Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 99
Capítulo 99. Wicked


Notas iniciais do capítulo

Finalmente consegui fechar o arco e vou logo avisando, os capítulos estão bem grandes!



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Capítulo 99. Wicked

Bem, foi bem divertido ver Tony ganhando de todos os idiotas americanos no concurso de quem como mais doces na S'more, uma loja incrível, mas sem todas aquelas estranhezas que já estamos acostumados - onde estão o pirulito de sangue e as vomitilhas? - e também foi bom quando o meu melhor amigo colocou aquele Mike no lugar dele, Tony é meu herói. 

Sim, porque o tal do Mike continuou sendo um babaquinha cheio de história, mas como eu já havia gastado minha paciência com ele no caminho de ida, deixei Tony ameaçar enfiar os dentes dele no cérebro na volta.

Achei justo, o moleque é o suprassumo de tudo que odiamos nos americanos.

Mas tendo passado um pouco da onda de tantos doces no organismo, tivemos que aceitar o balde de água fria que é nos depararmos com uma praça central entre duas escolas imponentes e não moribundas, somado aos sorrisos convencidos dos anfitriões.

Não está fácil ser de Hogwarts hoje.

— Ilvermorny lembra tanto nossa escola em seu momento de auge, que chega dói.  - Scorp falou triste e todos nós ficamos olhando para a direita, onde o caminho entre árvores frondosas dava em um pátio de pedras cinzas rústicas em forma de U, muito semelhante ao nosso pátio quadrado na Escócia. 

Ilvermorny é a Hogwarts com saúde. 

— Deixa de drama, Hogwarts externamente ainda está a mesma coisa, só tem que fazer uns consertos aqui e ali. - Quem disse isso? Meu namorado que tecnicamente nem mais aluno é, então não pode falar nada.

— E do outro lado temos Salem, com o caminho entre uma árvore enorme, cheia de natureza ao redor. - Rebeca falou de má vontade. Todos olhamos para a esquerda, para a escola cuja árvore milenar de entrada abrigava um portal misterioso em seu tronco de não sei quantos metros de diâmetro, folhas e raízes nodosas.

Até parece que o povo de Salem é assim sustentável. 

— E esse prédio no meio é o quê? - Perguntei não dando margem para encheção de bola de Salem, entrar por uma árvore viva e milenar é só... Legalzinho.

— É a biblioteca central que eu te disse, Cesc.  - Claire falou solícita, cobrindo o rosto para enxergar através dos vitrais da construção metade moderna, metade mágica. – Ela é uma das poucas bibliotecas na América que tem a sessão de magia afro-caribenha montada pelo Instituto Marie Laveau. Os alunos deles estão sempre aqui para fazer pesquisas...

— Lembra muito um daqueles testes de internet que você tem que decidir que caminho segue: “floresta, cidade grande ou castelo?” - Louise disse e eu olhei para a paisagem com outros olhos, já que era exatamente isso que parecia. – Nada combina nessa praça e ainda sim, é interessante...

— Interessante é um jeito gentil de dizer feio, que tal irmos logo para Salem ver onde vamos dormir? A essa altura Potter já escolheu o dormitório mais horrível de todos para gente. - Enrique resmungou infeliz e eu não liguei muito, porque o que James tem de altruísta, meu colega de quarto tem de egoísta, então Groguebotton já nos garantiu algo bom.

— Dussel, você poderia ao menos fingir que não está com inveja da escolinha do amiguinho? - Rebeca falou sem paciência, parando na frente dele com cara feia.

— Não, até porque não estou com inveja, eu não trocaria Hogwarts por Salem nem que me pagassem. - Ele virou para Claire e sorriu cínico.  – Sério, eu pagaria para não ir.

— Deixa de ser antipático, tenho certeza que Salem é maravilhosa. - Rose encerrou a questão e puxou Tony segurando sua piñata em forma de serpente marinha diminuída magicamente a tiracolo. Qual o prêmio para uma competição de doces? Mais doces, claro!

Só que Rose propôs que o namorado usasse a serpente recheada de doces em uma brincadeira de comemoração na vitória de Hogwarts de amanhã e não comesse tudo sozinho, que todos sabemos que é a ideia original de Tony. 

Acerte a piñata com o bastão... Estou pensando em decorar o bichinho com uma foto de Tracy. Eu nem ligaria para os doces, aproveitaria a oportunidade moralmente aceitável de pauletar ela com meu bastão favorito.

Vamos deixar essa ideia marinar um pouco...

Mike e as duas amigas de Claire seguiram na frente, ignorando a conversa animada de Louise e Scorp sobre a biblioteca e eu resolvi segui-los, não pela companhia em si, mas porque já estava suficientemente curioso para ver a “moderníssima” Salem.

Escolhemos o caminho da natureza então, sentindo o cheiro de floresta e admirando os nós contorcidos das raízes grossas acima de nossas cabeças. O caminho através da árvore era fresco e promissor - droga, maldita seja, Salem! - mas a praça central do lugar era ainda mais desanimadora.

Essa escola não podia ser uma bosta como a maioria de seus alunos? 

Enrique colocou os óculos escuros dele de volta no rosto e fez aquela cara de “não estou impressionado”, mas obviamente ele pode fazer isso porque já esteve aqui e deve morar em uma casa de filme de mafioso. Falei algo rápido, para não parecer impressionado ou despeitado.

— Mais um monumento? Dessa vez a homenagem pelo menos é para as bruxas que morreram ou quem sabe para as pobres almas do incêndio de depois?  - Falei observando a peça central, de onde saia cinco caminhos em... Olha, se aquilo não é um pentagrama na base da obra queimando no meio de Salem, eu não sei mais de nada! – Claire, aquilo é um sacri...

— É uma obra representando o feminino injustiçado, você sabe que a perseguição de bruxas foi maior do que a de bruxos, não sabe? - Claire falou com um sorriso tranquilo, mas não foi o suficiente para me tranquilizar. – Homens não curtiam mulheres poderosas...

— Eu sei, mas estou falando do pentagrama em baixo, do fogo e até mesmo da pose dessa mulher... Tudo muito diabólico.  - Vocês bem sabem que eu não sou a pessoa mais cristã do mundo, mas não dá para ignorar uma mulher de uns quatro metros sentada no chão, queimando, tentando se proteger de algo acima dela.

— É tudo simbólico, Cesc, não há professora melhor do que a História. - Claire me olhou com um certo tom de melancolia. – É suposto que aprendamos com os nossos erros, não é mesmo?

Enrique fez sinal para que seguíssemos o primeiro dos caminhos a nossa frente, provavelmente o caminho que nos levaria para nossos dormitórios, então sorri para Claire, a título de despedida.

— Normalmente não aprendemos, só fazemos as mesmas merdas de um jeito diferente... - Ela sorriu divertida, me dando tchau e se apressando para alcançar Mike sei lá qual é a bosta do segundo nome dele, que havia parado para esperá-la no outro caminho. 

— Ah, garotinho, se eu fosse um cara ciumento, essa sua expressão de desgosto me tiraria o sono a noite. - Enrique me falou enquanto caminhávamos por um trajeto de heras entrelaçadas, plantas estranhas que saíam da estátua central e pareciam alimentadas pelo fogo, com suas veias pulsando vermelhas diabolicamente.

Ainda bem que eu tenho meu crucifixo bem a... Ai, meu Deus, cadê o... Ufa, tá aqui, pensei que tinha tirado, já pensou encarar Salem sem nenhuma proteção superior? 

Estar nessa escola cimentada com ódio aos trouxas e sua ignorância era como estar em um filme de ficção científica, muito diferente das plantas dos jardins suspensos de Castelobruxo, porque essas heras não pareciam inofensivos vegetais nativos e sim uma obra do capiroto.

— Não estou chateado que Claire tenha seguido em frente, mas é suposto que uma garota como ela consiga algo melhor do que esse tal de Mike, não é?  - Falei coçando o nariz e observando o que Enrique havia falado sobre os prédios não terem paredes em Salem.

Eles até tinham, mas eram mais como aquelas instalações modernas de museus de arte contemporânea, onde você entra para viver uma experiência única ao mesmo tempo que convive com a natureza exterior.

Cada pequeno prédio era ligado pelo macabro caminho de heras flamejantes e eu até tinha curiosidade de pisar descalço para ver se queimava o pé, mas o clima era primaveril, quase de verão, com um céu tão azul e sem nuvens, que estava na cara que era controlado por magia.

Só andaria em fogo se estivesse em um inverno abaixo de zero graus centígrados, muito obrigado.

— Está chateado por isso, porque essa escola é tão mágica que cansa e porque provavelmente vamos perder o jogo amanhã.  - Enrique disse tudo com um sorriso de quem sabia muito. – Mas não se preocupe, não será o fim do mundo.

E realmente não foi.

***

Estava sentado em uma das construções retorcidas da escola anfitriã, que parecia uma grande rosa guarda-chuva ou sei lá o que eles queriam com isso, onde havia algumas inscrições de Aritmancia meio apagadas no que deveria ser o quadro negro deles. 

Devia ser legal poder estudar ao ar livre, em um lugar que era eternamente verão e que tinha tantos alunos que parecia uma cidade de tão grande. Hogwarts mal chegava aos mil estudantes, era grande demais para nós, assim como esse lugar devia ser para os seus mais de quinze mil alunos, mas meu amado castelo medieval se parecia muito mais com um lar do que isso aqui.

Salem parecia o Instituto Charles Xavier para superdotados e logo mais apareceria o jato supersônico dos X-men debaixo da quadra de basquete, que deveria ser em algum lugar a oeste, entre as grandes estufas e o estádio de Quadribol moderno, onde perdemos a partida de mais cedo.

O jogo tinha sido rápido - pelo que fui grato - e estava realmente feliz de estar sozinho em um mar de gente que passava por mim, alheios ao meu sofrimento. Bem, isso até Claire chegar e puxar uma das pétalas mais próximas de mim para se sentar.

— No que está pensando? - Ela me perguntou sem rodeios, me oferecendo chocoballs, coisa que nem sabia que os americanos tinham por essas bandas.

O que é morango e creme cozido envoltos em chocolate, quando se tem todas as opções de venenos açucarados da América? Aceitei de bom grado, com desconfiança. Sabe-se lá de onde Claire tirou isso...

— Que vai ser bom não ter que me preocupar mais com o campeonato... A vida de espectador é tão mais fácil! - Falei com um sorriso não de todo sincero, devolvendo o pacote depois de encher as mãos com um punhado de doces. 

— Não pode estar falando sério! O Cesc que eu conheço odiaria estar de fora da ação... - Claire provou um dos doces diretamente do saquinho e soltou um gemido de aprovação, me encarando divertida. – Não precisa falar sobre isso se não quiser... 

— Do que mais falaríamos? De Hogwarts e seus milhões de problemas? De Salem e suas milhares de soluções? - Ri sem humor e ela comeu outro chocolate, encarando o quadro cheio de fórmulas matemáticas, pensativa. – Acho que hoje não tem assunto que me deixe animado, desculpe, Claire Bear.

— Só o pessoal da Corvinal me chamava assim... - Era verdade, a primeira vez que tinha ouvido isso foi da boca de John, que supostamente não era íntimo nem dele mesmo, então devia ser algo da Casa mesmo. – Sinto falta de Hogwarts.

— Quê? Com a perfeita Salem aqui te convidando para ser perfeita também? - Falei falsamente chocado, ela riu. – Ouvi dizer que até o esgoto de vocês é transformado em combustível verde, para seus experimentos sustentáveis. 

— Para! Não somos tão ruins assim... - Ela respirou fundo o ar fresco e - oh, que surpresa -levemente adocicado da escola que nunca viu dias ruins na vida. – Temos problemas como toda escola.

— É mesmo, Claire? Tipo o quê? - Ela me olhou surpresa e depois desviou o olhar para a estátua queimando a algumas centenas de metros da gente. Daqui dava para ver as costas da mulher injustiçada por alguma divindade superior e mesmo com a distância dava para ver também o fogo lambendo seu corpo incessantemente.

— Bem... Err... Ok, uma vez ficamos sem água para molhar as nossas sementes de... Tá, foi resolvido em dois minutos, mas... Teve aquele, como se diz... - Ela ficou olhando ao redor para ver se lembrava de algo e eu tive que rir da tentativa.

— Tudo bem, Claire, não é sua culpa que Salem seja saudavelmente perfeita. - Eu disse com um sorriso conformado. Ela havia dado sorte, não teria que ver Hogwarts definhando, apesar de que eu estou bem certo que ficaremos bem, quero dizer, o djinn não pôde responder...

A menos que ele tenha mentido sobre isso também... Parei de sorrir automaticamente. 

Claire percebeu minha mudança de humor. Ela chegou para a ponta da sua pétala-banco e me olhou com uma expressão de melancolia simpática. Que beleza, eu estou digno de pena...

— Gostaria que pudéssemos dar um pouco da magia de Salem para Hogwarts...

— É, isso seria muito bom e justo. - Ela me olhou surpresa e eu ri da sua expressão. – Vocês não acham que tem magia demais, não? Estão esbanjando com as coisas mais inúteis... E ainda são irritantes.

— Bem, sim, mas nunca pensei que ouviria você admitindo tal coisa, não o orgulhoso Cesc Fábregas! - Ela continuou me olhando como se eu fosse uma criatura alienígena que ela não conhecia direito.

Claire ainda parecia ter a mais absoluta certeza que me conhecia mais do que eu conhecia a mim mesmo. Deus, isso ainda é irritante.

— Pois é, Claire, as coisas mudam... - Disse fechando os olhos, sentindo a magia de Salem pulsar nas coisas mais simples, até mesmo sob meus pés. 

— Deseja compartilhar da nossa magia?- Ela perguntou sem querer acreditar, joguei os braços para cima em desistência. – Deseja a magia americana irritante de Salem em Hogwarts?

— Sim, Claire, eu desejo ter um pouco dessa magia irritante de Salem em Hogwarts! Satisfeita? - Disse divertido e o olhar dela passou de incrédulo para malicioso. – Estou com inveja, você quer isso por escrito?

— Não será necessário, seu desejo é uma ordem, mestre. - Um estalar de dedos dela e eu abri os olhos para um teto não familiar. Levantei o tronco e vi um Frank sonolento me encarando da cama ao lado.

— Você já não tinha parado com essa merda de falar dormindo? - Ele esfregou o rosto, me fazendo ouvir suas palavras resmungadas por entre suas mãos. Estava em um quarto, iluminado apenas pelo abajur que Longbotton tinha acabado de ligar.

— Eu estava sonhando? - Perguntei confuso, sem saber qual parte do que eu lembrava era real e qual era sonho. Olhei ao redor procurando alguma pista do que estava acontecendo ali.

— Você deve estar nervoso com o jogo de amanhã. - Ele suspirou sem paciência. – Acho que James tem alguma coisa para você no malão dele, embora seja um risco, já que o doping pode...

— Espera um minuto! O jogo ainda não aconteceu? - Frank já estava de pé, colocando uma camisa qualquer e procurando um sapato para calçar e ir até James.

— Quê? Você bebeu quentão batizado na Burning ma’am*? O treinador disse para a gente não exagerar nesse luau, já que a nossa reputação não é uma das melhores... - Continuei o olhando confuso, então ele parou de tagarelar. – Cesc, você está...

Frank se interrompeu, porque um som perturbador cortou o silêncio de Salem como uma faca afiada. Parecia um grito feminino, mas era algo mais primitivo e pareceu reverberar pelo chão e paredes do nosso dormitório, possivelmente pelas construções de toda a cidade.

Obviamente que o grifinório sem senso de preservação alguma saiu correndo em direção ao som e eu, que sou igualmente idiota, fui atrás. Nós tínhamos ficado em quartos próximos a praça central da escola, então acabamos sendo os primeiros a ver o que estava acontecendo.

Isso parecia muito mais com um sonho, do que a inofensiva conversa que estava tendo com Claire há alguns minutos:

A mulher em chamas - Burning ma’am, agora estava me lembrando da história do luau - estava rastejando para fora de seu pentagrama em chamas, como se fosse realmente uma mulher real sendo acossada por uma força superior poderosa. Ela gritou novamente e nós nos abaixamos, tapando o ouvido.

Assim que ela parou novamente, abri os olhos e vi os meus pés descalços pisando o que deveriam ser heras com aqueles veios cor de fogo, mas que na verdade pareciam apenas galhos secos agora, quebrando sob o nosso peso.

A estátua parou de queimar completamente, nos deixando em um breu absoluto de frente para ela. Olhei para a sombra de um Frank perplexo e antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa a ele, varinhas iluminadas se aproximaram de nós. 

— O que vocês fizeram? - Espera, o quê? O cheiro de fumaça - que antes não existia no monumento - tomou conta de toda a praça, algumas varinhas se aproximaram da estátua morta, deitada com um braço em direção a saída pelo portal de árvore pelo qual entramos há algumas horas. 

Senti o primeiro pingo, depois outro e quando olhei para o céu, uma verdadeira chuva vinda do nada nos atingiu com força total. Senti alguém segurar a gola da minha camiseta com agressividade.

— O que vocês dois fizeram?

Por minha vida, juro que não sei o que acabou de acontecer aqui!

***

Estávamos agora, eu e Frank, sentados completamente molhados, descalços, parecendo meninos abandonados na sala de espera da diretoria de Salem, esperando por algum bruxo que se dignasse a nos fazer um feitiço de aquecimento ou nos desse uma satisfação, já que estávamos aqui há quase dez minutos sem nenhuma palavra trocada.

— O que você acha que aconteceu? - Frank me perguntou quebrando o silêncio, colocando os cachos para trás. Molhado o cabelo dele era quase do tamanho do de Enrique - o meu pirata do Caribe particular - parei de roer as unhas para encará-lo. 

— Acho que um monumento de uma mulher gigante ganhou vida e tentou fugir da pira mágica onde a colocaram. - Falei distraidamente, começando a sentir muito frio, já que o clima controlado de Salem tinha ido para o espaço e os ventos atravessavam as paredes vazadas do prédio moderno agora. 

— Bem, isso eu vi, só estou tentando entender o que isso quer dizer... - Ele parou para ver um par de bruxos passar apressado por nós, sem nem notar nossa presença. – Acha que eles tiveram um problema com magia que nem a gente?

— Quais as chances? Salem é toda reformada, não sofre de artrite e esclerose como Hogwarts... Deve ter sido alguma outra coisa. - Disse me abraçando, daqui a pouco começaria a bater os dentes de frio. Um clarão do lado de fora nos chamou a atenção. – Vê? Ligaram a fogueira de novo, tudo certo!

Só para ilustrar minha fala otimista, a chuva do lado de fora cessou e a temperatura voltou a ficar um agradável e fresco início de manhã primaveril. Minha calça de moletom molhada e pés descalços quase deixaram de ser desconfortáveis. 

Quase.

— Bem, parece que voltaram mesmo, mas por que... - Longbotton calou a boca, porque uma senhora de vestes bruxas formais entrou na sala, nos avaliando por sobre seus óculos quadrados.

— Foram vocês que estavam na praça quando tudo aconteceu? - A senhora voltou o olhar para uma folha de pergaminho e fez um sinal seco de “agora não” para uma mulher jovem que ia lhe falar algo. – Venham comigo os dois.

A seguimos para a diretoria, deixando a moça jovem parecendo aflita para trás. Coitada da criatura que ficou, se era assim que a diretora tratava quem trabalhava pra ela, imagina como não vai tratar a gente... 

Fez sinal para que nos sentássemos no banco - que parecia um recorte de caixa de ovo com dois assentos- cheio de tecido na frente de sua mesa, isso tudo sem tirar os olhos do pergaminho. 

Sentamos nas cadeiras acopladas, que tinham tudo para ser móveis modernos pelo formato de ovo duplo, mas na verdade era tudo bem mágico, já que se mexeram um pouco quando sentamos. Olhei para Frank e me coloquei na pontinha do assento, era só o que faltava, ter minha bunda mordida por uma poltrona mal-humorada. 

— Nomes, por favor. - Ela perguntou sentada em seu lugar de poder, anotando algo no tal pergaminho que parecia ter o segredo da vida, dada a importância que ela dava. Eu e Frank continuámos calados. – Nomes!

— Cesc Fábregas e Frank Longbotton. - Falei assustado. Ela anotou os nomes rápido, acho e Frank me olhou como se quisesse dizer algo, tentei entender, mas virei bruscamente para a frente quando a mulher voltou a falar com a gente.

 – Então, senhores Fábregas e Longbotton, os senhores podem me dizer o que ocorreu com o nosso monumento?

— Não devíamos estar com algum professor ou... - Me calei assim que a mulher me olhou com seus olhos verdes e sérios por trás dos óculos.  – Nós não sabemos, apenas tivemos o azar de estar no lugar errado, na hora errada.

Ela olhou para Frank, que deu de ombros com um sorriso irritante. Pobre diretora... Di Fiorena? Ela é italiana? Bem, o nariz é grande, mas eu só acredito se ela sacudir as mãos daquele jeito característico dos italianos! Parei de ler a plaquinha de metal em cima da sua mesa quando ela voltou a falar.

— Vocês estão me dizendo que apenas perceberam os problemas com a escultura antes de todos e não tiveram nada a ver com o acontecido? - Ela perguntou desdenhosa com seu sotaque americano afetado e eu deixei que ela tivesse uma dose da pirraça de Frank.

— Quem disse isso foi a senhora. - Ela consertou a postura na cadeira com o tom cínico do grifinório. Ele gesticulou para a obviedade da coisa. – Acabou de dizer.

A mulher respirou fundo e se aproximou da mesa, apoiando o queixo no dorso das mãos. 

— Vou ser bem honesta com vocês, crianças. Não sei como as coisas são levadas na Europa, mas aqui nos Estados Unidos levamos tudo as últimas consequências. - Ela tirou os óculos e os colocou na mesa, olhando de um para o outro. – A MACUSA está vindo, então é melhor nós termos algo para dar a eles ou serei obrigada a deixá-los nas mãos de seus aurores.

Eu e Frank continuámos encarando ela, a gente não tinha nada a dizer, ela queria o quê? 

— E eles não serão tão simpáticos como eu. - Ela completou e Frank fez uma cara de choque irritantemente falsa. Eu tossi para disfarçar o riso, era bom ver a chatice grifinória usada contra os outros.

— Não temos nada a dizer que nos deixe como culpados, senhora, mas se você quer saber o que vimos, ok, estávamos no quarto e ouvimos o grito, daí fomos até a praça e a mulher queimada estava literalmente se rastejando para a saída da escola! - Frank falou de uma vez, se encostou na cadeira, mas quase levantou de um salto quando a coisa o abraçou marotamente com seus estofado fofinho.

A gente vai ter um problema de verdade se essa bicha comer a gente, porque eu não posso imaginar uma coisa mais indigesta do que a combinação de um grifinório e um sonserino.

— Parecia uma mulher gritando, por isso fomos ver para ajudar e como o nosso quarto estava mais perto, acho que isso fez a gente chegar mais rápido. - Completei inocentemente.

— O grito despertou vocês? - Ela questionou olhando diretamente para mim de um jeito penetrante, mas quem respondeu foi Frank.

— Já estávamos acordados, Cesc fala sozinho e me acordou com sua maluquice, então nós estávamos conversando quando tudo aconteceu. - Ela deu um sorrisinho para essa confissão, como se tivesse descoberto algo com o que trabalhar. 

— Estavam acordados às 3 horas da manhã e saíram para ver a fonte do barulho lá fora... - Ela falou do mesmo jeito que Brenam e acho, Bradbury antes dele. Já tenho meu veredito sobre essa senhora: outra diretora odiosa.  – Interessante.

— Dificilmente incomum encontrar alguém que fala dormindo ou adolescentes acordados de madrugada... Mas a senhora deve saber disso, já que trabalha em uma escola. - Falei simpático e antes que ela pudesse responder, a porta foi aberta bruscamente. 

— Graças a Merlin estão aqui! - Harry Potter irrompeu porta a dentro e no fim das contas achou uma boa ideia colocar as mãos na minha cabeça e na de Frank. Que cara chato, não somos cachorros! – Não sabem o desespero que me causaram quando não achei vocês! 

— Não nos culpe, você vê? A diretora nem sequer nos deu tempo de nos secar, ela...

— Ok, Frank, para o dirigível. Cesc, você também. - O grifinório levantou e eu nem esperei o treinador falar para eu ir também, já estava na porta antes de Longbotton, porque Potter parecia bravo com a diretora de Salem. – Bem, senhora Di Fiorena, espero que a senhora tenha um motivo razoável para trazer meus jogadores para...

A porta se fechou atrás da gente e eu e Frank não ficamos lá para ver Harry Potter discutindo com mais um diretor de escola, se a última conversa de Brenam servia como parâmetro para algo. Aparentemente não havia muita gente nesse cargo que o menino-que-não-morreu-e-virou-um-cara-chato-do-caralho respeitasse.

Olhei para meu indesejável colega de quarto e ele bagunçou o cabelo molhado em mim.

— Vamos falar com Lia, ela já deve saber o que está por trás disso. - Fiquei surpreso com esse discurso dele, mas nem devia. Os sextanistas de Hogwarts são uma raça ruim e unida, vai entender o porquê.

E Lia é uma fofoqueira rápida.

***

—... Então tenho certeza que já estão cogitando atentado. - Lia terminou o relato de tudo que tinha conseguido descobrir até agora, tenho certeza que com a ajuda de sua amiga Juliet. – O que pode ter sido o caso, ninguém gosta deles mesmo.

—Não viemos exatamente do lugar mais seguro do mundo também, não é? - Maggie disse coçando o olho e ninguém pôde contra argumentar, afinal era verdade... Muita gente nos odeia também. 

— O caso de Hogwarts não foi um atentado, obviamente é um problema estrutural!  - Fred II falou sem paciência, tapando o rosto, provavelmente desejando que todos nós sumíssemos da face da Terra. A própria Maggie o respondeu. 

Mas sério, de onde ele tirou Hogwarts? Esse moleque às vezes pensa em cada coisa...

— Não me referia a Hogwarts, estava falando dos atentados dos últimos anos na Europa, vocês sabem... - Ai, que conversa mais sem futuro, cadê Harry Potter para nos dizer se íamos ou não jogar mais tarde?

A única coisa que eu quero fazer agora é ir para cama, dormir até não poder mais!

— Mas Hogwarts bem pode ter sido vítima de atentados, mas...

— Não foram atentados, foram problemas estruturais! - Segundo cortou Connor, que parecia ter desenvolvido uma linha de raciocínio bem idiota. Fred se ajeitou melhor no sofá com uma careta, empurrando Connor para longe com o ombro.

Bem, os idiotas que se entendam... Apesar de que só o poder irritante de um corvinal pode anular o de outro. 

Pena que a única corvinal do recinto estava fingindo dormir em uma poltrona mais afastada, no canto do pequeno salão de reuniões do dirigível.  Bem, ao menos ela não estava chateada comigo, nem com problemas sérios. 

Havia conseguido falar com Sienna no luau e ela me garantiu que nada do que Skeeter escreveu sobre ela era verdade, mas infelizmente algumas pessoas da Corvinal acreditaram em uma intriga antiga e isso chegou aos ouvidos da besoura.

Ela não quis dar nomes, mas ao menos fico feliz de saber que é tudo boato, cheguei a fazer uma conexão louca na minha cabeça com aquele dia do jogo no Brasil, quando a artilheira estava de mal-humor e mais cheinha, mas no fim das contas ela só estava naqueles dias.

Preferia não ter averiguado nada disso...

— Não foi, Cesc? - Olhei para Connor sem entender, porque tinha perdido a primeira parte de sua pergunta.

— Não sei, foi? Eu não ouvi o que você disse e não confio tanto assim em você para confirmar cegamente suas maluquices. - Falei sincero e ele me olhou com pouca paciência. 

— Eu disse que teve a falha da escola africana além da de Hogwarts e Salem! Você estava lá, não foi? - Ele repetiu de má vontade, como se eu fizesse alguma questão de me envolver nesse papo chato dele.

Se não queria repetir, não repetisse, não ia me fazer falta alguma!

— Fui embora de lá no dia seguinte, mas sim, teve uma falha boba nos comunicadores da escola, que na minha humilde opinião fez eles lembrarem de deixar de ser preguiçosos... Custa aprender uma língua só e uniformizar as coisas? - Falei com sinceridade, porque até Beauxbatons, que não é exemplo bom de nada, havia feito isso.

— O engraçado é que Cesc sempre tá em todas as merdas, talvez ele seja o terrorista. - O'Brien soltou essa piadinha sem graça e depois riu, o sem noção, sendo acompanhado por alguns colegas.

Mas não todos.

— Na verdade... Isso até que é certo.-  Connor me olhou desconfiado e até Sienna abriu um dos olhos para ver a cena. Eu revirei os meus.

— Agora que fui descoberto, vou ter que explodir todos vocês, que lástima... - Falei falsamente, mas ainda sim Connor e O'Brien - eleitos os mais idiotas do time, é oficial - continuaram me olhando com suspeita. – Se eu for suspeito, John Westhampton também é, ele estava em Uganda quando tudo aconteceu!

— Mas ele não está aqui agora... - Olhei indignado para aquela lombriga descascada que eu chamo de amigo.

— De que lado você tá? - Tony perguntou irritado para Scorp, que fingiu que não tinha murmurado nada. Mas que filho da mãe! 

— John não está, mas tem um monte de corvinal aqui e todo mundo sabe que vocês são basicamente a mesma pessoa! - Falei o óbvio e dessa vez todo mundo riu, menos os corvinais e eu, porque estou falando sério! 

— Ok, já chega! Vamos encerrar por aqui, que isso já está ficando muito ridículo... - James falou divertido - encerrando o assunto - e a maioria das pessoas concordaram, mas no fim até mesmo os mais resistentes, que queriam notícias do jogo - Tony e Romeo, claro - acabaram se deixando levar e foram para os dormitórios. 

Acabei seguindo Enrique para o quarto dele com James, porque ele queria falar rapidinho comigo e Potter estava terminando de conversar com Lia e Frank, ainda na sala de reunião. 

— O quê? - Perguntei assim que chegamos, me jogando em uma das camas, que não sabia de quem era. Levantei o tronco assim que percebi que ele não iria me responder. – O que é que você quer falar, criatura?

— Só mais um minu... Pronto, vamos falar. - Enrique puxou um James surpreso para dentro do quarto. O pobre sextanista tropeçou sobre os próprios pés, já que realmente ninguém esperava isso. O idiota, o sonserino, no caso, fechou a porta depois disso. – Ok, Cesc, seja sincero, você tem algo a ver com essa merda como Ginns falou?

Ah, mas que horror!

Olhei chateado para esse péssimo projeto de namorado! Enrique tá por um triz de receber um pé na bunda nesse exato momento, onde já se viu, concordar com Connor Gins e Theodor O'Brien?

Não me importaria de ser chamado de terrorista, mas vindo de uma teoria desses dois, isso é uma afronta!

— O que você acha? Claro que não, imbecil! Embora alguma versão minha anterior tivesse uma disposição para fazer isso no passado, eu sou um novo e melhorado eu! - Falei a título de defesa e James revirou os olhos com um sorriso no rosto, mas ele faz isso porque sabe que é verdade. Enrique continuou me encarando sério. 

— Longbotton disse que você estava falando dormindo de novo, um pouco antes de tudo acontecer, tem certeza que não pediu para o djinn isso ou fez um...

— Eu acho que me lembraria se tivesse feito um pedido para aquele demônio! - Falei começando a ficar irritado com essa linha de raciocínio tão idiota quanto a de Ginns e O'Brien, apenas com a diferença que essa aqui tinha um pouco mais de respaldo histórico. 

— Será? - A voz feminina, com um toque de divertimento soou do nada ao meu lado.

Claire estava sentada na ponta da cama,  grudada em mim e eu quase tive um infarto com isso, sério! Espera, o que... Ah, não! 

— Erick, é vo... Obviamente não podemos chamar você de Erick hoje, então... Djinn, você teve algo a ver com o problema na segurança de Salem? - Não tive nem forças para sair de perto da exata versão da minha ex-namorada que havia visto em meu sonho. “Ela” olhava confusa para a fala de James.

 Eu lembrava só de algumas partes da minha conversa com ela, tentar lembrar de sonho é como tentar pegar água com um garfo: você até retém algumas coisas, mas a maior parte escapa, fica tudo meio vago e confuso...

Apesar de que nas outras vezes que eu falei dormindo, quando alguém me acordava, eu até lembrava um pouco dos sonhos...

— Por que não pode me chamar de Erick? Eu gosto de Erick! - James a encarou com ênfase e finalmente o djinn fez uma cara de entendimento. – Ah sim, por causa da minha roupa de hoje! Não, criança, isso aqui não tem importância, nunca teve. Aliás... É curioso que vocês sempre tenham pensado em mim como um garoto...

— E você é uma garota, por acaso? - Enrique perguntou sarcástico, infelizmente a curiosidade e falta de noção do meu namorado sempre tiram o melhor dele.

— Sabe que eu não me lembro... - A falsa Claire deu toquinhos com o indicador no lábio inferior, “pensando”. – Ficariam surpresos como essa coisa de genitália tem pouca importância no plano geral das coisas, faz tanto tem...

— Ok, djinn, corta o papo furado! Que tal você responder a pergunta que James te fez? - A falsa Claire me olhou confusa e a vontade que eu sempre tenho de enforcar essa fumaça saborizada não passou, mesmo sendo o rosto inocente de Claire me encarando dissimulado. – Foi você que aprontou essa merda com Salem?

— Eu não, você que fez o pedido! - Olhei para o gênio do meu ódio chocado. – Só cumpro ordens. 

— Mas eu não te pedi porra nenhuma dessa vez, sua cria do Satanás! - Ele piscou os olhos verdes inocentemente, como se tivesse sem entender a minha inquietação. – Você armou pra mim?

— Agora, isso sim é uma acusação muito indelicada da sua parte, mestre, eu fiz apenas o que é suposto que eu faça. - Meu Deus, eu vou... Quase pus minhas mãos nele, mas o desgraçado se materializou em cima da cômoda próxima a porta, sentado de pernas cruzadas sobre o móvel. 

— Erick, não é suposto que você engane seu mestre... Se você não desfizer isso agora, Cesc vai fazer o último pedido e dificilmente isso vai acabar bem para você. - James falou com tanta segurança e calma, que até parecia com o que o pai dele deveria ser como educador, mas não é. 

— Mas, humanos, minha missão de existência é garantir que todo o homem que me tenha em mãos saia dessa experiência como uma pessoa melhor! - A versão cínica e perversa da minha ex fez um gesto amplo, com sua jaqueta jeans cheia de bottons divertidos que só Claire seria capaz de juntar. 

O urso de Kung Fu Panda sorriu zombeteiro para mim em um daqueles bottons sem noção dela.

Enrique jogou os braços para cima em sinal de desistência, sentando ao meu lado na cama. James continuou lá, argumentando com a criatura. Vou deixar ele se divertir mais um pouco antes de mandar o djinn arder no mármore do inferno.

— Não estamos indo a lugar nenhum aqui e eu realmente queria desfazer esse encantamento que colocaram em você, mas acho que Cesc está certo e talvez você não mereça ficar livre... - James falou isso... Decepcionado? Vou dar um jeito dele queimar junto com essa tranqueira que ele gosta então!

— O mestre já está uma pessoinha bem melhor do que aquela que encontrei em Uganda e admito que esse truque de fazer ele pedir em sonho foi meio baixo, mas tudo faz parte do plano! - “Claire” sorriu tranquilizadora, mas ninguém retribuiu o gesto. Ela fez biquinho. – Você quase atrapalhou tudo e nem por isso eu fiquei com raiva de você! Você não está sendo justo, James...

O djinn acusou e James olhou para a garota falsa sem entender nada. Enrique se deitou completamente na cama com um “me acorde quando marcarem o casamento” e eu continuei assistindo aquela palhaçada de camarote.

Potter se presta a cada papel...

— Do que diabos você está falando? - Romeu falou indignado para sua Julieta. Estou quase gastando meu último pedido com um saco de pipoca gourmet para assistir esse romance shakespeariano com mais conforto.

— Suas poções de sono irritantes que você deu ao mestre! Ainda bem que eu já tinha conseguido desenvolver a técnica certa, mas confesso que fiquei com um leve nervosismo, já que eu não teria outra oportunidade como essa. - A criatura falou animada com seu êxito e eu me vi obrigado a perguntar.

— Oportunidade de quê, exatamente? - Sibilei baixo e o djinn desviou o olhar do seu objeto de desejo com uma cara amarrada.

— Ah, você vai ver, mestre, eu não vou dar spoiler para os leitores.

— Quê? - A garota dos bottons versão demoníaca me olhou com uma falsa expressão de “ops, falei o que não devia!”. E eu levantei com toda a raiva do mundo para falar o que eu tinha para falar cara a cara com ele. Ou ela. Tanto faz! – É isso, vou mandar você para sua lâmpada, porque esse é o melhor desfecho que você pode conseguir hoje, eu te garanto. 

— E ficar sem opção quando as consequências de suas ações finalmente se voltarem contra você? - O olhar malicioso me incomodava mais do que admitiria, porque sentia que novamente o djinn estava um passo a minha frente.– Eu não faria isso se fosse você...

— Mas você não é e por isso mesmo não cabe a você decidir. - Olhei sério para ele, vendo o brilho nos olhos de quem estava me desafiando a tomar uma atitude. Vamos ver se ele vai gostar disso: – Eu desejo...

— ESPERA! - Enrique levantou e calou a minha boca, me puxando pra ele. – Assim não, garotinho, a gente precisa pensar melhor no que estamos...

Consegui me soltar dele e tanto ele como James me olhavam como se eu fosse uma bomba relógio prestes a explodir. O djinn apenas assistia tudo de pernas cruzadas, com o sorriso de Claire no rosto e um... Aquilo no colo dele é um balde de pipoca gourmet?

JÁ CHEGA! VOU DESEJAR QUE ELE SEJA ESTRAÇALHADO POR DUZENTOS ANIMAIS DIFERENTES E QUE A ALMA DELE FIQUE PRESA NO CANTO MAIS OBSCURO DO UNIVERSO!

— Cesc, é o que ele quer, te tirar do sério! Olha, nós podemos dar um jeito nisso, você pode... Quer parar um minuto? - Enrique e James agora me seguravam, o idiota do meu EX namorado tapava minha boca. – Não vou soltar até que você se acalme.

Parei de me debater e James me soltou, só restando o abraço esmagador de Enrique. 

— Desculpa, James, eu sou Cesrique. Olha como eles combinam! - O djinn falou enquanto jogava uma pipoca teatralmente na boca. O ruivo o encarou exasperado. Vê? Uma desgraça dessas - que obviamente está lendo a minha mente-  livre e eu aqui, preso!

— Apenas vá embora, cara. - James disse sem emoção. O djinn olhou com algo de... Pesar no olhar? Se é James o que ele quer, vou desejar que nem em um milhão de anos ele possa se aproximar de alguém como James Sirius Potter na vida!

Talvez eu esteja dando a ele um presente divino no fim das contas!

— Sei que pensa que está me ajudando, mas acredite, é o melhor para ele, James, esse é o meu trabalho e eu sei o que estou fazendo. - “Claire” suspirou e ajustou sua franja curta e deu um último olhar para todos nós, antes de descer da cômoda. – Nos vemos no dia do juízo final, crianças.

O djinn se estalou para fora das nossas vidas e Enrique finalmente me soltou. Olhei para aquele idiota que acha que eu não posso chamar a criatura de volta e fazer o desejo ao meu bel-prazer com meu pior olhar. 

— Heitor tem a lâmpada, Cesc, ele vai me entregar assim que eu pisar os pés no Reino Unido, eu te garanto isso. - Ele me disse, traçando o contorno do meu rosto com o dorso da mão. Me afastei com raiva. 

— E você acha que isso vai resolver alguma merda? - Perguntei irritado, tanto Enrique quanto James fizeram menção de falar algo, mas eu fui enfático.  – Não! Chega de interferências de vocês dois, eu estou cansado de deixar a merda do meu destino na mão de terceiros!

— Cesc, nós só...

— Ele sabe de tudo! Ele sabe de tudo o que acontece, acha mesmo que ele não está contando com a porcaria da lâmpada? - Perguntei exausto, Deus, estou quase pedindo para o djinn me matar, só para frustrar os planos dele. – Eu vou decidir o último desejo sozinho e que se foda o que vocês dois pensam, eu não quero mais que se metam nisso, estão me ouvindo?

Olhei para ambos, mas a porra do olhar de James Potter e de Enrique Dussel não era do tipo “vamos deixar você resolver isso, porque confiamos no seu bom julgamento”, era mais algo do tipo...

— Claro, garotinho, como você quiser... - Enrique falou em um tom que ele ACHA que é apaziguador.

— Nós não vamos mais nos meter em sua vida de jeito nenhum, tem a nossa palavra. - James completou, se fazendo de inocente. Eu não respondi nada, apenas dei as costas aos dois, porque se eu disser algo, provavelmente vai ser um Avada Kedavra!

Porque eu tenho certeza que eles vão fazer exatamente o contrário do que eu quero.


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Notas finais do capítulo

* Burning ma'am é um trocadilho com o festival de música que acontece em um deserto americano e tem esculturas que o povo toca fogo, o nome é Burning man.

Wicked, o título do capítulo é o nome de uma produção da Broadway que conta o lado da história de Oz pelo ponto de vista da bruxa má do Oeste, mas também significa moralmente errado e ruim, como uma pessoinha que conhecemos.

O 100 está pronto, mas só vou postar lá para o meio da semana, terça ou quarta, para dar tempo de todo mundo ler direitinho.

Bjuxxx e me deixem saber o que estão pensando!