Alice - Uma história sobre o amor e o preconceito. escrita por Mila Karenina


Capítulo 5
Estreitando Laços


Notas iniciais do capítulo

Espero que curtam!



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Os raios solares adentraram a casa dos Wickham quando a manhã se aproximou, Edward ainda estava deitado. Raramente ele ficava mais do que o tempo necessário na cama, mas aquele dia foi uma exceção. Ele não conseguia parar de pensar em sua sobrinha e sua educação, talvez ir para uma escola realmente fosse uma melhor opção do que ser ensinada em casa.

Lisa encontrava-se em seu quarto, arrumava seus lisos cabelos em um coque, ainda não sabia como seria o seu dia. Não sabia quem era a nova governanta de Charlotte, mas pensava que seu filho não escolheria qualquer pessoa desqualificada. Ela queria que sua neta tivesse uma boa educação e que aprendesse os bons modos.

Vestiu seu novo vestido que ia até os joelhos, era branco e possuía alguns recortes modernos. Seus sapatos eram pretos, sem nenhuma estampa ou algo diferente.

Quando ela percebeu que estava na hora de acordar sua neta, saiu do quarto correndo e adentrou o paraíso particular de sua pupila de sete anos. Achava a decoração do lugar bonita e exagerada, na verdade, ela se identificava mais com aquilo do que a própria Charlotte, que odiava as extravagâncias.

— Bom dia, Charlie — A avó abriu as cortinas. — Está na hora de levantar-se, pelo que pode perceber, seu tio perdeu a hora.

Charlotte tinha os cabelos louros despenteados e um gosto amargo na boca. Odiava acordar cedo, achava que os seres humanos necessitavam de dez horas de sono. A garotinha não disse nada, não quis responder à avó dessa vez. Charlotte nunca havia apreciado a companhia da avó, na verdade, ninguém costumava apreciar. Lisa era uma mulher amarga.

— Quais são suas primeiras lições do dia? — indagou Lisa. — Está gostando das aulas de Alemão?

— Não — Foi a única palavra proferida por Charlotte. — Odeio todas as aulas que não as de Geografia.

— Soube que possui uma certa aptidão para História, é verdade? — Charlotte levantou as sobrancelhas com a pergunta.

— Não sei, vovó. Pergunte à minha professora.

A loirinha se trancou no banheiro.

*/*

Alice caminhava pelas ruas recém-iluminadas pelo sol. Havia contado tudo para sua mãe, que concluiu que o emprego era bom. Alison estava desconfiada e insistia para que a irmã tomasse cuidado. A irmã mais velha começaria no emprego na próxima Segunda, achou estranho que a mais nova tivesse que começar em uma Quinta-feira. Alice não quis falar muito sobre aquilo, ainda estava confusa em relação ao seu patrão.

— Mas é uma negra muito bonita! — Ouviu de um homem branco com um chapéu preto na cabeça.

Suspirou, em seguida apressou o passo, tinha medo de homens, sobretudo de brancos. Eles achavam que podiam fazer qualquer coisa, que mulheres negras não possuíam valor algum, Alice estremecia com medo do que poderia acontecer.

Um outro lado da história eram os grupos radicais. Malcolm X era famoso por apresentar ideias separatistas, já o grupo Panteras Negras apresentava ideias menos radicais e mais efetivas. Um de seus protestos foi levantar as mãos com luvas negras em um pódio olímpico, o ato ganhou grandes proporções, Alice não sabia o que pensar sobre aquilo.

Estava quase lá, só mais alguns passos e finalmente chegaria à casa. A jovem estava distraída, não percebia as coisas à sua volta, então quando um jovem aproximou-se dela e a assustou, deu um pulo e arregalou os olhos negros.

— Alice! O que faz em uma rua como essa? — O jovem perguntou.

Os cabelos afro do garoto estavam muito bem-arrumados, assim como sua calça verde-musgo e sua camisa azul-escuro. O homem era um velho conhecido de Alice, seu cunhado.

Chris era um homem alto e musculoso, tinha um corpo muito atlético e um sorriso reluzente. Alice achava-o muito atraente, mas não se comparava a Edward, Edward era muito mais bonito em sua opinião.

— Trabalho por aqui! — ela exclamou.

— Onde? Na casa dos Wickham? Não é possível! — O garoto pareceu impressionado. — Dizem que eles pagam salários astronômicos.

Bem, ela não podia negar que seu salário seria alto.

— Eles exageram, não é tanto assim — ela suavizou a ideia. — Além do mais, meu cargo não é muito alto.

— É empregada? — ele chutou.

— Não, governanta da senhorita Charlotte.

— Ah! Da loirinha bonitinha. Dizem que a garota é o demônio em forma de gente — Chris riu.

— Isso é uma mentira descabida, a garota é muito interessante.

— Você não vê defeito em ninguém, pequena — Chris enfiou os dedos nos cachos da cunhada. — Espero que você dê certo, ouvi umas coisas terríveis sobre as empregadas.

— Não tente me assustar, Chrissi-chris!

— O que sua irmã pensa sobre isso? — O jovem quis saber.

— Você conhece a Ali, ela é meio desconfiada.

— Meio? Completamente! — ele riu. — Eu vou indo, mas vou lhe fazer um convite.

— Faça então…

— Temos uma reunião do grupo hoje, vê se aparece por lá.

As reuniões de Chris tratavam-se de, na verdade, reuniões do movimento negro. Liderado pelas ideias de Malcolm X, pessoas se reuniam em suas garagens e falavam sobre possíveis melhorias e o fim da discriminação.

Na teoria, as ideias eram ótimas, mas na prática, muitos negros morriam defendendo-as. Alice não gostava daquilo, tinha medo. Por isso ficava sempre em casa, enquanto sua irmã estava à frente de discussões. Alison e Alice eram pouco parecidas, apesar da aparência.

Depois de despedir-se do amigo, ela continuou caminhando, já estava quase no seu local. Mais alguns passos e ela veria o senhor Wickham, ou melhor, a sua sobrinha. Alice se recriminava por não achar a ideia de ver o loiro, ruim. Uma pessoa normal diria que não há nada demais naquilo, mas ela não era uma pessoa normal. Era Alice e Alice se importava com essas coisas.

Três toques na campainha e finalmente Sky apareceu no portão. Alice não havia se esquecido do nome da alta mulher loira, afinal, não era todo mundo que era batizada de céu. A mulher olhou para Alice com um aparente desprezo, mudando sua perspectiva anterior, já que Alice havia a achado bem-educada.

Sky não sabia o motivo de Alice estar ali, para ela parecia errado que uma mulher negra tivesse um cargo mais alto que o seu. Não se achava de todo preconceituosa, não tinha problema em falar com pessoas de cor, mas não gostava de vê-los em posição superior à sua própria. Alguns chamavam aquilo de egoísmo, ela mesma achava que era só uma pessoa conservadora.

— Bom dia — A negra cumprimentou. A loira abaixou a cabeça.

— A senhorita Charlotte já lhe espera em seu quarto — A empregada foi ríspida. — Mais alguma coisa, senhorita Jackson?

Alice imaginava aquele tipo de tratamento, por isso ateve-se a sorrir, abaixar a cabeça e dizer um “muito obrigada” entre dentes. Ela sobrava em educação em um lugar onde faltava.

Depois de subir as escadas com pressa, novamente observou o longo corredor com suas infinitas portas. Quantos quartos havia ali? Ela não saberia responder, era impossível contar visualmente.

Bateu na porta cinco vezes seguidas, antes de finalmente encontrar a pequena loira com os olhos azuis bem apertos e um cheiro de creme dental forte. Alice não pôs os dedos no nariz, mas sentiu vontade. Ela não queria parecer insensível.

— Bom dia, senhorita Jackson — Charlotte cumprimentou formalmente.

— Ei, não precisa me chamar assim… — Alice sussurrou, mas logo notou a presença de mais alguém ali.

Lisa estava em pé, vestida com sua roupa de marca e com expressão irredutível. Alice não a conhecia, por isso automaticamente entrou no seu modo padrão educado e tratou de estender as mãos à mulher, que não as segurou.

— Não há necessidade, mocinha — Lisa afirmou. — Você é mesmo a governanta que meu filho contratou?

A confusão entrou na mente da jovem. Por que aquela mulher estava falando daquele jeito com ela? Quem era ela, afinal? Nada fazia muito sentido em sua cabecinha cacheada.

Os olhos da negra encontravam-se no tapete felpudo do quarto, já os da senhora Wickham, em Alice. Ela observava minuciosamente o comportamento da jovem à sua frente. Ela vestia-se de forma adequada, por mais que fosse negra, pensou Lisa.

Quanto à protagonista? Ela não fazia a mínima ideia do que responder. Estava em uma sinuca de bico. Deveria ela ser petulante com a patroa em potencial? Ela deveria escutar e ficar quieta ou ela simplesmente deveria ir embora e não voltar mais? Eram muitas opções e nenhuma atitude aconteceu. Não até que Edward aparecesse no quarto.

O momento que pareceu durar horas, na verdade durou aproximadamente dois minutos e Charlotte, que estava tentando evitar conflitos, sorriu abertamente quando o tio desfilou pelo seu quarto.

— Titio! — A pequena abraçou o tio. — Ainda bem que você chegou.

Involuntariamente, Alice sorriu com a presença do loiro, para que em seguida, arranhasse à si mesma, arrependendo-se.

Lisa estava com os olhos no filho, quando ele, timidamente, respondeu ao sorriso da negra. Automaticamente, a mãe orgulhosa, começou a tramar ideias e teorias sobre o motivo daquela jovenzinha tão humilde estar ali. Com certeza era amante do filho, era a explicação mais plausível para ela. Ao mesmo tempo que amaldiçoava seu filho restante, sentia-se enraivecida por aquela “qualquer” sujar a sua família daquela forma tão vulgar.

Edward deu uma rápida olhadela para sua mãe, porém não disse nada.

— Bom dia, senhorita Jackson! — Edward cumprimentou animadamente. — Fico feliz que esteja aqui.

A ironia era que mesmo Alice sendo uma hábil observadora da vida e uma nata entendedora da alma, ela não percebia o quanto sua presença iluminava o sombrio coração do louro. Ela não fazia ideia de que ele estava dizendo a verdade, ele estava mesmo feliz em vê-la. Tudo que conseguia pensar, era em como ele era cordial e que, ele poderia estar qualquer coisa, menos feliz.

Edward era de poucos sorrisos, de fato. Apenas os mais íntimos sabiam notá-los, quando em uma das raras ocasiões, eles aconteciam. Lisa havia notado naquele dia, Alice nem passou perto.

— Também fico feliz em poder ajudar — Ela ponderou antes de falar. — Essa é sua mãe?

A senhora revirou os olhos. A garota devia ser uma ignorante, pensou. Como ela não conhecia a senhora Wickham? Todos deveriam saber quem ela era. Lisa não havia gostado da nova governanta de sua neta, além de tudo a atrevida era preta!

— Notou alguma semelhança? — Charlotte disse, para depois, cair na gargalhada.

— Sim, essa senhora de ferro é minha mãe — Edward respondeu. — Minha amada mãe.

Lisa não gostou da demonstração de “afeto”. Conhecia o seu filho o suficientemente para entender as suas ironias.

— Guarde suas palavras bonitas para pessoas que precisam delas! — Lisa revirou os olhos seguidas vezes embaixo do óculos. — Se bem que não anda se envolvendo com pessoas que realmente precisem.

A senhora deu uma olhada para Alice, antes de finalmente deixar o quarto, completamente irritada.

— Sua mãe é uma senhora realmente adorável — Alice mentiu.

Charlotte se jogou no chão de tanto rir.

— Sabemos que ela é uma bruxa! — Charlotte começou a rolar pelo tapete.

— Não fale assim da sua vó, Charlie — O homem repreendeu. — Alice, você realmente achou minha mãe adorável?

Sem querer arriscar, Alice respondeu:

— Sim, mulher adorável.

— Não precisa mentir, sabemos que ela não é — ele falou sério. — Mas no fundo, sei que é uma boa pessoa. Só precisamos cavar, cavar, cavar…

Charlotte soltou mais uma de suas risadas escandalosas.

— O que eu devo fazer por hoje? — A jovem perguntou.

— Por hoje? Bem, eu gostaria que você e a Charlotte se conhecessem melhor. Afinal de contas, serão grandes amigas — Alice sorriu quando ouviu o “amigas”. — O que você acha, Charlie?

— Eu acho o cabelo dela um máximo! — A loirinha deu língua. — E ela parecer ser legal! Ela disse pra mim que veio da África!

— Você veio da África, senhorita Jackson? — O loiro tinha uma expressão divertida no rosto, mas não chegava a sorrir.

— Sim, eu vim! E você veio da Inglaterra, senhor.

— Talvez eu tenha vindo da Noruega, nunca se sabe! — Edward deu um beijo na testa de Charlotte, que ainda estava no chão. — Tenha um bom dia, senhorita africana, digo, senhorita Jackson.

E assim eles se despediram com um aperto de mãos.

Depois de devanear um pouco sobre o homem de terno preto, Alice confrontou seu destino: ela deveria passar o dia todo com a pequena e deveria conquistá-la.

— Posso perguntar uma coisa? — A loirinha perguntou.

— Claro. Por que não?

— Pode me contar, eu não vou espalhar e muito menos fofocar para a vovó… Você é a namorada do titio, não é? — As bochechas de Alice coraram no mesmo instante.

Ela não sabia como responder aquilo.


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Notas finais do capítulo

Beijinhos!



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