Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 96
Capítulo 96. Os melhores são sempre sonserinos


Notas iniciais do capítulo

Tanta coisa para dizer, primeiro: cês tão acompanhando o spin-off que fala um monte da família Dussel? Depois não digam q não sabem quem é a namorada de Hector, de Heitor, como anda Helena, como é Ciaran... Até Enrique em um estúdio de tatuagem teve! Enfim... https://fanfiction.com.br/historia/737919/She_doesnt_wear_dress/

Ainda temos a marca atingida de 600 comentários!!! Falo mais lá em baixo! Mas antes...

[CAPÍTULO DEDICADO A JULIET BERTRAND, que ficou ofendida por ter sido colocada como a garota que atrapalhou o romance de Tony e Rose ao não pontuar o seu artigo para o Hogs News direito - presta atenção no pedido de desculpas, mulher!]



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Capítulo 96. Os melhores são sempre sonserinos

Rebeca estava com sorriso de orelha a orelha - não porque eu tinha desviado meu caminho até a Sonserina para dar um oi - mas porque ela finalmente havia sido convidada para uma festa dos maiores festejadores de Hogwarts.

— É provavelmente a única coisa boa que Westhampton fez desde que começamos a dar popularidade a ele. - A monstra me disse a título de explicação e depois parou na poltrona perto da lareira para falar com uma das quintanistas mais folgadas que existe. – Juliet, Weasley mandou te avisar que se você não pontuar novamente seu artigo do Hogs, ela vai te dar aulas particulares de ortografia.

— Pelo sagrado coração de Morgana, eu não mereço isso! Me ajuda, Rebeca, juro que te ajudo a escolher seu vestido para a festa da Corvinal, mesmo eu tendo dito que preferiria esfregar a minha cara muito bonita na lareira da Grifinória, enquanto assisto eles construírem minha nova cama feita de ratos raivosos!

— Você repetiu essa idiotice com as mesmas palavras de antes, mas não lembra de colocar uma vírgula no lugar certo? - Rebeca perguntou cética e a garota com uma carinha de menina criada em convento - cabelo ondulado nos ombros e altura de boneca na caixa -  a olhou com inocência. 

— Você acha que é fácil engolir toda aquela pontuação só para ver a Weasley infeliz? - A diaba perguntou ofendida, com uma mão onde deveria ter um coração. Duvido que tenha um, da mesma forma que eu duvido que Louise tenha. – Às vezes eu sinto que é uma carga pesada demais para os meus frágeis ombros...

Eu e Rebeca reviramos os olhos para a imagem da “pobre” garota frágil e cansada, cuja a tarefa de atormentar a vida dos outros estava se tornando um fardo pesado demais...

— Já tentou fundar um clube de teatro, Juliet? - Ela levantou os olhos meigos dela para mim e inclinou a cabeça de leve, o suprassumo da inocência. 

— Por que pergunta isso? - Ela colocou uma mecha do cabelo levemente repicado atrás da orelha com uma série de brinquinhos de estrela. Matarei três coelhos com um cajadada só! Não sei se isso é possível ou agradável de ver, mas eu farei!

— Porque você nasceu para ser uma estrela! Até seu nome é o de uma heroína icônica e seu poder de convencimento... O mundo deveria ver isso! - Ela me olhou desconfiada e eu completei com um sorriso cheio de dentes. – O mundo deveria pagar para ver isso.

Agora os olhinhos dela estavam brilhando, devidamente encantados.

Salvo Rose de uma de suas “admiradoras”, acho um entretenimento para os alunos entediados de Hogwarts e principalmente: dou algo de útil para essa garota fazer, além de ficar procurando confusão com grifinórios e se fingindo de santa quando uma autoridade aparece para apartar a briga.

Nossa ampulheta de pontos agradecerá. 

— E então? - Rebeca perguntou meio sem paciência. 

— E então o quê? - Juliet respondeu sonsa, como se tivéssemos acabado de chegar ao recinto.

— Você vai parar de envergonhar o nome da nossa casa com seus artigos sem pontuação? Vai comigo comprar o vestido da festa? Vai abrir um clube de teatro? Vai deixar de ser uma palhaça? - Rebeca perguntou aumentando o tom a cada nova pergunta.

Claro que a garota mais velha só levantou a mão em sinal de defesa, só que com uma cara de quem estava se divertindo com o surto alheio. Nenhuma sonserina presta, isso é fato.

— Sim. - Ela respondeu simplesmente e Rebeca quase voou no pescoço dela. – Sim para tudo, amorzinho! E só para não dizer que eu não sei retribuir o favor, vi Shawna se gabando outra vez com seu onióculos lá perto do lago, Cesc.

Olhei sem entender e a garota apenas se levantou, arrumou suas vestes e deu de ombros.

— Aquele que seu namorado te deu na época que ele chantageava você e que você inocentemente emprestou a Shawna no jogo de inverno... - Ela falou com sua voz mais doce e eu a olhei impressionado. Juliet sorriu inocentemente. – Cesc, querido, eu sei de tudo que acontece nessa escola.

— De onde acha que eu tiro as minhas informações? - Rebeca disse, conformada. – De onde acha que Tony tira as dele?

Juliet Bertrand respirou fundo, satisfeita com as adulações de Rebeca.

— É quase como ler um livro aberto, enquanto faço meus comentários na lateral da página... - A garota disse, sonhadora.

— E como fica sabendo de tudo isso? - Estava mais preocupado com o fato dela saber da chantagem de Enrique sobre o Ocaso, porque isso significaria...

— Eu tenho olhos e ouvidos em toda a Hogwarts, Cesc, porque “nós somos vocês “ - Ela sussurrou misteriosa, bem perto do meu ouvido e quando se afastou, deu risada da minha cara assombrada. – Mentira, eu só sou muito observadora mesmo.

— E usa feitiços-escuta, usa uma versão fraca da poção da verdade... E tem amizade com aquela criatura ridícula, Sigaud, da Lufa-lufa. - Juliet se fez de ofendida com a lista de Rebeca. Na verdade... Acho que dessa vez ela ficou ofendida mesmo.

— Como ousa? Eu nem sequer gosto de respirar o mesmo ar daquela troll em pele de veela! - Tenho certeza que Juliet teria cuspido no chão, se não fosse uma dama tão bem nascida. – Mas confesso que às vezes tenho que descer até a cozinha para trocar uma ou duas palavras com ela...

— E por que faz... Como ninguém sa... Como? - Perguntei confuso, porque, não fazia sentido algum uma pessoa saber tanto e não ser considerada a maior fofoqueira de Hogwarts, ou a melhor jornalista, ou a dona das nossas almas...

— Estou treinando, meu caro. - Ela respondeu sem muita firula ou arrogância.  – Algumas profissões precisam de descrição, observação e capacidade de se infiltrar e dar a suas marionetes apenas as informações que elas precisam para viver.

— Tipo ser cuidadora de dragões. - Rebeca disse, pouco interessada, já cutucando suas unhas compridas. Juliet sorriu para isso.

— Sim! Ou quem sabe professora primária? - Ela falou tão docemente que eu até acreditei que ela gostaria de lidar com bruxinhos catarrentos, cheios de magia involuntária. – Mas de qualquer sorte, ainda tenho tempo de decidir e... Você está em um bom dia, Cesc, porque Shawna está chegando na nossa Sala comunal... Agora.

A locutora entrou no ambiente verde e prata, ainda terminando de contar uma história divertida para seu grupinho de amigos. Juliet passou por ela discretamente - ninguém do grupo a notou sair, mesmo ela não sendo alguém pouco atraente - então eu entendi que ela apenas não queria que Shawna soubesse quem havia me lembrado do meu onióculos especial.

Ela era boa em ficar invisível, igual a Scorp.

— Shawna, que bom que te encontrei! - Falei simpático e ela retribuiu com um sorriso contagiante. – Acho que você ainda está com meus onióculos, não está? Pode me devolvê-lo? Estou realmente precisando...

Ela fez uma careta, mas depois disfarçou com um sorriso, apalpando as vestes em busca do meu presente dado por Enrique numa época em que tudo que ele queria era me agradecer por ser esse ser humano tão incrível que eu sou. A garota mais velha fez uma cara contrita quando não achou.

— Droga, acho que deixei no meu quarto... Posso te entregar depois? - Ela me perguntou chateada e eu dei o meu melhor sorriso, que ela retribuiu. 

— Ah não, não se preocupe! Eu espero você ir lá buscar. - Ela deixou o sorriso morrer um pouco, mas fez um aceno de concordância. Achou que eu fosse deixar você me enrolar?  – Vou ver se Enrique consegue uma versão final do onióculos pra você. Esse tem um valor sentimental pra mim, por isso quero de volta.

— Sério que você vai me conseguir um novo?  - Ela me olhou esperançosa e eu sorri para isso. Pode ser uma cobrinha como todas as outras, mas eu adoro Shawna McLaine, vocês sabem!

— Eu não garanto nada, mas eu vou tentar. - Ela sorriu, a alegria chegando em seus olhos verdes escuros. Subiu as escadas com muito mais energia. 

— Você tem o coração tão mole... - Rebeca me disse, levantando o olhar das unhas.

— E você tem um cora... Bem, deixa quieto. - Ela sorriu para o meu elogio, então eu mudei de assunto. – Devemos nos preocupar com sua amiga? Me sinto meio desnudo sabendo que ela sabe tanto sobre nós...

— Não se sinta, Juliet raramente usa o que sabe contra as pessoas, é basicamente o que ela disse, ela está treinando suas habilidades. - Rebeca respondeu, sem dar muita importância ao assunto.

— Ok então. Só espero que ela me perdoe por ter pensado que ela era apenas uma garota dramática e folgada, com problemas de pontuação... - Eu disse, porque sabia como sonserinas - com um quê de corvinal - ficavam ofendidas facilmente quando as acusavam de serem ou fazerem algo que não eram.

— Eu acho que ela vai perdoar sim. - Rebeca disse sem expressão. – Agora trate de pegar seu presente do seu Voldemort na mão de Shawna, porque eu não tenho o dia todo e se eu me estressar, não te ajudo a escrever esse artigo pulguento de jeito nenhum!

Ah bem, tem isso.

Já havia esquecido o motivo de ter vindo aqui na Sonserina dar um oi a Rebeca: Enrique está de castigo, o que significa dizer que eu o estou evitando até ele aprender a lição. 

Teoricamente ele deveria ter aprendido a lição rápido, mas isso não aconteceu, porque ele acha que não tem nada demais me incluir em baixarias sem pedir a minha permissão, como se ele fosse meu dono ou algo assim.

E segundo, ainda teoricamente, a pessoa Enrique deveria entender que quando a pessoa Cesc lhe coloca de castigo, não é igual aos pais dele, que acabam com a punição com o primeiro “Ah, pai! Ainda tô de castigo? Eu não aguento mais!”.

Meus castigos são educadores de verdade, pergunte a Tony ou a Scorp.

— Você vai buscar o maldito onióculos ou vai ficar aí concordando com qualquer coisa que sua mente doentia tenha bolado aí dentro? - Rebeca perguntou e eu respondi um pouco constrangido de ter esquecido dela no meio da minha reflexão. 

— Vamos escrever o artigo pulguento, monstra do meu coração. Daqui a pouco Shawna traz meu precioso...

***

O artigo pulguento foi um sucesso!

Não precisei fazer muito alarde para entender que nem tudo foi sonho, até mais ou menos a parte em que Enrique e Fred trocaram figurinhas por terem pais irresponsáveis recebendo processos por explodir a cara das pessoas havia acontecido de verdade, então minhas impressões sobre o circo foram bem acuradas.

E embora não tenha trazido nenhuma discussão muito relevante, Rebeca deu um jeito de usá-lo para falar das diversas profissões artísticas que eram sumariamente ignoradas no currículo de Hogwarts, citamos até a construção de um clube de teatro aqui e dissemos para os interessados procurarem Juliet.

 Ela nos amaldiçoou no corredor por isso, claro.

Fazer o quê? Podemos até ser mesquinhos e egoístas-  eu, Rebeca e todos os sonserinos - mas os iconoclastas são seres evoluídos, que não deixariam o clube de teatro sob os mandos e desmandos de alguém como Juliet Bertrand!

De qualquer forma, Rebeca teve o apoio da garota para escolher o seu lindo vestido escarlate e todos nós estávamos a definição de elegância na festa oferecida e patrocinada pela casa mais arrogante e empoada de Hogwarts: a Corvinal.

Claro que é a CORVINAL! A Sonserina não é arrogante, muito menos empoada, somos elegantes, finos e majestosos com uma naturalidade só nossa, a gente não precisa dar festas para que todos saibam quem somos.

— Adoro bailes de máscaras, as pessoas cometem cada erro de julgamento quando tem álcool e anonimato envolvidos... - Enrique disse animado, com sua máscara negra e eu o olhei com um sorriso que ele não viu. – Por que você veio com essa máscara de mímico francês mesmo? Não dá nem para cometer erros de julgamento com ela, se é que me entende...

— Pois aí tens sua resposta, meu caro, não quero cometer erros. E essa máscara é do grupo Anonymous, uma homenagem histórica a um traidor britânico que ousou questionar o poder do rei, foi devidamente enforcado e hoje é um símbolo para aquilo que meus avós gostam de chamar de “vândalos da internet”. - Enrique revirou os olhos de uma maneira tão afetada, que deu para ver através da máscara dele.

— Se vai ficar com essa palhaçada “histórica” a noite toda, eu com certeza não estou alcoolizado o suficiente pra te aguentar. - Ele disse emburrado, já pronto para me deixar sozinho e pra ir procurar alguma bebida para começar a encher a cara.

— Não beba muito ou não vai conseguir ver o fim do seu castigo às 2 horas da manhã... - Eu disse como quem não quer nada e ele voltou para o meu lado rapidinho. – Esteja no quarto às 2 horas da manhã, ou você vai perder um show e tanto, sério. 

— Qual deles? “Quarto” é muito vago. - Enrique perguntou curioso, porque ele tinha o com James, o do dirigível e o particular de soberano das empresas Dussel e eu tinha os dois do time e ainda o das Masmorras. Sorri, mesmo sabendo que a máscara já estava com um sorriso sarcástico estampado. 

— Não espera mesmo que eu facilite seu trabalho, não é?  - Ele sorriu cafajeste e depois fez um aceno de despedida, indo caçar algo para beber, beber pouco, no caso. Mal havia sumido de vista, quando seu lugar foi ocupado por uma garota linda, de verde.

— Ufa, finalmente ele foi embora, agora podemos relembrar o que estávamos fazendo nessa mesma festa, há um ano. - A máscara de bronze parecia uma tatuagem intricada desenhada na pele morena de Lia, uma pele que brilhava como se estivesse sob algum feitiço.

— Como me reconheceu? - Perguntei curioso,  porque minha máscara tinha sido muito efetiva em me manter no anonimato até agora. Louise até tinha acabado de passar por mim sem nem se dar conta! 

Ou talvez ela só estivesse me evitando mesmo.

— Além do fato de ver Dussel pendurado em você? Bem... Você tem esse jeito aristocrático de ser, quando não está por aí dando pinta. - Ela disse maligna e eu a olhei indignado, mesmo que ela não pudesse ver. – Estou brincando, você não dá pinta, muito menos é aristocrático, mas sua pulseirinha de couro é muito delatora.

— Tenho certeza que quase ninguém a nota. - Disse menos ofendido e ela respondeu menos malvada.

— Notam sim, mas isso não vem ao caso. Me concederia a honra de dançar essa valsa? - Ela me perguntou enigmática. E não, não era uma valsa de verdade que estava tocando, nem os corvinais eram assim tão presunçosos.

— Sabe que não vou trair Enrique com você, não sabe? - Ela riu divertida com minha sinceridade.  

— Não, você vai trair com James Potter e Enrique vai até gostar... - A olhei sem entender e ela aumentou ainda mais o mistério.  – Mas é o tipo de coisa que uma adivinha nem deveria estar dizendo tão cedo.

— Até parece que você adivinha mesmo alguma coisa, Lia! - Aceitei a mão dela e a conduzi para a pista de dança em uma clareira no meio da Floresta Proibida. – Você me viu saindo irritado do quarto dos dois e presumiu isso! 

Não sei como os corvinais conseguiram permissão das criaturas da floresta para montá-la aqui, mas confio neles o suficiente para saber que planejaram cada mínimo detalhe dessa festa, inclusive um plano de fuga elaborado.

Espero que a gente não precise dele.

— A sua descrença não muda a verdade, Cesc. Lembra quando eu disse que Tony passaria por dificuldades? - Ela disse orgulhosa e eu não disse nada, mas revirei os olhos dentro da máscara.  – Eu até toquei no joelho dele e horas depois... Puff, enfermaria pra ele.

— E aquele dragão da mudança que você viu para mim, hum? Até hoje estou esperando! - Emendei minha fala a girando de um jeito que fez seus cabelos escuros fazerem um movimento bonito antes de voltar a cair sobre suas costas.

— Olha onde estamos hoje e onde estávamos há um ano atrás... Você quer mudança maior do que essa? - Ela disse convencida e eu tive que ceder um ponto a ela. – Foi até bom Enrique ter me trancado naquele armário de vassouras naquela noite de comemoração... Eu teria odiado atrapalhar o enlace de vocês.

— Está dizendo que eu encontrei o amor da minha vida com 14 anos, senhora adivinha? - Perguntei cético, porque, embora eu gostasse de Enrique, não acho que tenha nascido pra ficar grudado em alguém pela vida inteira.

— Não disse nada disso, casar, felizes para sempre e blablabá... Mas é certo que amores não são medidos pelo número de dias vividos, então... - Mas que resposta mais biscoitinho da sorte chinês! – Ok, confesso que estou apenas falando besteira agora, não olhei o futuro de vocês nas vísceras...

— Vísceras? O que aconteceu com o inocente café? Você até que parecia muito boa naquilo. - Ela sorriu para o elogio, sabendo que eu sempre fui um grande cético em relação a cafeomancia.

— Uso o café quando a pessoa me deixa ver o futuro dela, mas para coisas mais abstratas e não consentidas, preciso usar a boa e velha Haruspcia mesmo. - Ela disse, sorrindo cheia de dentes, mas depois se consertou. – Não que Hogwarts ensine essas coisas... Consideram magia das trevas usar pobres animaizinhos para adivinhar o futuro. 

— E não é? - Ela deu de ombros. – Como você chegou a isso, de qualquer forma?

— Depois que limparam as Masmorras, chamaram alguns alunos para ajudar a resgatar os materiais e pertences dos nossos companheiros de casa. - Ela se inclinou para trás elegantemente na dança e quando voltou, sorriu. – Demos sorte de não estarmos mais lá por causa da seleção e eu ainda mais sorte ao ver os livros antigos resgatados que tinham no nosso Salão e ninguém tomou conhecimento!

— Falando em conhecimento das trevas para ver o futuro... Viu algo a respeito de Hogwarts? - Lia pareceu menos divertida com a mudança de assunto, dei um último giro, antes da música acabar.

— Até tentei e em uma das minhas leituras vi que a escola ainda será uma escola por muitos e muitos anos. - Sorri para isso, essa era uma boa leitura de vísceras no fim das contas! Lia completou, ainda em tom solene. – Mas não mais para a nossa geração. Infelizmente parece que o nosso tempo juntos aqui acabou.

A garota me deu um beijo no rosto, antes de sair de perto de mim, se misturando entre os corpos dançando ao som da nova música que havia iniciado. Torci para ela estar se referindo apenas a dança, porque a outra perspectiva era muito deprimente.

Obrigado por estragar minha festa, senhorita Thiollent, senhora das vísceras e café mal coado!

***

No fim das contas não foi uma noite de toda perdida, porque teve barraco - graças a Merlin entre pessoas que não eram do time ou do Ocaso, então pude curtir a cena em paz - e teve Enrique adivinhando o quarto certo às 2 horas da manhã: o meu quarto e dos L.P's, abandonado nas Masmorras.

Ele estava me olhando sonolento agora.

— Tenho uma coisa pra te dar... Mas eu estou com muita preguiça de ir pegar no meu bolso. - Ele resmungou, fechando os olhos. Sacodi ele, porque não dá pra dizer que tem presente e depois querer dormir em paz, né? 

— É um onióculos novo? - Perguntei animado, porque seria legal ter um presente para dar a Shawna.

— Você perdeu o que eu te dei? - Ele perguntou subitamente desperto e sério. Eu arregalei os olhos, constatando que definitivamente Enrique pira se alguém perder um presente seu.

— Não, mas meio que prometi a Shawna um e... - Ele continuou me encarando sério, então mudei o final da fala. – E eu não teria dado um presente seu pra ela de jeito nenhum, não sei nem porque eu perguntei isso. Vamos ao presente que obviamente não é um onióculos?

Perguntei batendo palmas animado sob o olhar avaliativo de Enrique. Ele deve ter chegado a conclusão que eu ainda merecia o presente, apesar dessa escorregada, porque tirou uma caixinha da capa jogada no chão do quarto vazio.

Era um pingente de prata, na forma de um elmo medieval. Fiz uma cara de “hum! Você está me dando o seu brasão de presente... Vai tatuar meu nome na sua bunda por acaso?”.

— Não sei o que pensar disso, dessa versão sofisticada de uma coleira com o seu nome. - Peguei o pingente frio na mão e constatei que a abertura do capacete abria e fechava, como os das armaduras reais. Era bonitinho...

— Não é para identificação, é para comunicação!  - Ele falou paciente e depois sorriu, com o meu olhar de dúvida.  – Tem um feitiço Proteu, então você pode falar comigo sempre que quiser.

— Pra isso temos as penas... - Eu disse ainda sem entender e o sorriso tornou-se um pouco mais... Nostálgico? 

— Sabe que não tenho muito tempo aqui, então talvez seja melhor entregar a pena do Ocaso para alguém que ainda seja parte de Hogwarts. - Ele disse calmo e eu continuei olhando para o elmo em minhas mãos. 

— Eu fiz as penas, posso fazer mais, mas a sua é sua. - Ele ia discordar, mas eu o cortei antes disso. – Não ouse devolver um presente meu, isso seria deselegante de sua parte.

Ele sorriu, parecendo que não iria contra-argumentar mais nada. Fiquei verdadeiramente feliz com essa decisão. Enrique não precisava estar em Hogwarts pra fazer parte dela, não é mesmo?

— Vou ficar com a pena então... - Ele falou, enquanto assistia eu colocar seu brasão junto ao crucifixo que foi do meu avô. Não era uma grande mudança de visual, depois de tudo. Manteria a corrente debaixo do uniforme, mas sempre por perto, como de costume.

Ele tocou no elmo em meu peito, satisfeito com a escolha, provavelmente, mas então fez uma feição concentrada. Antes que eu pudesse perguntar o que ele estava fazendo, seus dedos começaram a ficar prateados e então a palma da sua mão, antebraço, braço... 

Ele largou o pingente para encarar aquela, aquele... O olhei confuso e com um pouco de medo, confesso, porque seu braço esquerdo parecia pura prata até quase o ombro!

— O que...

— Só você, meus pais, o curandeiro que me trouxe ao mundo e Heitor sabem disso. - Ele falou, olhando para o braço metálico como se o estivesse vendo pela primeira vez também.  Eu não conseguia tirar os olhos daquilo. – Esse é meu maior segredo de todos: eu sou um mimetista.

Eu tinha um monte de coisas para perguntar, um monte de coisas para surtar com - até porque Tony estava certo! -, mas assim que ele falou essa última frase, deixei que ele traçasse a lateral do meu rosto com a sua mão de prata - fria como se fosse de metal até os ossos - antes de fazer a única pergunta que importava no momento.

— E você quer que eu conte o meu segredo? - Ele me deu um sorriso triste, que não alcançou seus olhos.

— Eu disse que faria o que fosse preciso, não disse? - Olhei novamente para seu braço, cuja a cor prata regredia preguiçosamente em direção a ponta dos dedos. Sumiu depois de alguns segundos de silêncio entre nós. – Eu confio em você e gostaria muito que você confiasse em mim.

— Eu... - Meus lábios ficaram secos e eu o olhei nos olhos sem saber o que fazer. Aquele foi um golpe baixo - ainda mais baixo que o anterior - Enrique sabia disso, principalmente porque, golpe ou não, ele havia sido sincero e não merecia nada menos do que isso. – Eu tenho um djinn.

Ele me olhou confuso e não disse nada, então eu continuei.

— Tenho um djinn, você sabe o que é? É uma criatura que pode ser nascida boa ou criada por uma maldição e para o meu azar, achei e aceitei ser mestre de uma que é a segunda opção. - Enrique não falava nada, já eu não conseguia parar de falar, como se tivesse algo dentro de mim que precisava contar tudo, ao mesmo tempo que eu não queria contar tudo.–  Ele me concedeu três desejos, mas ele é uma criatura traiçoeira, então eu ainda tenho dois. Por medo.

Fiz uma pausa, porque o restante da história, aquela em que eu contava qual foi o primeiro desejo, merecia uns segundos para eu pensar o jeito certo de dizer.

— Então aquele pico de energia africano foi mesmo causado por você? - Ele me perguntou inexpressivo, o que me deixou ainda mais nervoso.

— Fiz aquilo porque precisava salvar você! - Disse de uma vez, mas depois o encarei horrorizado, principalmente porque Enrique estava com uma expressão inelegível. – Por favor, diz alguma coisa!  

— Me salvar do quê? - A voz dele soou baixa e tão diferente da voz que eu estava acostumado a ouvir.

— Eu mandei você vir para as Masmorras naquela noite do Lago, eu mandei você e você não voltou, não foi resgatado pelos elfos, não aparatou... Então eu desejei não ter mandado você vir aqui deixar o baú, desejei ter escrito para você levar meu baú de equipamentos para o dirigível e aí... Você ficou vivo.

Ele não disse nada por uma eternidade, provavelmente processando o fato de que havia morrido e agora, por conta de um capricho de um adolescente, tinha tido uma segunda chance de viver. Desejei poder engolir todas as minhas palavras e inventar alguma mentira plausível no lugar. 

Desejas isso a sério, mestre?

— VÁ EMBORA, EU NÃO TE CHAMEI AQUI! - Fechei os olhos e senti as mãos de Enrique segurar meu rosto, tentei corrigir a confusão toda, meu Merlin, mas que grandessíssima merda eu estava fazendo! – Não estava falando com você, estava falando com ele...

Minha voz soou fraca, do mesmo jeito que havia soado quando fui resgatado diretamente do Lago Negro junto com Aidan, com a simples diferença que eu não havia engolido água gelada alguma.

— Calma, garotinho, eu entendi... - Enrique me puxou para um abraço e eu achei que fosse me afogar no alívio de ouvi-lo me chamando de garotinho outra vez, em um tom preocupado que era um milhão de vezes melhor do que o inexpressivo anterior. – Parece que você se meteu em uma merda e tanto, hein? Não é a toa que está falando enquanto dorme... Me admira não ter saído pelado por toda a escola ainda!

Eu ri e o beijei, porque só Enrique para ignorar o fato de que seu namorado o havia trazido de volta da morte usando uma criatura das trevas!

— Não enlouqueci apenas porque não estou sozinho nessa. John sabe, assim como Scorp e... - Parei, porque o último nome tinha que ser dito com mais calma. Enrique me olhou curioso. – Lembra que naquela noite eu estava com a garganta ferrada? Pois então, eu precisava chamar o djinn de alguma forma e ele estava ignorando meu chamado mental, que hoje deu para ver que ele ouve sim, então eu precisei pedir ajuda para a única pessoa que estava me entendendo.

Parei de falar novamente e dessa vez soube que não precisaria dizer mais nada, porque ele estava na Enfermaria comendo meus bombons enquanto James Potter demonstrava que era muito bom com leitura labial.

— Ele está em todas, hein? - Enrique disse sem humor e eu falei sério pra ele.

— Não teria contado a ele se não fosse caso de vida ou morte! - Ele parecia entender isso, então eu sorri com mais calma, mesmo que ele ainda estivesse sério. 

— Precisa se livrar dele, Cesc. - Enrique falou sério e meu coração gelou com o tom.

— Não posso me livrar de Potter, ele tem tanto direito de estar aqui quanto nós! Apesar de ser mesmo uma praga irritante... - Enrique revirou os olhos para o meu tom veemente e depois riu.

— Me referia ao djinn! - Ah, tá! Teria batido em minha testa, mas eu não sou assim tão teatral. – Precisa se livrar dessa criatura antes que você faça alguma alteração muito grande no futuro e acabe com tudo!

— Eu já fiz uma alteração séria e agora que eu estou parando para pensar... Se o djinn me ouviu agora, quer dizer que ele me ouve sempre ou passou a ouvir, sei lá... Acho que ele está ficando mais forte! - Constatei meio que desesperado e muito confuso, porque isso não tinha como acabar bem pra mim!

— Então vamos te livrar dele, simples assim. - Enrique falou como se realmente pudesse consertar as coisas com um estalar de dedos, coisa que ele não pode, porque ele nem sequer sabe fazer isso.

— Não dá, ele está preso a mim e eu a ele até que os três desejos sejam feitos. - Ele me olhou acusador, como se dissesse “mas que merda fodida você foi se meter, hein?”. – Já sei, devia ter lido as letrinhas miúdas...

— Bem, agora já era! Vamos pensar em alguns pedidos inofensivos pra você fazer então! - Ele me disse decidido e eu me vi obrigado a contar outra verdade irritante.

— Quanto a isso... Prometi aos caras que não pediria nada sem falar com eles antes. - Sorri amarelo e Enrique me encarou com um olhar de desdém. 

— Isso foi ideia do Potter, não foi? - Dei de ombros, porque quem mais ia querer se envolver em bosta de trasgo até o pescoço? – Vamos marcar uma reunião com todos então. 

— Pode ser na quarta-feira? Porque eu tenho que terminar um relatório de Herbologia e executar a vingança contra Tracy... - Enrique me olhou divertido. – Não me olhe assim, eu sou um cara ocupado.

— Você é o cara mais complicado que eu já conheci, isso sim! - Ele disse sério, mas depois sorriu. – Vale até a pena voltar da morte pra ficar com você...

Merlin, como é babaca!

— Vale a pena complicar um pouco mais minha vida só pra ficar com você também. - Ele riu, mas tenho certeza que ele soube que, brincadeiras a parte, era tudo verdade.

Galhos se ramificaram onde antes havia dedos, sua pele adquiriu um tom bronze, então um marrom áspero, como o da casca de uma soveira...

— Fábregas. - Fui puxado para fora daquela sensação agoniante de ser transformado em árvore, para cumprimentar quem quer que fos...

Era Dussel.

Capítulo 41. Esclarecimentos ainda escuros.

 


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Notas finais do capítulo

Ok, chegamos aqui em baixo! Seus lindos e lindas, muito obrigada por todos os comentários, queria poder responder todos na hora, mas é que ou bem eu respondo ou bem eu escrevo e eu tô priorizando garantir capítulos fresquinhos, mas juro que um dia eu volto a ser aquela autora que responde tudo bonitinho!

Muito obrigado por tudo e para quem é fantasma, tô nem em condição de pedir, pq mal tô dando conta dos fixos, mas vou adorar ver o que vocês estão achando da história: sugestões, críticas, pedidos... Tudo é muito bem vindo!

Bjuxxx

P.s.: Coloquei essas citação só para vocês verem que leva 55 capítulos, mas minhas referências fazem sentido, kkkkkk, nessa época Enrique já era mimetista e era apenas um secundário! Eu tenho problemas com subplots.



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