Soine-ya: o serviço do chamego escrita por The Stolen Girl


Capítulo 1
Capítulo único - Soine-ya




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Cassie estava quase voltando atrás. Claro que ninguém saberia, já que não conhecia ninguém por ali. Era uma recém-chegada. Seu segundo dia na casa nova, e no país também. Sempre quisera morar ali, mesmo que secretamente. E quando, no ano passado, passou suas férias hospedada perto de onde mora agora, a certeza só aumentou. Poderia ter escolhido a capital, mas optou por Osaka. A terceira província mais populosa do Japão. Conseguiu um emprego numa indústria química, em sua área. Estava muito feliz, mas algo faltava. Pensou nisso por horas, e então soube. A solidão a incomodava. Nenhum familiar, nenhum amigo. Sabia que com o tempo isso mudaria, mas ainda era cedo. Só queria companhia. Foi então que lembrou-se do cartão em sua bolsa. Havia o recebido na rua.
Ligou, mesmo não sabendo se aquilo era confiável. Quando percebeu, já estava andando para lá e para cá no apartamento, conversando com a atendente e pedindo alguém que falasse sua língua. Ficou envergonhada quando a moça do outro lado da linha esclareceu que eles não incluiam serviços sexuais, e que o Soine-ya era totalmente seguro. De fato, Cassie não queria fazer sexo com um desconhecido, isso nem lhe passara pela cabeça. Queria apenas companhia.
Agora, continua andando para lá e para cá em seu imaculado apartamento, a espera de que seu acompanhante seja anunciado. Ao passar pelo espelho, cai em si e lembra-se que já está de camisola. Uma curta e fina camisola. Corre até o guarda-roupas e escolhe outra roupa. Uma que não mostre o que não deve. Quando já consou-se de esperar, prepara um café. Café a faz se lembrar de casa. Fraco e doce.
De repente o interfone toca, e ela atende, nervosa:
-Olá. - disse em português, a espera de que o outro a entendesse, já que havia pedido um rapaz que falasse sua língua.
-Boa noite, senhorita. Aqui é do serviço Soine-ya, estou autorizado a subir? - ele disse, num perfeito português.
-Claro. - e então desliga.
Alguns minutos depois, ele bate em sua porta, e ela a abre, com a xícara de café nas mãos. E o que encontra não são olhos puxados, nem nada que lembre a aparência reconhecível de um japonês. Pareceu a ela um legítimo brasileiro, porém muito branco, contrastando com os cabelos pretos e lisos. Fez um sinal para que ele entrasse, e percebeu que não sabia seu nome.
-Como você se chama?
-Alec - ele disse, tímido.
-De Alexander, como em Os instrumentos mortais? - disse animada, mas depois querendo voltar atrás, pois provavelmente ele nem sabia do que ela estava falando.
-Ah, não. Só Alec. - e então sorriu para ela com dentes perfeitamente brancos e alinhados.
Não sabia mais o que fazer, ou o que dizer. Estava envergonhada e arrependida. Não sabia lidar nem com conhecidos, imagine com um estranho total? Nem pensar. Quando viu, já estava andando de um lado para o outro, como sempre faz em momentos de ansiedade. Alec a olhava, visivelmente constrangido.
-Será que... poderia assinar isso para mim? - ele disse.
-Ah, sim. Eu assino. - pegou o papel das mãos do garoto e assinou.
-Bem, eu preciso esclarecer algumas regras. - ele continuou.
-Não, nem pensar. Já sei que não vai me oferecer serviços sexuais. - afirma ela, cortando o que quer que Alec fosse dizer. O rapaz corou.
-Na verdade, só ia dizer que meu horário vai até às 8 horas da manhã.
Cassie olhou para o relógio e percebeu que eram 20h20min. Ainda teria muito tempo com ele, e não fazia ideia do que falar agora.
-Ah, ok. Meu nome é Cassie - e sorri.
-Eu sei - e retribui o sorriso. Ele espicha o olho para xícara em suas mãos. - Isso é café?
-Aham, você aceita? - e ele assente.
Cassie abaixa-se para pegar outra xícara no ármario embutido abaixo da pia, e a ponta de seus cabelos vai direto para dentro do café.
-Droga. - ela diz levantando-se, com a xícara de Alec vazia na mão - Pode se servir ali da garrafa, vou ao banheiro. - entrega a xícara a ele e segue para o banheiro.
Olhou-se no espelho, reparando na parte molhada de café. Seu ruivo estava mais escuro na parte tocada pelo líquido, na qual ela passou as mãos, em seguida molhando para evitar que o açúcar empreguinasse. Reparou também em suas olheiras adquiridas nos últimos dias, e em como era pequena. Sentia-se frágil. Saiu do banheiro e encontrou Alec tomando café, em pé.
-Pode se sentar, por favor. - e sentou-se também no sofá.
O desconforto de ambos era paupável, enquando dividiam o sofá de dois lugares. Cassie ligou a tv, mesmo que não estivesse com vontade de assistir coisa alguma. Era uma forma de preencher o ambiente silencioso.
-Alec... Você me parece bem jovem - e deixa a pergunta no ar.
-Talvez eu seja. Tenho 20... - olhou para os lados, e completou - E você?
-22.
Apesar dos dois anos de diferença, ambos pareciam jovens. Alec, apesar do porte que dá a ele um ar de homem, parecia um garotinho tímido em suas feições. E Cassie assemelhasse a uma menina, devido ao pequeno porte e a magreza.
-Porque trabalha com isso? - Cassie pergunta, deixando seus pensamentos ganharem vida. Afinal, alguém tinha de dizer algo.
-Com o Soine-ya? - ela assente - Bem, é uma boa fonte de renda, e não é muito trabalhoso.
-Mas você dorme com... estranhos. - diz, sem graça.
-Ah, não sempre. Só três vezes por semana. Sabe, temos um quadro de horários. E meus dias são só segunda, quarta e sexta.
-Mas hoje é quinta.
-Sou o único brasileiro na sua faixa de idade, então me ligaram.
-Me desculpe. - ela diz, sincera - Justo em um dos seus dias de folga estou aqui te fazendo trabalhar.
-Não foi sacrifício algum. - e as bochechas de Alec adquirem um tom avermelhado. Cassie sorri para ele.
Ela passa os canais mecanicamente, só para fazer algo.
-Me desculpe a intromissão, mas aquele filme do canal anterior é bom. - ele diz, e ela volta ao canal.
-Está no início... Vou fazer pipoca, você gosta?
-Claro.
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O filme era realmente bom. E ajudou no fato de que, por duas horas, não precisaram conversar. Agora são 22h40, mas Cassie ainda está sem sono.
-Você se incomodaria se eu arrumasse algumas coisas? - ela perguntou.
-Fique à vontade.
Cassie foi até a cozinha, puxando a enorme caixa em direção ao quarto.
-Permita que eu te ajude. - diz Alec, a seu lado.
Os dois, mais ele que ela, puxam a caixa até o quarto.
-Obrigada.
Depois de agradecer, Cassie abre a caixa e tira de lá seus livros. Ao encontrar Cidade de vidro, cutuca Alec e diz:
-É ele. Alexander.
-Eu sei, já li a série. - ele responde, fazendo com que um sorriso brote no rosto de Cassie.
Ela deposita sua coleção na cama, e então sobe na mesma, a fim de colocar os livros nas prateleiras instaladas acima da cabeceira da cama.
-Vejo que acabou de se mudar... Por que veio para Osaka? - ele pergunta, já menos envergonhado que no início da noite.
-Sim, estou aqui faz dois dias. Bem, sempre quis visitar o Japão. Passei férias aqui uma vez, e daí tive certeza. Certeza de que queria viver aqui. - abriu um sorriso, lembrando-se das ditas férias. - E você? O que faz aqui?
-Depois que meus pais morreram, vim pra cá. Tenho um tio aqui, e além disso é um lugar muito bom.
-Sinto muito. - disse, referindo-se aos pais do garoto.
-Ah, tudo bem.
Depois de ter tudo em seu devido lugar, e de certificar-se de que Alec não quer comer ou beber nada, Cassie resolve conversar mais. Afinal, foi para isso que contratou o Soine-ya naquela noite. Ter alguém para conversar, expulsando assim a solidão.
-Você estuda?
-Sim, estou fazendo faculdade. Termino ano que vem. Não dá pra viver assim para sempre, não é mesmo? - ele diz.
-E o que você cursa?
-Restauração.
-Ah, que interessante. - era o primeiro aluno de restauração que Cassie conhecia.
-E tão bom quando você vê algo ressurgindo a partir das suas mãos. É como construir algo novo, apesar de você estar apenas refazendo. - Cassie percebe o encanto em sua voz, se dá conta de Alec adora o que faz. - E você?
-Fiz engenharia química.
-Já conseguiu um emprego aqui?
-Aham, em uma indústria a alguns minutos daqui. Mas começo só segunda. - depois de alguns segundo, ela pergunta: - Como é? Trabalhar com soine-ya?
Ele pensa por alguns instantes.
-No início era ruim. Quase sempre sou contratado por japonesas, geralmente mais novas que eu. E demorou um tempo para eu conseguir conversar com minhas clientes. Antes, se elas não diziam nada, eu também permanecia calado. Houveram reclamações sobre mim. Mas fui melhorando. Acontece que, mesmo que não pareço, sempre tem alguém querendo a companhia de um de nós. É raro eu ficar algum dia dos meus horários sem ser contratado. As piores vezes são aquelas em que elas choram. Eu ainda não sei o que fazer quando isso ocorre. Não que eu deva fazer algo.
-Choram? - ela pergunta, curiosa.
-Sim. Talvez estejam deprimidas, não sei. Ás vezes usam a gente como uma forma de desabafar, e acabam contando suas vidas, seus problemas. Não acho que seja muito seguro fazer isso. A empresa é confiável, mas e se um funcionário resolver espalhar tudo o que acontece por aí?
-Isso já aconteceu?
-Infelizmente sim. Isso não afetou diretamente a garota, porque ele não a conhecia, mas não é legal. Todos souberam de coisas pessoais dela. Ele foi demitido.
-Mulheres também trabalham com Soine-ya, não é?
-Aham. Só que para elas é pior. Alguns caras são bem incovenientes. Não muitos, mas alguns.
-Eles tentam...? - e gesticula com as mãos.
-Às vezes. Nada demais, só que não faz parte do nosso serviço.
-Entendo.
Observando melhor, ela percebe que as veias de Alec são visíveis, devido a pele pálida. E também nota que o garoto parece estar com frio. Sem perguntar qualquer coisas, levanta-se e fecha a janela, observando-o fechar os olhos e suspirar.
-Acho que vou me deitar. - ela diz - Já são 23h, e eu costumo dormir cedo.
Ele apenas assente, levantando-se da ponta da cama onde estava sentado. Ela estende as cobertas, escova os dentes no banheiro e se deita. Fica agradecida por ele, em momento algum, ter perguntado o motivo de ela ter uma cama de casal. Sempre gostou de espaço, a fazia se sentir segura. Em sua mente, a imagem impressa no cartão da empresa apareceu. Um homem e uma mulher deitados lado a lado, mas sem se encostar. Pegou o cartão do criado mudo ao lado e mostrou para ele.
-Isso faz parte dos seus serviços?
-Sim. Mas só se o cliente desejar.
Ela não sabia ao certo se queria. Qual seria a diferença entre dormir sozinha, ou dormir com alguém do lado, já que ele teria de ficar imóvel? Mas seria injusto deixá-lo dormindo no sofá a noite inteira. Então deu tapinhas na cama, indicando que ele se deitasse também. Meio desconfortável, ele faz o que ela pediu. Deitado de barriga para cima, ele encara o teto, enquanto ela está de lado, observando-o. Pensa "E agora? Será que vou conseguir dormir? Então é isso, ou tem algo mais?"
-Faça o que pode fazer. - ela diz, de repente. Alec demora um tempo para entender, até que um brilho de reconhecimento passar por seus olhos.
-Tudo bem.
Ele vira-se de lado, agora ambos olhando um para o outro. Alec leva sua mão aos cabelos ruivos de Cassie, e começa a fazer cafuné. Ele então afasta a mecha cacheada que cai sobre o rosto da menina, e ela fecha os olhos. Talvez pela prática, os dedos de Alec são flexíveis e macios, realizando o melhor cafuné que ela já recebera. Sem perceber, ela suspira. Seu corpo começa a amolecer, o sono chegando. A outra mão do rapaz segura as dela. Quando está praticamente adormecida, e o movimento da mão de Alec já é fraco em sua cabeça, sinal de que ele também estava quase dormindo, um toque de celular a faz despertar. E não é seu celular.
-Me desculpe. - ele diz e levanta-se, atendendo o telefone.
Ele vai até a sala, mas mesmo assim ela o escuta dizer, antes de desligar: "estou indo para aí".
-Sinto muito mesmo, pode ligar que vão mandar outra pessoa, mas tenho que ir agora - ele diz, com o tom de voz um tanto alarmado.
-O que houve?
-Minha irmã está tendo uma crise - e saiu correndo apartamento afora.
Cassie vestiu um casaco e saiu também. Lá fora, Alec acenava freneticamente, chamando algum táxi, em vão. Ou estavam cheios, ou não o viam, ou talvez simplesmente o ignorassem.
-Vem, te levo no meu carro. - diz, enquanto cutuca o rapaz para que ele vire-se em sua direção. Lágrimas. Seu rosto está marcado por duas lágrimas solitárias, que ele logo limpa com as costas da mão.
Eles entram no pequeno carro de Cassie, e ele a explica o caminho.
-Obrigado por fazer isso.
-Não tem problema, sério.
Não querendo ser indelicada ou intrometida, mas sendo também a curiosa que sempre foi, ela pergunta:
-Você disse crise... De que?
-Epilepsia. - ele olha pela janela, as mãos inquietas sobre o colo - Eu... eu achei que ela estava bem, fazia algum tempo que isso não acontecia. Não entendo, a medicação é boa, sei que é. Não devia deixar ela só com a babá, não devia. Eu... - ele para, depois de falar tudo isso muito rápido - Me desculpe, você não tem nada a ver com isso.
-Eu que perguntei, tá? Fica calmo, por favor. Vai dar tudo certo. Essas crises geralmente param espontaneamente, né?
-Sim. Mas entende que não posso deixá-la lá, não é? Ela nem ao menos gosta daquela babá que arrumei. - ele tenta se explicar, apesar de não ser necessário.
-Não precisa se explicar, você está certo. - ela olha ao redor - Veja, estamos chegando.
Quando finalmente chegam, Alec salta do carro e abre apressadamente o pequeno portão, correndo até a porta mais a frente. Cassie vai atrás dele, sabendo que talvez o garoto queira que ela vá embora. Ao chegar, percebe as mãos de Alec tremendo, com dificuldade para encaixar a chave. Ela o afasta gentilmente, tomando a chave de sua mão e abrindo a porta em seguida. Lá dentro, não há sinais de que algo ocorreu; tudo está silencioso. Cassie não sabe o que fazer, se vai embora ou fica. Por fim, decide sentar-se no sofá, enquanto Alec sobe apressadamente as escadas. A casa é simples, porém arrumada. Ela escuta vozes vindo lá de cima, mas não consegue distinguir o que dizem. Parece que horas se passam, mas Cassie sabe que foram só alguns minutos. Quando está quase levantando-se e indo embora, Alec desce as escadas com uma garotinha ao lado. Ela tem os mesmos cabelos pretos e lisos, porém sua pele é morena clara.
-Essa é minha irmã, Ceres. Ceres, essa é a Cassie, ela me trouxe aqui pra te ajudar.
-Olá - a garota diz, um pouco tímida.
-Oi, Ceres. Você está bem? - pergunta, meio sem saber se deveria realmente ter dito isso.
-Já estou melhor, obrigada. - Ceres solta a mão do irmão e olha para Cassie - Você é muito bonita.
-Obrigada - e sorri para a menina, feliz pelo elogio.
-Olhe, ela não se parece um pouco com aquela atriz de que gosto, Alec? - ela interroga o irmão.
-Hmm... Talvez - ele não parece concordar muito.
-Vem aqui, deixa eu te mostrar de quem estou falando - e puxa Cassie escada acima, para seu quarto. Chegando lá, aponta um poster pregado na parede, estampando o rosto de uma ruiva sorridente. Cassie não achou que se parecesse com ela, exceto nos cabelos, mas não quis desapontar a menina.
-Ah, sim. Você está certa. - e sorri para ela.
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-Obrigado por ter esperado eu colocá-la para dormir. - diz Alec, depois de um tempo lá em cima com a irmã, enquanto Cassie aguardava no sofá.
-Tudo bem... Ela está mesmo bem?
-Sim. Quando cheguei, a crise já havia parado, mas ela estava bem assustada.
-A mulher que passou por aqui alguns minutos atrás parecia bem abatida. - diz, lembrando-se da moça que só lhe dirigiu um apressado "boa noite" e foi embora.
-Era a babá. Não soube o que fazer. - e suspirou, parecendo triste e cansado.
Cassie sentiu um pouco do peso que ele carregava. Cuidar sozinho de uma irmã doente, sustentá-los. Apreciava a coragem que havia nele, coragem que muitos homens mais velhos não tinham. Naquele momento, tudo indicava, desde sua postura aos suspiros que soltava, que Alec precisava de conforto, de alívio. Ter de crescer tão depressa, pensou Cassie. Ela com 22 anos, e até agora, ainda não cuidava direito nem de si mesma. Então, fazendo o papel que ninguém mais poderia ocupar, pois ele não tinha mais ninguém ali, ela pegou a mão dele entre as suas, obtendo como resposta um olhar de pura gratidão. Em seguida, ele chega mais perto e diz:
-Outras pessoas não teriam nem saído de seus apartamentos para saber o que estava acontecendo, e muito menos me trariam até aqui. Provavelmente iriam até reclamar sobre mim com a empresa. Mas você não. Muito obrigado por isso. - ele diz, pela primeira vez não parecendo nem um pouco envergonhado. - Tive sorte em ser o único que poderia te atender, Cass.
Cass. Ela não deixou de notar que ele usara seu apelido, apesar de não saber qual era. Talvez Cassie não tenha muitas opções de apelidos, na verdade. O que também não pôde deixar de notar foi que o nome adquiriu tamanha sonoridade, que parecia ter sido feito para ser pronunciado pelos lábios macios de Alec. Correção; lábios que ela suspeitava serem macios.
Deixou-se levar pelo momento, não pensando direito, pois, se pensasse, voltaria atrás. Soltou a mão do rapaz e inclinou-se suavemente, com um pouco de medo que ele a parasse e dissesse "isso não faz parte dos meus serviços". Mas ele não o fez. Apenas inclinou-se também, acabando com o espaço que os separava. Agora, seus lábios se tocavam, e Cassie constatou que os dele eram sim, muito macios. Aquele toque inocente permaneceu por alguns segundos até que Alec pousou uma de suas mãos na cintura de Cassie, e a outra em seu pescoço, realizando movimentos circulares. Pediu passagem um sua boca, tornando o beijo mais intenso. Quando percebeu, Cassie já estava com as mãos nos cabelos perfeitamente sedosos do garoto. O momento durou até que ambos se afastassem, Alec depositando um pequeno beijinho em seus lábios.
-Talvez eu devesse... - começa a dizer Cassie, pensando que talvez não devesse ter feito aquilo, e que deveria sair de cena agora.
-Fique. - ele a interrompe.
Pela primeira vez notou uma tremenda segurança na voz dele, e teve certeza. Ele queria mesmo que ela ficasse. E ela, procurando dentro de si, percebeu que também queria. E então ficou.
Ficaram imóveis, apenas olhando um para o outro. Não era desconforto, apenas não queriam estragar aquilo falando coisas desnecessárias. Ele acariciou a bochecha de Cassie, e disse sussurrando:
-Vem aqui.
Subiram as escadas silenciosamente, com as mãos entrelaçadas. Nenhum dos dois deixou de notar que cada espaço estava preenchido, suas mãos parecendo terem sido moldadas uma para a outra. Já no andar superior, Alec abriu a segunda porta no corredor, onde o ambiente era iluminado apenas pela luz da lua, que adentrava o quarto pela janela.
Cassie sorriu ao ver a cama de casal, assim como a dela. Estava dessarumada, com um grande cobertor embolado em cima. Não teve tempo de se ater aos detalhes do comôdo, pois dali a alguns segundos já estavam novamente se beijando.
O beijo de Alec era diferente dos que já havia provado. Doce, mas não enjoativo; lento e rápido nos momentos certos; carinhoso e intenso nas medidas certas. Cassie o sentiu estremecer quando ela mordiscou sua orelha. Alec passeava com as mãos, acariciando levemente a pele de Cassie, deixando para trás uma sensação boa, um calorzinho que esquentava Cassie e seu coração.
De repente ela já esqueceu-se que está no Japão, que vive sozinha e que gastou dinheiro contratando o serviço Soine-ya. Só o que sente é o corpo de Alec junto ao seu, seus lábios em perfeita sincronia, e seus finos e ligeiros dedos levantando a camiseta do rapaz. Acontece que nunca foi boa em se controlar, e dessa vez agradeceu por isso.
À luz da lua, a pele pálida de Alec parece ainda mais clara, mas só uma palavra preenche a cabeça de Cassie: "lindo". Ela passa a mão no abdome do rapaz, sentindo os músculos definidos porém discretos. Ainda bem, já que nunca gostou de caras muito musculosos.
Então já estão na cama, com o cobertor macio e felpudo abaixo deles. Não estão com frio, apesar do vento que vem da janela aberta. Alec tem plena consciência da pequena e graciosa mão de Cassie deslizando sobre si, acarinhando com uma delicadeza extrema. O cheiro que vem de seus cabelos ruivos o deixa inebriado, e ele a beija, porque enquanto faz isso, é capaz de esquecer de suas responsabilidades e deveres. É capaz de ser um jovem de 20 anos, que está ali, com uma linda garota de 22, fazendo o que é muito normal para pessoas da idade deles, mas que ele não se permitia há muito tempo. Trabalhar para o Soine-ya não lhe garantia nada disso, e ele nunca quis se envolver com nenhuma de suas clientes. Exceto Cass. Cass, a ruiva que parece indefesa, mas que o defende. Cass, a que adora morder. Nesse momento, ela está depositando uma leve mordida em seu pescoço.
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Alec e Cassie estão deitados, cobertos pelo grande edredom de Alec. O garoto a olha, contemplativo, como se fosse algo que aprecia muito. Talvez a aprecie mesmo. Ela, já de olhos fechados, mas ainda acordada, sente o olhar de Alec, e sorri, dizendo:
-Acho que isso não fazia parte de seus serviços. - e aproxima-se mais, tornando ainda menor o espaço entre eles.
E é assim que amanhecem, abraçados, Alec ainda sem a camiseta, com o braço sobre Cass, ambos dormindo tranquilamente, Alec respirando o cheiro dos cabelos à sua frente. E acordam, às 11h30, bem depois do fim do expediente de Alec, que ele gostaria de prolongar por muito e muito tempo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, deixe sua opinião. Beijos :*