Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 98
Capítulo 98. As bruxas de Salem


Notas iniciais do capítulo

23 dias sem postar, q vergonha. Título em homenagem a um filme, tudo a ver com a vibe de Cesc nesse capítulo.



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Capítulo 98.

Finalmente havíamos chegado no final do mês de março: época de comermos um pedaço do gigante bolo de chocolate com sete camadas de ganache que os elfos da cozinha sempre preparavam no aniversário de Aidan - no meu nem um cupcake de amora, porque a injustiça começa aí - porém esse ano haviam coisas mais importantes, tínhamos uma semifinal para ganhar, por exemplo.

Mentira, o bolo de chocolate de Aidancórnio é mais importante que um simples jogo, estava muito bom de fato, mesmo que ninguém tenha me perguntado. 

Então cá estamos nós no dirigível a caminho de uma nova e querida rival, o que é sempre divertido. Dessa vez era até uma espécie de viagem em família, já que Rebeca e Louise haviam sido sorteadas para assistir o jogo e Rose tinha conseguido uma permissão especial para cobrir a semifinal pessoalmente. 

Estou sentindo cheiro de treta de monstra nesse exato momento, porque Rebeca deu aquele seu sorrisinho perigoso antes de falar.

— Me expliquem de novo como a senhorita Weasley passou a perna para estar cobrindo um evento do qual ela não entende nada e a senhorita Fábregas está indo a Salem pela segunda vez... - Rebeca pediu, fazendo uma expressão de curiosidade mais falsa do que o perfume de marca que eu dei a Tony no Natal passado. 

Rebeca sabia bem que a presença de Rose fora uma reivindicação de Tony e que Louise foi sorteada para ir a Uagadou na primeira viagem, mas trocou de lugar com John por um jogo de Salem com alguma seleção qualquer, dizendo ela que foi em nome do amor... 

O fato é que isso faz um século e alguns nomes voltaram a aparecer na lista - boatos que na final todo mundo, de todas as escolas, vai - então há uma chance de minha irmã ter sido sorteada do jeito que manda o figurino.

Mas não era isso que Rebeca queria, ela quer treta, como sempre.

— Eu estou cobrindo a interação entre as escolas e qualquer dúvida sobre quadribol, eu posso pedir ajuda a você ou a Juliet, ambas redatoras do jornal e que por sorte foram sorteadas para essa viagem. - Rose respondeu, sentada ao lado do seu namorado, parecendo importante lendo um jornal americano.

— Não estamos em serviço. Falo por mim, por Juliet e por qualquer outra criatura que você pensa que tem controle sobre: Não. Estamos. De. Serviço. - Rebeca pontuou cada palavra com uma expressão que não cabia discussão, mas Rose deu um sorriso suspeito.

— Jornalistas estão sempre em serviço. - Aí estava! A ruiva falou como se tivesse propriedade no assunto e só conseguiu um sorriso macabro da monstra em retorno.

— Você vai ser a primeira jornalista a cobrir sua própria morte... - Rebeca falou entredentes, ainda com um sorriso no rosto e todos na cabine se prepararam para ser testemunhas de um crime, bem, eu me preparei. 

Ficaria ótimo como testemunha em um julgamento: “Protesto, meritíssimo, essa prova é tendenciosa, peço que seja retirada dos altos do processo...”. Tá, já entendi, eu ficaria melhor como advogado de defesa do bandido. Bandida, no caso de Rebeca Wainz.

— Ah bem, ninguém quer ver mais dessa discussão e como a viagem é longa e desnecessária, na minha humilde opinião, vamos usá-la de maneira mais produtiva: comigo antecipando o que vocês verão em Salem! - Louise disse animada, batendo palminhas do outro lado da nossa mesa de refeição. 

Havíamos escolhido uma cabine ampla para podermos apreciar a vista da janela sul e bebericar um pouco de chá com creme e biscoitinhos, bem ao estilo britânico para não nos contaminarmos muito com a americanisse que está por vir.

Não que eu me importe, sou imune a essas coisas, tendo em vista que sou muito espanhol para o meu próprio bem.

— Por que a gente não pode ver as coisas com os nossos próprios olhos? - Scorp perguntou educadamente por todos e Louise apenas desconsiderou a pergunta. 

— Então, o que se tem a saber sobre Salem é que toda a cidade é bruxa agora e possui duas escolas, Salem e Ilvermorny. - Minha irmã disse didaticamente.

— Todo mundo sabe isso... - Joguei dois biscoitinhos direto na boca, porque eles são muito pequenos. Louise me ignorou também. 

— Salem vive de turismo trouxa, principalmente no Halloween, se passando por uma cidade “bruxólica”, mas se algum bruxo for pego fazendo magia de verdade, vai ter sérios problemas com a MACUSA. - Minha irmã me olhou séria e eu fingi que não ouvi essa indireta.

— O legal é que os trouxas aceitam numa boa as vestes, comidas e boticários bem na vista de todos, porque acham que é tudo de mentira. - Rose completou, porque ela e Louise são a dupla perfeita de apresentação de trabalhos escolares. – Mas a verdade é que a cidade é uma das capitais bruxas, já que em 1914 houve um incêndio “acidental”, que deixou desabrigadas mais de 3.500 famílias. 

— As aspas são porque o incêndio foi de propósito, Baunilha? Porque se for, eu vou passar a respeitar bem mais Salem... - Tony falou, finalmente tirando seu olhar do jornal. Ele adora fingir que não está nem aí para as conversas, quando na verdade ele está. 

Fofoqueiro ele.

— Bem, foi de propósito, uma espécie de rebelião muda dos descendentes do julgamento de Salem que nós vimos rapidamente nas aulas de HM no ano passado. - Tony ia perguntar mais alguma coisa, mas Rose tapou a boca dele com um dedo. – E não, não foi legal! Milhares de inocentes tiveram que sair de suas casas carbonizadas por causa do que hoje sabemos ter sido uma histeria coletiva no passado.

— O pouco que eu sei de Salem, é que demorou um ano e um monte de mortes para o Ministério deles tomar providência nessa “histeria coletiva”, então um incêndio meu ia ser bem de propósito. - Rebeca disse enfática, Louise a olhou severa e também a ignorou, porque Louise é isso. E é minha gêmea, então gosta de atenção também. – Eu ia pôr fogo em todo mundo! 

— Como eu estava dizendo, a cidade é bruxa e escolar e Salem, diferente de Ilvermorny, permite que os alunos voltem para casa ou vivam em repúblicas na cidade. - Olhei para minha irmã interessado e ela sorriu para mim. – O dormitório de Claire é fora dos terrenos da escola, porque é lá que os nascidos-trouxas se sentem mais á vontade, então vamos visitá-la. 

— Por mim tudo bem! Vai ser tipo uma visita ao set de American Pie ou desses filmes de fraternidade? - Perguntei animado e Louise me olhou sem paciência. 

— Você vai ficar a viagem toda com esses comentários preconceituosos, não vai? - Ela perguntou, já sabendo a resposta.

— Eu anotei as melhores coisas que me veio na mente durante a semana em um pergaminho de quase um metro... - Falei orgulhoso e minha gêmea maneou a cabeça, cansada. – Você sabia que... Ah! Olha aí, o meu excelentíssimo namorado chegou, vocês vão ter que ouvir o meu discurso junto com o resto do mundo, com sua licença...

Levantei porque Enrique havia aparecido na porta e fez sinal para que eu o seguisse. Louise fez menção de levantar, mas o senhor Dussel fez cara de “nem comece”, então minha irmã voltou a sentar.

— Ele ainda não superou meu “empurrãozinho”... Que bobo! - Ainda ouvi ela dizendo antes de sair e fechar a porta.

— O quê? O que foi? - Perguntei, porque ele parecia sério demais para os seus padrões. – Más notícias? 

— Err... Notícias inconvenientes, eu diria. - Ele fez uma careta e depois deu um sorriso amarelo. – Uganda vetou a minha inspeção em Uagadou, disseram algo como “só com autorização de um especialista, já tivemos muitos problemas por causa desses feitiços de vocês “.

— Muitos problemas? - Perguntei cético, com um tom que queria dizer “vocês explodiram a cara de quem dessa vez?”, Enrique me olhou ofendido. Tô achando que ele não está sendo 100% verdadeiro...

— Pois fique você sabendo que eles estão chamando de “problemas nossos”, coisas como a falha do comunicador deles, que a gente bem sabe quem foi que aprontou, não é? - Ele enfiou um dedo no meu peito e agora quem fez uma careta ofendida fui eu.

Alguns colegas vagando pelo corredor nos olharam curiosos, sorri falsamente para Enrique e o encaminhei para a sacada do dirigível, porque aqui estava mais vazio e era mais fácil de jogar ele lá embaixo.

— Eu não vou discutir essas bobagens com você, o que eu quero saber agora é se vai mesmo me deixar na mão, porque fique você sabendo que eu criei expectativas, irreais, mas legítimas, sobre você e eu não quero me decepcionar. - Ele havia tirado um saquinho de feijãozinho de todos-os-sabores do casaco e agora o comia com o desprezo e a elegância de um ser que ouvia uma criatura inferior falando besteiras.

Joguei o pacote lá na casa da porra.

— Isso foi imaturo da sua parte. - Foi mesmo, mas eu cruzei os braços e ele apenas respirou fundo.–  E talvez você se arrependa de ter feito, ao saber que eu já pedi para Heitor resolver isso e ele vai trazer a lâmpada para a Europa através dos meios legais.

— Ele vai? - Perguntei verdadeiramente incerto, porque Enrique nunca deixava claro se o irmão era ou não uma pessoa confiável. 

— Não completamente legais, porque Uagadou não vai deixar a gente trazer um artefato mágico deles assim, mas ao menos ele vai lá na condição de especialista em assinaturas mágicas, para ajudar a entender o que aconteceu lá com os trocinhos de comunicação...

— Marduk, o nome é esse.

— Que seja! De todo o modo, alguém me deve um pedido de desculpas... - Ele falou com os braços abertos e um sorriso convencido. Apenas torci a boca em desprezo, porque eu também sei fazer isso, cara de nojo não é exclusividade dos Dussel.

— Peço desculpas quando a lâmpada estiver nas minhas mãos.  - Enrique deixou o sorriso morrer e o substituiu por uma cara enfezada. – E você devia me agradecer, aqueles doces são uma porcaria...

— Só vou te agradecer quando você conseguir uma nova ocupação para a minha boca...

Ah bom, sempre foi mais fácil Enrique agradecer do que eu pedir desculpas...

***

Outra coisa que eu já estava com saudades e vou sentir muita falta depois: coletiva de imprensa!

— ... E por fim, uma pesquisa realizada entre consumidores nos Estados Unidos mostrou que 7% dos americanos acreditam que o leite achocolatado seja produzido por vacas marrons. Isso significa que 16,4 milhões de pessoas no país não sabem que se trata de um produto industrializado, feito com leite, chocolate e açúcar, segundo o jornal Washington Post.*- Tomei fôlego depois de ler o meu discurso, faltando apenas o arrebatamento. – Logo, está cientificamente comprovado que não temos como perder para Salem, cuja população deve achar que leite vaporizado vem de vacas voadoras.

Dei um gole na minha água e enrolei o meu maravilhoso discurso. Os flashes estalaram, o capitão americano respirou fundo ao meu lado e meu amado treinador deve ter amaldiçoado todas as gerações da minha linhagem mentalmente..

— O senhor Fábregas está apenas brincando... - Potter falou por cima de mim para alcançar o maior número de jornalistas na nossa frente. Eu sorri feliz, porque não, eu não estava brincando. – Vamos as perguntas. 

— Caderno de esportes do NYC Enchanted. Senhor Fábregas, a equipe de Hogwarts está realmente assim tão confiante que obterá uma vitória fácil sobre Salem? - O primeiro jornalista - americano, então usou um tom aborrecido - dirigiu a pergunta para mim. Sorri educadamente.

— Como o meu técnico disse, estava só brincando, temos o maior respeito por Salem, até tenho amigos que estudam aqui! - O capitão da escola colocou seu olhar enfezado sobre mim, porque ele sendo um nativo americano, bem sabia como era um discurso falso que terminava com um “tenho até amigos que...”.

— The Jinx Times. Senhor Atahy, como está a expectativa em jogar contra uma das seleções que venceram a sua grande rival, Ilvermorny? - O capitão americano sorriu convencido e me deu um olhar agressivo meio que estragado pela pena de águia presa em uma trança em seu cabelo..

Por essas e outras que eu deixei os estereótipos sobre índios em casa, não quero acabar preso por preconceito, até porque esse aqui é a representação mais caricata de um nativo americano que eu já vi! E única que eu já vi, se alguém está se atendo a esses detalhes... 

— Ilvermorny tem uma boa equipe e é sempre divertido vencê-la, me parece que vencer seu algoz também será... Estamos ansiosos com a partida de amanhã, afinal alguns dos nossos costumavam ser de Hogwarts. - Ele olhou para mim ao dizer isso, revirei os olhos. – E eles estão ansiosos para vencer a velha escola...

— Se refere a Spark? O seu apanhador patético que nem teve coragem de ir a festa de Ano Novo encarar os colegas que ele traiu? - Perguntei sarcástico e Atahy me encarou irritado.

— Ele não foi porque a avó dele havia morrido alguns dias antes! - Eu dei risada dessa idiotice e o americano fez menção de se levantar da cadeira. Não ainda, cara, espere só mais um pouco! 

— Morreu de quê? De desgosto por ele ter trocado o certo pelo duvidoso? Me poupe, matar parente deve ser a desculpa mais velha do manual... - Agora sim meu companheiro de entrevista teve que ser contido pela sua treinadora.

— Senhor Fábregas, a avó do senhor Spark realmente faleceu recentemente, houve até mesmo uma nota no jornal de Hogwarts... - Harry Potter sibilou isso, se controlando para não apertar o meu pescoço.

— Ah sim! Nossa... Então retiro o que eu disse, ao menos a parte da desculpa no manual, porque a do desgosto, eu...

— Próxima pergunta! - Potter interrompeu o meu pedido sincero de desculpas, afinal eu tenho minha vó Lali e vó Carlie, sou a última pessoa que pode ser insensível com avós! Harry Potter não tem coração! E paciência, porque eu juro que ia ter um pedido de desculpas em alguma parte do meu discurso improvisado!

— Candance Bishop, Inside D'Spell. - A bela loira morango se ajeitou melhor em sua cadeira quando conseguiu a atenção de todos, leu sua anotação com calma e deu um sorriso devastador ao olhar para cima. Uou! – Em uma de suas entrevistas o senhor deu a entender que Rita Skeeter estava equivocada em suas colocações acerca dos envolvimentos amorosos da seleção britânica, então houve a festa do sorteio das semifinais e o beijo do senhor... Enrique Dussel em você, correto? Minha pergunta é: há algo mais em suas declarações anteriores que seja uma inverdade? Ou no polêmico artigo sobre os bastidores da seleção de Hogwarts escrito por Skeeter, já que estamos no assunto? 

Quê? 

Olhei para o treinador Potter e ele apenas encarava a repórter muito bonita para ser real com uma expressão fechada. Ela continuava me olhando como uma mulher que havia feito a mais inocentes das perguntas. Quando fui responder, o treinador falou em meu lugar.

— Está falando com um garoto de 14 anos, senhorita Bishop, não precisa entrar nesses assuntos. - Potter pode ser o que for, mas ele sempre respeita a nossa juventude e a defende. Na verdade, uma boa parte de seus sermões começa com “crianças”, “meninos” e mentalmente “suas pestes goguentas”.

— Tudo bem, treinador, eu respondo. - Falei sério, para que ele percebesse que eu não iria falar nenhuma besteira. Até mesmo o capitão e treinadora de Salem me olharam interessados. – Skeeter escreve ainda e é lida porque suas palavras tem um fundo de verdade. Eu nunca estive com James Potter e sim, agora namoro com o senhor Dussel e sei que para alguns dos senhores isso pode ser... Inadequado, mas não tem nada a ver com o que fazemos dentro do campo, então não acredito que valha a pena ser esclarecido aqui.

— Não perguntei com o desejo de lhe constranger, senhor Fábregas, nosso papel da imprensa também consiste em esclarecer mal-entendidos... - A senhorita Bishop me olhou com um sorriso doce e levemente compreensível. – Então está dizendo que há um fundo de verdade no caso de seus colegas de equipe? Como a suspeita de gravidez e posterior aborto da senhorita Böechitt ou o envolvimento amoroso de Romeo Habermas com um membro do corpo docente recentemente afastado?

Ela fez uma expressão “odeio ter que perguntar isso”, mas estou começando a desconfiar que ela é até mesmo mais ardilosa do que Rita Skeeter, já que coloca na mesa temas que não são nada pertinentes e adequados para uma entrevista esportiva. Os outros jornalistas a encaravam sérios, mas seu olhar continuava em mim.

— Sem mais perguntas. - Treinador Potter encerrou a entrevista para Hogwarts antes do tempo e me puxou para fora da sala de imprensa, na prefeitura da cidade de Salem. Assim que estávamos no corredor, ele me olhou sério. – Não há isso de ser honesto e esperar que os jornalistas parem de te perguntar coisas ainda piores. 

— Mas eu não...

— Acredite em mim, senhor Fábregas, muitos deles já vem com a resposta pronta para suas perguntas, sabem exatamente onde colocar a varinha na ferida... Eles não se importam com a verdade, só querem vender jornal. - Eu o olhei sem ter o que dizer e ele só me deu um sorriso triste. – Na próxima vez se mantenha com suas brincadeiras e eu vou continuar me fingindo de bravo... Ficamos no controle quando agimos assim.

— Então o senhor não se importa com as minhas... Colocações espirituosas? - Ele riu percebendo que eu evitei o termo “piadas”.

— Algumas realmente me tiram do sério, mas a maior parte delas é inofensiva e nos coloca em uma posição confortável.  - Ele pegou no meu ombro e me deu um sorriso condescendente, junto de um olhar de quem já viu muita coisa por trás daqueles óculos redondos. – Meu medo é quando você começa a falar sério. 

— Vou me manter só no meu stand-up então.  - Sorri sonso e ele me deu um olhar que caberia uma sobrancelha levantada, mas acho que ele não pode fazer, assim como o filho mais velho.

— Certo, mas sobre a avó do garoto, você podia ao menos...

— Ah, meu Merlin! Lá se vai o nosso momento! Você estragou tudo, estávamos tendo um daqueles momentos de compreensão e respeito mútuos, mas você estragou com sua chatice! - Eu disse indignado e ele me olhou cético. 

— Pensando melhor... Me dá medo quando você fala qualquer coisa.

Pronto, Harry Potter definitivamente jogou nosso momento pela janela.

***

Encontrei um Enrique de óculos escuros - trouxas, porque óculos bruxos tem uma cláusula que diz que tem que ser brega - encostado desleixadamente no monstrengo que é o nosso dirigível e uma Louise com cara de paisagem ao seu lado.

— Onde estão os outros? - Enrique deu de ombros, então procurei uma resposta com minha gêmea.

— Disseram que a gente se encontra com eles depois de pegar Claire. - A olhei sem acreditar,  só tenho amigo filho da mãe?  – Perdemos eles quando eu falei da loja de doce mais tradicional da cidade... Você sabe como Antony é. 

— Você sabe como eu sou! Agora quem quer abandonar Claire a própria sorte sou eu! - Tanto Enrique quanto Louise fizeram menção de falar alguma coisa sem graça tipo “você já fez isso”, mas eu fui mais rápido. – Vamos logo até ela, antes que eu faça uma besteira com vocês...

— Falando em fazer besteira, como foi a entrevista? - Enrique perguntou com seu ar de modelo de cueca com pouca massa cinzenta e eu só franzi o cenho para ele.

— Por que você não foi com os outros mesmo? - Desconversei mal humorado, porque sim, talvez eu tenha feito merda na entrevista, espero que Sienna e Romeo me perdoem algum dia.

— E perder o seu reencontro com sua ex que você chutou para ficar comigo? - Ele perguntou divertido, depois fez uma careta de nojo por trás dos óculos caros. – Merlin, eu devia ter ido com os outros mesmo, isso não vai prestar...

— Cesc não trocou Claire por você!  - Louise falou indignada e eu apenas chutei uma pedrinha no meu caminho inocentemente. – Ou trocou?

— Respondendo a outra pergunta, a entrevista foi uma merda, uma tal de Candance Bishop me fez de besta e eu acho que fiz besteira... - Confessei culpado, rezando para que isso fosse o suficiente para mudar de um assunto ruim para um menos ruim.

— Ela é no estilo de Rita Skeeter? - Enrique me perguntou curioso e eu fiz uma careta de dúvida, antes que eu pudesse responder, Louise começou a cantarolar irritantemente. 

— Rita Aranha, Rita Aranha, aí vem a Rita Aranha, com sua teia...

— Ela é um besouro na verdade. - Enrique a cortou seco e eu dei graças a Deus por isso, alguns transeuntes já estavam nos olhando estranho. Louise nos guiou para dentro de um cemitério, só para deixar tudo ainda menos suspeito. 

Minha irmã adorada é uma guia extremamente... Nem sei como completar isso.

— Não dá para encaixar besouro nessa melodia. E bem... Aqui temos o... O cemitério turístico de Salem que eu esqueci o nome. E sim, Cesc só os vivos visitam, os mortos ficam. - Enrique encarou Louise com aquele esgar de entojo que ele faz com o lábio superior, depois deu de ombros. Uma brisa de lugar nenhum mexeu os galhos das árvores com folhas recém acordadas do inverno.

Em um filme, acho que é agora que morremos, não sei, meus pais não me deixam ver filme de terror... E eu não insisto.

— Não, não dá para encaixar besouro mesmo, você está certa. - Ele falou convencido e eu revirei os olhos. Salem deve ter algo que deixa as pessoas ainda mais idiotas do que já são.

— Enfim... Eu acho que ela, a tal da Candance,  pode ser até pior que Skeeter, porque se faz de inocente, mas as perguntas dela são mais cruéis!  Ela é tipo uma Harmond adulta e bonita... - Citei a chinesa para ilustrar, mas Louise me olhou feio. Um corvo agourou a nossa saída do cemitério - com algumas pessoas tirando foto para suas redes sociais - até que bonito, na volta vou fazer umas fotos com Enrique.

— Tracy não é cruel, ela é um ser humano perfeitamente normal quando está longe da sua gravidade e da de Antony! Vocês que são duas pestes! - Minha irmã defendeu a colega de casa e eu senti a dor do punhal cravado no coração. 

— Ela queimou minha garganta com ácido! - Porra, todo mundo nessa vida esquece disso? Enrique fez que sim com a cabeça, ele me entendia. Passamos por um monumento em forma de sino, tentei ler rápido o que dizia, mas bleh, é só algo para soldados americanos, nada de bruxa aqui.

— Verdade, eu havia... Olha, acho melhor vocês três apenas manterem distância pelo bem de todos os envolvidos, ok? - Louise falou querendo encerrar o assunto, mas eu ainda tinha algumas coisas a dizer. – Ah, finalmente! Chegamos na casa de Claire!

Engoli meu veneno, até porque, minha vingança contra Tracy já estava em andamento e Claire merecia toda a minha atenção. Chegamos em uma daquelas casas típicas de interior americano, em uma rua tranquila.

Louise não se fez de rogada e assumiu a dianteira, assim que subimos a pequena escada de pedras e entramos no beiral de madeira, a atmosfera mudou completamente. Olhei para Enrique atrás de mim, porque o barulho de conversas animadas e cheiro de magia nos atingiu com força antes mesmo de passarmos pela porta.

A entrada da casa se abria para um pequeno salão com uma lareira enorme e umas duas dezenas de alunos nos olhando com aquela cara de bandidos encarando os mocinhos adentrando o seu saloon/clube de stripper/bar horrível, encaixe aqui o melhor cenário de filmes que lhe convir.

Uma garota loira de cabelos bem curtos e arrepiados quebrou o silêncio e saiu do nada para abraçar minha irmã. As duas deram pulinhos felizes e assim que se separam, pude ver que era Claire, com suas sardas e roupas largadas de skatista. 

Sorri verdadeiramente para isso.

— Ainda se lembra de mim, sardenta ou só tem abraços para a parte ruim do clã Fábregas? - Ela sorriu mordendo os lábios meio nervosa, mas me abraçou com força, como se não se importasse muito com o nosso passado recente esquisito. – Olha só como você cresceu!

Ela não tinha crescido nada, então me soltou divertida. Claire estava tão diferente e ao mesmo tempo, se parecia muito com a garota que havia salvado a mim e a Tony na nossa primeira viagem à Hogwarts. Ok, eu admito, os Estados Unidos fizeram bem a ela.

— Eu não cresci um centímetro, você por outro lado... Quase não parece mais gêmeo de Louise!

— Eu sei, eu só disse isso para que você fizesse as devidas observações, eu não estou me pendurando na Torre de Astronomia com pesos nos pés para as pessoas não notarem meu crescimento! - Ela riu e eu aproveitei o bom humor para apresentar Enrique, porque né, isso é o esperado. – Claire Bear, esse é Enrique, meu...

Hesitei, porque os americanos ainda pareciam muito curiosos ao nosso redor, ainda que uns tentassem disfarçar a bisbilhotice conversando e olhando para o outro lado.

— Sou o namorado, mas isso você já deve saber. - Enrique falou falsamente educado e Claire estendeu a mão simpaticamente para ele.

— Já o conheço de vista e dos jornais, Enrique, prazer em conhecê-lo pessoalmente. - Deuses, minha ex é uma santa e o atual um demônio, ainda de óculos escuros e um sorriso nada entusiasmado. – Bem, acho melhor irmos andando, a S'more hoje vai ter um campeonato de quem come mais doces e vocês não vão querer perder isso!

— Perder? Eu vou querer partici...

— Podemos ir com vocês, Sully? - Um garoto da altura de Claire levantou da poltrona com mais duas garotas com cara de Lia - leia-se barraqueira - atrás de nós. Me lembrei tardiamente da minha fama injusta de “partidor de corações” aqui em Salem, só porque Claire fez uma careta para a pergunta.

— Eu posso trazer algo para vocês, Mike, eu...

— Ah não, Sully! Queremos ir! Quando vamos ter a oportunidade de conversar com celebridades britânicas novamente? - O garoto olhou de mim para Enrique com o olhar levemente maldoso e eu simplesmente levantei uma sobrancelha para isso.

— Eu sou celebridade também, Mike? - Minha irmã perguntou divertida tocando o ombro dele com o dedo e dessa vez a criatura sorriu simpática, parando para cumprimentar ela junto com suas amiguinhas mal-encaradas.

— Se você soubesse o quanto isso é típico do cinema americano... - Sussurrei para Enrique, que já estava um pouco familiarizado com o termo cinema. Assim que der, o levarei para um em Londres.

— Vamos andando, garotinho, não quero ser azarado só porque você é uma persona non grata por aqui. - Ele abriu caminho para a saída, porque Enrique não é exatamente conhecido por sua educação e simpatia. E eu só o segui, porque o público daqui é difícil e eu me importo muito pouco com o que eles pensam de mim.

Passamos de novo pelo feitiço anti-trouxas da república de Claire e o clima bucólico de Salem, Massachusetts reapareceu como em um passe de... Tá, foi isso mesmo, um passe de mágica, mas eu estou me sentindo em um filme, me deixa!

— A gente vai ter que passar pelo cemitério de novo? Eu até que gostei de lá, mas estou evitando lugares com energias pesadas ultimamente. Para dar sorte no jogo, você sabe. - Me virei para trás para falar com Louise ou qualquer um que realmente conhecesse o caminho.

Louise me indicou um caminho tranquilo pela rua pouco movimentada a frente, pendurada no braço de Claire, e os americanos aproveitaram minha parada para se aproximarem de nós. 

— Então, Fábregas, o que está achando da nossa cidade até agora? - O sotaque do garoto era mais aberto do que o de Atahy, então presumi que ele vinha de um lugar diferente de Claire, Atahy ou até mesmo Spark.

— Estou achando simpática... Estranhamente vazia, se quer saber. - Falei tranquilo, olhando o garoto como se eu não soubesse que ele me detesta por ter partido o coração de Claire ou por futuramente partir a cara dos colegas de escola dele, vai saber!

— As pessoas estão trabalhando ou mais no centro. Deixa a gente chegar no centro bruxo para você vê se continua pensando assim. - Ele sorriu e completou. – Quando vencermos vocês, teremos uma festa tão grande, que até os trouxas vão sentir em suas casas protegidas por feitiços anti-magia.

— Farei questão de fazer parte disso, o Halloween de vocês é o melhor que eu já fui. - Enrique disse falso e eu sorri para isso. – Na verdade, toda vez que eu venho para Salem eu me sinto um pouco americano, a mente chega fica mais leve...

— O que quer dizer com isso? - Claire perguntou adoravelmente confusa, apontado para a esquerda em um cruzamento com um bom movimento de carros, seguimos pela calçada até voltarmos para a rua de pedra de onde havíamos vindo.

— Que eu gosto da América, vocês são tão... Jovens. - Eu ri e Louise fez uma cara de “do que você está falando, idiota?”, mas Claire levou na brincadeira. – Tem valores modernos e cheios de... São adoráveis. 

— Pois é, né? A gente deixou as podridões com os colonizadores e resolvemos fazer um adorável mundo novo! - Uma das meninas, a de tranças pretas com as pontas azuis, nos disse com um sorriso inocente. – A terra das oportunidades!

— Para ser sincero, estou empolgado pela possibilidade de ver Salem e talvez até mesmo Ilvermorny! Ouvi dizer que ficam uma de frente para a outra... - Falei, ignorando o discurso patriota, só porque achei a tentativa de nos atingir muito patética. – A competição deve ser divertida.

— Ficam uma de frente para a outra sim, vamos poder ir lá pelo portal da S'more, ele sai direto na biblioteca central, que divide os terrenos. - Claire me disse solícita e eu sorri para ela, não é que tinha ficado mais bonita de cabelo curto? – É bem interessante, porque Ilvermorny lembra muito a entrada de Hogwarts, com o pátio central e as pedras antigas, já Salem é moderna e cheia de verde, com prédios baixos e diferentes.

— Faltou orçamento para as paredes, aí eles resolveram colocar plantas no lugar... - Enrique falou sarcástico e eu disfarcei o riso com uma tosse, porque o plano era ser educado e sair vivo desse passeio.

Por que Enrique nunca segue o plano?

— Na verdade investimos em feitiços e encantamentos tão modernos, que as velhas estruturas de pedra não foram necessárias, a gente meio que resolveu sair da idade das cavernas. - Ok, isso não foi nada sutil, Mike! Sorri cínico, porque Hogwarts não era feita de fumaça e petulância, nosso castelo era sólido e... Ok, está morrendo, mas isso pouco importa.

— Os americanos e suas modernidades... É como olhar para o nosso filho rebelde, não é? - Enrique respirou fundo e charmoso, provavelmente imitando o pai ao receber uma carta de advertência pelo mau comportamento dele.

— É... Seria interessante ver o que aconteceria se a magia de Salem falhasse e não tivesse nem parede para contar história... - Falei esperançoso, mas depois disfarcei, porque Louise me deu um olhar de advertência. Tá, parei! – E por interessante, eu quero dizer triste! Imagina, vocês todos ao relento, sem paredes ou...

— Temos paredes e temos magia, diferente de vocês que não tem uma das duas coisas, não é? - Mike falou superior e até Enrique pareceu menos pacífico depois disso. O garoto sorriu convencido e deu um último olhar antes de entrar em uma loja de aparência comum, mas que devia ser algo completamente diferente por dentro. – Mas não se preocupem, quando precisarem de nós de novo, Salem estará de braços abertos para receber vocês em nossas instalações.

A loja tinha uma aparência simples, apenas uma porta com um letreiro discreto. Mike acabou sendo seguido pelas amigas dando risinhos, por Louise me encarando feio e por último Claire, que me deu um olhar meio de “desculpe por isso”..

Enrique e eu ficamos para trás. 

— Dos grupos de Hogwarts, os corvinais são os mais irritantes, mas no grupo de humanos em geral... Deus, eu quero matar os americanos! - Falei para o meu namorado, que tirou os óculos escuros para me responder.

— Vou fazer um massacre no estádio de Salem amanhã, garotinho e escrever seu nome com o sangue deles no chão, já que eles não tem paredes. - Enrique falou com tanta verdade, que eu coloquei a mão no coração e sorri para ele.

— Você é tão romântico...

— Eu tento.

 


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Notas finais do capítulo

Já sabem q eu não postei pq cheguei a um momento crucial feat. Indo a campo no mestrado, mas eu sempre volto, o importante é isso, né? Eu acho.