– Maxon, você está louco?! De onde você tirou essa ideia?! - Eu estava completamente atônita com o que ouvira. Eu nunca escutei ele falar de algo parecido. Era como se aquele clima pesado de antes e o meu cansaço sumissem. Eu sei que estávamos em uma situação difícil, mas minha ficha ainda não tinha caído. Naquela hora caiu.
Ele não respondeu. Aquele silêncio me deixou ainda mais desesperada. Ainda tremendo e procurando o interruptor nas paredes geladas, eu tentava entender o que ele dissera. Eu não acreditava naquilo. Em nada daquilo. Não acreditava que ele fosse ir embora, e também não acreditava que nós tínhamos realmente brigado com o rei horas antes. Tudo parecia um pesadelo. Eu queria que fosse.
O quarto ainda estava em silêncio, menos por minha respiração rápida de preocupação e seus suspiros dolorosos. O que eu perdi?!
Do nada, alcancei o interruptor e aquela maldita luz acendeu. O meu coração quebrou em mais de um milhão de pedaços. Nunca vou me esquecer do que senti quando olhei para ele naquele momento. MEU DEUS. Eu não podia acreditar no que estava vendo.
Seus cabelos estavam muito engrenhados, como se tivessem sido puxados com força. Havia um corte violento em sua testa e outro em sua boca, além de um olho arroxeado e vermelho. Seu pescoço estava com manchas roxas, marcas de dedos. Suas roupas estavam amassadas e rasgadas, e seu pulso tinha um hematoma, como se alguém tivesse o segurado violentamente. Seus olhos estavam baixos, apontados para o chão. Ele respirava com dificuldade e tremia, soltando pequenos gemidos de dor, sem se mexer. Sua postura estava extremamente curvada, e eu sabia porque. Sua camisa estava violentamente pintada de vermelho.
Por um segundo, pensei que eu havia causado aquilo, e estava certa. Meu estômago enrolou e eu achei que fosse desmaiar. AH MEU DEUS! EU FIZ ISSO. Depois a situação só piorou mais, quando me dei conta de que, enquanto eu pedia tempo para "pensar no que aconteceu", ELE APANHOU NO MEU LUGAR.
Mas então a minha reação mudou completamente. Clarkson havia feito isso. Eu estava com ódio, raiva, fúria, nojo, mas sabia que eu não podia lutar contra ele. NÓS NÃO PODERÍAMOS. Ele sabe muito bem o quanto acaba comigo, quando o machuca. Ele deu o "xeque-mate". Mas eu não queria mais jogar, não queria vencer. Tudo o que eu queria era que Maxon não se machucasse mais. Ah meu deus. Eu fiz isso. Eu não machuquei apenas Maxon, mas sim O CARA QUE ME AMAVA, QUE DARIA TUDO PRA ME VER FELIZ, QUE QUERENDO OU NÃO, SENTIA ALGO POR MIM, ASSIM COMO EU SENTIA ALGO INEGÁVEL POR ELE.
Enquanto meu rosto queimava e eu mordia os lábios com força para não chorar, caminhei lentamente na sua direção. Foi então que decidi com a maior certeza do mundo que eu iria fugir com ele. Simples assim. Depois do que fizera por mim, eu tinha que ir com ele. QUERIA ir com ele.
Ele levantou a cabeça com dificuldade, e olhou pra mim, humilhado.
– Eu falei com os rebeldes nortistas e ...eles vão proteger você e sua família...
– Maxon, não...
– ...tem um envelope em cima do seu criado mudo, com uma quantia suficiente para ajudar nas suas despesas...
– MAXON!!!
– A Seleção vai ser cancelada, você vai voltar pra casa em segurança, eles me juraram que... - Sua voz era fraca e ele estava quase desabando.
– NÃO!!! - Pulei na poltrona e o abracei, como se nunca quisesse soltá-lo, e não queria mesmo. Enquanto chorava, sentia suas lágrimas em meu braço. Nós não éramos de ferro. Éramos tão frágeis como penas. Frágeis penas.
– America...você...você vai ficar bem...por favor...
– VOCÊ NÃO ENTENDEU?! EU NÃO QUERO FICAR BEM!!! EU SEI O QUANTO VOCÊ SE SACRIFICOU POR MIM!!! EU NÃO QUERO SER IMPEDIDA DE ME SACRIFICAR POR VOCÊ TAMBÉM. EU QUERO TE AJUDAR. EU NÃO LIGO!!! EU VOU JUNTO, PORQUE EU NÃO SEI SE ESTOU PRONTA PRA TE DEIXAR IR...EU NÃO SÓ DEVO, COMO QUERO IR! - Eu não sabia como me expressar direito. Eu estava perto do pânico.
– Eu sei que prometi que não...não conseguiria ficar longe de você, mas...eu não posso ser egoísta...prefiro quebrar minha promessa e ficar longe, do que ver algo ruim lhe acontecer. Quando você tomou aquele tiro...eu sabia que eu não deveria ter deixado... Não posso deixar que mais algo de ruim... Não posso. Não quero, mas tenho que deixá-la ir. - Ele foi se levantando com dificuldade, me deixando sentada, sem saber o que fazer.
– NÃO!!! NÃO ME IMPEÇA DE SER FELIZ COM VOCÊ!!! NÃO PRECISA SER UMA DESPEDIDA!!! - Eu realmente não sabia o que dizer.
– Um dos guardas vai me ajudar. Eu vou nesta manhã. Vai dar tudo certo.
Ele estava se segurando pra não dar pra trás. Era mais forte do que eu pensava. Eu levantei e o abracei, e coloquei a sua cabeça entre as minhas mãos.
– Não faça isso... Não me deixa assim. Você não precisa...
Ele colocou um de seus dedos nos meus lábios. Então, me deu um beijo delicado na testa. Sei que se ele me beijasse pra valer, se sentiria pior ainda. Não queria forçá-lo. Então ele correu até a porta, tentando acabar com o momento, que estava pesado demais. Ele olhou pra trás a última vez.
– Eu juro que um dia volto pra te buscar. - E fechou a porta, rápido.
– Não vai ser necessário. - Eu ia junto. NEM ELE, NEM NINGUÉM IA IMPEDIR.
Abri a porta com raiva. Eu sabia exatamente pra onde ia.