Stazione Amore escrita por VicWalker


Capítulo 14
Capítulo XIII - Angelina


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, mil desculpas por ter demorado tanto. Eu descobri que sou uma pessoa que tem a atenção desviada facilmente. Eu felizmente achei um aplicativo que vai me ajudar a me concentrar nas coisas então provavelmente eu consiga ser rápida dessa vez.

Segundo, eu queria avisar que essa história vai começar a entrar em sua reta final. Eu não quero terminar ela, mas eu também não quero ser uma dessas autoras que começam a invetar coisas só pra render mais capítulo. Eu acho que ainda temos uns sete ou oito capítulos pela frente.

Terceiro, eu queria desejar um Feliz Natal e Boas Festas para vocês!!!



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Eu queria sumir. Eu queria voltar no tempo e prevenir Matteo das consequências que ele iria sofrer por assumir ser meu namorado, mas acima de tudo eu queria bater nele.

Eu estava agradecida por ele viajar de Florença até aqui para me ajudar? Sim. Eu me senti feliz e querida por ele ter feito isso? Sim. Eu gostei dele ter me beijado? Sim. Gostei de ele ter feito isso na frente de todos os meus parentes? Não. Mil vezes não. Infinitamente não.

Eu queria que Matteo parasse de sorrir feito pateta ao ser apresentado a minha família e que ele me largasse enquanto fazia isso, porque assim ficaria mais fácil de odiá-lo.

Depois da briga na minha casa, meu pai se apressou a levar eu, meu irmão e o Fabro para o hospital. Duas horas depois nós estávamos de volta e Angelo comunicou a Loretta que o irmão dele estava bem e tinha voltado para casa.

Toda minha família acreditava que tudo estava resolvido, mas na manhã seguinte o xerife da cidade bateu na nossa porta e falou que eu, meu irmão e minha mãe estávamos sob custódia. Eu conseguia entender o motivo de Angelo ser preso, mas fui incapaz de compreender porque eu e minha mãe estávamos indo junto.

Meu pai ficou revoltado e nos seguiu para a delegacia junto com o xerife. Aparentemente, isso foi um convite para o resto da minha família, que resolveram fazer um pequeno protesto contra a nossa prisão. O que mais me incomodou foi o fato de que Giuseppe Fabro estava parado e dava ordens ao xerife para que fossemos levados para uma cela.

Fiquei feliz por o xerife ainda ter o que restou do juízo dele e apenas nos algemou em um banco. Não consegui evitar me lembrar de como Matteo e eu nos conhecemos e como se uma luz tivesse me iluminado pensei em ligar para ele. A única pessoa que poderia me ajudar nessa situação.

Foi difícil ter autorização para usar o telefone e fui alvo de olhares desconfiados de minha mãe durante todo o processo. É como se ela soubesse que eu estava escondendo alguma coisa dela. O problema era que não era uma coisa, e sim uma pessoa. Disquei o número dele e fui atendida no segundo toque.

— Matteo? — sussurrei com a mão em concha tampando a minha boca e o telefone. Não queria que soubessem com quem estou falando.

— O que foi Anjo? — Ouvir ele dizer meu apelido no meio dessa confusão foi como beber água em um dia quente de verão.

— Acho que estou com problemas — murmurei rapidamente tentando criar coragem para dizer a próxima frase — Eu fui presa.

— Você o quê? O que aconteceu? — O grito que ele deu foi tão alto que eu percebi o guarda ao meu lado franzir as sobrancelhas tentando identificar algo mais na conversa.

— Não tenho tempo de explicar a confusão toda. Eu só tinha um telefonema e estou usando ela agora, mas acho que tem alguma coisa muita errada aqui.

— Alguma coisa errada de que tipo? — perguntou e eu pude ouvir o tom de preocupação em sua voz.

— Eu fui acusada de agressão. E o homem que me acusou é a pessoa mais influente da cidade, estou achando que ele usou essa influência para prender eu e a minha mãe.

— Sua mãe também está presa? Dio mio, Angelina. O que você fez? — perguntou novamente.

Por que ele automaticamente pensava que eu fiz alguma coisa? Ele não estava totalmente errado com a minha contribuição, mas me irritei com aquilo.

— Meu irmão está preso também — murmurei novamente.

Ouvi ele praguejar e logo depois o barulho de um motor acelerando. Sussurrei uma pequena prece para ele não sofrer um acidente enquanto falava comigo. Eu iria me culpar até o fim da minha vida.

— Angelina, existe alguma cidade próxima a Cosenza que tenha um aeroporto? — Ouvi ele perguntar novamente e tive certeza que ele estava dirigindo.

O guarda ao meu lado parecia impaciente e começou a fazer gestos para que eu desligasse o telefone. Fiz um gesto com as mãos pedindo para que ele esperasse mais alguns minutos.

— Tem um há alguns quilômetros daqui — falei e o guarda ao meu lado gritou para que eu desligasse o telefone — Estão me apressando para desligar agora.

— Anjo, você está na delegacia municipal agora? — Ele perguntou novamente e foi quando algo me ocorreu.

— Estou... Você não está vindo para cá, não é? — Ele não poderia fazer isso. Eu só liguei porque achei que precisava avisá-lo, só por isso. E porque eu tinha a esperança que ele poderia fazer uma ligação de Florença que nos salvaria. Ele só colocaria mais lenha no fogo se parecesse aqui com farda e distintivo de capitão.

— Nos falamos mais tarde — Desligou e eu me senti ainda mais apreensiva. Eu nunca sabia o que esperar com Matteo.

O guarda me conduziu até o banco para logo me algemar novamente. Suspirei frustrada por estar nessa situação sem motivo... Quase sem motivo. O dia passou entre reclamações dos meus familiares, pedidos ocasionais para ir ao banheiro e meu irmão xingando aquele que iria virar seu cunhado. Soltei um riso abafado pela ironia da situação, não queria imaginar o que Giuseppe faria quando sua irmã se tornasse oficialmente uma Moretti.

Quando eu estava finalmente me conformando com o fato de ter que passar outra noite em um banco, um falatório perto da porta chamou minha atenção. Os próximos acontecimentos ocorreram muito rápido para eu poder me lembrar totalmente deles.

Matteo apareceu na porta e todos os meus pensamentos pareceram fugir da minha cabeça. Eu ainda estava tentando assimilar o fato de que ele estava aqui em Cosenza quando ele atravessou a multidão que era composta pela família e chegou até mim.

Eu estava preocupada com o que minha família ia dizer quando ele juntou nossos lábios e todo mundo desapareceu. Aquele breve beijo me deixou flutuando e com uma sensação tão boa no peito que mal consegui ouvir os protestos do meu pai de fundo. Eu só corei e agarrei ainda mais Matteo.

Agora minha família olhava de soslaio para mim como se eu ainda estivesse escondendo alguma coisa. A verdade era que sim, eu estava escondendo algumas coisas deles, mas receber esse olhar não era bom. Matteo passava de meus tios para os meus primos, cumprimentando todos com um sorriso. Meu irmão não olhava nos meus olhos e eu nem tentei encarrar minha mãe, pelo menos por enquanto.

Matteo se afastou da minha família indo em minha direção e se agachou na minha frente novamente. Uma parte de mim temeu que ele repetisse a ação anterior. Só uma pequena parte.

— Anjo, vou conversar com o xerife para ver se eu consigo soltar você e a sua família, okay? — indagou em um tom baixo para apenas eu ouvir — Acha que tem problema sua família saber que eu sou policial?

— Vamos aos poucos — sussurrei para ele. Já tinha sido um choque para a minha família conhece-lo, os detalhes sobre ele não precisam ser divulgados agora — Por enquanto, não precisamos contar.

— Você que manda — falou enquanto se levantava e se encaminhava para o gabinete do xerife.

Eu não me importaria de contar sobre a sua profissão, mas meu pai tinha muitas opiniões contra policiais, ainda mais depois de hoje. E minha família era o tipo tradicional seguro, ninguém se casou com um policial ou um bombeiro. Ninguém se aventurou em ir morar em outra cidade. Todos permanecerem no mesmo lugar e se casaram com alguém local. Sempre achei que minha família temia qualquer tipo de insegurança. Sacudi minha cabeça para afastar esses pensamentos e voltei a minha atenção para a conversa que Matteo estava tendo com o xerife.

Tentei ver o que eles conversavam, mas eles estavam longe demais e havia muito falatório no recinto. Alguns minutos depois Matteo apareceu sorrindo com o xerife logo atrás, me permiti relaxar e esquecer essa confusão por um tempo. Mas acabou não durando muito porque Giuseppe Fabro apareceu e todo a minha calma foi por água abaixo.

— Xerife! O que pensa que está fazendo? — gritou e eu pude ver com o canto do olho o rosto dele ficar vermelho — Eles deviam estar presos.

Giuseppe veio com o rosto vermelho na minha direção quando Matteo interpôs o caminho e falou com um tom de voz calmo que eu sabia ser fingido:

— A menos que queira ser preso também, sugiro que os deixe ir.

— Não sei quem é você — Giuseppe retomou a fala —, na realidade, nem me importo, mas não se meta com o que não é da sua conta.

— Você acusou esses três de agressão — falou enquanto apontava para minha mãe, eu e meu irmão — Não é da minha conta, mas acredito que uma pessoa não briga sozinha.

— O que você quer dizer com isso? — Fabro perguntou.

— Ele quer dizer que, pela lei, você não pode mandar prendê-los sem ser preso também — O xerife completou.

As engrenagens começaram a funcionar na minha cabeça. Angelo e Giuseppe brigaram, agrediram um ao outro. Minha mãe e eu lançamos um objeto pesado na direção deles, apesar de que nenhum dos dois se feriu gravemente, em uma cidadezinha pequena é o suficiente para passar algumas noites algemada.

Estávamos sendo soltos porque o xerife não podia nos prender e deixar Fabro solto. Ele também fez parte da briga, ele agrediu meu irmão. Éramos nós soltos ou ele preso junto conosco. Tudo ou nada. Senti meu coração inflar de orgulho por saber que foi Matteo que fez isso acontecer.

Giuseppe deve ter chegado à mesma conclusão que eu porque ele se virou e saiu da delegacia a passos duros. Após alguns pedidos de desculpas, que foram exigidos pelo meu pai, minha família pode enfim sair da prisão.

— Ele vai para casa com a gente? — Ouvi minha mãe perguntar assim que saímos da delegacia.

Levei algum tempo para perceber que ela estava se referindo ao Matteo. Ele na minha casa? Antes eu pudesse recusar senti um braço envolvendo meus ombros e soube instantaneamente quem era.

— Seria um honra se eu pudesse ficar — Matteo falou com um sorriso maior do que o normal.

Ele claramente estava gostando muito da situação.

— Sem problemas querido, vocês dois podem ir juntos — Minha mãe continuou a falar como se a minha expressão de espanto não existisse — Angelina vai lhe mostrar o caminho.

Algumas pessoas da minha família olhavam para Matteo com uma mistura de espanto e curiosidade. Algumas chegaram até a arregalar os olhos quando Matteo me puxou para entrar em um carro. Demorei alguns minutos para notar o que estava acontecendo e antes que eu contasse até três, o carro já estava com o motor ligado e estávamos nos locomovendo pelas ruas.

— Onde fica sua casa, Anjo? — perguntou como se nada tivesse acontecido.

Continuei em silêncio. Matteo desviou o olho da estrada para me encarar por alguns segundos.

— Vou receber o tratamento de silêncio? — perguntou outra vez e eu pude ouvir a incredulidade estampada em sua voz.

Virei meu rosto para janela e ouvi Matteo bufar ao meu lado.

— Posso pelo menos saber o motivo de você estar brava? — perguntou enquanto continuava dirigindo — Porque honestamente, eu não faço ideia.

— Eu não estou brava — murmurei e vi pela sua expressão que ele não acreditou — É sério, eu não estou.

— Você está chateada então? — Continuou a falar se atrapalhando nas perguntas — Está frustrada? Irritada? Cansada?

Eu me perdi no meio de suas palavras. Ele continuava a dar sugestões e vendo seu desespero para me compreender comecei a dar risada. Matteo olhou para mim espantado com a reviravolta do meu humor.

— Você vai falar comigo agora? — indagou novamente.

— Me desculpe — falei enquanto me virava para ele — Eu só estou preocupada com você e a minha família.

— Preocupada? — Matteo soltou um pequeno riso — O que você acha que eles vão fazer comigo? Me amarrar no celeiro?

— Eles são capazes, não duvide disso — falei e Matteo parou de rir — Uma das minhas primas levou o namorado para passar o dia de Ação de Graças conosco ano passado.

— E o que aconteceu? — Matteo perguntou curioso.

— Eles terminaram no segundo dia e ele voltou para casa sozinho — falei calmamente. Eu vi várias expressões cruzarem o rosto de Matteo, mas a que eu mais gostei foi a de determinação.

— O que aconteceu com ele? — ele perguntou e se virou para mim — Bateram nele? Ameaçaram ele?

— Não! — falei rindo das possibilidades absurdas dele — Meu tio e meu pai o levaram para ver como se abatiam os animais.

Matteo olhou para mim novamente e era como sua expressão dissesse "Só isso?". Continuei a contar a história:

— Depois disso, meu tio contou que a atividade favorita da minha prima quando criança era ir com ele até o açougue para entregar as carnes.

— Ainda acho que isso não é motivo para eles terem terminado — Matteo contestou e eu balancei a cabeça concordando com ele.

— E não foi, mas quando ele chegou em casa minha prima apareceu carregando uma galinha sem cabeça todo ensanguentada — Matteo arregalou os olhos na minha direção — Ela tinha acabado de cortar o pescoço do animal para o almoço.

— Tudo bem, isso é assustador — contou e eu soltei uma risada. Ele se calou como se tivesse pensando em algo e logo em seguida perguntou: — Ele fugiu assustado? O namorado dela?

— Eu nunca vi ninguém fazer as malas tão depressa — falei enquanto continuava a rir, Matteo deu risada também.

— Você não tem nenhum hábito estranho, tem? — perguntou e eu sorri para ele — Por que se você tiver, eu sugiro que me diga agora.

— Eu sempre fui a mais calma — respondi enquanto apontava para rua que ele deveria virar — Meu irmão ficou com os hábitos estranhos, tenho pena da Loretta por ser casar com ele.

— Sinto a mesma coisa com a Elenore — Ele disse e minha mente lembrou os gestos exagerados e animados da irmã de Matteo, não consegui evitar e sorri — Ela não é a pessoa mais fácil de se lidar.

— Eu gosto dela — falei de repente e Matteo sorriu para mim — Ela é uma boa pessoa e uma boa amiga.

Minha súbita amizade com a irmã de Matteo foi uma ajuda para mim. Eu sentia falta de ter uma amiga próxima depois de Aurora, porque, querendo eu ou não, ela tinha me escutado e me ajudado com os meus problemas. Senti meu rosto endurecer a medida que eu lembrava da minha colega de quarto e do que ela aprontou, mas eu me sentia incapaz de odiá-la.

Primeiro, porque eu não sou uma pessoa que guarda mágoa por muito tempo. Segundo, porque se não fosse essa confusão toda com Aurora e Thomas, eu nunca teria conhecido Matteo. E isso é definitivamente algo que eu nunca irei me arrepender.

Ter conhecido Matteo foi algo que eu que eu comecei a considerar como um acontecimento maravilhoso na minha vida. Ele me ajudou sem esperar nada em troca e foi tão bom comigo. Mesmo que a nossa relação tenha avançado bastante em seis meses de convívio e que nesses últimos tempos parecia que eu estava vivendo um sonho, eu estava um pouco brava com ele por ter se autodeclarado como o meu namorado quando ele nem me perguntou sobre o assunto. Não que eu fosse recusar, mas eu gostaria que ele tivesse perguntado antes. Indecisa de como falar com ele, apenas fiquei quieta até ter coragem para discutir o assunto.

— Uh... Matteo? — falei hesitante quando outro assunto cruzou a minha mente — Você se importa com trabalhos pesados?

— Trabalhos pesados? Do tipo carregar coisas e tal? — perguntou enquanto entrávamos na rua que levava até minha casa.

Assinalei freneticamente com a cabeça. Eu tinha quase certeza que meu pai e meu irmão não deixariam Matteo em paz.

— Minha família tem algo que parece um teste — expliquei, procurando palavras na minha cabeça para não confundi-lo — É como se fosse um teste para ver se aquela pessoa merecer entrar na nossa família.

— Mas eles não deveriam fazer esse tipo de coisa com alguém que vai realmente se casar? — perguntou e eu senti uma leve pontada no peito ao ouvir ele não nos incluir no grupo.

Não que eu esperasse um pedido de casamento, mas vê-lo falar assim me machucou. Balancei a cabeça para afastar tais pensamentos e me forcei a continuar a conversa.

— Ninguém da minha família namora tanto — continuei explicando para que ele se preparasse para o que iria vir — Somos tradicionais demais para isso, aqui é namorar para casar — brinquei enquanto forçava um riso.

Tentei não pensar na hipocrisia de algumas pessoas da minha família que não seguiam os termos de honra básico dos Moretti. Algumas pessoas não seguiam nem a moral básica para convivência.

— Falando em sua família — comentou quando finalmente chegávamos aos portões de entrada do terreno — Por que eles não impediram a briga entre o seu irmão e o outro?

— Meu pai diz que quando um homem briga, a luta é só dele — acrescentei quando finalmente chegamos a minha casa.

— Sua família é estranha — disse antes de nós abrirmos a porta e sairmos do carro.

Assim que pisamos dentro de casa fomos cercados pelos curiosos da minha família. Alguns deles ficaram maravilhados por eu ter arranjado um “namorado”. Aquilo me irritou profundamente. Aparentemente, minha família não botava fé na minha vida amorosa.

Eu estava cansada demais e desesperada para dormir. Subi as escadas e entrei no meu quarto para pegar uma muda de cobertores e um travesseiro, depois fui para o quarto de Angelo para jogar tudo lá.

— O que você está fazendo, sorellina? — Ouvi a voz do meu irmão perguntar atrás de mim.

— Arrumando a cama para o Matteo — respondi enquanto arrumava os cobertores — Espero que ele não se incomode de dormir no chão.

— Você espera que eu aceite ele no meu quarto? — Angelo perguntou como se tivesse ofendido — E Loretta?

— Ela pode dormir comigo no meu quarto — esclareci enquanto colocava a fronha no travesseiro. Angelo não parecia convencido ainda — Ele pode dormir comigo no meu quarto se você não o quiser aqui.

Foi o suficiente para ele concordar, mesmo não gostando. Sorri vitoriosa e refiz meu caminho para sala onde minha família atormentava o meu namorado. Meu coração disparou quando eu pensei nessas palavras.

— Matteo — chamei fazendo um gesto com a mão para que ele se aproximasse — Vem aqui.

Assim que ele estava perto o suficiente puxei ele para um canto debaixo da escada. Matteo envolveu minha cintura com seus braços e eu me aproximei mais.

— Sua família é muito simpática — sussurrou para que ninguém nos ouvisse — Só nesse espaço de tempo eles já me perguntaram a história da minha vida toda.

— E você falou para eles? — perguntei com vergonha de como a minha família era fofoqueira.

— Eles fizeram tantas perguntas que eu não tive tempo de responder — falou brincando e eu soltei um suspiro de alívio — Você me chamou, o que foi?

— Eu só queria avisar que você vai dormir no quarto do meu irmão — informei enquanto abraçava ele.

— Devo me preocupar? — indagou com um leve tom de diversão em sua voz.

— Apenas ignore as provocações e irá ficar bem — esclareci e me lembrei de que tinha esquecido algo muito importante — Obrigada.

— Pelo o quê?

— Por estar aqui, por ter me ajudado, por muitas outras coisas — Fiquei na ponta dos pés para poder dar um beijo em sua bochecha — Você vem sendo um anjo da guarda para mim.

— Eu que deveria estar agradecendo — murmurou enquanto fazia um leve carinho no meu cabelo.

— Pelo o quê? — Foi a minha vez de perguntar.

— Por ser meu Anjo — falou se afastando de mim e colando nossas testas — Eu não sabia que era solitário até você aparecer.

— Você era solitário? — perguntei surpresa. Eu não conseguia imaginar alguém como ele sozinho, ele é o tipo de pessoa que parecia ser cercada de amigos.

— Até você aparecer, minha vida era só trabalho — confessou enquanto olhava nos meus olhos. Esses olhos castanhos ainda serão minha perdição.

— E o que mudou quando eu apareci? — perguntei confusa. Eu nunca imaginei que a minha chegada tivesse um valor tão grande para ele.

— Eu tinha companhia — declarou com um sorriso no rosto — Eu tinha alguém para quem voltar no final do dia.

O sorriso dele me contagiou e eu estava sorrindo junto com ele e para ele. Nosso momento particular foi interrompido pelo grito da minha mãe me chamando acima das escadas. Dei um olhar sem graça para ele e me obriguei a afastar-me.

— Hora de dormir — falei enquanto nos separávamos e subíamos as escadas.

Mostrei para ele onde ficava o quarto do meu irmão e apontei para onde eu estaria dormindo caso ele precisasse de ajuda.

— Boa noite, Matteo — murmurei para ele.

— Boa noite, Anjo — falou se aproximando um pouco para poder me dar um rápido beijo — Até amanhã.

Eu estava nas nuvens então não tive tempo de responder. Me arrastei para o meu quarto onde Loretta já estava dormindo no colchão inflável que estava no chão. Troquei minha roupa por uma calça e uma blusa bem desgastada e me deitei na cama. Minha cabeça ainda estava girando com as possibilidades do que iria acontecer amanhã, eu sabia que meu pai faria Matteo ter um tempo difícil. Eu só tinha medo que descobrissem que dividíamos o apartamento, por que meu pai não aceitaria um homem vivendo com a filha solteira dele, mesmo que ele fosse seu namorado.

E ainda tinha o pedido de namoro que não ocorreu. Eu sabia que eu estava sendo meio boba por ter ficado brava com ele sobre isso, mas até Thomas tinha feito um pedido com direito a um buquê de flores. Mas Thomas havia me traído e comecei a perceber que ele nunca pareceu ter gostado verdadeiramente de mim. Matteo pode não ter feito um pedido, mas eu sabia que o afeto que ele tinha por mim não era mentira. Com esses pensamentos na cabeça, adormeci rapidamente.

Acordei no dia seguinte com o barulho de algo batendo. Eu ainda estava no estágio entre o sono e a volta da minha consciência quando o barulho se fez presente novamente. Levantei a cabeça do travesseiro e observei o quarto entre uma fresta do cobertor que cobria minha cabeça. Loretta já estava de pé e caminhava pelo quarto com pressa, observei o barulho de suas botas batendo no chão onde o carpete não cobria e soltei um gemido sofrível.

— Oh! Você acordou? — Ela tinha um tom voz doce e que me fez pensar como o meu irmão pode se agarrar a uma criatura tão meiga.

— Sim, bom dia — falei enquanto sentava na cama e observava o quanto meu quarto estava arrumado e limpo — Você limpou o quarto?

— Sim, espero que não se importe — falou baixinho e tive que fazer um esforço para ouvir — Também guardei algumas de suas coisas dentro daquele armário.

Ele apontou para o grande armário de carvalho que ficava grudado na parede do meu quarto. Ele tinha sido da minha mãe e era uma peça bem valiosa. Eu ainda não estava completamente acordada então fui para o banheiro parecendo um zumbi, eu me segurava na parede para ter certeza que não ia cair.

Lavei meu rosto e escovei os dentes antes de descer para tomar café. Eu estava a caminho da cozinha e tentava pentear meu cabelo com os dedos para arrumá-los. Entrei no cômodo que estava habitado apenas por minhas tias e minha mãe que estavam cortando legumes e temperando carnes.

— Bom dia — anunciei e logo vários pares de olhos estavam em mim.

— Bom dia, cara — Minha mãe falou enquanto secava as mãos no avental que estava preso em sua cintura — Dormiu bem? Você não é de acordar tarde.

— Tive uma noite ótima — falei enquanto pegava o pão de cima da geladeira. Senti o cheirinho dele e suspirei de agrado. O pão que minha mãe fazia ainda continuava ótimo — A senhora sabe o porquê da Loretta estar tão agitada?

Minha mãe desviou o olhar quando eu fiz a pergunta e eu sabia que não estava vindo coisa boa.

— A senhora sabe se o Matteo já acordou? — perguntei novamente e ela começou a torcer as mãos. Eu sabia que isso era um gesto que ela fazia quando estava nervosa.

— Ele já acordou, querida — falou suavemente enquanto enchia um copo com suco e me entregava — Saiu bem cedo com o seu pai e seu irmão.

Quase me engasguei com o suco e parei para respirar um pouco. Eu sabia que isso ira acontecer, mas mesmo assim fiquei com medo do que minha família poderia aprontar. Os Moretti eram conhecidos por sua falta de juízo.

— Quando foi que eles saíram? — perguntei afobada.

— Logo depois do amanhecer — Ela falou e me olhou com se temesse minha reação — Seu pai falou que iria levar ele para ajudar nos trabalhos na fazenda.

Lancei um olhar de terror para ela. Meu pai não teria escrúpulos na hora de colocar Matteo para fazer qualquer tarefa. Eles ficariam inacessíveis até o almoço, olhei para o relógio e quase praguejei ao ver que faltava ainda algumas horas para eles chegarem.

— E Loretta? — perguntei por que ainda achava estranha a atitude da minha futura cunhada. Ela estava agitada demais nessa manhã.

— Seu irmão cancelou o passeio deles para acompanhar seu pai — esclareceu enquanto me dava às costas para voltar aos seus afazeres.

Eu tinha entendido que Loretta estava preocupada. Pelo o que eu ouvi quando cheguei, Angelo não a abandonava por nada e eles sempre ficavam juntos. Se meu irmão cancelou o encontro deles é porque ele tinha grandes planos para ocasião que envolvia Matteo. Eu só esperava que ele não aprontasse nada.

Passei o resto do dia entre brincar com as crianças da casa e ajudar nas tarefas. Loretta olhava impaciente para o relógio e comecei a perceber que eu estava fazendo o mesmo. Quando a mesa foi servida e eu ouvi o barulho da velha caminhonete se aproximando me permiti relaxar. Corri para varanda sendo seguida de perto por Loretta, alguns instantes depois minha mãe apareceu.

— Espero que eles não tenham aprontado muito com Matteo — murmurei vendo a caminhonete azul se aproximar cada vez mais.

— Seu pai não iria deixar o primeiro namorado que a filha dele apresenta passar impune — Minha mãe falou com a doçura comum dela — Você é a princesinha dele.

— Eu só quero que eles não tenham passado dos limites justamente por isso — falei e contive a minha respiração quando o carro estacionou e eles começaram a descer.

Respirei aliviada quando vi Matteo descer do carro e caminhar na minha direção. Ele parecia cansado e estava um pouco sujo, mas parecia estar bem. Todos entraram e ficamos a sós na varanda. Eu olhava para ele para ver se estava tudo bem e não tinha coragem de começar uma conversa.

— Seu pai não é alguém fácil — Ele começou a falar indo se sentar nos degraus.

— Ele não fez você limpar o esterco de cavalo, não é? — perguntei hesitante.

— Não, eu acho que isso foi a única coisa que ele não pediu para eu fazer — comentou com um tom divertido — Tive até que montar um cavalo, seu pai fez questão de me dizer que era seu passatempo favorito.

— Eu sempre gostei de andar a cavalo — declarei com um sorriso no rosto enquanto lembrava da minha infância — Meu irmão foi legal com você?

— Ele foi legal quando necessário — comentou e eu escondi o rosto nas mãos — Mas não posso culpá-lo.

— Não pode? — perguntei confusa.

— Se você soubesse o que eu fazia com os namorados da Elenore — falou rindo e eu me permiti sorrir — Talvez seja um castigo para o que eu fazia com a minha irmã.

Ficamos em silêncio por mais alguns instantes antes de uma das minhas primas aparecer e nos chamar para almoçar. Entramos em casa e tive uma das refeições mais atribuladas da minha vida, com Matteo sentado ao meu lado minha família começou com o interrogatório sobre a nossa relação.

— Como se conheceram? — Ouvi minha prima de segundo grau perguntar.

— Quando começaram a namorar? — Dessa vez foi a minha tia que perguntou.

Tendo tantas perguntas direcionadas a minha vida em Florença, minha mente se lembrou da minha pequena bola de pelos que tinha ficado aos cuidados de Matteo. Me virei para ele rapidamente e por uns minutos me esqueci que éramos observados.

— Matteo, quem está cuidando do meu cachorro? — perguntei em um tom de voz alto que evidenciava minha preocupação — E o seu gato?

— Eles estão com aquele casal de idosos que moram na porta da frente — explicou com um sorriso que serviu para aliviar a preocupação que eu sentia — Pedi para eles cuidarem dos dois por algum tempo.

— Vocês moram perto um do outro? — Um dos meus tios perguntou e eu senti vontade de me bater por ter tocado nesse assunto na mesa.

— Somos vizinhos — Matteo respondeu por mim e eu me senti aliviada.

— Ah! Então é assim que se conheceram — Loretta exclamou e eu senti vontade de abraçá-la por dizer isso.

— É, foi assim — concordei com ela.

Eu ainda não estava pronta para contar tudo sobre a minha relação com Matteo. Primeiro ele tem que passar pela inspeção de meu pai, aí eu poderei contar sem temer que ele ou meu irmão tente matar Matteo.

— Você já usou uma arma, Matteo? — Meu pai perguntou da cabeceira da mesa.

Bebi o suco para suprimir o riso que queria sair. A lembrança da primeira vez que vi Matteo ecoando na minha cabeça, ele estava com a arma na mão pronta para utilizá-la quando me viu. Matteo percebeu minha reação e sorriu.

— Não sou estranho a elas, senhor — Matteo respondeu com total educação e respeito.

— Isso é bom, temos o costume de jogar um jogo de tiro aqui — Meu pai continuou e eu soube instantaneamente de que jogo ele estava falando — Será bom se você também participar.

— Será uma honra, senhor — Matteo respondeu com um sorriso no rosto.

Comemos em paz e quando terminamos todos foram para o quintal presenciar o jogo que acontecia todos os anos no feriado. Eu tinha muitas lembranças desse jogo durante a minha infância. Era bem simples, alguém arrumava garrafas e latinhas em uma mesa velha e a outra pessoa tinha que derrubar todos com uma espingarda de caça que meu pai guardava há anos. Ganhava quem conseguisse derrubar todas as coisas.

Matteo estava com um sorriso confiante no rosto e eu sabia que isso para ele seria a tarefa mais fácil do dia. Desejei um boa sorte para ele, que me respondeu com um sorriso maior ainda.

— Ele vai ficar bem? — Minha mãe perguntou vindo se sentar ao meu lado.

— Ele vai ficar ótimo — respondi confiante esperando a vez de Matteo chegar.

Eu estava sentada em uma manta que foi estendida no chão para esse propósito. Minha mãe e Loretta estavam ao meu lado e observávamos os participantes com uma mistura de diversão e apreensão.

Meu pai foi o primeiro a atirar e fez pontuação máxima, em seguida, meu irmão veio e acertou todas menos uma. Logo após, veio meus tios e primos, inclusive uma prima minha que se aventurou de tentar. Eu estava ansiosa e não conseguia parar de pensar na vez de Matteo.

Ele foi um dos últimos. Eu estava longe o suficiente para não me machucar, mas perto o suficiente para ter uma vista privilegiada dele. Vi quando ele respirou fundo e ergueu a arma na altura dos ombros e fechou um dos olhos para mirar. Logo em seguida veio os tiros, todos certeiros. Vi a surpresa nos olhos de minha mãe quando ele constatou que Matteo tinha acertados todas as garrafas. E eu nem precisava me olhar no espelho para saber que o brilho dos meus olhos era de orgulho.

Matteo foi rodeado pelos meus familiares e estava recebendo vários “Parabéns” quando meu pai se sentou ao meu lado. Desviei minha atenção para o homem ao meu lado, ele me encarava e pelas suas feições eu sabia que ele queria ter uma conversa séria.

— O garoto é bom — Meu pai falou e se juntou a mim na observação — É bastante educado e simpático também.

Concordei com a cabeça e voltei meu olhar para Matteo que agora estava cercado com as crianças da família e não pude evitar e sorri.

— Apesar da postura dele ser diferente, é um bom atirador também — comentou rapidamente.

— A postura dele? — perguntei atônita.

Será que meu pai percebeu a postura profissional de Matteo ao segurar a arma? Eu não teria problemas de contar para minha família agora que meu pai pareceu ter dado seu aval de aprovação, mas queria ser eu a contar.

— É diferente de alguém do campo — Meu pai fez graça e eu respirei aliviada.

Desviei meu olhar novamente para Matteo que agora estava sozinho e me observava.

— Pode ir — Meu pai disse enquanto se levantava — Só não demore muito.

Levantei de supetão e dei um abraço em meu pai. Agradeci a ele rapidamente e fui de encontro a Matteo que ainda estava parado.

— Tudo certo? — perguntou quando cheguei até ele.

— Tudo certo — respondi com um enorme sorriso — Você, Sr. Bartolini, tem a aprovação dos Moretti.

— É aprovação de uma Moretti em especial que me interessa — sussurrou no meu ouvido e eu me senti derreter com suas palavras.

— Tenho certeza que essa Moretti aprova você até demais — falei e tomei um susto quando senti dois braços me rodearem e me abraçarem.

Minhas costas se chocaram com o peito dele e ele me apertou mais forte.

— Eu ainda preciso da aprovação dessa Moretti em outros setores — sussurrou e pude sentir sua respiração no meu ouvido.

Minha mente estava em branco quando ele me virou e colou nossos lábios, me dando o beijo mais apaixonado que já tivemos.


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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sorellina = Irmãzinha
Cara = Querida.

Bati meu recorde com esse capítulo. Espero que tenham gostado, beijos e até o próximo!!