O Calendário de uma Garota Problema escrita por Tatti Rodriguez


Capítulo 10
Dança Comigo, Damon...


Notas iniciais do capítulo

Oi, meus amores! Primeiramente gostaria de agradecer a todos os comentários, eu sempre fico imensamente feliz ao ler e não imaginam como fico de coração cheio ao ver o quanto gostam da FIC e o quanto querem que ela continue.
Queria deixar tbm meu twitter, caso alguém queira entrar em contato comigo e falar o que vier na telha (@rodrigueztattah).
Dessa vez nem demorei tanto. Kkkk

Boa leitura



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Bonnie POV 

 

O mundo estava girando levemente, mas eu não podia mais ficar deitada esperando a dor de cabeça passar. Me levantei da cama e eu então percebi que estava nua. Meu Deus... Eu não tive capacidade nem de colocar uma roupa para dormir?! Me enrolei no lençol e quando olhei para o quarto eu me vi sozinha. Minhas roupas estavam jogadas e eu não me lembrava como eu havia parado em meu dormitório. Eu só me lembrava de...

 

Não... Nada. Um blackout se apoderou de minha memória, mas tudo bem, não devia ter tanta importância e eu não fazia a menor questão de me lembrar o que havia acontecido na noite anterior. 

 

Fui ao banheiro e depois de uma ducha gelada e devidamente vestida eu me permiti sair do dormitório, antes claro deixei um bilhete para minhas gêmeas dizendo que havia saído. Era domingo e eu não queria fazer nada a não ser ir para minha casa, pegar meu carro e dirigir para qualquer lugar. Um tempo só para mim. Um tempo para colocar algumas coisas dentro de mim em seu devido lugar. 

 

Fui ao ponto de táxi e um logo surgiu.  Enquanto nos dirigíamos para Mistyc Falls eu peguei meu celular e vi 23 ligações perdidas. 15 de Rayh, 6 de Alaric e 2 de Stefan. Aquilo era estranho... Stefan me ligando? Ele raramente me ligava, nas vezes em que me ligou era para falar com Elena porque o celular dela dava fora de área ou para saber do irmão. Uma mensagem apitou em meu celular e o olhei. 

 

"Assim que puder me liga. É importante.

— Stefan."

 

Franzi o cenho enquanto analisava a mensagem. Como assim ligar para ele? O que havia acontecido dessa vez? Qual era a bucha que eu deveria passar para ajudar a quem quer que fosse? 

 

Repreendi a minha ação de querer ligar. Não, eu não ligaria. Para que? Para ouvir outra pessoa que queria Elena em meu lugar? Que queria que eu morresse para que minha amiga voltasse? Não. Eu estava em um trabalho árduo e contínuo de me desligar deles. E eu me desligaria. Por enquanto ao menos... 

 

Exclui a mensagem para não cair na burrada de a responder.

 

Entrei em minhas redes sociais e fotos da festa de ontem estavam rolando, pessoas da universidade me marcaram em algumas e me convidaram para outras festas. Mas não havia nada que me desse um norte em relação à noite de ontem. 

 

Desliguei  o celular e encostei minha cabeça no vidro da janela que impedia da chuva entrar no táxi. 

 

Minha cabeça viajou para alguns meses atrás. Como tudo havia mudado? Como eu havia mudado? Como tudo ficou desse jeito? Eu queria respostas! Mas eu não queria pensar nelas. Eu queria pela primeira vez que as coisas fossem fáceis e que alguém pudesse me dar uma luz porque de escuro já basta minha visão em relação àqueles que eram meus amigos e o escuro que eu estava transformando em minha vida. Acho que assim seria mais fácil quando tudo acabasse. Se eu me afundasse, se eu chegasse em um ponto onde não houvesse mais salvação para mim — o fundo do poço na qual eu estava quase tocando com os pés — quando eu fechasse os olhos para nunca mais voltar a abrir fosse mais fácil. Talvez eu devesse me desligar de tudo e todos. Talvez e só talvez eu devesse deixar tudo e ir para qualquer lugar longe de todos. Eu não podia afundar os que realmente me amavam por conta de algo que eu criei. Alaric... Meu Alaric... Minha Rayh, minhas gêmeas... Eu tinha que ser corajosa o bastante para seguir em frente, mas como se eles eram a minha força? Como se minha vida era mais tolerável por causa deles? Como?! 

 

— Moça, chegamos. — o taxista me alertou e eu vi minha casa. Casa... 

 

— Ah, certo. — entreguei o dinheiro para ele e sai do carro. 

 

Eu não sei a quanto tempo eu fiquei mirando a fachada da minha casa. Eu só sabia que por tudo o que havia de mais sagrado no mundo eu queria voltar à época onde havia apenas eu e minha avó. Onde eu era feliz e segura. Longe de toda a realidade paralela que me abraçou quando descobri minha verdadeira essência. Bruxa... Uau! Eu era realmente uma sortuda. Mas eu não posso reclamar de todo... Graças a isso eu salvei todos a quem eu amava... Ou quase. 

 

Entrei em casa e constatei que Rayh estava na cozinha pelo barulho que saía dela. Mas não estava sozinha.

 

— E foi assim que eu descobri que  nós jamais devemos atrapalhar uma gazela em meio ao coito. — Alaric dizia rindo e Rayh o acompanhou. 

 

— Bonnie! — ela veio até mim e me abraçou — Fiquei pensando quando devia ir buscar você. Mas sabe, não estou acostumada à sua nova rotina de cachaceira. 

 

Estava demorando! Sempre uma bronca para quando eu saísse da linha. 

 

— Rayh... 

 

— Não, não vou falar nada. Já é adulta. — ela voltou ao fogão, mas logo se virou. Eu sabia que não havia acabado tão fácil assim — Bonnie! Você não sabe o que fez ontem! 

 

— Rayh, eu sinceramente não quero saber de nada sobre ontem. 

— Você pulou no palco participou do concurso de camiseta molhada! Se não fosse por Damon... 

 

— Perai, Damon?! 

 

— Sim! Damon! Ele te tirou lá de cima e amiga, você é muito chata bêbada. — Alaric riu e Rayh também. 

 

— Cala a boca.

 

— Mal educada! — ele pulou em mim e me apertou em seus braços. 

 

— Rayh, sei que quer me dar a maior de todas as broncas da história, mas eu realmente não estou com cabeça para isso. 

 

Ela me olhou com uma expressão de compreensão e saiu da cozinha e voltou com uma aspirina e me serviu um copo d'agua. 

 

— Tudo bem. Eu não vou falar mais nada, Bonnie. Afinal, são seus 365 dias. Eu não vou interferir em nada. 

 

— São nossos 365 dias. — Alaric corrigiu e eu sorri apertando as mãos dos dois — Prometemos que seria o melhor de nossas vidas, Bon. E olha que isso foi um Voto Perpétuo. 

 

— Não me diga que está fazendo uma referência à Harry Potter! — Rayh se entusiasmou e ela e Alaric começaram uma animada conversa sobre a saga. 

 

Tomei o comprimido e sai em disparada para meu quarto. Vasculhei minha escrivania e peguei minha agenda roxa com adesivos e lotada de fotos que fora presente de Damon quando voltamos do Outro Lado, a caneta azul de gel estava em meio ao espiral. Peguei meu fone de ouvido e a chave do meu carro que estavam embolados juntos no criado mudo ao lado da minha cama. 

 

Desci as escadas e avisei com um grito que iria sair. 

 

Corri para meu carro e assim que acelerei, abri a janela e deixei o vento gelado entrar, aproveitaria antes de a chuva recomeçar, porque com a cara que o céu estava, a tempestade estava a caminho. 

 

Eu estava com o pé fundo no acelerador. Peguei a rota 97, ela era deserta e isso me permitia correr o máximo que eu podia. A estrada a minha frente. Era só isso que havia. E eu precisava pensar. E só havia um lugar que eu pudesse ir para pensar tudo o que eu pensava. Eu queria adiar, mas eu precisava tomar algumas decisões. 

 

Acelerei o carro o máximo e só diminui quando cheguei ao precipício Highway. 

 

Ele já havia sido muito conhecido quando a cidade de Mystic foi fundada. A filha do fundador havia se apaixonado por um homem que já estava com o casamento marcado. Ele se apaixonou por ela também, mas por conta de um mal entendido eles não puderam ficar juntos. Nunca se soube p motivo. Ele acabou se casando com a mulher a quem já era prometido. A jovem ficou devastada e conforme os dias passavam ela ficava mais triste. Ela andava horas pelo bosque que havia atrás da fazenda do pai até que encontrou o precipício. Ali ela escrevia seus sentimentos em papéis que depois ela jogava pelo precipício. Ela só não sabia que o amor deles era tão verdadeiro a ponto do vento levar as declarações de amor diretamente ao homem que amava. A esposa dele descobriu um dia aquelas declarações. Ela não soube o que fazer e optou a atrapalhar o casal, houve muitas intrigas e mentiras, mas no final, depois de tantas maldades que a esposa havia feito, ela ficou muito doente e acabou falecendo de uma forma trágica. Mas o casal pôde finalmente ficar juntos. E todo aniversário de casamento, eles iam até o precipício e cada um jogava um papel com uma declaração de amor. Fizeram isso até o fim de seus dias. 

 

Hoje em dia ninguém nem lembra que ele existe. Mas assim que eu soube da história por alto, eu  jamais poderia me esquecer. Uma história de amor tão bonita... Eu nunca me empenhei em pesquisar a fundo, mas sei que um dia alguém fará isso por mim. 

 

Liguei o rádio e eu pude ouvir a voz incrível de Whitney Houston em uma de minhas músicas favoritas. I Wanna Dance With Somebody. Aquilo era um prelúdio bom do que viria. Minha avó dizia que a primeira música do dia era uma aposta de como o seu dia terminaria. E eu não pude deixar de me sentir um pouco mais leve por ser essa música ser a primeira que eu ouvi no meu dia. 

 

Cheguei na ponta do precipício e me sentei ali, olhando para a cachoeira que havia a frente. 

 

— Clock strikes upon the hour

And the sun begins to fade/ Still enough time to figure out/ How to chase my blues away/ I've done alright up to now/ It's the light of day that shows me how/ And when the night falls, loneliness calls!

 

Cantei o mais alto que eu consegui, ninguém poderia me escutar e eu queria deixar um pouco minha depressão de lado. Eu não poderia continuar com aquilo. 

 

— Oh, wanna dance with somebody/ I wanna feel the heat with somebody/ Yeah wanna dance with somebody/ With somebody who loves me/ Oh,  wanna dance with somebody/ I wanna feel the heat with somebody! 

 

E como se minha mente tivesse entrado em curto circuito eu tive uma ideia muito idiota e impulsiva. Peguei meu celular e disquei o número que eu tanto conhecia. 

 

— Alô! — a voz irritadiça soou do outro lado — O que você quer, Bonnie? 

 

— Preciso do meu melhor amigo. 

 

Houve um  pequeno silêncio antes dele voltar a falar, a voz mais contida agora. 

 

— Onde eu te encontro? 

 

.

 

 

.

 

 

.

 

Yeah wanna dance with somebody

With somebody who loves me

 

Dirigi mais uns bons quilômetros antes de parar em uma cidade chamada Dullet Road. Ela ficava ao norte depois dos limites de Whitmore e era aconchegante. Eu a encontrei por acaso junto de Damon em um dos nossos episódios depois que voltamos do Outro Lado e tentávamos seguir a vida e eu tentava matar algumas lembranças ruins. Poderíamos fazer uma série com o que fizemos depois de sair daquele inferno. 

 

Aquela cidade parecia que havia parado nos anos 50 e 70. A moda pin-up e disco ainda era forte e muitas casas e comércios ainda adotavam aquele estilo. E era por isso que eu amava aquele lugar. 

 

Me embrenhei em algumas ruas até parar no Brilhantined.  Era um bar que possuía uma pista de dança e todas as melhores músicas de antigamente tocavam. Estacionei meu carro e pude ver que Damon já havia chego. Me perguntei como havia sido tão rápido. 

 

Ele vestia uma calça jeans escura, uma camisa branca e por cima a jaqueta preta de couro que eu havia lhe dado em agradecimento à agenda roxa. Damon estava apoiado em seu carro e sorriu de lado quando me viu descer do meu. 

 

— Ah, que é isso, Bonnie? Eu venho todo caracterizado e você vem como uma garota moderna?

 

— Eu sinto muito te decepcionar, Elvis. — ri e coloquei minhas  mãos no bolso da frente da calça. — Não foi minha intenção.

 

— Você gosta de ferir meu coração. — ele me abraçou pelos ombros e entramos no bar. 

 

As guitarras na parede, as garçonetes de patins e tudo perfeitamente igual aos anos 50 me encheram os olhos. Desde os porta canudos até as cores, as estampas de bolinhas, o modo como os jovens se vestiam... Aquilo era o paraíso. 

 

Assim que entramos a voz de Elvis Presley encheu minha mente. A vontade de dançar já estava surgindo.

 

— Dont be cruel... — Damon cantarolou descontraído me indicando uma mesa. 

 

— Who heart is true... — completei sorrindo. 

 

Uma garçonete miúda e simpática nos atendeu e Damon pediu dois refrigerantes. O olhei espantada e ele revirou os olhos. 

 

— O senhor Bourbon pedindo coca-cola? É o apocalipse! 

 

— Para de ser besta. Ainda não está na hora de beber. Sabe que Paul só libera as bebidas quando a pista de dança abre. 

 

— E estarmos a meia hora da abertura te dá a sensação de que pode suportar uma garrafa de  refrigerante? 

 

— É mais para uma esperança de conseguir  suportar. Mas porque me chamou, Bonnie? Pensei que não éramos mais melhores amigos. Principalmente depois daquele calendário idiota e depois da Ala Luxury. E principalmente depois de ontem, não achei que tivesse cara para me ver depois do que aconteceu ontem. 

 

— Do que está falando? — perguntei confusa — O que aconteceu ontem? 

 

— Ah, Bonnie. Não vem com essa não. Sei que está fingindo porque não sabe como reagir. Mas olha, nós ainda temos muita coisa para terminar, então não ouse alimentar essa timidez. 

 

— Não sei do que está falando, Damon.

 

— Eu já disse, docinho. Não precisa querer fingir nada. Eu também pensei em como eu te veria depois de ontem e devo dizer que aquela cena não saiu da minha cabeça. — ele pegou o refri que a garçonete deixou e bebeu. 

 

— Que cena? 

 

— Olha, eu andei pensando e cheguei a uma conclusão... — ele se aproximou de mim por cima da mesa e pegou em meu queixo. Um calor em meu corpo me incendiou com aquele mísero toque. — Nós podemos continuar com isso. Não seremos péssimos por isso. Afinal, o que acontece entre nós dois fica entre nós. 

 

— Sempre soube que era velho, e que quando mais velhos a cabeça tende a falhar... Mas mesmo sendo um vampiro? — ele me olhou sério e voltou a se recostar no banco de couro vermelho — Eu não faço a menor ideia do que está falando. 

 

— Okay, vou respeitar a sua "perda de memória". Mas olha, depois de como me deixou ontem... Ah, Bonnie... Temos muitos assuntos inacabados ainda. E se depender de mim, essa noite a gente termina e ainda começa outra rodada...

 

— Damon, eu juro por Deus que não sei o que está falando! — me desesperei, confusão poderia me definir. 

 

— Tá, tá, Bonnie. — ele abanou a mão no ar e deu de ombros ainda sorrindo de canto — Mas voltando, não pensei que ainda me considerava seu melhor amigo.

 

— Você sempre será meu melhor amigo. Sabe que independente de qualquer coisa é para você que eu corro no final do dia. 

 

Eu queria poder dizer aquilo sorrindo, mas como conseguiria? Não havia como. E Damon percebeu isso. Ele pegou em minha mão que brincava com um canudo deixado na mesa e a afagou. Ele conseguia sentir calafrios como eu todas as vezes que me tocava? Porque eu sentia e eu amava aquela sensação. 

 

— Porque o seu lugar é ao meu lado, em meus braços. — garantiu e enquanto tocava The Police - Every Breath You Take, eu vi aquelas duas geleiras brilharem para mim. E quando seus olhos brilhavam eu me perguntava se ele também não estava tão apaixonado quanto eu — E não me importo que se esqueça disso, Bonnie. Eu sempre vou te lembrar que onde você está é o lugar onde eu devo estar também. 

 

Oh, can't you see?

You belong to me

How my poor heart aches

With every step you take

 

 

— Você nunca vai me abandonar? — uma pergunta tão idiota e infantil, mas eu queria uma resposta concreta. Eu decidi que seria a semana das respostas concretas. — Independente de qualquer coisa? Você nunca vai desistir de mim, não é? 

 

— Se um dia eu desistir de você, será como se eu desistisse de mim mesmo, Bonnie. E eu não estou levando a sério aquele maldito calendário. 

 

— Devia, Damon. Eu falei sério. 

 

— Eu sei que sim. Mas você acha que eu vou querer me apegar a alguma coisa que vai me afastar de você? Eu correria o mundo atrás de você, mas você já tentou se por no meu lugar? Já pensou como eu ficaria perdido sem você? 

 

— Você logo vai arrumar um rumo para sua vida quando Elena voltar. 

— Eu sinceramente não me vejo sem você. — ele trincou o maxilar e ficou em silêncio antes de rir sem um pingo de humor — Não, não tem condições, bruxa. 

 

— Damon... Elena, ela...

 

— Não fala dela. Não quando eu estou aqui segurando em sua mão prestes a te puxar para dançar. É uma noite nossa, Bonnie. É um momento nosso e é a nossa vida. Eu e você. Agora. Isso basta para você por enquanto? 

 

Ele se levantou e me levou junto. Enxugou minhas lágrimas, beijou minha testa e me abraçou. 

 

— Basta por enquanto. 

 

— Eu vou arranjar outra justificativas melhores mais para frente. Mas hoje sem a menor menção de qualquer pessoa que seja. É um momento Bamon. Como nos velhos tempos, okay? 

 

— Okay. — afundei meu rosto em seu peito e ele me apertou gentilmente em seus braços. 

 

— Agora vem, a pista de dança já vai abrir e não vamos sair daqui até nossos pés implorarem para isso. 

 

.

 

.

 

.

 

 

Eu não fazia ideia de quantas músicas havíamos dançado. Desde Cindy Lauper até Elvis Presley, Bonnie Tyler e Whitney Houston também tocaram. Não éramos os  únicos presentes na pista de dança, mas com toda a certeza estávamos em um mundo só nosso. Nosso mundo Bamon. 

 

Eu o via dançar e não consegui não ficar hipnotizada. Seus cabelos negros caindo por sobre os olhos fechados, o sorriso sincero ao cantarolar a música que ele havia vivido a décadas atrás. Suas mãos balançando e  seus pés chutando o ar. 

 

— Nessa época, nós dançávamos assim, sabia? Os braços erguidos, as pernas sempre tremendo e chutando o ar, deslizando pela ponta dos pés. — ele dizia enquanto me girava — As damas balançavam os vestidos e rodavam. 

 

Aquilo era tão surreal, ele falando de uma época que eu só via nos filmes. Ele ter vivido aquilo e me ensinando tudo era tão especial para mim. 

 

— Os homens eram mais cavalheiros e as sorveterias eram os comércios mais cheios juntamente com as lanchonetes. 

 

Ele me virou novamente e me soltou, se inclinou para frente e  deslizando pela ponta dos pés ele se aproximou. Ofereceu a mão à mim e eu aceitei. Imitava os passos dele e eu não conseguia parar de sorrir. 

 

— Isso, Bonbon. — ele sorria grande e ele me abraçou por trás e dançamos com nossos quadris colados — Não rebole assim se quiser continuar a dança. 

 

Eu joguei a cabeça para trás rindo e me virei de frente à ele. A voz de Elvis ficou para trás quando Madonna começou a tocar. Damon colocou suas mãos em minha cintura e nos colou. 

 

Swaying room as the music starts

Strangers making the most of the dark

Two by two their bodies become one

 

Nossos passos eram lentos e nossos olhos estavam conectados de uma maneira que não conseguia ver nada ao nosso redor. O vampiro e a bruxa. Damon e Bonnie. Meu amor verdadeiro estava me segurando em seus braços fortes e não tinha sensação melhor que aquela. 

 

— Suas mãos devem estar em torno do meu pescoço. Será que eu tenho que te ensinar tudo, bruxinha? — ele riu gentil e tirou minhas mãos que estavam em sua cintura. 

 

— Eu não alcanço seu pescoço.

 

— Baixinha... — ele me ergueu e meus pés ficaram em cima dos dele, mas não houve grande diferença. Ele colocou minhas mãos em sua nuca e voltou a me prensar contra sua cintura.

 

— Eu nunca dancei assim com ninguém. — revelei e já estava esperando ele rir de mim, mas ele só colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. 

 

— Eu já dancei muitas vezes. Mas nenhuma pode se comparar com essa. 

 

 

I see you through the smokey air

Can't you feel the weight of my stare

You're so close but still a world away

What I'm dying to say, is that

 

Estávamos perto demais e aquilo era perigoso. Eu tinha medo que pudesse atacá-lo. Imagina, beijar meu melhor amigo?! Beijar o cara que... Não, Bonnie. Sem menções sobre outras pessoas.

 

— Acho melhor pararmos de dançar. — falei. 

 

— Porque? 

 

— Eu bebi um pouco além da conta e estou com muita vontade de  te beijar. — confessei e já ia me afastar quando ele simplesmente me ergueu em seu colo e fez minhas pernas o envolverem enquanto as segurava forte. Arfei com aquilo e me senti corar.  

 

— Está, é? Agora sim é o apocalipse! — ele falou antes de gargalhar — A minha maior inimiga falando que quer me beijar? 

 

— Você é tão otário, Damon. — revirei os olhos e me remexi para sair de seu aperto de ferro. 

 

— Isso! Rebola mesmo no meu colo, Bonnie. — ele provocou — Principalmente quando tenho a cena da noite anterior tão fresca. 

 

— Não sei do que está falando, Damon. _— repeti cansada e me segurei com força em seu ombro quando ele nos rodou. 

 

— Nunca vou deixar você cair, sabe disso. 

 

— Sim. Você que me empurra precipício abaixo. 

 

— Mas com toda a certeza eu estarei lá em baixo para te pegar. 

 

 

Trying hard to control my heart

I walk over to where you are

Eye to eye we need no words at all

 

 

— O que foi? — ele me perguntou quando sentiu que meus olhos sobre eles estavam intensos de mais. 

 

— Não, nada é só que... — eu acariciava seus cabelos e tirava a franja dos olhos azuis. Acariciei a bochecha esquerda e ele  deslizou uma das mãos para minhas costas — Fico me perguntando como você estaria se sentindo se fosse humano, quer dizer...

 

— Eu agora estaria com meu coração tão acelerado quanto o seu e tão corado também. Cansado pelas danças mas do mesmo jeito ainda te pegaria no colo. Há muito tempo eu não me sentia assim, acho que eu nunca me senti assim antes. 

 

— Você ainda se lembra de todas essas sensações? Mesmo depois de tanto tempo? 

 

— Não. — ele respondeu sério. A mão apertando minha cintura — Eu as estou sentindo agora. 

 

— Damon...

 

Slowly now we begin to move

Every breath I'm deeper into you

Soon we two are standing still in time

If you read my mind, you'll see

 

 

 

— Porque você é assim? — perguntei com o coração batendo tão forte no ritmo da música e imaginando que era o mesmo ritmo que estaria batendo o dele. 

 

— Assim como? 

 

— Estranho. Em um momento me trata como se ainda me odiasse, eu sei que odeia, que eu jamais seria a sua escolha. Eu não sei o que te deu, mas isso não me importa. Me importa saber que se pudesse voltar no tempo sua escolha seria outra. 

 

— Eu não posso voltar no tempo, Bonnie. — ele falou com dor e eu sentia minhas lágrimas vindo. 

 

— Sei que não. E eu me sinto muito horrível por saber que se pudesse você voltaria e não me escolheria. Sei que é egoísmo de minha parte, sei que não tenho o direito de desejar que sua escolha fosse a mesma de agora mas é que...

 

I'm crazy for you

Touch me once and you'll know it's true

I never wanted anyone like this

It's all brand new

You'll feel it in my kiss

You'll feel it in my kiss

 

A música falou por mim, mas ele não havia entendido. Ele nunca conseguiria ouvir meu coração dizendo que o ama com todas as forças que há dentro de mim. Porque meu amor não era o que ele queria. Ele queria o amor de outra, queria outra...

 

 — Ouça, Bonnie. Minha escolha seria diferente, sim. Escolheria matar antes e de uma vez por todas aquele miserável. — eu tremi ao lembrar de Kai — Escolheria ter as duas ao meu lado. Porque eu simplesmente não posso viver sem você. 

 

— Foi por um impulso não foi? Que escolheu a mim, não a ela. 

 

— Bonnie, não é isso.  Eu não consegui pensar com clareza naquele momento e então as coisas só aconteceram.

 

Aquelas palavras me machucaram e eu não queria mais ficar perto dele. Não queria mais me ferir. Sai de seu colo e corri para fora do bar. Eu já soluçava e eu estava trêmula quando tentei abrir a porta do meu carro, mas uma grande mão me impediu. 

 

— Sabe porque eu não pensei com clareza? — ele perguntou e me virou fazendo o encarar ele estava irritado e fiquei me perguntando porque diabos éramos assim! Explosivos um com o outro e ainda sim também éramos protetores e carinhosos — Porque quando eu vi você daquele jeito eu surtei! Eu não aguentei te ver daquele jeito, Bonnie! Eu vi você apagando e eu não podia deixar. Não depois de tudo o que havia feito por mim. Não depois do que nos tornamos. Não depois do que você passou a significar para mim. Era você que eu tinha que salvar, Bonnie. E é você quem eu quero beijar agora!

 

E então ele venceu a curta distância que havia entre nós dois. Sua boca e sua língua eram geladas mas me deixaram quente. Ele voltou a me prender em seu colo, mas agora ele me prensava contra a porta do meu carro. Minhas mãos puxavam levemente seus cabelos lisos e ele adentrou uma mão em meus cabelos também. O beijo era calmo de início, mas ao mesmo tempo que a música ao fundo explodiu, nosso beijo também incendiou.

 

Because I'm crazy for you

Touch me once and you'll know it's true

I never wanted anyone like this

It's all brand new

You'll feel it in my kiss

I'm crazy for you

Crazy for you

Crazy for you

Crazy for you

 

Eu fui parando o beijo porque eu precisava respirar. Eu temia ter um ataque cardíaco e me recusava a abrir os olhos e ver a decepção e arrependimento em Damon seria demais para mim. Eu havia sonhado tanto com isso, eu não podia me machucar assim também. Eu ainda era só uma garota de 19 anos vivendo o seu grande amor, uma rejeição desse tamanho... Não sei o estrago que faria. 

 

— Olha, Bonnie. Por favor. Para de fingir que não se lembra de nada do que fizemos e do que deixamos a de fazer ontem. — ele pediu e vi a súplica em seus olhos quando o timbre de sua voz era desesperada — Você não pode imaginar o quanto eu quero continuar aquilo. 

 

— Continuar o que, Damon? — falar era difícil quando se estava concentrada nos lábios do amor de sua vida.

 

— Você sabe do que eu estou falando. 

 

— Eu não sei, Damon. Eu juro que não sei! 

 

— Porra, Bonnie! Quer que eu implore?! 

 

Segurei seu rosto e eu olhei no fundo dos seus olhos. 

 

— Eu não sei do que está falando, Damon. 

 

— Caralho, Bonnie! — ele afundou seu rosto em meu pescoço e mordeu levemente — Como pôde esquecer?! 

 

Ele me beijou novamente e um sorriso malicioso surgiu nos lábios finos ao mesmo tempo que a música de Whitney Houston que ouvi mais cedo começou a tocar. 

 

— Não se lembra de nada mesmo, Bonnie? — ele tentou pela última vez e a resposta foi a mesma. 

 

— De nada, mas agora eu até estou curiosa para lembrar. 

 

— Ótimo, porque eu vou fazer você se lembrar de tudo o que fizemos e vamos terminar o que começamos... — ele mordeu meus lábios e o chupou — Você está me devendo, Bonnie e eu vou cobrar com juros. 

 

— Estou começando a ficar com medo, Demon... — ela falou e usou novamente a comparação do meu nome. 

 

— Ah, não não. Não tenha medo, meu doce. O seu demônio essa noite não lhe fará mal... — o beijei e ele me afastou enquanto invertia a posição rapidamente. Encostou meu rosto no vidro e se moldou ao meu corpo, nossas cinturas coladas e sua voz sussurrou — Vou domar você, Garota Problema. 

 

Eu não fazia ideia do que ele falava, mas eu estava totalmente entregue em  suas mãos e sinceramente, estava pouco me fodendo para as consequências.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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