Tenebris escrita por Maju


Capítulo 17
Capítulo XVI


Notas iniciais do capítulo

HEY, sei que demorei muito, podem jogar pedras, é a escola, vocês sabem. Como estão? Esse capítulo ficou ENORME e quando eu digo ENORME é quase 6000 palavras, para não ficar cansativo, eu decidi cortá-lo (Mesmo assim é o maior capítulo de Tenebris até agora) Ainda estou pensando se no próximo posto capítulo do presente ou a continuação desse...
Vamos retomar? Hermione e Draco foram para o sexto ano em Hogwarts procurando pela Pedra, eles acharam Dumbledore, o sonserino anda tendo visões e ele viu a briga na Borgin & Burkes. Enquanto isso, no presente, Harry e Rony enfrentaram Bellatrix novamente e descobriram que o encapuzado é Draco (?)
Esse é um dos meus capítulos preferidos de escrever. Espero que gostem.
LEIAM AS NOTAS FINAIS, por favorzinho.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/635808/chapter/17

A caminhada até o escritório de Dumbledore foi composta de um silêncio inquietante, principalmente devido a expressão amena no rosto do diretor, como se ele só tivesse encontrado os dois andando por aí e agora os levasse para tomar uma xícara de chá. Hermione questionava-se sobre como ele fazia isso, como podia encarar dois alunos vindos do futuro pedindo para falar com ele sem aparentar espanto, chegava até ser cômico.

Draco seguia o homem e a menina mantendo uma boa distância deles, tocava as paredes e os corrimões ao andar, concentrando-se neles. Se pudesse desaparecer agora, evaporar, e deixar que a grifinória resolvesse tudo, o faria.

Encarou os cachos balançando as costas dela, imaginando-se deixá-la sozinha, era um pensamento egoísta de fato, querendo ou não ele havia se envolvido nos problemas, talvez até mais que Hermione. Era um pensamento Malfoy. Imaginou-se correr para o lado oposto, atravessar os portões. Corra.

Corra.

E estaria longe de tudo.

Sabia que não faria isso, talvez fizesse antes. Um ano atrás, quando ser um Malfoy era motivo de orgulho e todos os ensinamentos que ele tivera estavam cravados em seus ossos. Não agora onde havia visto que tudo o que fora aprendido tinha sido destruído pelos próprios criadores, não havia orgulho, luxo, nobreza algum mais. Não que ele tivesse se tornado bom, como naquelas histórias infantis onde o vilão acaba feliz e ao lado dos mocinhos, aprendera algumas coisas, sim. Não fugiria porque não havia mais nada para ele além daquilo.

Que fizesse algo então.

Seria rápido, Hermione contaria o que estava acontecendo e é claro que o velho lhe daria a pedra, afinal, ela não era uma integrante do grande Trio de Ouro? Conseguiria passar por isso.

Só precisava controlar a respiração.

Quase bateu em Hermione sem notar que os outros dois haviam parado em frente à porta do escritório, Dumbledore abriu-a com a senha e eles entraram.

— É surpreendente como o senhor descobriu que não somos desse tempo, professor, sei que isso já aconteceu no terceiro ano, mas... as outras pessoas teriam enlouquecido – comentou Hermione quebrando o silêncio. Antes de responder, o velho diretor indicou as duas cadeiras em frente a sua mesa para eles sentarem-se. Hermione acomodou-se em uma, não esperando uma resposta realmente, só queria que o diretor falasse com ela.

— Ah, Srta. Granger, sou um homem velho, já vi tantas coisas enlouquecedoras que devo ter-me tornando compreensivo a elas – respondeu ele com um pequeno sorriso, a barba encostava-se ao tampo de sua mesa, como uma cortina prateada.

— Sente-se, Sr. Malfoy – disse o diretor, mudando para um tom apaziguador. Hermione virou o rosto, olhando por cima do ombro, Draco estava estático há alguns centímetros da cadeira. O garoto, sobressaltando-se, puxou a cadeira lentamente e só conseguiu olhar o diretor nos olhos por poucos segundos, logo os desviando.

— É de grande alegria saber que estão vivos, em tempos como este nunca se sabe o que esperar. Acredito que posso dar-me ao direito de criar expectativas sobre o que está para acontecer... – A grifinória abriu minimamente os lábios, porém o diretor impediu-a, negando com a cabeça.

— Sei que deve ser algo muito importante e farei o possível para ajudar, mas o futuro fica apenas para quem já o viveu. As regras são aplicadas mesmo a mim, Srta. Granger, sei que as conhece bem. Contem-me apenas o necessário.

A menina concordou levemente com a cabeça, deu uma olhadela em Malfoy antes de começar, ele se sentara alguns centímetros mais distante da mesa do que ela, agarrava-se as braços da cadeira como se fosse a última tábua no meio do oceano.

— Bem... Sei que o senhor tem outros planos para ela, professor – disse – Não sabíamos onde procurá-la, imaginei que como... Bem, imagino que o senhor esteja com a pedra da ressurreição.

Dumbledore ergueu as sobrancelhas, piscando por trás dos óculos de meia-lua, não tão surpreso, já devia estar esperando algo incomum.

— Está certa, Srta. Granger – confirmou ele – Posso acreditar que algo aconteceu para perguntarem sobre ela, algo ruim?

— Sim – respondeu contida, tinha que tomar cuidado e não dizer demais, porém era quase impossível sendo Dumbledore ali, o homem que sabia tanto, que tinha no olhar um conhecimento que não demonstrava.

— Bellatrix estava morta e a trouxeram de volta – contou Draco perdendo a paciência com Hermione pisando em ovos para falar com o homem. Não faria diferença contarem isso ou não, ele estaria morto naquele ano.

— Queremos impedir. Se a pegarmos... – Hermione deteu-se, queria contar sobre a profecia e que não vieram ao passado por escolha própria, queria pedir ajuda a ele, Dumbledore, que sempre ajudara ela, Harry e Rony nas bagunças que se metiam.

Mas Dumbledore não existia no futuro, no seu tempo, e querer que o passado resolvesse seu problema podia causar um grande abalo quando voltassem.

— Há algo mais, não? Algo que não podem me contar – deduziu o homem – Mas vocês, Srta. Granger e Sr. Malfoy, são dois dos jovens mais talentosos que passaram por essa escola, conseguirão resolver o que quer esteja acontecendo, unidos.

 Não responderam, Draco fincou as unhas na madeira do assento, incomodado por ter sido elogiado logo por ele. Dumbledore fizera a mesma coisa, falar sobre ele, e usara o mesmo tom na Torre de Astronomia.

O diretor soltou um longo suspiro, com pesar, antes de falar novamente.

Et mortem loquitur. É a senha para a sala depósito no quarto andar, infelizmente, não posso ajudá-los a pegar a relíquia depois. – O olhar de Dumbledore pesava sobre eles, o que aumentou ainda mais o tom de lamentação.

— Há feitiços? Como aqueles que esconderam a pedra filosofal? – questionou Hermione ansiosa.

— Nunca imaginei que alguém além de mim fosse precisar buscá-la onde está... Não posso remover o feitiço que coloquei na sala e creio que antecipar só causará mais ansiedade. O feitiço foi projetado para afastar quem quisesse pegá-la. – Ele fez uma pausa, como se quisesse que sua próxima sentença causasse efeito – E nada mais eficaz do que usar aquilo que se mais quer contra seus próprios desejos.

Ela abriu a boca novamente para fazer mais uma pergunta, porém Dumbledore a cortou:

— Muitos desejam aquilo que mais lhes afligem. Agora vão enquanto estão todos dormindo.

Eles se levantaram, Hermione agradeceu e Draco já estava indo em direção a porta, quando estava prestes a sair, ela lançou um último olhar para o diretor, fazendo a despedida que não tivera a chance quando estava no sexto ano.

— Ele é estranho, não é? Revelador, ocultador, cheio da angústia dos lamentadores ou da alegria dos que souberam apreciá-lo, ele leva tudo consigo. O tempo. Inclusive a verdade.

Não responderam, fecharam a porta do escritório deixando a última imagem de Dumbledore pairar em suas mentes, se lembrariam daquela frase para sempre.

 *

Tiveram a sorte de não encontrar ninguém perambulando pelo castelo, pelo menos não alguém vivo, ouviram Pirraça aprontando algo no banheiro dos monitores e alguns quadros reclamaram da claridade vinda das duas varinhas, espreitaram-se até chegarem ao quarto andar.

A sala que o diretor lhes falara ficava no fim do corredor.

Alohomora — sussurrou Hermione com a varinha para a fechadura e a porta abriu-se, porém antes de entrarem, analisaram-na de longe, como se esperassem que algo surgisse das sombras, Dumbledore só havia dito a senha e deixou-os sem saber o que mais a protegia, o que deixou Draco impaciente e Hermione pensativa.

 Só havia algumas caixas e móveis cobertos com lençóis, era o depósito que havia guardado o Espelho de Ojesed no primeiro ano. Entraram de uma vez, Draco fechou a porta e trocou um olhar com a menina. E agora?

Et mortem loquitur — Hermione proferiu, decidida. Nada aconteceu nos primeiros segundos e ela já estava pronta para repetir quando um azulejo do chão se deslocou, fazendo barulho de blocos se movimentando, e uma escada surgiu, os degraus levavam para baixo, a escuridão do buraco impossibilitou que conseguissem ver o que havia lá embaixo.

Draco colocou o primeiro pé no degrau, hesitante, testou-o e, parecendo bem concreto, passou para o próximo sendo seguido por Hermione.

As paredes úmidas e estreitas os engoliram quando adentraram de vez na escadaria, as luzes em suas varinhas não iluminavam nada mais do que os degraus seguintes e um breu amedrontador, e quanto mais se aprofundavam, mais o frio na barriga intensificava-se.

Malfoy sentiu a respiração quente da garota a sua nuca, um tanto descompassada, a Granger parecia ter claustrofobia ou então sentia a mesma sensação estranha que ele, algo que fazia-o querer da meia volta.

Terminaram em um corredor reto e no primeiro passo que colocaram no chão, fogo acendeu-se em archotes presos às paredes, assustando-os. Hermione gritou logo levando às mãos a boca.

— Ele não podia simplesmente nos contar que merda há aqui?

Hermione temia que Dumbledore não havia-lhes dito porque a verdade poderia fazê-los recuar. Algo que o diretor achava que eles poderiam não suportar se soubessem antes.

Deram apenas alguns passos, agora lado a lado, antes de o terror começar.

— Veja só o que há aqui.

A voz, vinda de todos os lados, arrepiou-os. Não havia ninguém ali, no entanto, era parte do feitiço, algo para assustá-los, lembrou-se Hermione, como os que Moody colocara no Largo Grimmauld para afastar Snape.

— Andando por aqui a procura de um poder grandioso, mas o que mais deseja talvez seja o que mais o atormenta.

A voz transformou-se em várias outras, desconexas, uma mistura de tons em um coro alto, procuraram ao redor, mesmo sabendo que as vozes não tinham dono. Hermione congelou no lugar quando conseguiu reconhecer uma na multidão.

Fred Weasley.

E depois todas as outras passaram a fazer sentido como se estivessem sendo proferidas uma a uma na cabeça da menina. Professor Lupin, Tonks, Moody, Lilá Brown.

Todos mortos.

Para Malfoy não foi diferente.

O redemoinho de vozes parecia que os engoliria, começaram a correr, o corredor não tinha fim, eram perseguidos pelas lamentações de seus conhecidos mortos.

É sua culpa! Se não tivesse...

— Por quê?

As lágrimas surgiram nos olhos de Hermione, precisava sair dali.

Não conseguia suportar.

Foi quando alguém bloqueou o caminho dos dois.

Parecia uma pessoa de verdade se não tivesse uma áurea acinzentada, como um fantasma, e sua voz não fosse tão funda como um eco.

 Era um garoto de cabelos castanhos dourados e olhos escuros, alto e magricela. Hermione reconheceu-o de imediato e a estranheza da cena fez as vozes pararem de perturbá-la, até que notou que elas haviam se silenciado de verdade.

— Oliver?

— Você sumiu naquelas férias.

Oliver era seu vizinho.

— O que é estranho porque você sempre voltava nas férias daquela escola interna da qual não me contava nada, passei a primeira semana na casa dos meus tios e quando voltei disseram que vocês tinham se mudado para a Austrália.

Oliver era um de seus amigos no mundo trouxa.

— Você nem se despediu, de ninguém. Eu sabia que não me contava algo importante, sabia que havia algo em você... algo estranho.

Ela nunca contou a ele sobre ser bruxa, mas sabia que ele tinha a visto fazer aquela caneta voar de sua mão até a nuca do insuportável do Tom Holdens quando ainda estudava em uma escola trouxa.

— Então dois caras encapuzados apareceram, eram sinistros, apontavam pedaços de madeira para mim como se fossem armas. Perguntavam sobre você. Diziam coisas sem sentido sobre um tal de Lorde das Trevas. Queriam saber onde você estava. Eu não sabia.

 O coração dela se apertou, não voltara à antiga vizinhança, não sabia como estavam sua casa ou os vizinhos. Não tinha visto Oliver.

— Eu nem sei como morri. A culpa é sua.

As lágrimas escorreram por suas bochechas, ela nunca havia imaginado... nunca pensaram que pudessem ir atrás dela no mundo trouxa. Não os protegera.

— Granger – chamou Malfoy lembrando-a que ele estava ali, que vira tudo, escondeu o rosto, limpando-o.

As vozes recomeçaram e Draco foi tomado por tensão, se havia um fantasma para a grifinória, também podia ter um para ele, e o garoto não estava a fim de que ela visse aquilo. Nem ele queria, deixe seus demônios dentro dele.

Puxou-a pelo punho e voltaram a sua caminhada por aquele corredor sem fim, mesmo com o fogo dos archotes o lugar continuava frio.

As vozes continuavam a persegui-los, ele praguejava, tentando não distinguir quem eram. Ainda segurava o pulso da garota, o aperto estava frouxo agora, o medo circulava por todo seu corpo, com medo de que algo aparecesse.

E, como o mundo estava determinado a acabar com o mínimo de sanidade que havia nele, algo apareceu.

E seu fantasma era bem pior que o da Granger.

Outro homem, por volta dos quarenta e cinco anos, tinha uma barba rala pontilhada de fios brancos assim como os cabelos, usava terno.

Draco não sabia o nome dele para chamá-lo, mas aquele homem o assombrava todos os dias, em seus sonhos, antes de dormir ou quando não conseguia ocupar a cabeça com qualquer coisa em um dia ruim.

— Por que fez aquilo? Por que nãos os impediu?

Ele se lembrava de cada detalhe daquele dia, todos os sentimentos que o cercaram, todo o medo sendo contraposto ao que Draco achava que era certo. Tudo o que mais queria era esquecer aquele homem.

— Você queria fazer mesmo aquilo? Então por que parecia tão assustado?

Não, ele não queria.

— Eu tinha um filho da sua idade. Ele me esperava em casa para me contar alguma novidade sobre o time de futebol quando vocês me arrancaram do meu caminho em direção a minha família.

Sabia que aquele dia chegaria, podia ver no rosto do pai, mas ele não lhe contara nada, devia saber que o filho se acovardaria para o que viria.

— Fui amarrado e levado para um lugar estranho, cheio de coisas medonhas que eu nunca vira na vida. Devia ser alguma seita, é a única explicação lógica, não é? Mas havia alguma lógica para pessoas com sorrisos perversos, vestindo capas e me apontando pedaços de madeira? Não tentei entender mais nada quando começaram a me torturar com algum tipo de força externa.

Draco tinha sido levado a Borgin & Burkes, sua mãe parecia prestes a chorar e o faria se o pai não tivesse a repreendido.

“Chegou a hora” tinha dito ele.

Sua tia chegou com o homem a loja, sorria radiante para Draco. Um sorriso radiantemente perverso.

Observou sua tia torturá-lo por pura diversão. Draco repreendeu-se por ter qualquer tipo de pensamento misericordioso em relação ao homem, era um trouxa, não era? Não conseguia entender o que queriam com um trouxa.

— Você estava lá, observando tudo atrás da mulher de voz estridente. Eu me lembro de pensar o que é que fazia uma criança ali.

Não sabia como era o ritual da Marca Negra, nunca havia perguntado. O pai nunca contaria, só quando chegasse a hora. Seu filho era fraco e covarde, mas não iria negar-se se fosse confrontado, não conseguiria.

Ele sabia que Draco sempre quisera deixá-lo orgulhoso.

 - Então me empurram para você, um empresário de sucesso caído aos pés de um menino. A mulher deu-lhe uma faca e disse o que tinha que fazer.

Tinha que matá-lo, era esse o ritual.

— Você pegou a faca, trêmulo, todos assistindo. A mulher sorriu. Mas você apenas apontou a lâmina para mim, não conseguia fazer. Xingaram-no, a mulher gritou com você e gritou com um homem logo atrás, ele estava sério, com medo de que você não conseguisse fazer o que tinha que ser feito.

“Vamos, mate-o! Draco, mate-o!” Bellatrix gritou em seu ouvido, mas sua voz parecia distante. Queria desaparatar, queria olhar para trás e ver seus pais chamando-o para ir embora.

“Lúcio!”

— Não sei quanto tempo você ficou parado a minha frente, mas me pareceu a eternidade. Os gritos da mulher me ensurdeceram e ela já tinha me apontado aquele objeto estranho de novo, era como se meu corpo inteiro queimasse. O homem de cabelo longo aproximou-se e disse algo duro, deu para ver no seu rosto, aproximou a faca, alguns centímetros.

Queria mostrar que conseguia, que não era um idiota. Tinha ouvido o pai citar o nome dele e de Voldemort em uma conversa, a mãe tinha ficado exaltada, mas o Lúcio soava sensato. Sabia que de alguma forma a família dependia de que ele matasse aquele homem, estavam em descrédito com o Lorde das Trevas. Poderia mostrar seu valor, podia trazer sua família a gloria como era antes.

— A mulher perdeu a paciência, saiu de seu lado, não consegui ver o que ela fazia. Sentia uma pressão nas costas e mais nada.

Ela o empurrara, Bellatrix empurrara o homem, dando-lhe um chute nas costas, na direção do menino. Sangue escorreu por sua mão, ela segurava a faca que agora estava enterrada no peito do homem.

— Você nunca saberá meu nome e eu nunca saberei o seu. Você devia tê-los mandado parar, devia ter abaixado a faca.

Eu sinto muito.  

 Quando a faca entrou na carne, e um sibilo angustiante saiu dos lábios do desconhecido, Draco aprofundou a lâmina.

O corpo caiu no chão. E a tensão imanada do corpo do Malfoy mais velho diminuiu.

O fantasma desintegrou-se em fumaça cinza deixando a vista um pequeno altar onde uma pedra flutuava.

Tinham achado a segunda relíquia, porém não deram um passo até ela. Malfoy deu-se conta de que se escorara na parede, as mãos estavam frias e pesadas como blocos de gelo. Sentiu o olhar de Hermione sobre ele, não o correspondeu.

Ergueu a coluna, saindo do estupor, caminhou até o altar e estendeu a mão para a pedra da ressurreição.

— Vamos embora.

Hermione girou os calcanhares na mesma hora, as vozes nãos os incomodaram na volta.

Só as internas.

*

Tinham passado muito tempo lá embaixo, mais do que imaginavam. Já estavam no meio da madrugada quando saíram da sala no quarto andar. Hermione olhou para o punho fechado de Draco que prendia a segunda relíquia, pegá-la só havia sido parte do processo, agora precisavam pensar no que fariam com ela.

Mas não conseguia pensar nisso, nem ao menos pensar de forma racional, sua razão parecia ter sido destruída naquele corredor. Voltara ao fim da guerra e estava arrasada, todo o trabalho que desenvolvera para fazer as vozes, os rostos de seus amigos mortos, serem lembrados não como uma dor que rasgava-lhe o peito e a comprimia, mas como uma lembrança feliz, tinha desaparecido.

Oliver. Mais um a acrescentar a seus pesadelos, morrera sem nem saber o porquê.

Não era só isso, porque se fossem apenas os seus fantasmas a assombrando não teria tanta dificuldade de olhar Malfoy nos olhos.

Não sabia lidar com aquilo.

Não queria.

Dirigiu-se para o único lugar que o pouco de sensatez de sua cabeça lhe indicara. Não virou-se para trás para ver se ele a seguia, devia estar, não tinha lugar algum para ir. Concentrou-se em subir as escadas, contou os degraus.

Um. Dois. Trinta e seis degraus até o sétimo andar e vinte e um passos até o lugar onde a Sala Precisa ficava.

Malfoy disse alguma coisa, porém não deu-lhe ouvidos. Só precisava se sentar, as pernas trêmulas cederiam a qualquer momento. A porta da sala surgiu rapidamente, e eles entraram sem pestanejar.

Era um cômodo vazio, não havia pensado em nada específico, não tão grande quanto a versão que usaram para o treinamento da Armada de Dumbledore. Hermione encostou-se a parede ao sentir os joelhos falharem. O olhar de Malfoy estava pregado a ela, podia perceber.

— Fique com ela. – Draco estendeu a pedra em um movimento brusco, a grifinória pegou-a, desajeitada, e escondeu-a entre as palmas.

Ouviu um barulho na extremidade da sala, Malfoy saiu de perto dela e fechou-se atrás da nova porta feita pela Sala Precisa, conseguiu ver uma pia antes de o menino batê-la.

Observou a relíquia da morte, girou-a entre seus dedos. Lembrava-se perfeitamente do conto dos Três Irmãos, Cadmo Peverell queria trazer um ente querido de volta a vida, apenas a moça que fora dona de seu coração. Havia tantas pessoas que Hermione queria de volta, duas delas nem ao menos estavam mortas.

A porta do banheiro continuou fechada, pensou ter ouvido um grunhido de lá.

A Sala Precisa começou a sufocá-la, a respiração voltou a descompassar. Colocou uma mão no pescoço em desespero.

Tinha

Que

Sair.

Saiu da Sala sem nem ao menos notar, seus pés trabalhavam sozinhos e a guiaram para a biblioteca, seu querido refúgio.

Draco pedira um banheiro, mas não o usara para aliviar-se e sim para se esconder. Fugir de Hermione, da pedra e, o mais almejado, esconder-se dele mesmo.

Encarando seu reflexo no espelho, sabia que nunca conseguiria aquela proeza. O cinza de seus olhos estavam mais escuros, como uma tempestade ou como o espectro do fantasma que tinha acabado de se abrir ao garoto que terminara com seu último resquício de vida. E Granger havia visto tudo.

Não achou que se importaria tanto, porém parte de seus pensamentos aterrorizados voltavam-se para ela, não havia conseguido desvendar o olhar que a jovem fixara nele, assustada, sim, porém se havia processado o que acontecera lá depois de ver o tal Oliver? Draco não sabia.

Ora, Hermione já o detestava, qualquer coisa que ficasse subentendida em sua conversa seria algo negativo.

Como a mesma força que havia feito sentir a necessidade de negar a ela que havia se divertido com sua tortura, ele sentia de contar a história toda para ela.

E o que estava tentando fazer? Tentando mostrar à Sabe-Tudo que não era sórdido?

Que era bom?

Hermione Granger era boa, genuinamente e irritantemente boa.

Ele não. Era um desgraçado que ficava no meio do caminho.  

Socou as paredes, o espelho e tudo o que fosse sólido, até os punhos vermelhos não aguentarem. Destruiu o banheiro.

Hermione voltou para a Sala Precisa depois de ler a vigésima segunda página de um livro que escolhera ao acaso, tinha acordado para realidade e repetiu a si mesma várias vezes que tinha de encarar o problema. Um que vestia o símbolo das cobras.

Encontrou Draco sentado em um sofá bege, uma lareira crepitava tímida, mas acolhedora, outro sofá menor e uma mesa com quatro cadeiras compunham a sala, uma espécie de sala comunal deslocada.

Tentou dizer algo, mas nada lhe veio, só colocou a bolsinha em cima da mesa junto com a pedra. Permaneceu ali, sem conseguir soltar o tecido da bolsa. A tensão era palpável.

— Era o ritual da Marca Negra. – Virou-se assustada para Draco atrás dela, ele levantara-se do sofá, as costas retas e o queixo minimamente levantado, mas o olhar perdido entregou qualquer chance de que o garoto aparentasse estar bem.

— Você não precisa, Malfoy – negou ela, embora o coração acelerando-se novamente denuncia-se que queria que o sonserino dissesse algo a respeito, mas estava com medo do que ouviria e com medo de que o ato supostamente a obrigasse contar sobre Oliver.

— Sinceramente, Granger, nossa relação aqui já é estranha, quer deixá-la pior? Quer deixar esse assunto pairando sobre nós enquanto não chegamos ao fim disso tudo?

Hermione não respondeu de imediato, mas sabia que ele estava certo assim que as palavras entraram em ordem em sua cabeça, ela mesma havia dito que para conseguirem resolver a missão tinham ao menos que conseguir conviver minimamente. E deixar um fantasma e suposições curiosas entre eles não era a melhor forma de conseguirem.

— Eu não sabia até aquele dia, mas no ritual da marca, você... mata alguém em nome de Voldemort, é como se demonstra sua devoção a ele. E eu matei. – A voz do sonserino falhou, ele sentiu os olhos arderem – Eu metei aquele homem.

Havia poucas vezes em que Hermione Granger não conseguia responder, rebater, supor algo de imediato. Essa era uma.

Não tinha certeza do que ouvira nessa noite, assim como não tivera certeza dois anos atrás na Borgin & Burkes.  

Fitava Malfoy. Bem no fundo de sua mente, ouvia o homem falando com ele, baixinho.

— Você não o matou.

Não se surpreendeu ao dizer a frase. Hermione tinha suas qualidades e seus defeitos, como qualquer ser humano, era leal, amiga, inteligente, mandona, petulante, e tinha suas convicções. Não afirmaria e nem negaria aquilo sem pensar.

Draco riu em escárnio desacreditado com o que saíra da boca da menina.

— Bellatrix o empurrou – continuou, embora Draco agitasse a cabeça em negativo com os cantos da boca quase formando um sorriso de desgosto – Ele mesmo disse isso, Malfoy!

— Você não estava lá, Granger! Eu estava com a faca levantada e quando Bellatrix... quando ela o empurrou, eu afundei a faca.

— Eles o torturaram, você sabia que iam matá-lo! A faca já havia entrado, Malfoy, ou iam deixá-lo sangrar até morrer ou fariam algo pior...

Draco cerrou os punhos, não esperava essa reação dela, esperava que ela apenas o escutasse e não dissesse mais nada ou que agisse friamente.

Não que visse algo além do sangue nas mãos dele.

Hermione aproximou-se, retirando a varinha das vestes e apontando-a para as mãos dele, que só tinha notado que sangravam naquele momento.

— Você não é um assassino, Draco Malfoy, é alguém colocado em um ambiente perverso e que fez escolhas erradas, nem teve a chance de escolher em algumas delas, mesmo que não saiba. Não se livra de vários erros que cometeu, mas não posso culpar você por este. 

Ele ignorou o fato de que estavam em seu sexto ano e Dumbledore lhe dissera algo parecido antes de morrer, ignorou tudo. As palavras, saindo justamente da boca de Hermione Granger, foram umas das mais gentis que já haviam lhe dito.

Esquivou-se dela, puxando a mão curada e voltando a se sentar no sofá.

Não era algo que podia aceitar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Temos muita coisa para conversar aqui. E ai? O que acharam? Eu queria não ter precisado dividir o capítulo, mas à medida que eu vi que passou das 5000 palavras eu deixei a narração meio apressada e não gostei. Realmente, devido a cronologia eu devia postar a continuação, o que vocês preferem? Querem um capítulo do presente e eu dou um jeito de ajeitar tudo ou continuo no passado? Por favor, me respondam, estou muito indecisa.
"Et mortem loquitur" significa "deixe a morte falar" ou "falando em morte" em latim, invenção minha direto do translate do google.
Percebi que o número de comentários diminuiu e isso me deixou um pouco triste e decepcionada, o que está acontecendo? Sei que não estou postando nos melhores dias ou horários, mas não deixem de comentar, por favor, falar com vocês, saber o que estão achando, é uma das maiores alegrias que eu consigo ter esse ano.
As férias estão chegando e eu vou aproveitar para escrever, adiantar capítulos e postar na mesma frequência que eu estava postando antes, torçam por mim!
Decidi que vou perguntar sobre o mundo de HP que anda bem agitado com a peça de teatro e o filme de Animais Fantásticos:
1- O que estão achando de Cursed Child e de uma continuação para HP? A história está dando bastante polêmica, mas eu não ousei ler nada haha (Não mandem spoilers pra tia, plis)
2- Ignorando a parte das fanfics e focando-se no que a JK escreveu, como você acha que foi a vida dos Malfoy depois da guerra? Draco seguiu qual carreira? Vejo muitas fanfics colocando-o como medibruxo, mas será que as pessoas teriam confiança nele?
Eu adicionei mais músicas a playlist: https://www.youtube.com/playlist?list=PLL4TJjbeS3dD7li_RE3wRfcvKCrLuFZZR

ATENÇÃO: Estou pensando em criar um grupo no facebook para Tenebris, o que vocês acham? Assim, podemos compartilhar nosso amor por Dramione e outras coisas, mas só se vocês realmente quiserem. Me digam ou se tiverem uma ideia melhor falem também.

Vejo vocês logo (Eu espero) Comentem e respondam minhas perguntas, por favor.
Beijos, amo vocês!