O Calendário de uma Garota Problema escrita por Tatti Rodriguez


Capítulo 4
O Calendário


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo. Espero que gostem e me digam o que acharam. Odiaram?Gostaram?
Boa leitura.



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Damon POV

Ela não voltou. Passou alguns dias e ela não passou por aquela porta de novo. Eu não sabia dizer se isso era bom ou ruim.
Eu sei que não havia acontecido nada demais a ela, porque se não Alaric me ligaria dizendo que a culpa era minha.
Desde a discussão com meus dois melhores amigos, eu não saí da sala de estar. Na esperança inútil de que eles voltassem.
Mas nenhum dos dois voltou. E eu sentia mais falta de Bonnie.
Aquela baixinha irritante me fez falta. Querendo ou não, era ela que me impedia de enlouquecer.
As palavras dela não saíam de minha mente.
"- Não se preocupe. Eu não vou voltar nunca mais. Adeus."
Ela não seria nem louca de fazer uma besteira. Ela não seria maluca de me deixar também.
Eu sei que sou rude e cruel, sei ferir de verdade, sei que falo coisas que ela jamais merecia escutar. Mas, eu... Ela não consegue ver que estou morto por dentro? Acha que é fácil perder a pessoa que ama? Acha que é fácil conviver com a tristeza? Com a saudade?
A dor dela pode ser grande. Mas a minha é maior. Ela só está a fim de se fazer de vítima.
Mas mesmo eu não querendo, eu me importava com ela. Eu nunca vou poder responder porque eu a escolhi. Era tão fácil falar a todos que tinha chego tarde demais. Que foi inevitável. Mas a ideia de viver todos os dias com a certeza de que não teria Bonnie em minha vida, me fez sentir como se levasse aneurismas em cada canto do meu corpo. Ver aqueles olhos verdes sem vida era demais para mim.
Eu admito que não pensei em um minuto sequer em Elena. Não quando Bonnie estava ali.
"- Entre você e a bruxa, sempre vai ser você!"
Ri muito disso. Não era assim. Não depois de Bonnie se fixar em mim, depois de Bonnie ser tão essencial para mim quanto sangue. Ela era a minha passagem para a lucidez. Era a âncora que me impedia de sair do controle. Tudo apenas com um toque, uma palavra, um olhar. Tudo por ser simplesmente ela.
Mas, eu era um idiota. Eu não pensei em Elena quando vi a bruxinha ali. E era por isso que me culpava. Porque eu não pensei na mulher que eu dizia amar.
E era por isso que eu sentia raiva de Bonnie. Porque ela me faz esquecer tudo o que eu achava importante, mas que no fundo não era um bom caminho para mim. Dizia que a queria morta, porque eu sei que se Elena voltasse, toda a confusão iria embora. Seria como antes. Não seria uma montanha russa como é quando penso ou estou com Bonnie.
Aquela bruxa...
Ouvi alguém bater na porta, eu levantei e corri para abrir na esperança de ser ela. Eu tentei sufocar a ansiedade, eram poucos passos para a porta, mas a ideia de ser Bonnie ali me fez sentir como se fosse um longo caminho. Era tão ridículo sentir isso pela pessoa que queria morta.
Mas quando abri, me decepcionei.
Era apenas um pequeno embrulho repousado no chão. Olhei em volta e não vi ninguém que pudesse ter deixado.
Eu deixaria aquele pequeno pacote roxo ali, se eu não tivesse visto:
"De: Bonnie Para: Damon. "
O peguei rapidamente e fechei a porta com o pé. Sentei na poltrona que a pouco ocupava.
Com cuidado eu desfiz o laço amarelo e o joguei em um canto qualquer. Abri a caixa e vi um calendário e um bilhete.

" Querido Damon.
Te envio este presente. Não é nada demais para os outros, mas pra você será.
365 dias é o prazo que eu nos dei. Para que eu faça tudo o que eu sempre quis fazer e o que eu deveria ter feito.
365 dias até você ter Elena de volta.
Aguente mais um pouco.

Ass: Bruxa Má do Oeste."

Eu engoli em seco. Bonnie era louca? O que ela tinha na cabeça para fazer algo desse tipo?
Peguei o calendário, era simples com apenas alguns desenhos bobos em verde ao fim das páginas.
No dia de hoje estava marcado com uma caneta vermelha a frase:
"Conte a partir daqui."
Joguei aquele presente de merda para longe de mim. Ela estava brincando comigo? Ela achava graça todo o meu sofrimento? Achava engraçado minha dor e minha angústia?
Bonnie Bennett estava mexendo com fogo. Ela acabaria se queimando. Ela se arrependeria dessa brincadeira estúpida.
Mas, eu conhecia Bonnie Bennett melhor que a mim mesmo. Ela não era o tipo de pessoa que brincava com os sentimentos ou angústias dos outros. Pelo contrário. Ela tomaria as dores. Como fez todas as vezes pelos amigos, por mim.
O que Bonnie pretendia?
Peguei o calendário do chão e o folheei.
Ele ia até maio do ano que vem. Dia 25 de maio. Exatos 365 dias.
Aquilo fez sentir meu corpo afundar em puro vácuo.
Metade de mim queria acreditar que era apenas uma brincadeira estúpida. Outra metade estava se desesperando.
Peguei meu celular e disquei seu número. Uma, duas, seis vezes e nada. Ela não estava on-line em nenhuma rede social. Mas eu olhei seu Instagram. Era uma foto de algumas horas atrás.
Ela e Alaric em uma cafeteria sorrindo, mas o sorriso de Alaric era de pura tristeza.
" Fazendo planos. Contando os dias. Não fique triste Ric.
1/365 #freedom", dizia a legenda.
Continuei tentando ligar, mas ela não atendia. Olhei para o relógio, ela já estava em Whitmore.
Mas se ela pensava que iria me fazer sentir remorso, ou até mesmo que iria me arrastar a seus pés pedindo que não fizesse nada disso... Ela estava redondamente enganada.
Vamos ver até onde essa palhaçada iria.

Bonnie POV

Era domingo e era dia de voltar à universidade. Minhas coisas já estavam no porta malas do carro e eu dirigia para Whitmore. Era de manhã, e geralmente eu sempre ia ao anoitecer. Mas hoje eu teria que ir mais cedo.
Na noite anterior enquanto eu via as fotos em meu celular e as passava para o computador, chegou um e-mail da Universidade. Meu pedido para troca de quarto havia sido aceita.
Eu havia solicitado à algumas semanas essa troca, porque estava simplesmente insuportável ficar no mesmo quarto onde Elena ficava. A cama vazia, o lado do quarto dela sem ninguém e sem nada... Eu já havia pensado nisso assim que ela se foi, mas eu estava preocupada com Caroline. Ela não estava aceitando bem. Mas parecia que ter eu ali por perto, piorava tudo. Demorou alguns meses depois que havia chego em meu limite e pedi para trocar de quarto.
E a aceitação não podia vir em hora mais adequada.
Assim que cheguei ao quarto, eu comecei a arrumar minhas coisas em algumas caixas. Eu evitava olhar para os lados, evitava a parte de minhas duas melhores amigas.
Alaric havia vindo para me ajudar na mudança. Ele não me repreendeu. Ele falou que estava certa.
– Apoio tudo o que vá fazer você ficar bem. - falou baguçando meu cabelo.
Antes de sair de vez daquele quarto eu deixei um bilhete em cima da cama de Caroline.
" Mudei de quarto. N°13.
B. Bennett. "
Não queria colocar mais coisas, não queria nem deixar o bilhete, mas Alaric falou que ela merecia saber onde eu estava indo. Ele tinha razão. Se ela precisasse de algo ela saberia onde me procurar.
Foi rápido e fácil. Acabamos a mudança na hora do almoço, e estávamos famintos.
O levei até a lanchonete que eu sempre ia para comer o x-bacon.
Durante o almoço ele fez a pergunta que eu sabia que faria.
– Ainda está pensando naquela ideia estúpida?
Parei de comer meu lanche e respirei fundo antes de responder.
– Estou. E eu já me decidi. - ele me olhou com expectativa - Eu vou continuar com essa ideia estúpida.
– Merda! Porque Bonnie?! - ele jogou o lanche de volta ao prato.
– Você sabe o porque.
– Mas eu pensei que depois de ontem você...
– Eu passei o dia todo pensando nisso! Revendo tudo o que eu tive que rever! Colocar na balança as vantagens de morrer e viver! E você sabe qual pesou mais!
– Bonnie, se você fizer isso... Você sabe que assim que você...
– Morrer. - completei. Ele não conseguia falar essa palavra.
– Elena vai ter a eternidade toda. Você vai ter apenas alguns anos! Pra que adiantar?!
– Você acha mesmo que eu vou deixar meus amigos se afundarem assim?! - perguntei exasperada - E se quando Elena voltar... Tudo estiver um caos?
– Bonnie...
– Alaric! Eu vou fazer isso. Eu prefeito morrer a ter que ver nos olhos de todos a culpa por Elena, o desprezo nas palavras e a indiferença nas ações.
– Eles precisam aprender que nem tudo é como querem! - Alaric gritou, nossa sorte é que estávamos em uma das mesas do lado de fora da lanchonete - Eles precisam aprender a seguir com a vida com ou sem ela!
– Eu sei! Mas eu não aguento mais! Eu estou quebrada Alaric! - falei já chorando. Ele pegou em minha e entrelaçou nossos dedos.
– Eu te concerto Bon. - ele sorriu com lágrimas nos olhos - Eu nao posso perder você também.
Aquilo acabou comigo, Alaric estava fazendo ficar tudo tão difícil. Eu estava preparada para tudo, menos para palavras como aquelas.
– Eu sei que você queria estar ouvindo isso de outro cara - ele riu nervosamente -, mas por enquanto eu terei que bastar. Voce está se tornando minha melhor amiga, me ajudou tanto... Me deixe te ajudar a sair desse poço.
– Alaric... - eu apertei sua mão na minha - Eu vou continuar com essa ideia. Logo vocês vão estar com ela. E tudo vai passar. Ela vai ser a cura de vocês.
– Não Bonnie. Não vai não. Eles acham que vai. Mas não é assim. Bonnie, não deixe que as atitudes deles influenciem na sua vida. Você tem todo um caminho pela frente...
– Alaric, estou no meu limite. Me perdoe. Mas dessa vez eu serei egoísta.
– Vai ser egoísta acabando com sua vida pelos outros. - ele ria entre lágrimas - Essa atitude só me faz ter mais certeza do que eu já sabia.
– O que?
– Nunca seremos dignos de ter você em nossa vida, ter sua amizade e seu amor.
Ele me olhava com tristeza e isso era demais para mim.
– Mas, eu não vou fazer isso agora. Sabe, acabar com tudo... - falei tentando amenizar.
– Como assim?
– Eu estou arquitetando um plano. - revelei - Eu me dei 365 dias para viver a minha vida como eu bem quiser. - ele me olhou confuso - Eu comprei dois calendários. Um eu vou precisar que entregue a Damon. O outro ficará comigo. Contando a partir de hoje eu terei mais 364 dias de vida.
– Porque apenas um ano?
– Porque vai ser mais do que eu vou aguentar. Eu já fui ousada em colocar um ano. - ri mas ele não me acompanhou - Nesses dias eu vou fazer tudo o que eu sempre quis fazer e nunca pude! Ir para festas, beber até cair, roubar um carro, sei lá. Qualquer coisa. Eu vou acabar com a minha vida Alaric, mas eu vou querer me sentir viva quando isso acontecer. Eu não posso partir sem ter vivido uma vida que eu merecia ter vivido.
Ele se levantou e eu também. Começamos a andar em direção ao parque que havia ali perto.
– Eu nunca escolhi ser uma bruxa, eu nunca escolhi viver tudo o que eu vivi até agora. Todos escolheram por mim. Está na hora de que eu
faça minhas próprias escolhas. Ser quem eu quero ser. Não o que esperam de mim.
Ele ficou de frente a mim apenas prestando atenção.
– Eu vou viver nesse um ano tudo aquilo que eu deveria ter vivido nesses 19 anos da minha vida. Ser quem eu quiser, experimentar coisas novas, ver pessoas novas. Viver uma vida que sempre quis que fosse a minha.
Eu falava aquilo com um grande sorriso no rosto. Eu nunca tive a chance de ser normal. E agora eu seria. Eu queria uma coisa nova antes de tudo se acabar. Eu estava ansiosa com a ideia de finalmente viver de verdade!
Eu nunca me senti tão viva em toda a minha vida!
Eu sorria abertamente para Alaric. Esperava alguma reação. Alguma palavra! Mas ele estava com uma expressão de dor.
– Bonnie. Isso é loucura. - meu sorriso morria e ele logo continuou - Mas eu aceito a sua loucura. Espero que esse um ano seja o melhor de nossas vidas.
– Alaric, você não precisa...
– Mas eu quero. Eu vou te retribuir tudo o que me fez Bonnie. Vou mostar ser digno de sua amizade.
Eu chorava, mas agora de felicidade. O abracei forte. Eu nunca poderia esperar essa atitude de Alaric, mas saber que eu tinha um amigo que estava ali por mim, me fez feliz.
– Eu vou te fazer desistir disso Bonnie. - ele sussurrou em meu cabelo e beijou minha testa - Não vou perder você também.
Eu sorri fraco. Escutar aquilo fez com que eu sentisse facas adentrarem cada nervo em meu corpo. Eu sabia que nada do que Alaric fizesse, iria me fazer desistir. Mas eu não falei nada. A sensação de ter uma pessoa que não desistiu de você era indescritível.
E eu prometi a mim mesmo.
Esses 365 dias serão os melhores de nossas vidas.


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