O Calendário de uma Garota Problema escrita por Tatti Rodriguez


Capítulo 12
Um propósito




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Caroline POV

Pela janela de meu quarto eu podia ver as nuvens nubladas e algumas escuras. O vento batia em meu rosto e dançava por todo o quarto, eu conseguia ouvir alguns risos de uma mulher e uma garota andando pela calçada.

— Cuidado, o vento vai levar você embora. — a morena mais velha falou em um tom claro de brincadeira.

— Ah, mamãe! — a menina riu e abraçou o braço da mãe.

— Estou falando sério! Está leve como uma pluma. Como acha que Peter olhará para você se se você emagrecer mais um kilo irá sumir!

Eu tive que rir. Era bem típico de mãe falar essas coisas.

" Está frio! Leve um casaco!"

" Irá comer só isso?! Pode comer mais. Não quero ninguém caindo de fome pelos cantos."

" Quero você em casa as 23:30!"

" Boa noite. Eu te amo."

" Esqueceu a toalha de novo?!"

" Você não é todo mundo!"

" Não quero que pegue carona e nem fale com estranhos!"

Minha mãe vivia dizendo coisas desse tipo, e eu nunca me importei verdadeiramente com essas pequenas coisas. Sempre entrava por um ouvido e saía pelo outro. Mas por mais que eu nunca ouvisse, ela sempre repetia, sempre se preocupou e cuidou de mim. Ela sempre me amou, assim como eu a amaria para sempre.

" Eu te amo Caroline. Você é a melhor coisa que já me aconteceu."

Ela sempre dizia isso para mim, beijava minha testa e me abraçava. E era em seus abraços que eu me sentia em casa. Ela tinha o poder de me fazer ficar feliz com apenas um sorriso e ficar triste com apenas uma lágrima. Ela era a pessoa mais importante para mim. E ela se foi... Ela nunca prometeu ficar para sempre comigo, mas prometeu nunca me deixar. Ela sempre disse isso para mim, desde que eu era pequenina, e eu nunca entendi o significado e nem queria entender. Eu já me sentia bem com o fato de mamãe nunca me deixar. Mas então... Ela se foi e a ver partindo e não poder fazer nada foi a coisa mais difícil que já me aconteceu.

Mas então eu entendi o que ela quis dizer, conforme os dias passavam tão doloridos e longos. Ela nunca poderia ficar para sempre comigo, ela não tinha esse poder. Ela sabia que uma hora ou outra, iríamos nos separar definitivamente. Mas ela prometeu nunca me deixar, porque ela sempre estaria dentro de mim, da minha alma e do meu coração e de lá ela jamais sairia.

— Bom, se você é tão feliz assim sem mim por perto, acho melhor terminarmos tudo de uma vez! — uma garota morena falava entre lágrimas no celular. A voz dela me chamou atenção.

Hmm, a coisa parecia ser séria porque ela estava trêmula, seu coração batia tão forte... Tão tentadora... Bebi minha caneca com sangue A+ sufocando a tentação.

Mas então ela se virou e eu a vi. Os cabelos longos e castanhos escuros como os olhos, a pele clara e os labios finos como os de Elena. Era... Ela! Era Elena! Ela estava aqui, ela havia arranjado um jeito de voltar!

Eu corri para fora de meu quarto e de minha casa com toda a velocidade. Ela estava na calçada ainda falando ao telefone. Com toda a certeza era com Damon, brigando mais uma vez. Típico. 
Eu estava me aproximando e lágrimas já escorriam por meu rosto, minha melhor amiga estava a passos de distância. Eu parei de usar minha velocidade vampírica e caminhei até ela. Meus dedos formigavam quando encostei em seu ombro.

— Elena...

E então quando a garota se virou,não era a Elena ali, era outra pessoa parecida... Não era minha amiga... Ela ainda estava presa em sono profundo, ainda estava ligada à vida de Bonnie. Ela não voltou... Ela não voltou para nós.

— Me desculpe. Eu a confundi com outra pessoa — falei à menina e me virei em direção à minha casa.

Ao entrar fechei a porta e me joguei no sofá aos soluços.

Quando tudo deu uma guinada em minha vida? Eu nunca pedi por nada daquilo! Eu nunca pedi que minha vida fosse uma confusão e sofrimento como estava sendo daquele jeito.

Eu queria uma vida normal! Terminar meus estudos, me casar, ter filhos, envelhecer ao lado do amor da minha vida, continuar planejando festas e morrer feliz! E eu jamais terei isso.

" —Você está tendo uma daquelas bizarras crises existenciais de novo não é? Caroline, tem que parar com isso. A vida não é como queremos. Ela vai ser o que você faz com ela. Acredite em mim, vai ficar tudo certo. "

Klaus me disse isso em uma das vezes que saímos juntos.

Klaus... Klaus Mikaelson. O único que realmente me fez querer ser realmente vampira para ficar eternamente ao seu lado.

" — Você me disse que eu preciso escolher o que eu quero e o que é certo. Eu escolhi os dois, Klaus! Eu quero o certo, e o certo pra mim é você! Eu quero você! "

Os lábios dele sob os meus, as mãos ao redor de minha cintura, ele me protegendo e se impregnando em mim como se estivesse criando raízes em meu coração.

Aqueles olhos azuis e aquele rosto querendo sempre demonstrar o quão cruel ele poderia ser.

" — Você me trata diferente do resto das pessoas.

 Porque você é diferente, Caroline.

— Porquê?

— Porque você me faz querer ser melhor pra você. Para poder te merecer. "

Klaus era o cara da minha vida, aquele que eu poderia dormir e acordar ao lado todos os dias da minha vida.

Mas... Ele se foi.

Assim como Liz.

Assim como Elena.

Assim como Bonnie.

Bonnie havia partido para longe de mim e meus dias. Minha melhor amiga havia me deixado e eu jamais esperei isso dela.

" — Eu por você e você por mim."

Ela falava isso e eu acreditei. No final, é somente eu por mim mesma. E ela, ela estava tão bem. Tão recuperada, parecia que nada aconteceu. Parecia que não havia perdido Elena, que ignorava o fato de que ela está viva por causa de Elena. Era por causa de Lena que Bonnie acordava todos os dias e ela vivia como se nada tivesse acontecido. Como se o fato de Elena não estar aqui, não fosse culpa dela e das atitudes que teve em relação a Kai... Se ela não tivesse feito aquelas coisas com aquele psicótico, Elena estaria bem e aqui. Ainda seriamos as três mosqueteiras, seríamos as almas gêmeas de antes.

Ainda teríamos razões para sorrir.

Mas ela estava diferente, ela estava evitando tudo isso. 
Onde estava aquela Bonnie que sempre estava ali por e para todos? Cuidando e protegendo? Onde estava a minha melhor amiga, aquela que sempre estava ao meu lado. Para qualquer coisa. Ela está me perdendo... E eu nunca quis me perder dela... Porém eu não posso ser hipócrita a ponto de concordar com tudo o que está fazendo.

Ela está tendo uma nova vida agora. Novos amigos, novas experiências. Não há espaço para mim e nem ninguém nessa redoma de vidro impenetrável que ela formou ao seu redor. E eu não estava fazendo questão alguma de entrar agora.

— Caroline!

Havia alguém na porta, mas eu não queria ver ninguém agora. Eu não queria deixar ninguém entrar. Nem em casa e nem em meu coração. É lindo quando pessoas chegam, mas é horrível quando se vão. E elas sempre se vão.

— Caroline! - eu prestei atenção e constatei ser Stefan. Se eu ficasse quietinha ele talvez fosse embora - Sei que está aí. Não adianta ficar quieta.

— Vá embora! — gritei bufando e enxugando minhas lágrimas.

— Eu... Preciso conversar... Um pouco. Eu só tenho você agora.

Aquilo bateu no meu coração e o fez murchar. Stefan estava tão perdido quanto o resto de nós. Ele sempre foi mais reservado e dificilmente deixava as pessoas entrar em seu ciclo social. Ele tinha apenas Damon e Elena. Damon está tão fodido quanto o resto, mas ele é um caso perdido. E Elena era a razão pela qual Stefan estava assim. Deve ser difícil para ele, mas para mim não é fácil também. Mas ele é meu melhor amigo.

Abri a porta e ele estava lá com aquele cabelo a prova de balas e a expressão de cansaço.

— Entra. — eu dei espaço para entrar e ele o fez — Qual é da visita?

— Ahn, eu.. Só precisava de um pouco de contato humano, ou no nosso caso contato vampiro. — ele sorriu e eu não pude evitar fazer o mesmo. Ele era péssimo com essas coisas de piadas.

— Quer alguma coisa pra beber? Tenho A, A+, AB, O, O-...

— AB, o meu favorito. - ele falou e se sentou no sofá.

Peguei uma bolsa de sangue e fui até o batente da porta que dividia a sala da cozinha e joguei a bolsa para ele.

— E então, como anda a faculdade? - perguntou olhando tudo ao redor.

— Ah, está estranha sem Elena e sem Bonnie. - suspirei.

— Sem Bonnie? Porquê? Ela saiu da faculdade? — Stefan me olhou curioso. Ele realmente não era tão ligado assim em Bonnie? Quer dizer, eles eram amigos, deviam se ligar e mandar mensagens de vez em quando. Amigos fazem isso.

— Não. Ela só mudou de quarto, sem nem explicar o motivo. Apenas deixou um bilhete. — peguei o pequeno papel amassado do bolso da minha calça e o entreguei — Depois de tudo o que passamos juntas, depois dos últimos acontecimentos ela está me abandonando.

— Será que ela é que está abandonando a gente, ou será que somos nós que a abandonamos primeiro? — ele perguntou encarando o pedaço de papel amassado.

— Que quer dizer? — perguntei confusa, descruzei os braços e me senti perdida.

— Quero dizer que depois de tudo ter acontecido, depois de Elena e Jo terem ido... Todos nós meio que demos as costas à ela. Quer dizer, todos menos Alaric. Ele ainda está lá com Bonnie, sendo o amigo que devíamos ser para ela. A recuperando e a fazendo se sentir querida. Somos os piores amigos. A culpamos tanto...

— Mas se ela não tivesse sido tão... "cruel" — fiz aspas com as mãos — com Kai... Talvez Elena...

— Pelo amor de Deus, Caroline! — Stefan praguejou - Você consegue se ouvir?! Se ela não tivesse sido cruel com Kai? E o quanto ele foi cruel com ela? Você pode se imaginar vivendo o que ela passou todos aqueles meses presa apenas ela e aquele psicopata? Você pode imaginar perdoar uma pessoa tão má assim?

— Eu perdoei Damon pelo que fez a mim.

— Quer comparar meu irmão com aquele psicopata? — Stefan franziu o cenho e apesar de não ter raiva em sua voz, eu senti toda uma onda de repreensão — Apesar de Damon ser assim, ele jamais faria metade das coisas que Kai fez à Bonnie.

— Eu sei. Me desculpe. É que eu só não tenho mais o que pensar. Eu só fico pensando em como as coisas podem ter sido diferentes...

— Eu também. Mas não coloco a Bonnie como culpada, porque ela não é. E eu não vou admitir que alguém diga o contrário. Mesmo que for você. Ela viveu o inferno e nós não passamos nem pela porta dele. — Stefan me entregou a bolsa cheia e eu ainda o olhava atônita — Você tem razão. É melhor você ficar um pouco sozinha. Acho que no momento o que todos nós precisamos é de um tempo para pôr a cabeça no lugar e refletir sobre o que é certo julgar e sobre o que é certo fazer.

Ele olhou por um segundo ao redor e saiu batendo a porta. Ele estava realmente irritado e eu nunca pensei que levaria uma bronca daquela e ainda por cima de Stefan.

Ele era o Tefinhu, o cara mais tranquilo e amante da paz - na maior parte do tempo — que eu conhecia!

Se ele ficou tão irritado assim eu deveria mesmo rever meus conceitos e minhas ideias.

.

.

.

Stefan POV

Realmente não havia sido uma boa ideia ter ido a casa de Caroline. Mas eu já não sabia mais o que fazer... Eu já não tinha mais ninguém.

Damon havia construído um grande e grosso muro entre ele e o mundo. Ele estava destruído, acabado e perdido. Todos nós estávamos um pouco. Eu também. Por ele, por Elena.

Elena...

Eu já não sabia mais o que sentir em relação a ela. Eu já não sabia mais porque por um longo tempo eu senti tudo por ela. Eu sentia amor, paixão, eu sentia que daria minha vida por aquela mulher sem nem pensar duas vezes.

Ela durante um bom tempo foi meu sol. Ela era a única coisa normal em minha a minha vida. Ela foi a minha vida. Eu senti coisas por ela numa proporção que eu nunca vou poder contar com fidelidade toda a intensidade. Mas ela me custou o meu irmão. O meu irmão... Pela segunda vez uma mulher havia me custado nossa irmandade, há décadas eu havia o perdido e por mais que eu me sinta culpado, me peguei imaginando se com tudo isso, se... Sem Elena, eu pudesse ter meu irmão novamente.

Eu precisava de um motivo para ficar em Mystic Fall, eu precisava de um motivo pra não deixar tudo para trás. Eu sentia que ainda tinham coisas a serem feitas, mas não sabia se eu queria ficar. Não sabia se eu ainda tinha forças para isso. 

Andando pela praça vi um homem com outro ao seu lado e segurando a mão de uma garotinha. Eles sorriam para ela, o mais alto arrumou a fita rosa dos cabelos compridos da menina e beijou sua testa, ela abraçou o mais baixo e fora brincar com as outras crianças, eles se abraçaram enquanto a olhavam como se ela fosse a coisa mais importante do mundo. Parei de andar apenas para observar. Uma família. Era isso que eles eram. Uma família, feliz e completa família. O que era ter uma família afinal? Fazia tanto tempo... Eu nem me lembrava mais como era ter uma. 

Talvez, e só talvez, eu quisesse isso de novo. Talvez fosse uma boa recomeçar. Ter uma família e fazer minha vida ter um propósito. Largar a mão. As vezes soltar é um ato de amor, muito mais de amor próprio. Eu precisava de amor, eu sei que eu precisava. Decidi pensar sobre aquilo mais tarde, com calma e com o meu coação aberto.

Suspirei antes de voltar a andar, com a ideia de que eu devia ir atrás de Bonnie, ela não respondera a minha chamada. Depois daquela desastrosa visita à Caroline, eu sentia que precisava ir atrás dela. Depois de tudo eu não tivera a coragem de ir atrás dela e ver como se sentia. Para falar bem a verdade, eu era um hipócrita. Falei aquelas coisas pra Car quando no fundo eu fazia o mesmo. Eu a culpava, eu a culpava e compara sim. Como seria se fosse ao contrário? 

Eu era um merda por isso? Sim, mas era mais forte que eu. 

Eu me afundei em minhas próprias amarguras, mas eu não poderia deixar de ver seu lado.

Eu não fui um bom amigo. Estava na hora de ser.

Em meio a pensamentos, eu chegara em frente a sua casa e apertei a campainha. 

— Sim? -  uma garota atendera a porta, uma garota que eu nunca havia visto antes - Ei, está tudo bem?

Ela provavelmente vira a minha expressão de surpresa e choque. Aquilo não era real. Não podia ser real, não depois de tanto tempo, mas apesar dos anos sem, eu sabia como era. Uma batida de coração no meu peito morto. 

 


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