Divergent escrita por GG


Capítulo 17
XVI


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores!
Nem demorei tanto dessa vez, mas é que fiquei dois dias em casa sem ir a escola e acabei de escrever a fanfic, ela vai até o décimo primeiro capítulo. Vou postar um capítulo por semana até chegar ao fim e gostaria de saber se vocês leriam uma continuação, pois será realmente necessária para dar sentido a história.... Bem, boa leitura ♥



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Tenho pesadelos noite após noite.

Os meus medos me perseguem até mesmo quando estou adormecida, quando deveria ser meu momento de repouso e descanso. Eles sempre estão ali a espreita, prontos para me destruir mais uma vez. É na quinta noite que eu decido não voltar a dormir, levanto-me da minha cama e suspiro.

Não consigo mais suportar aquela repetição de medos, é claro que tem me ajudado bastante nas simulações, é quase fácil demais enfrentá-los já que estou terrivelmente acostumada com os pesadelos que me atormentam. Mas não preciso mais disso, não preciso sofrer incontáveis vezes. E é por isso que eu tateio roupas decentes no escuro, para não acordar nenhum dos outros iniciados no meio da noite. Me troco rapidamente e tento dar um jeito nos cabelos rebeldes.

Esgueiro-me para fora do quarto e me sinto mais leve, paro na porta e deixo meu corpo desabar no chão. É como se eu pesasse toneladas. Preciso sair desse lugar, preciso respirar, só isso.

E é então que eu tomo uma decisão no mínimo arriscada.

+++

A segurança nessas horas não é das melhores, talvez Tobias esteja me observando agora mesmo contudo eu não vou me deter agora. Continuo passando pelos corredores, eu já fiz esse caminho antes, é só me lançar para dentro do trem, agora a meia-noite se aproxima.

Eu preciso fazer o que manda na carta, entrar no trem após meia-noite e procurar por Evelyn, talvez acabe com um dos meus medos, talvez apenas o piore.... mas eu não resisto não descobrir a resposta de tudo isso.

Esperei pacientemente o horário do trem passar e quando escutei os trilhos fazerem o costumeiro barulho de quando o trem se aproxima eu me levantei. Ele aos poucos ia se aproximando mais e mais. Antes eu pensei que nunca fosse conseguir me jogar dentro de um trem em movimento, tampouco sair dele, mas agora é tão natural quanto respirar. Quando o trem passa eu me lanço para dentro dele e meu corpo cai da maneira correta, não é como na primeira vez que eu fiquei com umas dores por alguns dias, agora é fácil e eu tenho prática suficiente para não me lançar de maneira que me machuque de alguma forma.

Eles estão ali, dezenas deles, me encarando fixamente. Os sem-facção. Não sinto medo, apenas ansiedade.

— Eu quero falar com Evelyn. — anuncio calmamente. — Meu nome é Magdalena Eaton.

+++

Me sinto agradecida por ter dito meu nome, ele causou entendimento naqueles rostos desconhecidos. Eles não disseram muita coisa, apenas que eu esperasse até o momento em que chegaríamos no lugar para saltar, o trajeto foi de um silêncio absoluto dirigido a mim mas eles não paravam de murmurar entre eles mesmos.

Fiquei quieta e meus pensamentos eram turbilhões prestes a me derrubar mais uma vez. Pensava em minha mãe, será que era ela mesmo? E o que a levara a fingir sua morte? Será que Luke estava entre eles, será que ainda vivia, será que estava bem?

— Menina, você é a filha mais nova de Evelyn? — indagou uma garotinha de olhos brilhantes que me fitava vigorosamente, seu vestido estava rasgado e tão sujo que nem era possível identificar as cores dele.

— Sim. — eu digo balançando levemente a cabeça, ela sorri automaticamente.

— Não acredito. — diz.

— Não precisa. — digo dando de ombros e encerando o assunto, a menininha não parece satisfeita com a minha resposta.

— O que você quer com ela? — pergunta tentando dar continuidade a conversa de qualquer maneira.

— Ela é minha mãe. — digo e soa como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

— Isso eu sei, é claro. — ela dispara meio irritada. — Mas o que a fez vir aqui…? Você foi expulsa, não conseguiu pontos pra terminar a iniciação na Audácia?!

— Não, não é isso. — eu digo suspirando, pareço realmente derrotada agora. — Se você tivesse uma mãe que amasse muito, e então ela morresse quando você era pequena, e deixasse um buraco negro dentro do seu coração pelo resto da vida… e então descobrisse que ela ainda está viva, que ela pode estar viva de verdade! O que você faria então?

— Eu não a procuraria. — diz a menina friamente. — Se ela conseguiu me abandonar então eu também consigo, e posso.

— Sério?

— Sério. — ela diz assentindo e ela parece estar distante, perdida em seus próprios pensamentos. — Isso aconteceu comigo, minha mãe... ela me largou nas ruas, me deixou para trás, por causa de alguém, o namorado dela. E então.... eu....eu tive que dar meu jeito. Estou viva, não é mesmo? Não preciso dela se ela não faz questão.

— Eu sinto muito. — digo e não é forçado, é automático, e não por ter sido criada na Abnegação mas por sentir, por poder sentir-me mal pela garotinha abandonada, ela parece dar de ombros e morder o lábio inferior.

— Como é na Audácia? — ela pergunta mudando o rumo da conversa por inteiro, seus olhos parecem arder de curiosidade, ansiosa pelos mínimos detalhes do que eu posso contá-la.

— É tudo tão…

— Chegamos! — corta uma voz masculina bem apressada, eu me levanto e a menina também.

— Qual o seu nome? — pergunto quando ela vai sendo engolida pelo mar de sem-facção.

— É Lola, meu nome é Lola. — ela diz sumindo aos poucos, ela gostaria de poder ajudá-la, levá-la para qualquer lugar melhor do que as ruas,mas não posso, não posso…

— Magdalena Eaton, venha comigo. — diz a mesma voz, é um garoto vários centímetros mais alto que eu e usa roupas tão imundas quanto as de Lola.

Eu o sigo sem hesitar, ele se lança do trem, como vários outros de seus companheiros, e eu faço o que é tão natural pra mim. Os mais velhos parecem um pouco assustados com o pulo mas se levantam em seguida. Posso ver um matagal se estendendo diante de meus olhos.

Sinto medo de adentrar aquilo tudo com aqueles desconhecidos, qualquer coisa poderia acontecer mas não é mais perigoso do que eu enfrento todos os dias no Complexo da Audácia, e dependendo do que irá acontecer em seguida todo esse medo e ansiedade valerão a pena. Os sigo em silêncio absoluto, que logo é quebrado.

— Não tente voltar aqui depois, garota. — ordena o garoto que me guia pelo escuro, seus olhos se fixam nos meus por mais tempo do que o necessário.

— Eu não voltaria de qualquer maneira. — dou de ombros suspirando pesadamente. Talvez seja uma espécie de esconderijo dos sem-facção mas.... do que eles estariam se escondendo? Será que são sempre assim, todos juntos? Deve ser mais fácil para sobreviverem, juntos eles têm mais chances de arranjar comida e abrigo.

— Para o seu próprio bem eu espero que esteja falando a verdade. — ele diz quietamente.

— Vamos andar muito? — eu questiono.

— Não. Nós já chegamos. — ele diz e me puxa, é uma espécie de clareira que está em nossa frente, uma casa abandonada e destruída está ali resistente. — Fique aqui fora, vou avisar da sua presença, quando eu voltar e disser que está na hora você entra. Está bem?

Assinto rapidamente e ele deixa a lanterna comigo, fico do lado de fora divagando. Ainda não consigo acreditar que pode ser verdadeiramente minha mãe, aquela mulher carinhosa que fazia biscoitos para os sem-facção, aquela mulher amável que me dava um beijo todas as noites escondida de meu pai, aquela mulher que sorria adoravelmente quando me via todas as manhãs...

— Magdalena! — chama o garoto, ele deve estar me chamando não pela primeira vez talvez pela terceira, quarta… Nunca vou saber. Ele acena para que eu entre no casebre, e assim eu faço, com a cara e com a coragem.

É tudo tão escuro que é quase como estar do lado de fora sem a lanterna, mas logo algo se acende e eu sinto alguém ao meu lado, meu coração acelera com essa aproximação.

— Você finalmente voltou para mim, minha filha.

+++

O trem vazio me assombra, é como se eu estivesse caminhando para a minha própria morte e não retornando secretamente para o Complexo da Audácia. A noite se passou com tanta rapidez que eu se eu demorasse um pouco mais não conseguiria retornar antes do sol aparecer. Sinto minhas pálpebras pesadas o trajeto inteiro mas é apenas o início de uma batalha travada com elas, já que terei que aguentar o dia inteiro, não tenho o luxo de repor as horas que passei em claro. Tobias vai me matar quando descobrir que fiz isso mas eu não podia mais aguentar, eu precisava comprovar.

Ela veio com todas as mentiras que Tobias avisou, ela queria que eu abandonasse o complexo e ficasse com ela, como uma sem-facção. Mas eu não seria capaz, eu não suportaria ser daquele jeito, é verdade que eu me encaixo em vários lugares mas há momentos em que sinto que nunca vou me encaixar em lugar algum mas eu já me acostumei com a Audácia, é meu novo lar e eu não consigo me imaginar diferente de agora. Evelyn prometeu que eu teria uma vida melhor e que quando ela morresse eu seria sua sucessora, a líder dos sem-facção, eu agradeci mas disse que não aceitaria, ela apenas sorriu e disse que o convite não possuía prazo de validade.

Mas deixou-me com um aviso preocupante, disse que a guerra seria inevitável e que eu sempre poderia encontrá-la por meio dos trens após a meia-noite, isso me deixou mais ansiosa e assustada, guerra...

Quando o trem chega no ponto do meu salto eu utilizo toda a minha força restante para me levantar, o salto é automático. Rolo nas pedrinhas e sinto meu braço ralado, ignoro a leve dor e me levanto novamente. Preciso correr de volta para o dormitório, olho para o céu e vejo que está quase na hora de despertar, mas talvez eu consiga meia hora de repousou, se eu conseguir correr...

Me forço a correr sorrateiramente até os dormitórios, quando estou quase entrando eu sinto alguém atrás de mim. Ótimo, ele não podia aparecer em melhor hora.

— De pé tão cedo, querida? — indaga Eric com aquele tom de voz irritante.

— Eu já lhe disse para não me chamar de…

— De querida, eu sei. — ele diz sorrindo abertamente. — Mas eu não resisto, sabe? É quase impossível fazer isso.

— Se me der licença eu vou…

— Oh, vai fazer o que aí? Já está acordada, podemos tomar café da manhã juntos, eu posso pedir panquecas pra você.

— Eu não quero, preciso…

— Lembre-se do nosso acordozinho, Lena. — ele diz acariciando as palavras suavemente.

— Vamos. — eu digo sem poder resmungar, ele sempre usará essa chantagem e eu terei que resistir a dar-lhe um grande não, não é apenas a minha segurança em jogo, é algo bem mais valioso e importante.

+++

— Você precisa parar de ser tão rabugenta, Lena. — diz Eric enquanto serve-se de suas panquecas com mel escorrendo prato abaixo. O refeitório está vazio a não ser por nós, ainda não deve ter dado seis horas da manhã e eu só gostaria de dormir por alguns minutos, sinto-me morta por dentro de tanto sono.

— Cala a boca, por favor…— eu digo quase batendo com o rosto nas minhas panquecas, continuo travando essa batalha contra minhas pálpebras pesadas.

— Está com sono, querida? — ele pergunta ironicamente e puxa minha mão com força, me assusto e abro os olhos desesperadamente, uma dor me atinge violentamente. — E agora, ainda está?

— Me solta, Eric, você tá me machucando. — eu digo nervosamente.

— Mas só estou fazendo carinho na sua mão. — ele diz daquela maneira assustadora. — Lena, entenda, você não vai simplesmente ficar assim, você tem que me obedecer, não é um joguinho qualquer, eu dou as regras e você as segue.

Fico calada, apenas esperando.

— Agora levante e vá se arrumar para o treino. — ele ordena. — Abra um sorriso.

Forço um sorriso que corta-me por dentro como uma adaga afiada, tentando conter as lágrimas insistentes, me sinto tão humilhada, me sinto um grande nada.


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