Stazione Amore escrita por VicWalker


Capítulo 12
Capítulo XI - Angelina


Notas iniciais do capítulo

Espero não ter demorado tanto dessa vez.

Sorellina = Irmãzinha



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O ônibus sacolejava a medida que entravamos em uma estrada de terra, essa era a pior coisa de se morar no interior. Apenas metade das rodovias que ligavam Cosenza ao resto da Itália era pavimentada e para poupar dinheiro eu havia comprado uma passagem pelas estradas de terra. Eu estava tentando não gastar dinheiro, visto que juntar está cada vez mais difícil.

Matteo tinha razão ao me acusar de mesquinha. Uma vez me neguei a comprar algo que eu nem me lembro mais o que é e Matteo me acusou de sovinice. Pela dificuldade de manter meu dinheiro por muito tempo, acabei me tornando em uma pessoa avarenta. Eu estava tentando mudar isso, mas ainda não obtive resultados.

Eu estava tentando me concentrar no romance que eu estava lendo. Um romance histórico que se passava na Inglaterra, a mocinha estava se preparando para se declarar para o mocinho quando a voz do motorista gritou que tínhamos chegado. Fechei meu livro às pressas e puxei a mochila que estava no compartimento acima de mim. Eu estava ansiosa para ver meus pais.

Esperei as duas senhoras que estava na minha frente sair e desci os degraus aos pulos para chegar ao chão. Observei as pessoas que estavam no local e procurei algum familiar meu para me ajudar com as malas. Então eu vi meu irmão andando a passos largos na minha direção e com os braços abertos. Corri em sua direção e o abracei com toda minha força.

— Senti saudades sorellina — Angelo me estreitou em seus braços e eu fazia força para segurar as lágrimas. Ficamos assim por vários minutos antes dele dizer: — Quero que você conheça alguém.

Ele se afastou, mas continuou me segurando pelos ombros. Observei uma menina caminhar lentamente na minha direção e me dar um sorriso vacilante. Ela era mais ou menos da minha altura e possuía cabelos e olhos castanhos.

Sorellina, quero que conheça minha noiva — Arregalei os olhos espantada. Noiva? O canalha do meu irmão que não para com uma mulher vai se casar? Apoiei-me em Angelo para evitar cair de choque e lancei um sorriso para a garota — Loretta, essa é minha irmã Angelina.

Fechei os olhos e murmurei uma prece a Deus torcendo para essa não ser Loretta Fabbro. Deve haver muitas Lorettas na Itália não é? Deve haver um número considerável de Lorettas em Cosenza não é? Minha voz interior deu uma resposta negativa às duas perguntas.

— Por que não conversam um pouco? — Angelo perguntou enquanto se afastava — Vou pegar as malas e já volto.

E como sempre, meu irmão não possuía a discrição como uma virtude natural. Loretta olhou hesitante na minha direção e resolvi tentar uma dialogo com ela. Eu estava bastante curiosa com a mulher que conseguiu prender meu irmão.

— Então — Tentei iniciar uma conversa, mas nenhum assunto vinha na minha cabeça — Vocês se conhecem há muito tempo?

— Sim, nos conhecemos há bastante tempo — respondeu com um brilho de adoração nos olhos. Seja lá o que fez meu irmão sossegar era óbvio que essa menina gostava muito dele — Nos conhecemos desde que eu tinha 16.

Minha atenção foi direcionada pela sua última frase. Eu lembro que minha mãe havia dito que Loretta Fabbro era muito nova para o meu irmão, fiz alguns cálculos mentais para saber a idade de meu irmão na época que se conheceram. A algazarra de números na minha cabeça me confundiu, mas eu sabia que ele já tinha passado dos vinte na época. Dei um sorriso sem graça em sua direção e falei:

— Vou ver se ele precisa de ajuda — fiz um gesto atrapalhado com as mãos tentando indicar onde meu irmão estava — É bem capaz dele pegar a mala errada.

Eu sabia que era mentira. A mala que eu trouxe era a mesma de quando eu havia indo embora dessa cidade. Sem contar que foi Angelo que me deu ela. Corri para cercar o ônibus e juntei toda a minha força para bater no meu irmão irresponsável.

— Por favor, me diga que ela não está grávida — esbravejei puxando as mangas de minha blusa de manga comprida até o cotovelo — Me diga que não foi tão irresponsável!

— Ela não está grávida — falou enquanto passava a mão no braço aonde eu havia batido — Não sou tão ruim assim.

— A mamãe já sabe? — perguntei tentando disfarçar o alívio na minha voz por meu irmão não ser tão descuidado — O irmão daquela garota já sabe?

— Claro que mamãe já sabe, afinal, Loretta está morando conosco — disse enquanto se abaixava e pegava a minha mala — E o irmão dela também, apesar de que ele não está aceitando muito bem.

— E por que será? — respondi irônica na sua direção — A irmãzinha dele está de casamento marcado com o maior festeiro da cidade! É claro que ele está preocupado.

Giuseppe Fabbro era o dono de metade das lojas em Cosenza, o homem tinha rios de dinheiro e era a maior influência na cidade. Eu estava começando a me preocupar que Angelo tinha se metido na maior confusão da sua vida e eu esperava sinceramente que essa viesse a ser a última.

— Mamãe aceitou que ela viesse morar em casa? — indaguei confusa. Minha família era tradicionalista demais. Eu não conseguia ver como eles permitiram a entrada de Loretta.

— Ela estava carente pela perda de uma filha — respondeu brincando — Uma jovem garota foi aceita com grande facilidade. Mamãe está tratando ela melhor do que tratava nós quando crianças.

— Estou preocupada Angelo — falei honestamente — Giuseppe Fabbro não é alguém para se brincar.

— Deixe esse assunto de lado, você acabou de chegar. Não se estresse. — murmurou enquanto andávamos até Loretta outra vez — Me diga, como foi em Florença? Quero todos os detalhes.

O que eu poderia responder? Está indo tudo ótimo, minha antiga colega de quarto se atracou meu namorado na época e eu fui expulsa do apartamento. No mesmo dia, fui coagida por um porco com farda e levada para uma delegacia, mas não se preocupe irmão, o Capitão da unidade me salvou e me levou para morar com ele. E agora acho que estamos entrando em um relacionamento. Se eu respondesse isso era provável que nunca voltasse para a faculdade depois.

— Está tudo bem — falei enquanto nos dirigíamos para o estacionamento — Eu adotei um cachorro, estou trabalhando em um café perto da faculdade e fiz amigos.

Na minha cabeça, qualquer pessoa que soubesse da verdade entre eu e Matteo poderia ser considerada minha amiga. Até agora, apenas duas estavam presentes nessa categoria, Elenore e Alex.

— E você conheceu algum cara legal? — Loretta me perguntou quando já estávamos no carro. Angelo ia responder por mim e antes que ele tivesse chance o cortei imediatamente.

— Se falar que eu sou muito nova para isso, eu e Loretta vamos dirigir até em casa e você vai voltar de ônibus — Ele não queria namorar a irmã mais nova de alguém? Então que não ficasse de gracinha quando se tratava de mim.

— Você está diferente — ele falou quando pegamos a estrada em direção ao rancho da família — A Angelina que saiu daqui nunca me responderia assim.

A Angelina que saiu daqui não tinha sido traída duas vezes e não tinha se apaixonado por um policial. Engasguei com a minha própria saliva ao constatar o que eu tinha dito. Apaixonada? Por Matteo? Será que eu era incapaz de ficar solteira em uma cidade grande? Guardei minhas perguntas para mais tarde com uma promessa que iria analisa-las quando eu fosse dormir.

Me concentrei na paisagem que passava pela janela e soltei um suspiro. Eu estava em casa. A cidade passava rapidamente enquanto navegávamos pelas ruas antigas e estreitas, acho que Cosenza não tinha visto alguma construção nova por pelo menos mais de dez anos.

Logo os prédios saíram para dar entrada aos campos e pradarias que cercavam a região. Subimos a colina em direção a casa imponente que ficava no alto e logo estávamos entrando pelos grandes portões que rodavam pelo terreno. A dezena de pessoas que estavam me esperando quando desci do carro eram liderados pelos meus pais que tinham um sorriso no rosto e lágrimas em seus olhos.

Passei as próximas horas sendo abraçada e respondendo perguntas sobre a minha vida em Florença. Minha mãe não parecia conseguir me deixar por mais de cinco minutos de modo que o almoço do dia foi atrasado e acabou virando um jantar. Pedi licença antes de comer para fazer uma ligação. Corri para uma parte afastada da casa que estava vazia e puxei meu celular, digitei os números às pressas e esperei dois toques antes de ser atendida.

— Sua viagem foi boa, Anjo? — Matteo me perguntou e usei a parede como apoio, ouvir sua voz depois da constatação de que estava apaixonada por ele foi mais forte do que eu esperava.

— Foi ótima — respondi me sentando no chão com a cabeça apoiada na parede — Estou com saudades.

— Do quê exatamente você sente saudades? — indagou e eu consegui ouvir o leve tom de divertimento em sua voz.

— De várias coisas — respondi fazendo uma lista mentalmente — Meu cachorro, seu gato, o barulho. Aqui é muito quieto.

— Só isso? — perguntou novamente.

— Eu sinto sua falta também — sussurrei no telefone.

— Eu também, Anjo — Ouvi ele dizer antes de ficarmos em silêncio apenas ouvindo a respiração um do outro.

— Angelina? Você está aqui? — Pude ouvir os passos da minha mãe se aproximando de onde eu estava.

— É a sua mãe? — Matteo indagou dando uma pequena risada.

— Sim, ela deve estar me procurando para o jantar.

— Fala para ela que eu mandei um beijo — Antes que eu pudesse responder ele desligou, mas ainda consegui ouvir a risada que ele deu no final.

— Aí está você querida! — Minha mãe me puxou pelo braço para poder me levantar e logo começou a me arrastar até a mesa de jantar.

Meus avós eram pais de sete pessoas, três meninos e quatro meninas. Esses se casaram e tiveram mais filhos e que tiveram mais filhos. Muitas pessoas reunidas em um único lugar a fim de conversar sobre a vida, o passado e o futuro. Eu costumava achar nossas reuniões incríveis quando criança, mas à medida que fui crescendo percebi coisas que não são vistas por uma criança.

Olhei para o lado e vi tia Alberta flertando com o marido da minha tia Lira. Desviei minha atenção para o outro lado para ver prima Ana se esfregando em meu primo Bruno. Enojada por certas pessoas de minha família foquei minha atenção no meu prato determinada a aproveitar esses dias de comida familiar.

Acabei o mais depressa possível e sai rapidamente da mesa. Eu não queria ficar com as pessoas remanescentes na mesa por mais tempo então fui em direção à varanda onde me sentei no balanço que estava pendurado ali. Não sei quanto tempo eu fiquei pensando na vida, olhando para as árvores e para o céu que estava escurecendo quando ouvi barulhos de pneu e vi um carro vindo à direção da casa em alta velocidade.

O carro estacionou com força e um homem desceu. Gelei por dentro ao reparar quem era: Giuseppe Fabbro! Me levantei e tentei correr em direção à porta para chamar meu irmão ou alguém para ajudar, mas ele já estava subindo na varanda e puxou meu braço com força em sua direção.

— O que temos aqui? — disse enquanto continuava a me puxar — Se não é a irmãzinha de Angelo Moretti.

— Solte-me agora — rosnei entre dentes. Será que faz parte do meu destino sofrer puxões desse tipo de homens? E dessa vez não vou ter Matteo para me ajudar.

— Não vou mesmo — respondeu me puxando para colar nossos corpos — Olho por olho, dente por dente. Seu irmão não está se divertindo com a minha irmãzinha? Eu acho justo que eu faça a mesma coisa com a dele.

Eu estava tentando identificar algum cheiro de bebida nele, mas não tinha nada. Ele estava completamente sóbrio! Tentei puxar meus braços novamente e consegui soltar um deles. O usei para dar um tapa na cara dele e aproveitei seu momento de confusão para empurra-lo, mas no momento que eu tomei impulso para sair correndo ele usou a outra mão para me empurrar no chão. Bati a cabeça na quina do balanço e senti uma dor alucinante na cabeça, ele estava um pouco afastado de mim de modo que reuni todo o oxigênio no meu pulmão e comecei a gritar com toda minha força.

Soltei um grande suspiro de alivio quando a minha família começou a aparecer, enchendo a varanda de pessoas. Não demorou muito para alguém vir me ajudar e os homens da casa irem confrontar nosso visitante. Minha mãe veio para o meu lado e me abraçou com força. Eu vi a briga acontecendo entre meu irmão e ele na beirada da varanda. Se Giuseppe fosse um pouquinho mais para trás ele ia cair no buraco que a fundação da casa fez há muitos anos.

Eu sempre precisei de ajuda, mas nesse momento eu estava decidida a ajudar alguém. Olhei para os cantos a procura de algo para me ajudar a realizar minha tarefa quando olhei para o balanço ao meu lado. Se eu conseguisse empurrar ele com força para frente, os dois iriam cair. Não me preocupei se alguém ia se machucar no momento e me levantei decidida no meu plano. Acho que mamãe deve ter percebido porque logo ela estava me ajudando com o peso também.

Contei mentalmente até três antes de jogar balanço com toda a minha força. Nenhum dos dois conseguiu desviar e foram arremessados para baixo. Minha família ficou em choque por alguns segundos antes de todos correrem para a beirada a fim de ver o que aconteceu com eles.

Um tio meu veio dar noticias que Angelo estava bem, mas Giuseppe se encontrava desacordado. E se eu tivesse matado ele? E se tivesse machucado meu irmão? Eu estava com tanta raiva de ter sido empurrada que não parei para notar as consequências.

— Oh Mamãe! O que foi que eu fiz?


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Notas finais do capítulo

Estou muito animada para escrever o próximo! Beijos e até breve.