Fratres Sanguinem escrita por Anchorage


Capítulo 1
Capítulo Único




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Sirius bebeu mais um gole de sua bebida e amassou o papel com raiva. Não conseguia acreditar que ele estava morto. Releu a carta que sua mãe lhe enviara e pediu mais uma dose de firewhisky.

- Sirius. – Ele ouviu alguém o chamar, mas todos os seus sentidos estavam embaralhados por causa da enorme quantidade de bebida ingerida. Sirius olhou para trás e se deparou com um amontoado loiro. Ele sorriu. – Estão todos preocupados com você. – Ela continuou.

- Eu sabia que você ia me encontrar. – Ele soltou uma risada abafada e bateu seu copo na mesa, pedindo por mais uma dose.

No entanto, ela retirou o copo de suas mãos e pagou a conta. Sirius sabia que Marlene detestava quando ele ficava naquele estado, mas aquele era um dia excepcional e ele esperava que ela entendesse.

- Vamos, Sirius. – Ela passou um de seus braços pela cintura do moreno e o guiou pelas ruas vazias do Beco Diagonal, enquanto Sirius soltava cantadas baratas para cima dela. – Estão todos na casa de Lily e James, nos esperando.

- Ele está morto, Lene. – Ele sussurrou de repente e, pela primeira vez, ela o viu chorar. Ela não pôde fazer nada além de abraçá-lo e confortá-lo.

- Eu sinto muito, muito mesmo. – Ela respondeu baixinho e ele a apertou forte contra seu peito. Ela respirou fundo e se afastou um pouco. – Pronto para aparatar?

Sirius assentiu e ela o analisou preocupada, estava nítido em seus olhos que ela estava magoada por ter encontrado Sirius naquele estado, mas estava ainda mais magoada por imaginar a dor que ele poderia estar sentindo.

E ela não conseguiria imaginar a dor que ele estava sentindo. Nem ele conseguia lidar com tal dor.

A casa dos Black era grandiosa. A porta de entrada – que possuía uma maçaneta prata com uma serpente encrustada – dava acesso ao hall. De lá, tinha-se acesso às três salas: a sala de estar, a sala de jantar e a sala de visitas. No final do corredor da sala de estar, havia uma escada, que dava acesso ao segundo andar da casa, onde ficavam os quartos.

Naquele dia, Sirius estava sentado na escada, ouvindo os gritos agoniantes de sua mãe, enquanto seu irmão estava para nascer. Ele sentiu seu coração acelerar quando ouviu um choro e correu para o quarto de seus pais para conhecer o novo membro da família. Assim que se aproximou da cama, se deparou com uma pequena criatura com o rosto amassado e os braços e pernas gorduchas se remexendo no colo da parteira.

- Esse é Regulus. – Orion, seu pai, pegou a criança no colo e se aproximou de Sirius.

Ele espiou para dentro do emaranhado de pano branco que envolvia o bebê e arregalou os olhos. Aquela coisa gorducha e amassada era seu irmão. Sirius tinha um irmão agora. Ele teria com quem brincar, teria com quem conversar. Um enorme sorriso surgiu no rosto de Sirius e, nesse momento, o pequeno Regulus parou de chorar. Sirius esticou a mão para tocar em seu irmão, como se quisesse uma prova de que ele realmente existia, e Regulus agarrou um de seus dedos e levou até a boca, soltando a sua primeira risada.

- 47, 48, 49, 50....Lá vou eu, Sirius. – Regulus saiu correndo pela casa, tentando achar o esconderijo em que seu irmão estava.

- Monstro, você viu o Sirius? – Regulus perguntou para o elfo doméstico preferido.

Monstro apontou para um baú preto com insígnias douradas e Regulus caminhou pé ante pé até o objeto. Levantou a tampa e sorriu.

- Sua vez de procurar!

- Não valeu. – Sirius retrucou. – Eu ouvi você perguntando para Monstro.

- Não perguntei.

-Perguntou.

- Não perguntei.

- Perguntou sim, eu ouvi. – Sirius cruzou os braços aborrecido. Ele odiava quando o irmão mentia.

- Tudo bem... – Regulus colocou os braços para trás das costas e balançou o pé. – Monstro me ajudou.

- Eu falei! Eu falei!

- Mas você se esconde muito bem! Se você quisesse sumir, você conseguiria. – Regulus disse.

- Isso não é verdade. Da última vez, você se escondeu dentro do relógio e eu não consegui te achar por três horas!

- Você desistiu de me encontrar com menos de uma hora de jogo. – Regulus o acusou e Sirius cruzou os braços, novamente, se colocando na defensiva.

- Não desisti. Eu fiz uma pausa.

- Certo, vamos brincar de outra coisa, então.

- O quê?

- Por que não jogamos um pouco de Quadribol? – Regulus perguntou animado, com os olhos brilhando em excitação.

- Boa ideia! – Sirius sorriu maroto e os dois se apressaram para os jardins.

Era uma noite fria e chuvosa e Sirius não conseguia pregar seus olhos; os trovões o assustavam. Ele se remexeu na cama e fechou os olhos com força, numa tentativa falha de forçar seu cérebro a adormecer.

Ele bufou irritado ao notar que não conseguiria dormir, então, sentou-se eu sua cama e coçou os olhos. E, no silêncio da noite, com apenas o barulho das gotas caindo contra a janela, Sirius se pôs a pensar sobre as coisas. E isso era algo que Sirius não gostava de fazer, odiava pensar demais nas coisas. Sirius era impulsivo, era um garoto que primeiro fazia e depois lidava com as consequências de seu ato.

Para começar, Sirius pensou em sua família.

Ele já havia notado que era muito diferente de seus pais. Seus pais representavam a elite da sociedade bruxa; eram puro-sangue, afinal. E, assim como o resto da família, seus pais tinham princípios e valores um tanto arcaicos: eles acreditavam que havia uma hereditariedade na sociedade, aqueles que possuíam sangue puro estavam acima dos mestiços que, por sua vez, estavam acima dos sangues-ruins – bruxos que nasciam em famílias trouxas. Sirius não entendia porque as coisas funcionavam daquele jeito. Por que uns eram melhores que os outros por causa de sangue?

Sirius detestava sangue.

Regulus, por outro lado, parecia gostar da posição privilegiada que sua família ocupava. Gostava de estar no topo da pirâmide, de ter poder e privilégios. Regulus gostava de ridicularizar aqueles que eram inferiores e mais uma vez, Sirius não conseguia entender o porquê.

Era comum na casa dos Black ouvir termos como: “sangue-ruim”, “escória”, “seres inferiores”, “aborto”, “traidores de sangue”. Sirius se recusava a usá-los. Regulus, por outro lado, os utilizava com vontade.

Sirius se lembrou, então, de um jantar um tanto incomum no Largo Grimmauld, n° 12. Orion, seu pai, estava contando uma história sobre o caso de um aborto, que havia entrado com um requerimento para poder comprar uma varinha.

- Isso é um absurdo! – Esbravejou sua mãe,Walburga. – As pessoas precisam entender que algumas famílias bruxas são simplesmente melhores que as outras.

- Esses sangues-ruins nunca aprendem, não é mesmo? Essa gentalha deveria se conformar com sua inferioridade. – Regulus acrescentou e um sorriso orgulhoso surgiu no rosto de seu pai.

- Isso sim é um absurdo. – Sirius olhou para Regulus, revoltado com o que este havia dito. – Você não deveria falar essas coisas.

- Seu irmão não disse mentiras, meu filho. – Orion repreendeu Sirius, com um tom autoritário, tentando por um fim na conversa. E, em qualquer outra situação, Sirius teria se calado e se encolhido diante do tom de voz de seu pai.

- O nosso mundo não deveria ser pautado de acordo com a linhagem das pessoas. – Sirius ouviu as palavras saírem de sua boca e ao ver a expressão de desgosto de sua mãe, desejou que não tivesse falado nada. Regulus olhou para Sirius com os olhos arregalados, como se o irmão estivesse contaminado com alguma doença perigosa.

Seus pais nada falaram, mas Walburga crispou os lábios e, em seus olhos, Sirius pode ver seu desapontamento.

- E-eu não queria...

- Vá para o seu quarto. – Sua mãe sequer o olhou. – E não se atreva a sair de lá até você ter consciência das barbáries que você falou.

A partir daquele dia, Sirius tentou se enquadrar melhor em sua família. Ele tentou chamar os nascidos trouxas de “sangue-ruim”. Ele tentou odiar aqueles que não eram puro-sangue. Ele tentou mais que tudo ser que nem um Black deveria ser. Mas ele simplesmente não conseguia. Ele se sentia mal ao tentar ser quem ele não era.

Então, ele parou de lutar contra si mesmo.

Ele não queria ser um Black como o resto de sua família.

Ele queria ser diferente.

Ele seria diferente.

Na noite de 31 de agosto de 1971, Sirius parecia ter um nó em seu estômago, ele estava nervoso, obviamente. Iria para Hogwarts pela primeira vez e sentia havia um misto de animação, medo, nervosismo e ansiedade.

Quando a noite chegou, ele não conseguiu dormir. Toda vez que figurava o castelo em sua cabeça, ele sentia seu coração acelerar.

Ele estava muito animado.

Mas...

E se não fosse selecionado para a Sonserina?

Essa seria a gota d’água.

E com esse pensamento, Sirius ficou assustado. Ele deveria entrar para a Sonserina, não queria causar mais nenhum aborrecimento a seus pais.

Porém, no fundo, bem lá no fundo, Sirius não queria ir para a Sonserina e a possibilidade de não ir para a casa que seus pais desejavam o deixava um pouco feliz. Não era novidade que ele gostava de desafiar seus pais. Era a diversão pessoal de Sirius.

Mas é claro que ir contra sua família tem suas desvantagens. Regulus era o queridinho dos pais, Walburga, sua mãe, havia adquirido um certo desgosto pelo filho mais velho e Orion, estava tão preocupado com seu trabalho e a política, que não tinha tempo para passar com os filhos. Por vezes, Sirius sentia inveja de Regulus. O irmão era o orgulho da mamãe, o verdadeiro Black.

O dia 1° de setembro amanheceu e Sirius pulou para fora da cama, sem conseguir conter sua animação. Seus pais o levaram até a estação e assim que o garoto se deparou com o Expresso de Hogwarts, seus olhos acinzentados brilharam como nunca.

Ele correu pelos corredores do trem até encontrar um vagão, onde um menino magrelo estava sentado perto da janela, acenando para seus pais.

- Posso me sentar? – Sirius apontou para o banco vago e o garoto assentiu.

- Sou James Potter. Prazer. – Ele esticou a mão para Sirius, que a apertou com vontade. Os dois sorriram e começaram a conversar sobre Hogwarts, como seriam as aulas, como era o castelo, sobre quadribol.

De repente, uma garota com cabelos espessos e ruivos se juntou ao compartimento de James e Sirius, sem nem os cumprimentar. Mas eles estavam tão absortos em sua conversa que nem se prestaram atenção na garota. Um tempo depois, um garoto pálido e com cabelos negros, grandes e oleosos, se sentou em frente a menina ruiva.

- Não quero falar com você – Ela sussurrou magoada.

- Por que não? – O menino perguntou com o cenho franzido.

- Tuney me od...odeia. Porque vimos aquela carta do Dumbledore.

- E daí? – Ele perguntou com descaso e a menininha o olhou com desagrado.

- E daí que ela é minha irmã!

- Ela é só uma... – O garoto pareceu repensar em suas palavras e se calou.

- Mas nós vamos! – Ele exclamou. – Isso é o que conta! Estamos viajando para Hogwarts!

Ela assentiu e um pequeno sorriso surgiu em seus lábios.

- É melhor você entrar para a Sonserina. – disse o garoto, animado. E ao ouvir o nome da casa, a atenção de Sirius e James foi atraída para a conversa dos dois.

- Sonserina? – Ela perguntou confusa.

- Quem quer ir para a Sonserina? Acho que eu desistiria da escola, você não? – James perguntou para Sirius, que apenas engoliu em seco.

- Toda a minha família foi da Sonserina.

- Caramba – James disse um pouco pasmo –, e eu pensei que você fosse legal!

Sirius riu.

- Talvez eu quebre a tradição. – Ele deu de ombros. Naquele momento, Sirius percebeu que não queria ir para a Sonserina. De jeito nenhum. E, pela primeira vez, ele não sentiu a culpa consumi-lo por não ser o filho ideal. – Para qual você iria se pudesse escolher?

James ergueu uma espada invisível.

- “Grifinória, a morada dos destemidos!” Como o meu pai. – Ele respondeu animado e o terceiro menino soltou um muxoxo de descaso.

- Algum problema? – James perguntou.

- Não. – O menino retrucou. – Se você prefere ter mais músculo do que cérebro...

- E para onde está esperando ir, uma vez que você não tem nenhum dos dois? – Sirius perguntou debochado e o menino se encolheu. James soltou gostosas gargalhadas e a menininha ruiva fechou a cara.

- Vamos, Severo, vamos procurar outro compartimento.

- Oooooo... – James e Sirius imitaram seu tom de superioridade.

- A gente se vê, Ranhoso! – James gritou quando a porta do compartimento se fechou e os dois caíram na gargalhada.

Sirius sabia que James seria um amigo para a vida toda.

Mais uma vez, Sirius estava no Expresso de Hogwarts. Porém dessa vez, estava voltando para o seu primeiro Natal em casa, após ser selecionado para a Grifinória.

James, na manhã seguinte após a Seleção, recebeu uma carta de seus pais, que o parabenizavam por ter entrado para a Grifinória. Sirius não recebeu nada de seus pais, nem no dia após a Seleção, nem em qualquer outro dia.

Portanto, estava nervoso para voltar para casa. Ele não sabia como seus pais iriam reagir.

Em King’s Cross, Sirius avistou seu pai, juntamente com seu irmão. Regulus possuía um enorme sorriso, mas Orion tinha uma expressão dura e sequer olhou para o filho mais velho.

- Você precisa me contar tudo de Hogwarts! – Regulus pediu animado. – Como é o castelo? E o campo de Quadribol? Você pode comer à vontade? As aulas são legais? Você já está praticando feitiços maneiros?

Sirius não respondeu qualquer pergunta. Parecia que um gato havia comido sua língua, ele não tinha coragem de conversar sobre Hogwarts, ou sobre a Grifinória, quando estava em casa. A casa dos Black. Onde todos foram selecionados para a Sonserina, menos ele.

Quando chegaram no Largo Grimmauld, n° 12, Sirius esperou ver sua mãe o aguardando na sala de estar, mas ele só viu Monstro, o elfo doméstico, que não mostrou qualquer interesse ao vê-lo. Seu pai, então, disse, um pouco sem jeito, que Walburga estava com enxaqueca e não poderia descer para ver o filho.

Sirius nem fez questão de perguntar se sua mãe estava bem, ele sabia que aquela era uma desculpa esfarrapada. Sua mãe não queria vê-lo e ele sabia disso. Regulus desviou os olhos para seus pés e Orion sumiu em seu escritório. Sirius deu uma boa olhada em sua casa e respirou fundo.

- Você vai desfazer suas malas? – Regulus perguntou. – Eu posso te ajudar.

Ele assentiu e os dois subiram as escadas correndo. Sirius analisou a última porta no corredor, onde era o quarto de seus pais e, pela brecha da porta, ele pôde ver os passos de sua mãe, de um lado para o outro. Ela sussurrava coisas que Sirius não conseguia ouvir e ele agradeceu a Merlin por não conseguir escutá-las.

- Você vem ou não? – Sirius ouviu seu irmão perguntar.

Seus pais não apareceram para o jantar naquela noite, nem nas seguintes. E Sirius, a cada instante que passava naquela casa, se arrependia de ter decidido passar o Natal em casa. A única coisa boa disso tudo era seu irmão, Regulus, que não parecia se importar com o fato de que o irmão havia desonrado a família ao entrar para a Grifinória.

Já era tarde da noite, quando Sirius ouviu batidas fracas em sua porta. Era Regulus. Regulus pulou para a cama de Sirius e os dois se esconderam sob o grande lençol.

- Eles estão bem bravos, não é? – Sirius perguntou com os olhos fechados.

- Estão... Mamãe ficou em seu quarto por três dias, sem comer nada, sem fazer nada. Ela só ficou lá...deitada. – Regulus sussurrou, um pouco relutante. Ele não queria que Sirius pensasse que não era bem-vindo.

- E papai?

- Papai leu a carta e não falou nada. Ele a jogou na lareira, acendeu um charuto e se trancou em seu escritório.

- Eles já sabiam que eu não era o filho que eles esperavam...

- Não diga isso.

- Mas é a verdade, Reg. Eu não sou que nem eles, não sou que nem você e também não posso fingir ser alguém que não sou.

- Você não precisa fingir ser alguém que você não é.

- Na verdade, eu precisava. – Sirius suspirou cansado. – Mas agora não tem mais jeito

- Eu senti saudades, Six. – Seu irmãozinho confessou com um sussurro e Sirius sorriu.

- Eu também, Reg.

Era o ano da Seleção de Regulus. Regulus estava muito nervoso. Ao mesmo tempo em que queria ser corajoso como Sirius – que desafiava as tradições familiares e era quem ele queria ser –, Regulus queria impressionar os pais. Desde pequeno, sempre sonhava em ir para a Sonserina e agora que estava ali, diante do Chapéu Seletor, seu coração vacilou. Será que queria mesmo entrar para a Sonserina?

Queria.

- Black, Regulus. – A voz da Professora Mcgonagall retumbou os ouvidos de Regulus e ele caminhou até o banco sobre o qual estava o Chapéu Seletor. Colocou o chapéu, que lhe cobriu os olhos e prendeu a respiração.

O chapéu demorou alguns segundos para esbravejar a casa de Regulus: Sonserina. E, assim que retirou o chapéu, ele olhou para seu irmão, que sorria orgulhoso. Ele pensou em correr até o irmão, apenas para abraçá-lo, mas ele não o fez, pois sabia que não era adequado. Então, Regulus sorriu para Sirius, que piscou, ao bater fortes palmas.

Sirius estava orgulhoso dele.

Ele se sentou com seus mais novos colegas e respirou fundo. Ele sabia que pertencia à Sonserina. Ele não tinha qualquer dúvida.

E, ao ver seu irmão, do outro lado so Salão Principal, ele percebeu que as coisas entre eles jamais seriam iguais.

Afinal, Sirius era da Grifinória. E ele... ele era da Sonserina.

Sirius não passou mais nenhum Natal em casa. Ele aprendera a lição, naquele primeiro Natal que decidira voltar para casa, ele passou o feriado inteiro sem ver sua mãe, e seu pai fazia de tudo para evitá-lo.

Regulus, por outro lado, nunca fora tão amado pelos pais, como era agora. Ele representava tudo que um Black deveria ser. Ele respeitava a hierarquia do mundo bruxo, sabia que ocupava o topo da pirâmide, pertencia à casa mais estimada de Hogwarts, a Sonserina, e, com o tempo, havia adquirido desgosto e repugnância por aqueles que eram nascidos trouxas.

Como era de se esperar, os irmãos, que antes eram não só irmãos ligados pelo sangue, mas irmãos por afinidade, não pareciam irmãos. Quando se encontravam pelos corredores de Hogwarts, não trocavam palavras. Os dois, na verdade, se evitavam.

Sirius não quis fazer os testes para entrar no time de Quadribol da Grifinória, pois sabia que o esporte era a paixão de Regulus e este faria de tudo para entrar no time da Sonserina. Portanto, Sirius deixou o Quadribol de lado. Ele não suportaria entrar em campo e ver seu pequeno irmão no time adversário.

Regulus tornou-se uma pessoa fechada, não se sentia confortável em se abrir com mais ninguém além de seu irmão. Inclusive, estava sempre observando seu irmão, de longe. Ele ficara magoado quando percebeu que talvez Sirius não sentisse tanto a sua falta, uma vez que possuía amigos inseparáveis. Regulus sentia raiva de Sirius, mas sentia mais raiva ainda dos novos amigos dele.

Eles costumavam ser inseparáveis... e agora pareciam desconhecidos.

Houve então uma briga.

Sirius estava em seu sexto ano e Regulus em seu quinto, se preparando para prestar os N.O.M.’s.

Após uma série de acusações, palavrões e azarações, os dois irmãos se envolveram numa briga no Pátio Pavimentado. Um grupo de adolescentes sedento por confusão e sangue se aglomerou ao redor dos dois gritando: “Briga! Briga! Briga!”.

Lily Evans, monitora da Grifinória e amiga de Sirius, foi quem surgiu para apartar a briga.

- O que vocês pensam que estão fazendo? – Ela berrou irritada. Se virou para público e expulsou todos de lá – ela era a única que tinha a autoridade necessária para fazer isso.

Assim que apenas os três estavam no pátio, ela se virou para os encrenqueiros.

- O que houve, Sirius?

Ela não obteve resposta alguma.

- Detenção para os dois. E cada um perderá 50 pontos pela indisciplina.

- Como ousa...? – Regulus estava prestes a insultar Lily, mas Sirius socou o rosto do irmão mais uma vez.

- Sirius! – Lily repreendeu o amigo e se prontificou a ajudar Regulus a se levantar.

- Eu estou bem! – Regulus recusou a ajuda e se levantou irritado.

- Eu não sei o que aconteceu para que vocês chegassem a esse ponto, mas vocês são irmãos. E, independentemente das grandes divergências que vocês tenham, família vem em primeiro lugar. – Lily disse um pouco cabisbaixa, uma vez que se identificava com aquela realidade. Sua irmã, Petúnia, e ela possuíam uma relação complicada e desajeitada, cheia de mágoas e desavenças.

- Eu não preciso que uma sangue-ruim como você me dê lições de moral... – Regulus cuspiu.

- Cala a boca, Regulus! –Sirius se virou irado para o irmão. – Eu juro por tudo que é mais sagrado que se você chamá-la assim novamente, eu acabo com você. E eu não vou ter piedade alguma.

Sirius empurrou o irmão e saiu apressado de lá.

Regulus fez menção de se desculpar, mas Lily ergueu a mão, o impedindo de prosseguir.

- Guarde suas desculpas falsas, Regulus. – Ela disse sem esboçar qualquer reação. - Apenas reflita sobre as coisas que você acredita, sobre as coisas que você fala e sobretudo, sobre seu irmão. Porque ele não merece o desprezo que sua família tem por ele. Ele não teve a chance de ser aceito como você foi. Ele fez suas próprias escolhas, ele contrariou a ideologia que era imposta à ele, por sua própria família, e isso só mostra o quão corajoso ele realmente é.

- E-eu...

- Eu vou te contar um segredo. – Ela se aproximou um pouco dele. – Sirius Black é uma das pessoas mais corajosas que eu conheço.

Ela sorriu amavelmente e se despediu.

Regulus ficou ali parado, sem reação, tentando absorver tudo o que havia acontecido. E quando a consternação e o choque passaram, ele deixou que seus joelhos batessem contra o chão, e chorou.

Chorou por todas as vezes que queria ter falado com seu irmão, mas não o fez. Chorou por cada insulto que havia proferido. Chorou por ser aquela pessoa odiosa. E chorou por não ser corajoso como Sirius.

Os dois cumpriram a detenção juntos. Sequer se olharam, pois os dois eram extremamente orgulhosos para admitir que estavam errados, mas os dois sentiram o coração apertar, os dois sentiram a necessidade de chorar. Porém, nenhum deles se arriscou. Os dois vestiram suas máscaras e fingiram que nada havia acontecido.

Sirius desejou, de fato, que nada tivesse acontecido, porque na semana seguinte da briga, ele recebeu uma carta de seus pais, dizendo que ele não deveria voltar para a casa, nem para o feriado do Natal, nem para as férias, nem em qualquer outra ocasião.

E essa foi a vez de Sirius chorar.

Lá estava ele. Parado. Parado em frente ao Largo Grimmauld, n° 12. Observando a porta de entrada, com a maçaneta prata em forma de serpente. Mas ele só estava lá, parado. Tentando juntar toda sua coragem para entrar naquela casa.

Ele subiu os degraus e girou a maçaneta, sentindo seu coração bater violentamente contra seu peito. Não ouviu nenhum barulho, então, entrou no hall e caminhou até a sala da tapeçaria – cômodo em que as as paredes eram cobertas com uma tapeçaria que mostrava a árvore genealógica da Mui Antiga e Nobre Casa dos Black. Ele se aproximou de seu nome e viu que a imagem de seu rosto estava queimada, era assim que se fazia quando alguém da família morria ou, como no caso de Sirius, quando alguém era excluído da família.

Ele suspirou e saiu daquele cômodo.

- O que faz aqui? – Sirius ouviu a voz espantada de sua mãe, Walburga.

- Vim pegar minhas coisas. – Sirius caminhou com firmeza até a escada. – Mamãe. – Ele depositou um leve beijo na bochecha pálida e fria de sua mãe e seguiu seu caminho até seu quarto.

Juntou suas coisas com um aceno da varinha e ficou alguns minutos parado, observando seu antigo quarto. Saiu do aposento e ouviu uma agitação no andar de baixo.

-... um traidor, andando com escórias da sociedade. Onde foi que eu errei? Ele representa uma vergonha para nossa família e não só para nossa família, para todo o mundo bruxo. Onde já se viu, um Black como ele? – Sua querida mãe resmungava. Sirius fechou os olhos e respirou fundo, ele já havia aprendido a lidar com tudo aquilo.

- Para onde você vai? – Regulus perguntou baixinho. Sirius se virou para o corredor e avistou seu irmão.

- Vou ficar com os Potter. – Ele respondeu.

- Você sempre causa um rebuliço por aqui, não é mesmo? – Regulus apontou para o andar de baixo, onde a mãe deles ainda retrucava, com um sorriso divertido no rosto.

Sirius riu pelo nariz e balançou a cabeça concordando.

Um silêncio pairou sobre eles e os dois se entreolharam sem saber o que fazer ou falar. Regulus se aproximou do irmão e o abraçou.

- Você sempre será meu irmão.

- Eu estava contando com isso. – Sirius sorriu e abraçou o irmão mais novo com força.


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Notas finais do capítulo

Olá!!!!!
Eu amo a família Black e adorei explorar um pouco dela nessa oneshot.
O desafio do mês proposto no grupo Madame Pince Ficlibrary tinha como tema Família e, então, decidi escrever sobre a relação do Sirius com o Regulus - porque eu simplesmente amo esses dois personagens e eles tem um desenvolvimento incrível.
Espero, do fundo do meu coração, que vocês gostem! E se gostarem, não se esqueçam de deixar um agrado para mim. :)



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