulsa… E aquilo me fazia tão infeliz e insignificante que eu só tinha vontade de passar todas as madrugadas treinando o combate corpo a corpo solitariamente imaginando o momento em que eu poderia usar contra ele.

— Tobias, eu posso… posso passar na sua casa hoje? Eu precisava conversar com você e com a Tris. — eu digo quando terminam as simulações de medo, ele parece concordar.

— É claro que pode. — ele diz e eu faço algo automaticamente, eu abraço-o apertado e deixo as lágrimas escorrerem, ninguém poderia me olhar torno na saleta de espera já que todos pensariam que era por causa das simulações, eu fico ali abraçada com meu irmão por bons minutos, e nem consigo lembrar de tê-lo soltado.

+++

Eu durmo por algumas horas que passam voando, espero passar da meia-noite para esgueirar-me até a casa de Tobias e Tris, temerosa pensando em encontrar sem querer com Eric. Sou o mais discreta que consigo e já me sinto bem mais revigorada apenas com as poucas horas que dormi até agora. Coloco roupas limpas, eu comprei algumas novas recentemente já que minhas marcas nas pernas estão praticamente desaparecidas e já poderei usar saias ou shorts muito em breve. Ponho calça jeans preta e uma blusa que encontro no escuro.

Conheço a maior parte desses corredores e agora já não me perco mais. Peguei-me sonhando com Lola, a menininha sem-facção abandonada pela mãe. Gostaria de encontrá-la novamente e trazê-la para perto de mim, para essa falsa segurança, para esse falso abrigo, para essa falsa calmaria. Mas então penso em como eu só pioraria a vida da coitada da menina, é perigoso demais estar perto de mim. Então reformulo mentalmente o que desejo, desejo poder ajudá-la sem piorar sua situação, dar-lhe abrigo e comida, segurança e amor.

— Entre. — diz Tris me puxando para a casa dela e de Tobias, é tudo familiar para meus olhos agora. A disposição dos móveis, o quarto deles, o quarto vago, a cozinha, os banheiros, a sala e o escritório, é tudo tão conhecido quanto a minha antiga casa, mas aqui eu me sinto segura e acolhida.

Nos sentamos nos sofás da sala de estar e eu engasgo antes de começar a falar, mas então as palavras pulam de meus lábios em uma velocidade incontrolável, eu conto tudo sobre ontem, minha escapada da Audácia e meu encontro com Evelyn.

— Você mentiu pra mim, Lena. — afirma Tobias parecendo chateado. — Mas eu não deveria tê-la privado disso, ela também é sua mãe, é claro que isso te deixaria ansiosa e curiosa, me desculpe por isso mas você não pode ficar saindo do complexo assim, do nada. Da próxima vez pelo menos me avise, e...me leve, por favor.

— Obrigada, Tobias. — eu digo me sentindo um tanto aliviada, é claro que seria bem melhor se eu contasse sobre Eric mas não posso envolvê-lo nos meus problemas tão perigosamente, eu sei que ele sabe que eu escondo algo já que me fita tão demoradamente, é como se ele conhecesse todos os indícios de um segredo vindo de mim.

— Agora entendi seu cansaço hoje. — diz Tris. — Não deveria descansar? Talvez seja melhor dormir aqui hoje, está tão tarde.... se alguém vê-la andando por aí pode ser ruim.

— Eu....eu posso? — pergunto tentando domar minhas pálpebras que parecem pesar toneladas, Tris e Tobias sorriem e assentem juntamente.

Tris e eu arrumamos a cama do quarto de hóspedes, ela me dá travesseiros e cobertores confortáveis, eu dou boa noite para eles e me aninho na cama convidativa e quente. E quando fecho meus olhos os pesadelos não me dão trégua.

+++

— MAGDALENA! MAGDALENA! — clama a voz conhecida e feminina, soa desesperada e ansiosa. Eu ouço gritos e choros de todos os lados mas esta voz destaque-se dentre os ruídos daquela confusão. É a garotinha do trem, é Lola.

Eu me viro na hora, e deparo-me com Lola ensanguentada e debatendo-se, é quase como se a vida dela se esvaísse bem diante dos meus olhos. Só consigo pensar em correr em sua direção, e logo eu sinto o cheiro pútrido da guerra, da devastação e da destruição.

É como se a morte estivesse impregnada em todos os lados.

Acordo na manhã seguinte reprimindo um grito preso na minha garganta, mas ao mesmo tempo eu sei que o pesadelo nada mais é que um lembrete constante do que pode estar bem próximo de acontecer, a guerra que Evelyn tanto mencionou noite passada pode, e será, exatamente assim.

Remexo-me na cama inquieta. Como posso dormir pensando em tantas coisas que me perturbam? Como posso terminar em paz a minha maldita iniciação? E o que virá em seguida? Saber que eu posso ter as respostas muito em breve talvez só piore meu estado, talvez eu só queira ser enganada ouvindo que tudo ficará bem, talvez eu só precise de um pouco de ilusão por algum tempo. Ou quem sabe eu deva fazer algo a respeito.

E com essas indagações, incertezas e ansiedade eu me levanto da cama.

+++

Último dia de simulações, fim da iniciação, resultado final.

Hoje é o último dia de tudo isso e o primeiro de uma nova vida, seja ela como integrante verdadeira da Audácia ou como a mais novas sem-facção. A ansiedade me envolveu como um cobertor quente nas noites de inverno nos últimos dias que se passaram. As classificações e tempos são incógnitas desde semana passada, pararam de revelar números, então ninguém sabe quão bem ou mal está no final das contas.

Pela primeira vez eu não desperto antes dos outros, estive tendo o mesmo pesadelo de todas as noites, com Lola. É quase como se sempre que vou me deitar alguém desse um maldoso replay em tudo que acontece, e nunca para. Pego minha roupa da iniciação, recebemos roupas novas ontem pela tarde, são parte da cerimônia de hoje e representam um começo ou fim, depende muito do que irá acontecer em seguida.

Respiro fundo quando somos todos chamados após o almoço, é como se estivesse acontecendo uma guerra dentro de minha mente, eu me sinto tão nervosa e perdida que só quero fechar os olhos, abri-los e despertar desse pesadelo que se arrasta insistentemente atrás de mim.

— Vai dar tudo certo, Lena. — diz Sam enquanto estou de cabeça baixa, levanto-me e forço um sorriso de agradecimento para ele. — Você é muito boa nas simulações, tenho certeza de que estará em boa colocação.

— Muito obrigada. — digo e penso em como seria maravilhoso se minha única preocupação fosse simplesmente passar na iniciação da Audácia, várias outras coisas estão martelando minha mente no momento. — Você também é ótimo.

E novamente o silêncio se instala. Fico nervosa por um momento ao pensar nos meus medos expostos para todos os líderes da Audácia visualizarem, e segundo Tris também haverá convidados da Erudição, conversamos sobre a guerra que Evelyn disse e Tobias contou-me que ela não estava mentindo nessa parte, uma guerra é praticamente inevitável, a caçada aos Divergentes é assustadora. E a Erudição tem divulgado notas mentirosas sobre a Abnegação, constantemente há esses ataques públicos por parte deles.

Desta vez não estamos na saleta de sempre, agora estamos na sala de espera do salão de iniciação, é completamente diferente de antes. Aos poucos vou ouvindo os nomes chamados abominando o momento em que chegará a minha vez. Contudo ela chega, é claro que chega, meu nome é chamado e eu me ergo da cadeira de plástico em que estive sentada pelos últimos minutos, ou seriam horas?, eu nunca saberia ao certo.

E arrasto-me até o verdadeiro ninho de cobras.

+++

Eu os enfrento um a um, os meus sete medos.

Passo pelo meu medo de decepcionar aqueles que amo, de retornar a minha antiga vida, de ser responsável pela morte de um inocente, o medo do confinamento que adquiri por causa dos castigos de meu pai, a culpa que sempre me persegue, o medo da chantagem e por último o medo de ser abandonada.

Quando termina eu desperto arfante na poltrona nada confortável das simulações, com vários olhos me fitando demoradamente. Me sinto tão observada que meu rosto cora quando dou uma olhada rápida nas pessoas da sala de iniciação.

— Parabéns pelo resultado, foi o melhor até agora. — diz a voz de Jeanine Matthews, meu coração reverbera e sinto a minha respiração parar. Tobias me falou sobre ela, ela está metida diretamente com as mortes dos Divergentes, ela mesma declara guerra contra nós. Forço um sorriso e agradeço.

Mas ela não para de me olhar nem por um segundo.

Eu saio daquela sala mas é como se seus olhos expressivos não saíssem dos meus, era quase como um feitiço.

+++

— ATENÇÃO, INICIADOS! — grita Adrian Castellan assim que todas as simulações terminam. Os Eruditos continuam no complexo, eles aparecem a todo momento desde a minha chegada, eu pensei que talvez viessem resolver assuntos diplomáticos importantes mas Tobias disse-me que é sobre os Divergentes, meu coração gela ao pensar em Eric contando sobre mim para algum deles, eu estaria morta.

Adrian atrai toda a atenção do complexo, estamos amontoados no fosso aguardando ansiosamente os malditos resultados que surgirão em um telão onde todos poderão ver.

— COM VOCÊS O RESULTADO. — e então ele surge nas paredes de pedra como boas-vindas ou uma ordem de despejo.

Lena Sam Mike Quinn Norah Cameron Gwendolyn Dimitri Julian May

Os dez nomes reluzem como pedras preciosas, eu abro um sorriso ao ver o meu nome, na primeira colocação. A comemoração é instantânea, há também a lista dos nascidos na Audácia, a lista deles não conta com somente dez pessoas mas sim quinze, é como um bônus por já ter nascido e vivido aqui por tanto tempo.

Sou arrastada por pessoas que nem mesmo sei o nome, mas logo uma fila rígida se forma nas saídas. Ouço os líderes gritarem para nos ordenarmos antes de sairmos por ali, antes de comemorarmos de verdade, eu obedeço prontamente. E sinto meu coração acelerar, será que é agora que me matam? Será que é agora que a líder da Erudição aparece e me descobre?

Eu não entendo até chegar perto, Eric está pondo algo nos pescoços das pessoas, ele sorri abertamente quando chega a minha vez, mas não injeta nada em mim apenas me puxa para seu lado e ordena que eu fique quieta e não saia de perto dele.

— O que é tudo isso? — eu pergunto baixinho, não consigo simplesmente reprimir minha curiosidade, as palavras fluem automaticamente de mim, Eric não parece irritado com a minha pergunta.

— São localizadores. — ele diz calmamente enquanto injeta mais um desses em uma garota que sai rapidamente.

— As pessoas costumam se perder frequentemente por aqui? — eu inquiro curiosamente, ele me lança um sorriso e me puxa para perto dele, sinto vontade de vomitar só por essas simples aproximação.

— Não se preocupe, vou te proteger, está segura aqui comigo. — ele diz e termina de injetar os tais localizadores, eu me desespero pois vejo tantas pessoas da Erudição, e então algo encaixa na minha mente, isso só pode ter ligação com Divergentes, guerra, Erudição e Audácia.

— É pra encontrar os Divergentes, não é? — eu indago baixinho, Eric me encara fixamente. — Por isso não injetou em mim, eu....eu...

— Só fique quieta.

— Onde estão os outros…? Os....os

— Seu irmão e a namoradinha idiota dele? — ele indaga franzindo o cenho. — Ora, Lena, não tente disfarçar. Eu sei que são eles.

— Onde eles estão, Eric?

— A brincadeira só está começando, querida.


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