Tenebris escrita por Maju


Capítulo 14
Capítulo XIII


Notas iniciais do capítulo

Hey, marotos! Vou desviar das pedradas aqui *desvia*, tudo bem, podemos continuar? Vocês não sabem o quanto eu estou desesperada por postar um capítulo novo, Tenebris nunca ficou tanto tempo sem capítulo, e para alguém que se importa muito com os leitores e com compromisso, é desesperador para mim. A resposta dos reviews também está atrasada e eu peço desculpas, assim que postar esse capítulo vou respondê-los. Se quiserem ler um desabafo continue a ler a nota ou só pule para o capítulo mesmo:
Como eu disse no capítulo passado eu mudei de cidade, ela é próxima da que eu morava antes, mas mesmo assim minha vida tá uma bagunça enorme, adaptação a escola nova, reforma em casa, não conseguia escrever por causa do barulho e também não tinha vontade. Sou uma pessoa que gosta de ter tudo certo e organizado, saber onde estou pisando, e o que aconteceu foi exatamente o contrário, instabilidade me irrita. Imagine um viciado em limpeza que fica num lugar sujo e não pode limpá-lo... é assim que eu me sinto. É desesperador, e eu ando bem triste. Essa é só uma explicação do que aconteceu, tentarei não atrasar mais.
Boa leitura!



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Arquejaram em desespero assim que suas cabeças emergiram, inspirando com tanta força que o diafragma parecia que saltaria de seus peitos, não lhes faltava ar, pelo contrário, mas estavam sufocados por suas memórias. Arfavam em busca de algo concreto na superfície, qualquer coisa que os puxasse de volta a realidade.

A primeira visão atordoou-os como se tivessem bebido rápido algo muito gelado. Hermione, num primeiro momento, encarou o céu, mesmo que a claridade repentina queima-se seus olhos, com medo de que seus pais estivessem no fundo, tentando-a a voltar para baixo. E, a cada lufada de ar que tomava, abaixava-os, até ter uma visão plana do local. Mas a cabeça sobrecarregada de adrenalina não conseguia absorver o espaço que se encontrava.

Draco não comentou nada, ainda atônito, só queria sair da água, tão emergente como se tivesse mergulhado em gasolina e um fósforo aceso estive pronto para cair em cima dele.  Empurrou a si e a menina para a margem, novamente não precisaram fazer esforço para se locomoverem. Agarraram-se a beirada e areia grudou-se a seus dedos trêmulos. Hermione, que tinha adquirido prática de sair de lagos e rios ao longo dos anos que era jogada ou colocada para ser salva neles, impulsionou-se para fora com os músculos reclamando. Estendeu a mão para ajudar o sonserino, mas ele dispensou-a com uma carranca.

Rastejaram, trôpegos, afastando-se da margem. Vapor prateado saiu de suas roupas quase que instantaneamente ao se sentarem, dissipando-se no ar. Hermione acompanhou-o e o lugar onde haviam sido jogados entrou em foco.

 Um palavrão escapou de seus lábios. Aquilo já era demais para seu cérebro raciocinar, que a família de fabricantes de vira-tempos era real ela sabia, mas... isso era inacreditável.

Como se tivesse caído num mundo fictício.

Draco tremia, sem vontade de perguntar que lugar era aquele. Sua bochecha direita formigava, mas sabia que não era uma dor real. Abismado com o que havia acontecido alguns minutos atrás. A lembrança de seu avô naquele jantar que nunca fora esquecida, porém tinha sido desbotada ao longo dos anos quando mais lembranças a soterravam. E agora tinha voltado. Só mais uma coisa para assombrá-lo em meio a tantas.

Sentara-se a um bom metro da Granger, estava com raiva, com raiva de ela ter visto aquilo e com raiva de sentir-se envergonhado. Os sentimentos por sua família já tinha se deturpado há muito tempo e apodreciam cada vez mais, mas não queria que ela visse, não queria sua invasão.

Ridículo.

O que é que estava tentando esconder? A perfeição da família Malfoy tinha sido destruída, todos já sabiam, todos os odiavam, não precisava manter mais as boas aparências. Ou melhor, a perfeição que nunca existiu e eles mesmo demorara a notar.  

 Hermione tirou os fios de cabelo dos olhos, o curioso lugar, reconhecia-o de palavras em um livro velho e esquecido na sessão infantil. Observou onde haviam caído, era um rio de água prateada, uma névoa branca densa pairava sobre ele. ”Rio Sem Fim” como chamava o livro e, de fato, ele se estendia até os olhos perderem de vista, em uma impressão de infinidade. Areia serpenteava com ele junto a borda e depois dava lugar a um chão de terra batida e pedras, onde postavam-se agora.

— Você faz alguma ideia de que merda de lugar é esse? – Draco finalmente manifestou-se olhando ao redor. Hermione suspirou desviando o olhar para os sapatos, ultimamente, só ela dava as notícias ruins e Malfoy reclamava como se ela fosse a culpada.

— Já li sobre ele em um livro, só nunca imaginei que... – Parou escolhendo as palavras certas, lembrando-se do que tinha sido apenas o nome de um dos cenários de seus livros – Bem, se até as relíquias era reais... Parece que estamos em Aedes Temperium, ou a Terra do Tempo.

Com tudo o que andavam passando, Draco não se surpreendeu.

— Estou ouvindo.

— Dizem que é daqui que retiram os materiais para fabricarem os Vira-Tempos. – Ela puxou o colar de dentro da blusa segurando o cordão com o dedo indicador – São forjados com o ouro do rio e as ampulhetas com a areia que o serpenteia. Nunca ninguém o encontrou e Satturnus  e seus parentes nunca disseram nada, por isso foi considerado só um mito.

— E agora estamos ainda mais ferrados – encerrou ele de mau humor. Hermione espremeu os lábios, Satturnus não os mandaria para um lugar da qual não pudessem voltar, esperariam tempo suficiente para a baderna acabar e aparatariam de volta ao Beco Diagonal.

Um silêncio perturbador instaurou-se, não se mexeram, não fizeram nada. Cada um em seu mundo interno remoendo as lembranças revividas. Draco não aguentou, estava cansado, olhava Granger de esgueira, os olhos dela vagavam, perdida em devaneios. Só de pensar no compartilhamento de memórias e na tensão que pairava sobre eles com isso, Draco sentia-se desesperado para acabar com o assunto.

As palavras que saíram de seus lábios mais pareciam ter escapado de uma prisão interna que ele fizera.

— Não foi divertido, Granger, aquele dia.

Nunca foi.

Ele se levantou batendo a poeira das calças e passou por Hermione deixando apenas a frase com ela, sem esperar reação. Um calafrio percorreu os braços da castanha, entendendo a referência ao dia que fora torturada na Mansão Malfoy um ano atrás. E no dia anterior, ela sugerira que ele havia se divertido com sua situação. O garoto que passara menosprezando-a por ser quem ela é, vendo-a sofrer por isso nas mãos da tia dele.

Nunca passou por sua cabeça que ele pudesse ter entendido a que ele se referia.

Foi divertido para você aquele dia?

Tinha ganhado sua resposta.

Observou os cabelos loiros dele se agitarem contra o vento, tinha parado em frente ao rio, tão próximo que mais um passo e ele entraria na água.  Nunca imaginaria que choraria por Draco Malfoy, o caminho que a lágrima fizera por seu rosto parecia continuar ali, quente. Surpresa em ouvi-lo perguntar o que é que havia de errado em ser um nascido-trouxa e receber um tapa em troca. Quantos anos ele devia ter? O Draco que ela conheceu em Hogwarts nunca questionaria isso, pelo contrário, bem poderia ser ele quem daria o tapa.

Deu-se conta que tinha presenciado uma parte do sonserino morrer, a inocência e pureza de uma criança ser transformada em crueldade. Mesmo que sempre devesse ter pensado que ele tivesse sido direcionado para o caminho do mal, pela família, por seu sangue, o fato pareceu novo para ela, uma descoberta.

É difícil pensar que a maldade não nascera com alguém, como um caminho já traçado. Saber que o mal é imposto a ela é muito mais cruel. É um inimigo que poderia ter sido evitado, e ele se torna só mais uma vítima.  

Se Draco não tivesse sido criado onde foi algumas coisas poderiam ter sido diferentes.

Não compreendeu o que as palavras dele causaram nela, foi um misto de tristeza e alívio. E algo que achou nunca sentir por Malfoy, complacência. Uma bagunça total.

— Tem uma cabana aqui – a voz dele assustou-a, encarou-o com os olhos arregalados com um medo irracional de que ele tivesse ouvido seus pensamentos, como se fosse pega fazendo algo errado.

— Sério?

— Não, estou alucinando, Granger – Draco soltou, emudecendo-se logo em seguida, arrependido por ter dito aquilo. Estava alucinando, de fato, não agora, mas estava.

Ela se levantou e Draco foi à frente guiando o caminho. Completamente sozinhos, nem ao menos vestígios de animais haviam por ali. Hermione observava cada detalhe, o livro que falava sobre Temperium não tinha sido tão específico, todavia, o que ele descrevera estava lá. Passaram por árvores que não faziam o menor sentido, algumas tinham flores em seus galhos e outras folhas secas como se estivessem em estações diferentes, altas o bastante para lhes fornecer uma caminhada pelas sombras. O rio acompanhava-os e a névoa espessa sobre ele impedia de enxergar o outro lado.

Como fantasmas, a menina pensou. Aqueles que aparecem lá embaixo.

 Alguns metros depois de uma elevação no terreno, uma pequena cabana de madeira materializou-se, havia pequenas frestas entre as tábuas lascadas e musgo se formava no teto.

Hermione tocou a porta precariamente pregada nos batentes enferrujadas, estava aberta. Aos rangeres, abriu-a e o cheiro de mofo ganhou liberdade, tapou o nariz e a boca com uma das mãos, adentrado. A primeira coisa que notaram foram os relógios, pregados as paredes de forma que a madeira sumia por baixo deles, uma mesa puída e três cadeiras mobiliavam o cômodo. Sobre a mesa havia uma bacia rasa de pedra ornamentada com símbolos estranhos, e alguns cordões de ouro e ampulhetas emaranhados, Vira-Tempos inacabados. Tocos de velas apagados  colocados nos quatro cantos dela deviam ser a iluminação.  

O piso estralava sob seus pés, Draco investigou os variados relógios, de cuco, bolso, pêndulo, assim como aqueles no braço do velho Satturnus, estes marcavam horas diferentes. Era um lugar estranho e poderoso da qual o garoto preferia não ter caído.

— Eles fazem as penseiras – ele ouviu Hermione sussurrar consigo mesma, virou-se para ela que passava o dedo indicador pelos inscritos na bacia – A água do Rio Sem Fim é usada nas penseiras, por isso as lembranças – explicou.

 Poderia ser muito bem “Rio das Lamentações”, pelo menos para ele. Odiou o rio tanto quanto tinha odiado só a ideia da penseira quando ele a viu no escritório de Alvo Dumbledore, algo que ele não queria, justamente, lembrar-se, expulsou os pensamentos assim que eles fizeram menção de começar.

Sem mais nada de interessante para olhar, ele puxou uma cadeira e se sentou, pegando um dos cordões e brincando com ele entre seus dedos, acompanhava a garota observando os relógios. Hermione virou-se para ele e Draco desviou o olhar, concentrando-se em sua mão.

— Esperaremos um pouco para aparatar dando um intervalo para os Comensais irem embora – contou o plano – E um intervalo para você também.

Ele parou de mexer as mãos subitamente, finalmente olhando-a nos olhos desde que chegaram ali.

— Um intervalo para mim?

— Não é como se você estivesse bem, Malfoy.

— Isso não é da sua conta, Granger, estou ótimo para aparatar! Quanto mais tempo perdemos aqui, mais demoraremos a achar a porcaria da pedra da ressurreição.

Ela ergueu os punhos acima do quadril, e por um instante o sonserino pensou que a garota bateria nele de novo, mas ela abaixou-os em seguida com força. Bufou e prendeu uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Você é impossível. Qual o seu problema? Já que é tão orgulhoso para admitir que precisa descansar, vou mudar meu argumento para um que você se identifique:  Se você não estiver bem, vai me ferrar lá fora!

Ele riu soltando todo o ar para fora, achando graça da tentativa da Granger em soar como ele. Hermione rolou os olhos e cruzou os braços.

— A certinha sabe-tudo fala palavrão?

— Cala a boca, Malfoy.

Deu as costas para ele, não só porque não queria ver a cara de doninha, mas também porque precisava respirar ar fresco, o cheiro viciado da cabana já estava deixando-a tonta, empurrou a porta e ficou parada na batente. Draco fitou as costas dela, não havia mais nada a fazer se não esperar, não conseguiria fazê-la mudar de ideia, e mesmo não admitindo para a grifinória, precisava descansar, antes de serem jogados ali ele tinha sofrido mais um ataque e sua energia parecia ser drenada de seu corpo a cada um.

Hermione exclamou caminhando para a fora da cabana, Draco ergueu o pescoço para tentar enxergar o que acontecia, mas a menina saiu de seu campo de visão.  Com um suspiro, levantou-se e seguiu para o ar livre.

Uma brisa gelada bateu em seu rosto assim que distanciou-se da cabana, arrepiando-o. Parou ao lado da grifinória que acompanhava com os olhos arregalados a névoa do rio se mover, devagar, revelando aos poucos o que havia do outro lado.

Ele nunca tinha visto nada igual.

Uma árvore, grande e robusta com as raízes saltando para fora da terra formando um labirinto até o tronco, mas não era isso o que impressionava. Era divida em quatro partes, com todas as transformações das estações. Os galhos mais próximos do topo eram desnudos e tortos, como no inverno. Mais abaixo, folhas verdes vívidas ganhavam espaço, lembrando-o de como as férias de verão pareciam ainda mais intensas com aquelas cores. Do outro lado, em uma divisão central perfeita, ele reconheceu as folhas secas do outono na parte superior e as flores da primavera nos primeiros galhos.

— Está explicado porque Satturnus nunca falou sobre esse lugar, é uma das coisas mais estranhas que já vi.

— É o tempo, como se fosse a síntese dele – Hermione comentou baixinho – Como se aqui não houvesse distinção. Um limbo do tempo.

Ele não respondeu, embora concordasse com a suposição dela, continuou observando as folhas dançarem nos galhos.

Foi quando sua cabeça começou a latejar novamente, uma dor aguda tão rápida que o fez cambalear, imagens em clarões cegando-o. Ele teve uma pequena visão de Hermione virando-se para ele alarmada, ela disse algo, mas Draco não ouviu sua voz, e sim o zumbido de um feitiço sendo disparado. E ele já não estava mais lá.

Hermione tentou segurá-lo, mas não foi rápida o suficiente, Draco caiu no chão. Os olhos fixados no céu, sua expressão não mudara em nada com o baque, petrificado.  

— Malfoy! – chamou ajoelhando-se a seu lado, apertou-lhe o ombro, porém nada o fez voltar-se para ela, como se estivesse em transe.

Continuou gritando para ele, e no momento que seu nome saíra pela quarta vez, ele piscou. O barulho de pedras sendo afundadas na terra levou a atenção de Hermione para o punho fechado do menino que o impulsionava contra o chão. Os dedos sujando-se de marrom, os mesmos que também estavam arroxeados e com cortes de manhã.

Draco expirou pesadamente. As cenas desapareceram tão rápido quanto tinham chegado. E seus olhos reconheceram uma Granger acima dele. Obrigou-se a erguer as costas, ficando sentado.    

 - O que foi isso? – perguntou ela.

Ele olhou para as falanges roxas, tinha conseguido voltar, a dor trouxera-o de volta.

— Qual é o problema? Malfoy! – Desviou os olhos para encará-la, sua expressão era um misto de susto e euforia, o olhar inquisidor intimidava.

Xingou-se internamente, não poderia mais esconder, ela o infernizaria até falar. E Draco Malfoy conhecia Hermione Granger o bastante para saber que ela era determinada a conseguir o que queria.

— Eu estou tendo... visões, alucinações, não sei o que são. Desde que viemos para o passado.

Hermione olhou de soslaio para sua mão, compreendendo o que havia causado aquilo.

— O que você vê?

Ele hesitou, não queria dar a notícia de que acabara de ver sua tia.   


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Notas finais do capítulo

O capítulo está menor do que a maioria porque eu realmente precisava atualizar a fanfic, mas espero que tenham gostado! Aedes Temperium foi uma ideia repentina e que eu nunca vi antes e achei legal explorar essa ideia por trás dos vira-tempos.
Caso alguém não se lembre por causa da demora em postar, aquela cena onde a Hermione bate no Draco no Caldeirão Furado, ela grita para ele nunca mais chamá-la de sangue-ruim e solta uma frase a princípio desconexa: Foi divertido para você aquele dia? Agora vocês entenderam da onde veio.
Por favor, comentem e não me abandonem, preciso muito de vocês agora, e mesmo que eu demore, vou respondê-los, mas acho que isso não vai se repetir. Me dê um oi, já vou ficar feliz!
Vamos as perguntas:
1- Você tem tatuagem ou piercing? Se não, tem vontade de ter?
2- Qual livro você está lendo agora e me descreva ele em uma palavra.
3- Nós passamos dos 100 comentários e eu quero fazer algo especial, alguma sugestão? Um capítulo bônus, um spoiler, me deem ideias!
E também já passamos dos 100 leitores, isso é incrível para mim! Muito obrigada (insira um coração enorme, rosa e gay aqui) Amo vocês!
Até o próximo, beijos!



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