Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 92
Capítulo 92. Natais - parte II


Notas iniciais do capítulo

Natal da família Hataya e o peru carbonizado.



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Natais -parte II 

— Ok, meninos, está tudo pronto, só falta o peru terminar de assar, então deixem a casa limpa e desliguem o forno quando o timer apitar, ok? - Judith Hataya pediu confirmação a seus dois filhos, mas só obteve um silêncio de desatenção de volta. Ela estalou os dedos fazendo Aidan e Akira a encararem confusos. – Peru no forno, casa sem bagunça, ok? 

Akira fez um aceno malcriado e voltou a fotografar os bonecos de ação que havia acumulado em todos os seus anos de negócio na vizinhança. Anunciaria as peças na internet e jogaria tudo no sótão até que seus novos donos aparecessem com lances devidamente pagos pelo Paypal.  

Não ligaria se fossem os chorões donos anteriores, contanto que eles tivessem o dinheiro... 

Aidan tirou os fones de ouvido tocando Take That, a banda retrô da juventude de seus pais, trilha sonora atual do seu mais novo exemplar da saga de Calíope, Águas Sombrias, que era apenas a melhor revista em quadrinhos do mundo bruxo na atualidade! 

— Peru e bagunça, entendido, mãe. Divirta-se. - Aidan sorriu simpático e Judith apenas revirou os olhos, não tinha sido isso que ela havia dito e certamente não iria se divertir muito indo pegar os sogros no aeroporto na cidade vizinha. 

Teria gostado de usar um método bruxo agora. 

Assim que a porta foi trancada, Akira olhou para ela misteriosamente, empilhou as caixas de suas figuras de ação em um canto, guardou a câmera nova de seu pai em seu case e por fim falou com o irmão mais velho. 

— Eles já foram, agora podemos jogar em paz. - Aidan, que havia afastado o fone de novo ao ver a movimentação do caçula, fez apenas uma cara de desentendimento. 

— Jogar o quê? Eu estou ocupado agora, vai brincar sozi... 

— Me refiro a jogar com os óculos de realidade virtual que vamos ganhar de Natal. - Akira disse com simplicidade e revirou os olhos quando viu a cara de confusão do irmão.  – Eles estão a literalmente quatro passos de distância, bem ali! 

— Sim, embrulhados e prontos para serem abertos amanhã, na manhã do dia 25, como sempre! -Akira o olhou com irritação, mas Aidan ainda não tinha acabado. – Pra quê arriscar ficar de castigo por uma coisa que vai ser nossa literalmente amanhã? 

— Porque é tudo muito simples, é só abrir a embalagem, usar os óculos, pôr de volta e fingir que nada aconteceu. -Aidan ia retrucar, mas Akira falou mais rápido.  – Estou fazendo isso a dois dias. 

— Claro que está... - O lufano estava começando a ver o padrão nas atitudes do irmão. A loucura de Akira havia piorado desde que começou a frequentar a Sonserina. Não que ele já não fosse terrível antes... 

— Não seja chato, tem um jogo em que você está preso em uma jaula daquelas de tubarão e... Eu não vou dizer nada, pra não dar spoiler, mas você vai adorar!  -Ele disse animado e Aidan se perguntou “Por que não?”, o menino já fazia isso há dois dias, então... 

— Tá, que seja...  

— Isso! Você não vai se arrepender! Só precisamos pegar mais fita adesiva e o secador da mamãe!  - O menor levantou determinado, obviamente já tinha prática naquilo. Aidan até chegou a se contaminar um pouco com a empolgação, mas depois se lembrou de um detalhe.  

— E o peru? -Akira fez cara de desentendimento. – E o peru que está assando? Como vamos ouvir o timer com os óculos e fones e tudo mais? 

— E o pe... E o peru? É sério que você verbalizou mesmo essa pergunta idiota? -Akira fez uma dancinha de raiva com a idiotice do irmão, o que pareceu meio ofensivo para Aidan. – Vem comigo!  

Os dois foram para cozinha, onde tinha uma sorte de pratos prontos e cheirosos, só esperando o restante da família para a tradicional ceia nipo-britânica, já que sua mãe levava a sério o fato de que tinha filhos nissei. 

Akira pegou o timer e examinou os minutos que ainda faltavam no reloginho. 

— Ok, falta uma hora e meia assando a 160° ou seja, se colocarmos a temperatura a... -Akira girou o botão do forno até o máximo que pôde com uma careta concentrada. – 250°, isso significa dizer que a gente reduz o tempo para menos de uma hora, que é exatamente o tempo que vamos jogar! 

— Akira, eu não acho que seja... 

— Cara, isso é matemática pura! Coloca seu lado japonês pra funcionar, os números não mentem! -O garoto de onze anos deu um tapa forte na barriga do irmão mais velho com as costas da mão e seguiu para a sala, confiante. 

Aidan deu de ombros, porque... Se fizesse a diferença entre as temperaturas, encontraria que mudar a temperatura para 250° era como se eles tivessem acrescentando uma parte de temperatura a duas partes pré-existentes, logo era só dividir o tempo por três também e tirar uma parte do tempo! 

Akira estava certo, não tinha como dar errado! 

§§

O garoto mais novo estava certo nisso também, porque a simulação de estar preso em uma jaula de metal, como se fosse um pesquisador marinho, só para depois ser atacado por todos os lados por um tubarão feroz... Nossa! E isso porque era só as simulações para você se acostumar com os óculos, imagina os jogos! 

Claro que eles não tinham arriscado abrir os jogos, porque não tinha como colocar as capas de volta naquele plástico fino da loja, era praticamente impossível e... 

— Akira... Esse jogo vem com simulação de aroma também?  -Estavam jogando uma versão sofisticada de “o chão está com lava”, então a fumaça até que era um excelente complemento para a cena. 

— Não... 

— Então o que é... 

— NÃO!!!! -Akira tirou o fone, o óculos, se embolou um pouco com os fios do console antes de chegar na cozinha já tomada por uma fumaça espessa. Aidan entrou no ambiente logo depois. – Corre, tapa os sensores de incêndio, corre! 

O lufano não se fez de rogado, pegou a escadinha que sua mãe baixinha usava para alcançar os armários mais altos e começou a cobrir o detector de fumaça do teto, como pôde, usando uma das toalhas bonitinhas que cobria o kurisumasu keeki que seu pai tinha feito para agradar aos pais. 

— Pega a fita adesiva! -Akira correu para a sala para buscar a fita, logo após ter desligado o forno. Trouxe em uma velocidade recorde. Aidan prendeu o pano no alarme, para que não disparasse e acionasse os bombeiros. 

Merda de alarme! 

— Akira, pega o secador e abre as portas francesas, vamos tentar tirar essa fumaça, porque essa gambiarra não vai funcionar por muito tempo! -O mais novo acatou a ordem depressa, como nunca havia feito antes. 

Seu pai não tinha sido muito a favor de ter portas francesas na copa, mas sua mãe insistiu que seria bom poder tomar café da manhã no lado de fora durante o verão, então seria uma boa ter portas que dessem acesso a varanda. 

Nunca tinha amado tanto sua mãe quanto hoje. 

Aidan colocou as luvas com estampa de borboletas nas mãos, respirou fundo várias vezes, sob o olhar assustado de Akira, fez um sinal para que ele se afastasse, abriu o forno o mais rápido que pôde, pegou a travessa com os quase oito quilos de peru carbonizado nas mãos e correu para a varanda como se não houvesse amanhã.  

Só quando colocou aquela coisa pesada e fedida na mesa coberta por neve - que fez um chiado parecido com o que sua mãe faria logo mais - Aidan viu a extensão da merda que os dois fizeram. 

— Meu Deus... -Maneou a cabeça, vendo o peru da cor de carvão em toda a sua glória.  Akira se colocou ao seu lado, com a mão na boca, se controlando para não rir de nervoso. – O que nós fizemos? 

— Tenho certeza que vamos rir muito disso logo mais. -O menor falou encarando a fumaça preta que saia da pobre ave que obviamente não era nenhuma fênix. – Não digo hoje, nem amanhã... Mas vamos rir disso algum dia. 

Aidan o encarou irritado, queria matar o irmão - ninguém saberia, os fundos dá casa tinham cercas altas, ninguém saberia... - mas quem o ajudaria a sair daquela enrascada?  

— O que fazemos agora? -Pergunto de braços cruzados para o seu irmãozinho cheio de planos mirabolantes. O menor o encarou sério.  

— Agora usamos magia. 

— Não podemos fazer isso, Akira! Trazer os bombeiros aqui seria ruim, mas trazer os aurores... Nada de magia! -Disse enfático, porque seu irmão adorava pegar os piores atalhos. 

— Não vamos trazer os aurores, tudo que precisamos fazer é usar a varinha do papai e tudo vai ficar bem! -Aidan arregalou os olhos, essa era a pior ideia desde “vamos aumentar a temperatura do forno “. – O que é que tem? Ele não usa mesmo... 

— Mais um motivo para não usarmos, o pai não vai gostar de saber que a gente fez magia, quando ele claramente prefere que a gente resolva as coisas a maneira trouxa! -Aidan falou o óbvio, mas o irmão descartou a fala com um gesto de mãos.  

— Papai faz magia o tempo todo no trabalho, ele só evita fazer aqui em casa, porque a madrasta e o pai da mamãe são bisbilhoteiros e não podem saber do mundo bruxo. -Ambos olharam para o cercado que os separavam dos avós, que graças a Merlin foram visitar amigos na França. – Podemos ficar aqui discutindo isso ou podemos agir... Vamos agir, decidi por você!  

Akira voltou para dentro e Aidan deu uma última olhada no peru antes de se conformar e entrar em casa também. O menor estava certo, o pai deles trabalhava como curandeiro consultor em hospitais trouxas,  tratando dos casos onde havia suspeita de magia envolvida, ou seja, devia fazer mágica até não poder mais! 

Na maioria das vezes tratava-se apenas de suspeita mesmo, alguma doença trouxa bastante bizarra, mas havia casos onde Kei Hataya tinha que usar magia para disfarçar as transferências médicas de trouxas para hospitais bruxos, acabar com os burburinhos na cidade e até mesmo deter a criatura ou bruxo infrator que causara a bagunça. 

Foi assim que conheceu sua esposa, cuja mãe falecera em um caso raro de ataque de graphorn fora das montanhas, o que fez com que a botânica procurasse por explicações. Kei foi forçado a intervir, já que ela estava começando a conseguir atenção para seu caso e aquela era uma baixinha insistente... 

Que nem o filho caçula dela era agora. 

Aidan observou Akira colocando a maleta de trabalho do pai no chão da sala de estar, abrindo com a destreza de quem também tinha o mal hábito de mexer em coisas que não eram suas, do mesmo jeito que mexia nas que seriam suas. 

— Vejamos... Livro de encantamento disfaçador volume 3, relógio esquisito sem ponteiros e cheios de símbolos, kit básico de poções de curas... Ah! Achei a varinha! 

— Me explica de novo como os aurores não vão pegar a gente fazendo magia. -Aidan pediu, enquanto massageava as têmporas, nervoso. 

— Há duas formas de se detectar magia de menores de idade: através do feitiço de identificação na varinha da criança ou por uma emissão de magia sem registro. -Akira enumerou nos dedos, didaticamente. – Usando a varinha do nosso pai, a gente não faz nenhuma coisa, nem outra! Os bandidos fazem isso toda hora, a primeira coisa que se deve fazer ao ter a varinha roubada é prestar queixa por isso mesmo, mas muitos não fazem por vergonha, então Max me disse que o pai... 

— Ok, depois você me conta direitinho como sabe tanto sobre o que os criminosos fazem, mas agora... Que feitiço usaremos? -Aidan perguntou um pouco mais otimista, não tinha vergonha nenhuma de deixar o irmão caçula assumir a liderança da missão.  

— Eu não conheço muito de feitiços não, Dan... Você não pode conjurar um peru novo? -Aidan arregalou os olhos. Conjurar um peru? Não fazia ideia se aquilo era possível, caso fosse, porque os bruxos faziam e compravam comida? 

— Pense em algo mais simples, por favor, eu não sou um Merlin da vida! -Akira brincou um pouco com a varinha, tentando pensar em um feitiço que o lerdo do irmão já soubesse executar.  

— Se você fosse um sonserino, não teríamos esse tipo de problema! Os caras do quarto ano da minha casa sabem um monte de coisas... -Akira resmungou e Aidan o olhou realmente ofendido. 

— Pois eu conheço muito bem os caras do quarto ano da sua casa e sei que eles estariam piores do que a gente, porque são... Espera! Tive uma ideia! -O mais velho interrompeu o discurso e correu direto para o telefone. – Sei de um cara do quarto ano que pode nos ajudar! 

Pegou o celular para ligar para o número que sabia que ia dar briga quando a conta de telefone chegasse, mas aquilo era uma emergência! Digitou todos os códigos de telefonia internacional, roeu o canto das unhas de nervoso e quando finalmente atenderam na Espanha, não foi a voz com sotaque que Aidan esperava. 

— Ola, que tal? 

— Hum... Ola? Err... Desculpe, eu não falo espanhol... Cesc, está? -Além da cacofonia do outro lado da linha, ainda tinha esse pequeno empecilho da língua. Aidan sabia que todos na casa de Cesc falavam inglês bem, menos a mãe dele, que falava mais ou menos. 

— Ah sim, claro! Cesc não está podendo fa... -A voz de seu amigo sonserino soou alta e dramática por cima da voz que Aidan presumiu que era do senhor Fábregas, ele gritava raivosamente em espanhol e havia  barulho na linha. – Ele te liga mais tarde, está bem? 

— Mas é que é impor... Alô? Desligou na minha cara! -Aidan falou para um Akira que olhava confuso para a expressão indignada do irmão. – Que porcaria! 

— Você ligou mesmo para Cesc Fábregas? Estamos tão desesperados assim? -Akira perguntou entre o irritado e o assustado. – Você nem o conhece direito! 

— Pensei que conhecia e pudesse contar... -O lufano resmungou para si mesmo. – Pega lá o livro do papai, talvez haja algum feitiço que sirva pra gente. 

Os dois voltaram para a maleta de trabalho de Kei Hataya. Aidan ainda remoendo a sacanagem de Cesc, cuja ajuda realmente viria a calhar nesse momento. Akira pegou o livreto e passeou pelo índice logo na terceira página.  

— Hum... Que tal um Conjunctivitis? -Perguntou para o irmão abaixado ao seu lado. 

— Como isso ajudaria a fazer um peru de Natal novo? -Aidan perguntou exasperado. 

— Faria a nossa família ficar com os olhos irritados sem poder ver aquela desgraça lá fora. -Aidan encarou o irmão seriamente. – Não? Sério? Ok, vamos ver outro então... 

Depois de desistir do índice, já que não conhecia a maioria dos feitiços só pelo nome, Akira passou a folhear o livreto com uma rapidez assustadora, Aidan se perguntou se ele estava realmente conseguindo ler algo... 

— E que tal esse Reparifarge aqui? -Akira parou em uma página quase no fim da publicação.  Aidan leu por cima do ombro. 

— Um feitiço que traz de volta objetos mal transfigurados? Eu não sei... Talvez sirva, vamos tentar! -Aidan pegou o livro e a varinha e marchou mais animado de volta a varanda. Ele era razoavelmente bom em Transfiguração, podia dar certo. 

— Você tem certeza que pode fazer isso? -Akira perguntou cético e Aidan apenas descartou aquele mal humor com a mão.  

— Posso, claro que posso. Vejamos... -Pronunciou o feitiço com todas as sílabas bem separadas e o movimento de varinha correto e nada aconteceu. – Ok, deixa eu tentar de novo, essa varinha é estranha. 

Tentou novamente e dessa vez até conseguiu um jato arroxeado, mas o peru carbonizado manteve-se em toda sua glória negra. Aidan olhou desapontado para a varinha, depois para o feitiço no livro. 

— Talvez não funcione porque não foi caso de transfiguração e sim um acidente doméstico... -Akira supôs, mas viu o olhar concentrado do irmão.  – O quê?  

— Tem uma nota de rodapé aqui no livro: caso o feitiço não seja suficiente para reparar o dano, usar o sonuit combinado com o Spatium nível 3, de acordo com as instruções do Manual Gemini publicado pelo Instituto Magehall. 

— Primeiro caso de uma nota de rodapé que é mais complicada do que o resto da explicação... -Akira disse impaciente, mas Aidan ainda estava concentrado. 

— Gemini... Esse nome não me é estranho... -Fechou o livreto e voltou para dentro de casa, deixando Akira e o peru começando a receber os primeiros flocos de neve da noite de Natal. – Invenient Gemini! 

Aquele feitiço localizador fora a coisa mais útil que Aidan havia aprendido, porque sempre estava com algo perdido, mas nunca mais perdera seu tempo precioso buscando por tais objetos. O livro solicitado chegou como se convocado por um accio. 

— Bom trabalho, irmão.  -Akira falou impressionado, recebendo um sorrisinho convencido do garoto mais velho. 

— Acho que nosso pai comprou a versão traduzida disso, me lembro porque o vovô queria que ele tivesse comprado a versão em japonês, com o prefácio original de Ullman Malvalius. -Akira olhou desconfiado, não lembrava de nada disso. – Você era muito novo e não é como se você prestasse atenção no que as outras pessoas dizem... 

— Tá, que seja, vê logo se dá pra fazermos algo com o peru, porque estamos ficando sem tempo. -Aidan correu para o módulo 3 do livro, para a sessão espacial e leu as especificações dos feitiços do tipo espaço-tempo com cuidado. 

Até que entendeu as instruções mas ficou na dúvida por conta da complexidade de magia envolvida, não achava nem que a dupla John e Cesc ou até mesmo Fred II eram capazes de fazer aquelas coisas, quanto mais ele. 

— Talvez a gente deva esperar nosso pai voltar e... -Akira tomou o livro grosso da mão do irmão.  

— Deixa eu ver isso aqui! -Foi para o índice do manual pesado, o apoiando no antebraço encostado na parede. – Aqui tem algo sobre o tal de Sonuit. Deixa eu ver... RÁ! É o relógio com símbolos estranhos, olha a figura, aqui diz que ele facilita as coisas para bruxos que não fizeram o curso no Instituto Mage-qualquer coisa. 

— Nossa, que conveniente! -Aidan falou desconfiado, nunca que a sorte favorecia garotos desatentos que deixavam perus queimarem no Natal... 

— Está literalmente no capítulo um da coisa, Dan! -Akira empurrou o livro no peito do irmão, voltou ao escritório do pai e vasculhou a maleta até achar o relógio de novo. O lufano pensou que seria uma boa o menor parar de usar a palavra “literalmente” em vão. – Aqui, tenta! 

Aidan largou o livro na mesa do pai, colocou o relógio com uma mão só e depois o sacodiu de um lado a outro, não se sentindo nem um pouco mais mágico. O que era para ter acontecido? 

— E então?  

— Vamos até o peru ué! 

§§

Foram até o peru, Akira recitou as instruções, Aidan as executou com atenção e ambos viram o feitiço complexo se realizar de uma maneira impecável, graças ao relógio com símbolos esquisitos, dos quais dois brilharam na cor amarela. Quais as chances de seu pai deixar ele levar aquilo para Hogwarts?  

O peru foi perdendo o aspecto carbonizado pouco a pouco e assim que atingiu uma bela e suculenta aparência de coisa bem assada - dourado por fora e macio por dentro - Aidan parou o feitiço e levou a ave recuperada de volta ao forno. 

Até cheirosa ela estava! 

Guardaram tudo de volta no lugar, varinha, livros, relógio e até mesmo os óculos de realidade virtual e fones em seus embrulhos e o secador no banheiro do quarto dos pais. No momento em que os dois se jogaram cansados no sofá, a porta se abriu, mostrando que sim, havia sorte para moleques irresponsáveis, e que o crime às vezes compensava. 

Recepcionaram os avós animados, a mãe até olhou surpresa para casa ainda arrumada. Que bom que seus filhinhos estavam crescendo... A mesa foi montada com acenos de varinha do pai, a ceia posta e os presentes trazidos pelos avós devidamente arrumados ao redor da bela árvore de Natal com os outros. 

Aidan suspirou feliz, estava tudo tão certo que até dava medo! A mãe ofereceu a honra ao senhor Hataya sênior de cortar a ave - muito elogiada pelos adultos, Judith até tinha brincado que deixaria os meninos tomando conta da comida mais vezes -e quando a faca deslizou suave sobre a carne macia do peru... 

Seis homens envoltos em sobretudos negros ao estilo militar - com sua fileira dupla de botões de cobre -aparataram ao redor da festiva mesa de jantar dos Hataya. Baa-san soltou um gritinho nervoso e Judith temeu que a sogra tivesse uma apoplexia. 

— Kei Hataya se encontra? -O pai se levantou seriamente, mas o sonserino de 11 anos esperava que ele dissesse “vocês não sabem bater na porta não?”. 

— Sou eu, senhor. Posso saber o que está acontecendo? -Kei perguntou sério e seu pai observou atentamente a postura dos homens cujos rostos não podiam ser vistos claramente. Enquanto eles estivessem sem apresentar hostilidade, ele se manteria quieto. 

— Foi identificado o uso de refração temporal nível 3, realizado pela varinha de Hataya, Kei, cuja permissão vai até o nível 2. -Kei olhou sem entender para os homens. 

— Eu tenho autorização até o nível 4, a papelada das minhas duas especializações devem estar perdidas naquele monte de burocracia do Ministério... -Ele alfinetou os homens que saiam a campo sem nem checar as coisas antes. O sexteto continuou impassível.  – De toda sorte, eu não fiz feitiço algum, minha varinha está guardada no meu escritório.  

Akira continuou assistindo a toda a discussão com o olhar entre os homens de preto e o pai e a avó recebendo tapinhas animadores da sua mãe na mão enrugadinha. Para as duas trouxas casadas com bruxos aquilo era uma comoção e tanto! 

Aidan só mexia nervoso nos talheres, aquilo não tinha como acabar bem. 

— O senhor pode confirmar isso? Muitas vezes varinhas são roubadas e a vítima nem sequer se dá conta. -O tom do Inominável foi sem inflexão, mas Kei e o senhor Hataya ficaram ofendidos. Roubar uma varinha sem que ele percebesse? Com quem eles achavam que estavam lidando? 

— Vocês só podem estar brincando... -O japonês naturalizado britânico partiu em direção ao escritório pisando duro, sendo acompanhado por dois dos seis homens misteriosos. 

Akira sorriu para si mesmo, porque Max - seu melhor amigo - estava certo: nenhum bruxo gostava de admitir a possibilidade de ter sua varinha roubada debaixo do seu nariz! 

Os três homens voltaram um par de minutos depois, Kei Hataya com a varinha em mãos, mas um olhar confuso no rosto. 

— Minha varinha estava no lugar certo, mas... Meninos, vocês viram alguma coisa estranha por aqui? -Havia permitido que os homens avaliassem a sua varinha e ficou surpreso ao constatar que sim, o feitiço de refração temporal havia saído dela. 

Não seria um problema realmente a questão da execução do feitiço, porque precisaria apenas preencher um formulário simples com cópia das duas especializações e o comprovante de que ambas foram devidamente protocoladas no Ministério da Magia, mas o problema era que... 

 Ele não havia feito tal feitiço de refração temporal! 

— .Eu acho que ouvi alguma... 

— Okay, okay! Nós pegamos a varinha e fizemos um feiticinho bobo de volta no tempo! -Aidan olhou surpreso para o irmão, que havia interrompido sua mentira em um rompante de honestidade fora de lugar. – O que é que tem? O importante é que o peru está perfeito, olha aí!  

Todos o encararam surpreso, menos Aidan, que parecia bastante decepcionado com o caçula. Não se fazia mais sonserinos como antigamente... 

— Está muito claro pra mim que está faltando trabalho no setor de Mistérios... Não é como se vocês tivessem toda uma Hogwarts pra consertar, não é? -O garoto de onze anos completou sarcástico e Aidan sorriu pra si mesmo. É, ele ainda era bem sonserino sim, não tinha com o que se preocupar. 

— Devemos colocar a responsabilidade do uso indevido de magia e desse desacato a autoridade para o senhor ou devemos abrir uma ficha para as crianças? -O porta-voz do grupo de Inomináveis perguntou ao chefe da família no mesmo tom de voz inexpressivo e nada marcante que usara em toda a conversa.  

Sabia que era uma coisa do treinamento padrão deles, então isso não intimidava os Hataya o mínimo. 

Kei olhou para a cara sem-vergonha dos filhos, cuja a existência não seria afetada em nada por uma infraçãozinha no currículo. Akira não podia ficar calado por um minuto? Ele, por outro lado, estava planejando pedir um aumento no início do ano, então... 

— Pode abrir uma ficha no nome deles: Aidan Hataya e Akira Hataya. -O homem falou com uma nota de diversão na voz, que os filhos ficassem com o nome sujo no Ministério então! Antes que Aidan completasse 18 anos tudo já teria sido esquecido. Os aludidos olharam chocados para o pai. – O quê? Vocês sabem que merecem! E vão ter que explicar direitinho essa história de peru... 

— O senhor sabe que terá que fazer um boletim de ocorrência da apropriação indevida e recadastrar a sua varinha, não sabe? -O Inominável finalizou, emendando um aceno para que os outros bruxos do Departamento de Mistérios do Ministério  se retirassem da sala de jantar dos civis. – Receberão a intimação oficial da audiência em breve. 

Kei Hataya encarou os filhos, irritado. 

— Os dois estão de castigo pelo resto da vida! - O homem andou feito uma fúria de um lado para o outro, parou e finalizou o discurso apontando o dedo em riste para os filhos. – Sem presente de Natal pra vocês esse ano! 

Akira e Aidan se entreolharam arrasados. 

Maldito peru! 

 


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Notas finais do capítulo

Era para ter John e Sharam tb, mas eles vão ganhar um só para eles também.

Se quiserem saber um pouco mais sobre o instituto e a magia temporal citados nesse capítulo, deem uma olhada na página de RPG: http://reinodegaudium.weebly.com/magia-espaccedilo-temporal-on.html , créditos a eles.

Bjuxxx