Divergent escrita por GG


Capítulo 14
XIII


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores!
Venho aqui com mais um capítulo programado. Bem, como sempre, eu só tenho a agradecer a vocês pelo apoio nos reviews, isso é uma coisa muito especial e importante pra mim, obrigada de coração. Boa leitura ♥



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Nem tenho muito tempo para pensar no maldito pacto feito com Eric, afinal o treinamento tem se tornado mais exaustivo. E minha rotina se consolidou nos dias que se seguiram. Duas vezes na semana havia lutas e eu estava indo muitíssimo bem, nas primeiras colocações para a minha surpresa, em três dias seguidos havia o treino de golpes e lutas, em duas vezes na semana havia também o treino com armas, corrida, coisas do gênero. Sentava-me com Ruthie, Dimitri, Bhell, Florence, Jone e Asher todos os dias, eles eram pessoas muito legais, mesmo com a grosseria extrema de Dimitri, eles eram ótimas pessoas.

Todavia devo dizer que a parte mais difícil foi ter que mentir para Tris na tarde em que Eric "me liberou", eu tive que dizer a ela e Tobias que havia bebido demais porém ela não engoliu aquela história, Tobias por outro lado deu-me uma bronca épica na frente de todos os iniciados, aceitei-a de bom grado, apenas satisfeita por estar fazendo algo para protegê-lo mesmo que sejam as piores condições possíveis.

No final da semana aconteceriam as últimas lutas, aquelas que determinariam quem seria cortado e quem continuaria a iniciação. A tensão tomava conta, os treinos se prolongavam cada vez mais e eu ia noite sim, noite não visitar Tris para que ela treinasse comigo.

Os treinos me deixavam exausta e eu quase nunca saia do dormitório, da casa de Tris ou da sala de treinamento. Passava os momentos das refeições com os nascidos na Audácia, Ruthie sempre me puxava para as conversas e Florence, mesmo que estivesse quase sempre hesitante, me acolhia aos poucos, cada vez mais.

E claro, havia Eric lançando-me olhares sugestivos todas as vezes que me encontrava pelos corredores, aquilo só me deixava com mais vontade de treinar, para poder ter alguma maneira de me defender mas ao mesmo tempo eu nunca poderia fazer absolutamente contra ele, ele sabia muitas coisas sobre mim e Tobias, então eu não podia arriscar tudo isto.

Era hora do almoço e eu estava sentada sozinha na mesa, esperava pelos outros que chegariam em breve. O prato com meu almoço estava intocado, esperava religiosamente os outros chegarem para começar a comer, era um costume inapagável. Foi quando ele sentou-se do meu lado, tão perto que nossas pernas se tocavam.

— Vim desejar-lhe boa sorte, minha querida. — ele disse, acariciando suavemente cada palavra. Eu me afastei levemente dele, tentando não fazê-lo perceber mas é claro que ele percebeu e chegou mais perto ainda, os lábios a milímetros dos meus, mordi o lábio tentando de alguma maneira deixá-lo menos encorajado a fazer o que eu temia que ele faria...

— Lena! — chamou uma voz salvando-me de última hora, era Tris. — Estou te esperando, o horário de almoço já terminou.

— Com licença. — pedi a Eric com um sorriso cínico, ele não pareceu nem um pouco feliz, corri para perto de Tris que me segurou pelo braço.

Nos afastamos dali a passos largos e quando finalmente ficamos longe o suficiente de Eric, ela me parou e soltou meu braço, o aperto sempre firme.

— Obrigada, obrigada de verdade. — eu disse ofegante, enjoada só de imaginar Eric me beijando, eu nada poderia fazer, afinal tínhamos um acordo e isso podia fazer parte dele, eu não sabia.

— Obrigada nada. — disse Tris pondo as mãos na cintura. — Agora me explique o que diabos foi aquilo.

— Aquilo? Ah... não foi nada, eu...

— Está bem. — Tris suspira de maneira derrotada. — Se não quiser falar eu entenderei perfeitamente. Apenas saiba que Eric é perigoso, e odeia seu irmão, você deveria ficar longe dele.

— Eu sei. — digo tentando esconder meu medo, é claro que eu sei de tudo isso e claro que se pudesse ficaria o mais distante possível dele. Mas parece que isso não irá acontecer. Sinto vontade de contar tudo a Tris mas isso só irá envolvê-la e consequentemente envolver ainda mais Tobias, então opto por não contar.

A cada dia me sinto mais encurralada mas não tenho saída e isso é óbvio.

+++

Durante os dias seguintes Tobias pega pesado nos treinamentos. Todos os dias antes do sol nascer ele surge no dormitório e nos acorda com gritos, junto com Tris, e então caminhamos vários quilômetros pela cidade, sempre nos mantendo próximos aos trilhos do trem que sempre cuida de nos levar de volta para casa. Após isso tomamos café e nos arrumamos para o treino na sala principal, passamos o tempo antes do almoço treinando todos os tipos de golpes e depois do almoço lutamos entre nós mesmos.

Mas então o primeiro dia das finais chega e eu acordo assustada sufocando um grito. Tive pesadelos, é claro. No pesadelo está Marcus me espancando como de praxe, eu grito e sinto as dores enquanto ele me ignora completamente.

Quando acordo me sinto mal porém é incomparavelmente melhor do que estar de volta a minha antiga vida, aqui tenho muitos problemas. Mas mas na Abnegação eu me sentia sufocada, presa, uma verdade prisioneira.

Não me surpreendo quando noto que sou a única iniciada acordada, mas então olho para a cada abaixo da minha, a de Luke...E vejo-a completamente vazia, isso me assusta de início. Me levanto e pego roupas limpas, banho-me e me arrumo totalmente.

Preciso de um tempo só para mim, preciso sair de dentro deste quarto que me sufoca de maneira inacreditável, somos tantos juntos mas em breve esse número cairá, e muitos se juntarão aos sem-facção em breve.

Eu poderia fugir, poderia tomar o trem para a Abnegação e..... Não, não há nada que possa ser feito. Eu não tenho escapatórias para meus problemas, eu só preciso ter coragem e enfrentá-los.

Devo provar que realmente sou corajosa.

+++

Chego ao centro de treinamento e encontro Luke dando socos no saco de pancadas, socos e chutes, ele parece absorto no que faz e não me nota. Suspiro e me retiro daquela saleta o mais rápido possível.

Penso em ir até o Abismo mas isso só me deixaria pior, iria lembrar ainda mais de River e do que aconteceu ali, por isso apenas dou voltas pelos corredores e quando estou entediada eu volto para o dormitório.

Subo até minha cama e encontro algo que não estava ali antes. É um envelope, abro-o e encontro uma carta ali dentro.

"Magdalena Eaton,

Sei exatamente pelo que está passando. Peço desculpas por tê-la deixado quando você ainda era uma criancinha, mas foi necessário. Você precisa me procurar, qualquer dia desses tome um trem após a meia-noite e me encontrará.

Evelyn."

+++

O bilhete me deixa assustada, desesperada....

Mas não posso, não posso me desconcentrar agora. Gostaria de ir agora mesmo a casa de Tobias e Tris e perguntar que diabos é isso, será que ele sabe? Será que ele recebeu um desses quando veio para a Audácia? Será que esse é mais um segredo que ele esconde de mim?

Respiro fundo várias vezes, tenho que manter-me calma. Tenho que fazer com que esqueça disso pelo menos durante hoje, as notas finais.

Tomo um banho gelado para me despertar, demoro mais do que o normal e necessário no chuveiro para tentar me desligar automaticamente de tudo isso. Quando se torna inadiável sair do chuveiro, desligo-o rapidamente e me visto com pressa. Tenho que ir treinar, com ou sem Luke por ali, preciso me desligar dos meus sentimentos e só consigo fazer isso quando estou perfeitamente concentrada nos treinos.

Caminho pelos corredores da Audácia, rumo ao Centro de Treinamento. E para minha sorte, lá está ele, recostado na parede com um sorriso do tamanho do mundo.

— Acordou mais tarde que o normal hoje, querida. — ele diz parecendo chateado com isso. Um tremor percorre o meu corpo no instante que ele diz isso, é como se ele realmente soubesse todos os meus horários, tudo. E eu não duvido que saiba.

— Por favor, eu estou atrasada, eu...

— Não está não. — ele retruca na hora. — Está muito adiantada, na verdade.

— Preciso treinar, hoje são as lutas finais. — eu digo tentando convencê-lo a me deixar em paz, sei que é uma luta vencida por ele mas não custa tentar.

— Podia ter me pedido ajuda para treinar, eu sou muito bom ensinando. — ele diz. — Podia te treinar agora mesmo, podíamos ir para....

— Lena! — grita uma voz, eu viro para encarar seu dono e encontro Tobias.

Meu coração acelera, não sei que se ficou exultante por vê-lo e por me salvar em um momento desses ou ser fico nervosa por Eric está encarando-o como se soubesse todos os seus segredos, e ele sabe.

— Não vê que está nos atrapalhando, Quatro? — provoca Eric me puxando pelo braço, eu olho para Tobias com uma expressão de puro pavor, não consigo me conter, eu não aguento mais ficar aqui perto dele, não aguentaria ser levada por ele novamente...

— Estou atrapalhando alguma coisa, Lena? — ele pergunta e soa extremamente ameaçador.

— Eu queria...queria treinar antes das lutas finais. — digo tentando fugir da sua pergunta, tento fugir dessa confusão toda mas nunca sou boa o suficiente nisso.

— Não foi isso que me disse que queria fazer agora, querida. — diz Eric com um sorriso ameaçador nos lábios, ele ri. — Está bem, mentirosa, pode ir.

E então ele finalmente me solta

— O que diabos foi aquilo? — indaga Tobias enquanto caminha ao meu lado até o Centro de Treinamento.

— Não foi nada. — eu digo com o rosto corado enquanto encaro o chão. Não é como se eu pudesse explicar tudo que precisava a Tobias, e isso me deixava péssima, ver no seu olhar aquele desapontamento, quase um sentimento de traição.

— Você precisa confiar em mim, Magdalena. — ele diz e usa meu próprio nome contra mim, eu sinto isso. Ele põe as mãos em meus ombros, como se estivesse se apoiando em mim.

— Eu posso lhe dizer o mesmo, Tobias. — digo e dou-lhe as costas.

Ele parece não dar-se por convencido, ele repousa a mão no meu ombro e me puxa novamente.

— Estou falando sério.... — ele diz.

— Também estou, agora eu preciso treinar ou vou acabar me tornando uma sem-facção. — eu digo, e ele suspira dando-se por derrotado.

É uma tarefa bastante difícil ignorar tudo que está acontecendo, o bilhete, Eric, Tobias me pressionando.... Mas preciso me concentrar pelo menos hoje.

+++

O barulho dos meus músculos contra o saco de pancadas me acalma, faz com que eu esteja em um lugar que fica quilômetros de distância deste de agora, é como se eu pudesse viajar para um lugar que nem mesmo existe, além da minha imaginação.

Soca, chuta, soca, chuta.

— Deveria beber um pouco de água, vai acabar desidratando. — diz aquela voz conhecida, viro-me para encará-lo, é Luke Jacobson que me encara com um sorriso tímido e extenso.

— O que você quer? — eu pergunto na defensiva, parece que eu fui criada para perdoar mas até agora não consegui fazê-lo com Luke, será que ele abalou tão profundamente minha confiança? Eu deveria perdoá-lo, deveria esquecer o que ele fez, mas é como se minha mente me obrigasse a fazer o contrário. Parece que sempre que eu o olho eu lembro daquela cena da luta, do sangue quente escorrendo meu queixo, das provocações...

— Na verdade eu queria lhe desejar boa sorte hoje, não que você realmente precise disso. — ele diz pouco a vontade.

— Obrigada. — eu digo assentindo levemente, e torno a concentrar-me no treinamento, faz-se silêncio novamente e eu fico feliz por isso.

— Por favor, Lena... — ele diz novamente, cortando o meu tão amado silêncio, reviro os olhos e olho novamente para ele.

— Eu agradeceria se ficasse quieto, preciso treinar. — eu digo sutilmente.

— Não precisa, sabe que está nas primeiras colocações e que vai terminar em primeiro lugar, todos sabem disso. — ele diz parecendo ressentido. — Eu que preciso disso, estou na linha entre a dispensa e prosseguimento do treinamento.

Fico em silêncio.

— Eu vou acabar tendo que me tornar um dos sem-facção, sei disso. — ele prossegue, e então nota meu olhar repousar sob ele. — E não me olhe dessa maneira, está com pena de mim, não gosto desse sentimento.

— Eu.....

— Não precisa dizer nada, eu estou pressionando você. — ele diz, suspira e sai de perto de mim.

A culpa me atinge novamente.

+++

Se alguém me dissesse, alguns meses atrás, que lutar se tornaria tão natural quando respirar, eu diria que este alguém enlouqueceu, que não pode ser verdade. Mas eu confirmo isso quando as lutas terminam, eu quase não saí machucada, mesmo na luta com Sam, um dos primeiros colocados. Apenas alguns arranhões e umas marcas vermelhas nos punhos, nada que seja preocupante.

Me sento ao lado de Sam quando as lutas terminam já que é o único lugar disponível, Tris e Tobias estão fazendo um discurso sobre os resultados finais e em menos um minuto eles iriam pôr a tela com todas as classificações a partir do décimo sexto candidato o iniciado será retirado da facção, se tornará oficialmente um sem-facção.

Eu fico nervosa, não por mim, mas por todos que perderão o direito de pertencer a facção que escolheram, me sinto sufocada por ver aqueles olhares perdidos, abandonados, deixados para trás.... é tão ruim isso de ter que simplesmente partir, não temos segundas chances aqui na Audácia e perceber isso me deixa um pouco assustada. Encaro Luke ao longe, ele está apertando as próprias mãos, parece extremamente nervoso.

E é então que a lista aparece, com todos os nomes.

Meu nome está no topo da lista, com uma pontuação bem distante da do segundo colocado, Sam. Já o de Luke encontra-se na décima sexta posição, se ele tivesse conseguido três pontos....só três pontos, ele teria conseguido.

Levanto-me automaticamente, mas sou empurrada pela multidão que celebra que ficou aqui, os quinze felizardos enquanto os outros choram e gritam horrorizados, destinados a vagarem, serem eternos pedintes, abandonados.... Eu preciso encontrar Luke, preciso falar com ele.

É difícil mas eu o encontro, puxo-o pelos ombros e ele se assusta. Eu nada digo, apenas o abraço aperto, como nunca fiz antes, e parece que isso basta por enquanto.


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