Running With You escrita por SweetMeri


Capítulo 28
Todo o mundo tem o seu "coelhinho"




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Olhei para o céu. Os pingos extremamente fortes e gelados da chuva caíam sobre meus olhos, fazendo com que eu os mantivesse fechados. A água gélida da chuva se misturava com as lágrimas quentes, deixando uma sensação de confusão por cima da minha pele. Eu me sentia grudada ao chão, pois agora, com o vestido branco, sujo e molhado, seu peso aumentara, e me grudara ao chão, fazendo com que eu tivesse que usar minha força para levantar, que, naquele momento, era a última coisa que eu tinha. Não. Eu não tinha mais força alguma.
Os trovões ressoavam ao meu redor e a intensidade da chuva aumentava, mas eu não estava nem aí, porque eu sabia que a verdadeira tempestade estava dentro de mim. Eu estava fraca. Fraca demais para sentir raiva, culpa, tristeza ou inquietação. Fraca demais para pensar nele. Fraca demais para pensar no que tinha feito. Fraca demais para notar que estava fraca demais. Simplesmente estava desligada de tudo.
Do nada, ouço um barulho estrondoso e forte, vindo de trás. Levantei em um súbito, assustada, voltando a mim, com o coração martelando.
Ao olhar rapidamente na direção do barulho, vi a porta da entrada da casa, a qual eu tinha aberto ferozmente para ir atrás de Maxon, e que deixei aberta, fazendo com que batesse e abrisse novamente por causa do vento forte.
Ao me acalmar e desacelerar a respiração, me voltei à porta novamente, e reparei em um pequeno papelzinho perdido, atirado no meio do vento e da chuva, aos pés da escadinha de madeira da varanda.
Como se fosse obra do meu tão amado destino, o papelzinho "correu" em minha direção, arrastado pelo vento, parando exatamente ao lado de minha mão, de cabeça para baixo. Ele estava com a ponta rasgada.
Ao encarar aquela folha que já estava molhada, molenga e um pouco borrada pela água, reparei no tipo da caneta e na letra, que, por coincidência ou não, eram de Maxon. Receosa, amargurada e com enjoo na boca do estômago, tirei do avesso delicadamente e, com dificuldade para ler por causa dos borrões, comecei:

" Minha Querida America,

Eu nem sei como devo começar a dizer isso. Meu pai dizia que eu devia reconhecer meus erros em segredo para melhorar, mas nunca assumir a ninguém que tinha errado, pois era sinal de fraqueza. Minha mãe, desde pequeno, dizia que quando eu fizesse algo que me envergonhasse muito, deveria me desculpar por carta. Não há situação mais humilhante que esta.
O problema, é que por carta ou não, ainda me sinto humilhado por ter que fazer isso, sem conseguir pensar em como você vai me odiar, assim como odeio a mim mesmo.
America, vou fugir. Tente entender.
Depois de tudo o que ocorreu, eu só pensei que haviam coisas das quais eu não queria fazer parte. Eu quero muito ser o rei e mudar as coisas em Illéa, mas nós dois sabemos que eu nunca tomarei o trono. Meu pai sempre estará por trás, tomando as decisões, porque acha que sou incapaz. Continuará cometendo suas atrocidades e injustiças, e eu serei o culpado por deixar que tudo isso aconteça, embora nada possa fazer.
Além de tudo, você me disse uma vez que uma vida maravilhosa me esperava fora dessa "jaula". Uma vida cheia de pequenas coisas que eram de grande valor, e acho que chegou a hora de conhecê-las.
Eu não quero, nunca quis e nunca vou querer te abandonar ou te deixar sozinha, mas eu não sei o que me espera do lado de fora, não sei se terei o que comer, onde dormir ou o que vestir, e você merece muito mais que isso.
Sei que você poderia me mostrar essas pequenas coisas, e que poderíamos ser felizes, mas não posso te colocar em perigo, pois nem sei o que faria se algo lhe acontecesse por minha causa. Não posso te arrastar junto para algo que nem sei se é a decisão certa, mas, pela primeira vez na vida, estou tomando uma decisão sem ser planejada milimetricamente antes. Estou sendo livre.
Sei que minha liberdade de nada vale sem você, mas eu juro, que quando tiver certeza da minha decisão e tiver algo para lhe dar, algo simples mas de grande valor, eu volto para te buscar, America, porque sei que vou sentir sua falta.
Eu sei que no fundo, o motivo mais forte para essa fuga, é minha falta de coragem para enfrentá-lo novamente. Queria ser forte como você, America, e essa força me garante que você ficará bem sem mim, será feliz.
Junto com essa carta, envio um envelope com mantimentos para a sua vida fora daqui. Tentarei arrumar um jeito de enviar mais, em breve. Você logo voltará para casa, onde sua família e você serão protegidos por rebeldes nortista. Gregory Illéa garantiu sua segurança.
Todas as selecionadas serão mandadas de volta para seus lares, mas para mim, apesar de ter grande respeito por elas, não fará diferença alguma: nunca houve uma Seleção, America. Desde o primeiro momento que a vi, você já era a vencedora, e sempre será. Espero que um dia, eu seja corajoso e ganhe a batalha contra meu pai, para que me sinta merecedor do seu amor.
America, por favor, se é que tenho o direito de pedir algo, peço que não me esqueça. Tenha a certeza que não te esquecerei por um único dia em que ficar longe de você."
A última parte que provavelmente continha a assinatura estava rasgada, sem motivo algum.

MAXON POV

– Boa sorte, meu filho. - Minha mãe disse, após me dar um beijo estalado no rosto.
– Vamos logo com isso. - Meu pai apareceu emburrado, no batente da grande porta branca.
Me despedi da minha mãe e fui, empurrado de leve pelo meu pai, para fora do palácio, na direção do bosque.
Aquela era a minha primeira caçada, insistida por meu pai, na qual nenhum guarda foi junto.
Minha mãe era um pouco contra a essas "caças" que o meu pai fazia por diversão, mas eu fui mesmo assim, por insistência dele. Minha mãe achava que aquilo podia nos "aproximar", apesar de detestar essa atividade em particular.
Ao chegar lá, no meio de tantas árvores altas, fui logo instruído por meu pai de como devia manusear aquela espingarda.
Ao terminar de me explicar com animação, percebi uma risada abafada saindo de sua garganta, enquanto seu olhar brilhava, maligno.
Ao olhar na direção à qual ele encarava, vi um pequeno coelhinho branco, dos grandes olhos rosados, bem peludo é pequeno, um filhote. Fiquei fascinado com a maneira que pulava, alegre e saltitante, e aquilo me divertiu um pouco. Abri um sorriso.
Meus pensamentos foram interrompidos pelo meu pai, que me deu um tapa nas costas para que me mexesse, sussurrando:
– Vamos, Maxon. É a sua chance!
Demorou alguns segundos para que eu compreendesse o que ele queria ao certo, e quando entendi, deixei o queixo cair e me assustei.
Ao imaginar uma caçada, pensava nos leões malvados, os quais teria que matar para proteger o palácio. Jamais imaginaria que teria que matar uma pequeno filhote de coelhinho para provar do respeito do meu pai. Infelizmente, ou eu atirava, ou não sei o que ele faria. Eu queria muito que ele gostasse de mim.
Sem pensar muito, mirei a arma no animalzinho. Após alguns segundos, com a mão tremendo, não consegui apertar o gatilho.
– Vamos, menino! - Meu pai estava impaciente.
O coelhinho sorria com tanta inocência e felicidade, não merecia morrer sem mais nem menos.
Após confirmar que eu não atiraria, meu pai tomou a espingarda da minha mão e me deu um empurrão, no qual eu desequilibrei e caí sobre alguns espinhos. Gemi agudo com a dor. Meu corpo ardia muito.
Ao ver que ele mirava e estava prestes a atirar no animalzinho, não sei de onde tirei a coragem de pular e esbarrar na espingarda, fazendo com que ele acertasse a grama.
Sua expressão era de uma fúria horrenda, como se fosse me matar.
– VOCÊ NUNCA VAI VIRAR UM HOMEM..?!! - Ele tentava se controlar.
Sem paciência, me deu um novo empurrão me fazendo cair de costas na grama, me dando um chute na barriga logo em seguida. Ele mirou e acertou o coelhinho, que começou a se debater com a dor.
Caminhou até ele e começou a chuta-lo, fazendo-o contorcer mais ainda de dor.
– NÃO!!! - Gritei. Ele deu um pisão forte na cabeça do animalzinho, que logo em seguida parou de se mover.
– Poderia ter acabado bem melhor....- Ele sorria.
Ele voltou a bater em mim e gritar comigo, me empurrando de volta para o palácio. Mas a imagem do coelhinho não desgrudava da minha cabeça.
Ao chegar lá, minha mãe, vendo os machucados, correu até mim, muito preocupada:
– Meu filho! O que houve???!!
Ela me abraçou. Olhei por cima de seu ombro e vi o olhar furioso de meu pai. Tive medo.
– Caí de uma pedra, mamãe. - Menti descaradamente.


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Notas finais do capítulo

O q acham dos flashbacks? Gostaram do tio Clarkson? Kkkk



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