Pois é...incrível como as coisas são incríveis. Em alguns momentos em que estive longe do palácio, pensei em Aspen como um empecilho, obstáculo na minha relação com Maxon, até sentia raiva, mas ao mesmo tempo sentia sua falta.
Acontece, que meus sentimentos não estavam muito bem formatados...então quando o vi ali, naquela fração de segundo, não sabia se comemorava, já que ele nos protegeria, ou se me assustava com a sua presença inesperada. Eu não pude sentir nada, só pude ficar mais surpresa do que já estava.
Seus olhos estavam MUITO assustados, como se tivessem visto um fantasma, sua boca entreaberta e seu corpo rígido me faziam arrepiar: ainda não acredito que está aqui. Mas sua atitude não durou por muito tempo, porque logo ele me lançou um olhar triste e baixou a cabeça, demonstrando seu desapontamento.
Maxon finalmente havia aberto seus olhos, que estavam arregalados, e voltou a respirar quando viu Aspen, como se tivesse sido salvo. Sua expressão de alívio era evidente.
Então, Aspen fechou a porta do pequeno esconderijo, prosseguindo:
– Nada aqui. - Disse em um tom alto, porém, melancólico.
– Tudo bem, já chequei o local. Vamos tentar achar os pombinhos em outro lugar. - Disse um desconhecido.
– Jones, você acha mesmo...
E o som foi diminuindo pouco a pouco, ficando cada vez mais baixo. Eu e Maxon não nos atrevemos a dizer nada, até que um bom tempo tivesse passado. E eu? Eu ainda não fazia ideia do que tinha acontecido. Depois de um tempo de devaneio, fui acordada pelo comentário inoportuno de Maxon:
– Então você colocou o vestido afinal... - Ele olhou um para o meu corpo, sorrindo, bem mais aliviado, mas logo desviou o olhar para o meu rosto- ficou lindo em você. É justo. Um vestido lindo para uma garota maravilhosa... Você está fantástica. - Passou os dedos por meu rosto, acariciando meus lábios.
AI MEU DEUS. O vestido. Aspen viu o vestido! Não consegui pensar em nada, nem nos elogios e carícias de Maxon. Não sei se estava com raiva, triste, assustada ou desesperada, só sei que "a ficha ainda não caiu". O que acabou de acontecer?
Me desvencilhei de Maxon, com certeza assustada com tudo.
– Já está tudo bem, America, não se preocupe. Confio no soldado Leger.
Eu sei. Eu também confiava. Confiava até demais.
Apenas continuei andando até a saída do banheiro, sem responder. Eu estava em choque.

POV MAXON

Assim que os soldados pareceram ter ido embora, America ficou mais distante do que eu jamais a vira. Talvez ela tenha ficado assustada, porque afinal, eu também achava que estava seguro aqui. Provavelmente eles não passariam naquele lugar de novo, então estávamos seguros novamente, o que me deixou tranquilo. Mas eu sabia que America era um pouco...ela agia de uma maneira diferente das outras pessoas. Com a convivência ao seu lado, eu sabia que ela precisava de tempo, então a deixei sair do banheiro para se recuperar do susto, afinal, foi tudo muito rápido.
Sai do banheiro e fui em direção ao meu quarto, checando no corredor se estava tudo ok. Tudo certo.
Ao chegar no meu quarto, encontrei um papel bem dobrado, um pouco velho e minúsculo sobre a minha cama. Ele estava um pouco detonado, mas sua cor e tamanho me pareciam familiar... NÃO. NÃO PODE SER. EU HAVIA ME ESQUECIDO COMPLETAMENTE!
Era a minha carta. "A CARTA". A minha carta de despedida para America, onde eu declarava todos os meus sentimentos. O soldado Leger jamais tocara na carta porque eu havia colocado dentro do envelope com dinheiro que dera para America, o qual o soldado Leger nem tinha conhecimento. Era uma coisa que apenas eu e ela saberíamos. COMO AQUILO FOI PARAR ALI?! A hipótese que passou pela minha cabeça, foi absurda. Teria Aspen roubado o dinheiro que eu deixara a ela?

ASPEN POV

Eu não vou mentir. Eu nunca tentei esquecê-la, porque...apesar de saber que ela estava com Maxon, que era o melhor para ela, nunca deixei de acreditar que America sentia algo por mim. É que o tempo que ficamos juntos, o jeito que me olhava, suas atitudes, tudo... Eu sentia que não havia acabado ainda, então não quis esquecê-la, até porque jamais conseguiria. Jurei meu amor a ela.
Mas vê-la agarrada a Maxon, naquele vestido de noiva...O nosso sonho era casar. Aquele sonho era nosso. Mas parece que era o sonho deles também.
Aquilo me deixou arrasado, como se eu me tocasse de que talvez eu estava enganado. Tudo entre nós já estava acabado. Mas eu ainda a amava e sempre amaria. A única coisa que me confortava, era saber que ele podia fazê-la feliz...
Fechei a porta e gritei para o corredor:
– Nada aqui. - Disse, ainda abalado.
As autoridades haviam mandado que equipes de buscas olhassem por toda Illea, em busca dos desaparecidos, sem que ninguém soubesse o motivo de seu desaparecimento. Apesar disso, alguns acreditavam que eles haviam fugido, embora nada comentassem.
Ao chegar lá, eu tinha reparado no cavalo da fuga, de longe, embora meus colegas não repararam. Fiquei alerta. Ao chegar na casa, fechei a porta da cozinha discretamente, que se encontrava suja, e fui cobrindo cada pista de que havia alguém na casa, com o intuito de protegê-los, como prometido.
Após encontrar aquela cena que quebrou meu coração, ainda os protegendo, fingi que vasculhava a casa.
- Tudo bem, já chequei o local. Vamos tentar achar os pombinhos em outro lugar. - disse Jones, um dos meus colegas.
– Jones, você acha mesmo que eles estão...tipo juntos? - Disse o outro, com sarcasmo.
– Mas é claro! Tão romântico..."vamos fugir, minha amada? Seja a mãe dos meus filhos, seja a minha vida, me dê o carinho que nunca tive..." - Jones disse, imitando uma voz feminina, fazendo biquinho. - É perda de tempo. Tá na cara que eles não querem ser encontrados.
Enquanto todos riam e se distraíam, fui até o quarto de Maxon e devolvi a carta que lhe pertencia, a qual todos os dias eu carregava comigo, para lembrar o quanto eram felizes. Aquela carta, o modo como ele se demonstrava apreciar cada momento com America...todo esse tempo aquela carta me fazia pensar que eles mereciam serem felizes.
Por último, deixei uma carta que eu fizera no dia que descobri que iria para a equipe de buscas, e guardava comigo, para entregar caso a encontrasse. Uma carta minha para America.
Após isso, saímos daquela casa, que cheirava à felicidade. Felicidade que eu nunca pude e nunca poderei dar à ela. Que bom que America achou alguém que a faça feliz.

POV AMERICA

Ao chegar ao meu quarto, ainda abalada, encontrei um pequeno bilhete em cima da minha cama, e o primeiro nome que veio na minha cabeça foi o de Aspen. Com medo do que ia encontrar ali, e com força para não desabar antes de ler, peguei e o desdobrei com cuidado, como se fosse meu bem valioso. Comecei a ler cada palavra como se fosse a última.
(...)
É que não deu para não chorar. Eu já não sabia mais quem eu era, porque eu nunca chorava. Aquilo me deixava confusa e com raiva. Pior do que tudo, como eu iria dizer a Maxon o que Aspen me avisara, sem contar a verdade??? Aliás, por que eu ainda não contara a verdade???
Antes que pudesse fazer besteira no calor do momento, Maxon bateu na porta e entrou, olhando diretamente para mim. Escondi o bilhete rapidamente em baixo do meu quadril, antes que visse. Só que ele me bombardeou em cheio com a pergunta a qual eu não estava pronta para responder:
– America, acho que o soldado Leger não é tão honesto como pensávamos...
Eu queria dizer a Maxon que também não era tão honesta quanto ele achava.