Hogwarts: uma outra história escrita por LC_Pena


Capítulo 90
Capítulo 90. As coisas mudam pouco e o pouco é pra pior


Notas iniciais do capítulo

Eita, a exatos 10 capítulos do fim de um grande arco da fic e a 10 capítulos da chegada ao número 100, eis q trago mais uma coisinha crocante pra vocês.



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Capítulo 90. As coisas mudam pouco e o pouco é pra pior 

Ano novo, vida nova.  

Ou a mesma vidinha ordinária só que com novos requintes de crueldade à espreita. Acordei cedo, com uma névoa ainda do lado de fora, mas não é como se eu não estivesse acostumado com frio, a Escócia, antes de tudo, é puro gelo, névoa é fichinha perto disso. 

Pela quarta vez seguida fazia o caminho de volta a Hogwarts para o semestre de primavera e pelo quarto ano seguido ainda parecia cedo demais. Tá, eu adoro Hogwarts, mas também tenho saudades de casa, então sim, cedo demais. 

E não, não estou pensando isso só porque virei a noite jogando videogame, quem falou isso? 

Bocejei mais uma vez ao entrar no Expresso de Hogwarts em busca de meus amiguinhos, mas tive que acordar bem rápido ao ser puxado para dentro de um daqueles banheiros apertados de trem, sem nem ter a chance de gritar por socorro. 

Dominique Weasley me encarava azeda com seu cabelo completamente loiro e brilhante agora. 

— Oi, Nique! Como foi de... Err... A gente se viu muito recentemente para essa conversa fazer sentido, o que você quer? - Ela olhou mal-humorada, cruzou os braços e depois balbuciou alguma coisa que eu não ouvi. – Desculpe, o quê? 

— Eu disse... Desmmmfmmf. – Ela até que começou bem, mas depois abaixou a cabeça de novo na última palavra e falou para dentro da cortina loira que era seu cabelo. Meu Deus, ela está possuída! A garota me encarou e viu a minha cara de “Hã” e revirou os olhos. – Desculpe, ok? Ouviu agora? 

— Por que você está me pedindo desculpas? Não vai precisar se desculpar, se não me matar... - Falei com um sorriso falso no rosto, tateando a porta a procura do maldito trinco. Ninguém merece morrer nas mãos de uma ex do seu... Voldemort, vai lá, não tenho do que chamar Enrique ainda. 

— Deixa de ser idiota, Fábregas, eu não vou te matar. - Arrisquei parar de tentar me livrar daquilo - me refiro a essa situação absurda - e ela se encostou na pia do cubículo, de braços cruzados. – Estou me desculpando pela cena na festa... Nada como uma humilhação pública para pôr as coisas em perspectiva, não é? 

— Sério que colocou? - Olhei em dúvida e ela atirou as mãos para cima, dramaticamente. 

— Talvez a minha mãe tenha usado aquela geringonça trouxa para falar com sua mãe e eu tenha tido que encarar um longo discurso de como eu devia ser uma pessoa melhor e blablabá... - Ela falou tudo isso com uma cara amarrada de quem tinha sido forçada a fazer algo que não queria. 

— Minha mãe falou com a sua? Desde quando elas são tão amigas? - Dominique deu de ombros e fungou, ainda chateada pelo seu pedido de desculpas forçado. 

— Sei lá, desde o Ano Novo do ano passa... Retrasado... Não, ano passado mesmo, acho. - Ela disse um pouco confusa. – Minha mãe disse que garotas francesas e espanholas se dão bem, então... 

Dominique deu de ombros de novo e eu fiquei encarando sua cara inocente tempo o suficiente para chegar a uma conclusão horrível: Ah, mãe, você ainda não superou sua queda por garotas francesas? Resolvi encerrar o assunto antes de ter que empurrar Dominique para fora do banheiro para poder vomitar. 

Mães não tem permissão para ter uma queda por outras mães! E nossos pais? Ficam como nessa brincadeira?  

Tá, melhor nem saber.  

— Eu acho que todos temos que pedir desculpas por aquela cena da festa, porque há limites para o tanto de vergonha alheia que podemos infringir aos outros. - Ela riu, meio constrangida pela lembrança e eu sorri simpático. – Desculpas aceitas, mas sério, se fosse em outras circunstâncias, ainda assim eu torceria para você esquecer Enrique, porque ele é literalmente um desperdício de nosso precioso tempo. 

— Então que dizer que depois daquilo tudo vocês não ficaram juntos? - Ela perguntou em dúvida, depois colocou a mão no rosto, consternada. – Ah, não! Seus pais te proibiram ou algo do tipo? 

— Nah, não se preocupe, meus pais foram super de boa, tão de boa que vão ser convidados para desfilar na próxima Parada Gay. - Ela riu e eu continuei. – E sim, nós meio que nos acertamos, mas eu ainda estou bem ciente de que Enrique é sim um desperdício de tempo. 

— Mas bem que vale a pena gastar umas horinhas ali, né? - Ela disse meio atrevida e eu levantei uma sobrancelha para isso. 

— Você quer dizer uns minutinhos... Não vamos encher a bolinha do traste. - Ela riu e eu continuei, dessa vez falando sério. – Mas agora voltando ao que importa, não estava mentindo sobre as coisas que falei naquele corredor pra você: algumas pessoas são melhores na nossa imaginação do que na realidade, então não perca tanto tempo com caras idiotas. 

— Certo, essa parte eu entendi, estava pensando em investir em caras que realmente parecem mais maduros... Que tal Hugh Westhampton? - Eu me controlei para não revirar os olhos, porque algumas pessoas apenas são melhores na nossa imaginação do que na realidade, não é, Cesc? – O quê? Você sabe alguma coisa sobre ele? 

— Só sei que ele não tem lá muito senso de humor, mas é inteligente, sei lá, ele pode ser um bom começo. - Dominique sorriu animada e então eu senti que meu trabalho por aqui havia acabado. Abri a porta do banheiro, dessa vez sem medo de ser apunhalado nas costas. – Agora, se você quiser mesmo mais informações, sugiro que pergunte a Ava Stozen, porque eles meio que tiveram... 

— Aff, o que é que essa garota tem que todos os caras querem ela? - Rose perguntou saída de lugar nenhum, tirando o seu cachecol grosseiro, provavelmente presente de alguma tia bem-intencionada com uma má coordenação motora.  

— Ela tem disponibilidade. - Eu respondi sincero, porque não é como se uma garota precisasse fazer muito para ter todos os caras de Hogwarts na palma da mão. Lembrei tardiamente que Tony meio que traiu Weasley com a dita cuja. – E um bom coração! Definitivamente um bom coração... 

— E autoestima baixa, se aceita até meu namorado besta... - Droga, ela lembrou daquele episódio do encontro duplo com Connor, que culminou no joelho quebrado de Tony! Disfarcei minha fuga ante o olhar meio irritado de Rose. – Mas por que estamos falando dessa garota mesmo? 

— Hã... É que Cesc aqui estava me dizendo como seria bom eu investir meu tempo com garotas legais. - A loira falou isso, piscando pra mim e eu realmente ganhei meu dia, porque, abençoada seja Morgana Le Fay, Dominique Weasley entendeu a mensagem da mãe! - Falando nisso, nunca tive a oportunidade de te dizer, Rose: seu namorado é um 10/10, arrasou, prima! 

Rose ficou meio constrangida com o cumprimento que era mais próprio para a mãe de Tony do que pra ela e talvez por isso tenha me olhado com essa cara de “ O que está acontecendo aqui?”. Sorri para as primas ruivas, uma delas agora com a loirisse bem retocada. 

— Veja que até o sotaque francês ela deixou para trás, Rose. Aqui, diante de você, há uma nova e melhorada mulher! -  Apresentei teatralmente a nova Dominique Weasley - que diferente dos Westhampton, tem senso de humor - e a dita cuja até fez uma pose performática. 

— Tchan rã!!! - Nós dois preenchemos o corredor com nossas expressões e poses dignas da Broadway. 

— Ai, vocês dois, deixa eu passar, porque eu não quero pegar o que quer que vocês tenham... - Ela falou divertida, passando entre mim e a prima. Assim que Rose partiu para o próximo vagão, virei curioso para Dominique. 

— Mas é serio, você vai parar de procurar por caras e vai se dedicar a sua amizade com suas primas? - Perguntei animado, porque essa é uma perspectiva bonitinha. 

— Err... Tá, talvez, que seja. Mas antes eu vou procurar Westhampton, porque minhas primas estão sempre por aí, já ele é meio que concorrido. - Dessa vez revirei os olhos com vontade e Dominique me olhou ofendida. – O quê? Ele está planejando outra festa secreta, quero garantir meu convite! 

Isso soou muito Rebeca para uma lufana, Merlin, o que foi que eu fiz? 

— Se você for a primeira-dama dele, me consiga uma entrada naquele camarote VIP. - Ela me olhou avaliativa e eu coloquei as mãos pra cima, em defesa. – Eu sei que não tem nada demais do outro lado daquela cordinha estúpida, mas eu gosto de coisas VIP’s. 

— Vou pensar no seu caso. 

— Pense com carinho. - Falei para as costas da lufana loira de farmácia, mas sem sotaque francês falso ao menos. Ela saiu toda rebolativa por aí e eu cheguei à conclusão que uma virada de ano não é suficiente para mudar completamente as pessoas. 

Ainda bem. 

*** 

Ah, ok, fiquei feliz de voltar para minha segunda casa e ver que ainda tínhamos pudim de Natal flamejante, mesmo sabendo que não era tão bom quanto o da Lufa-lufa. Sério, tinha duas garotas literalmente levando travessas inteiras do doce para o dormitório por lá. 

Coloquei mais uma colherada de pudim na boca e mostrei a língua suja para Tracy Harmond, cujo olhar havia escorregado sem querer para a mesa da Sonserina. Diaba nojenta, ainda não te esqueci, você vai ter o que merece! 

Tony chamou minha atenção, roubando um pouco da minha sobremesa com sua colher babada e antes que eu pudesse colocá-lo em seu devido lugar, ele me mostrou uma folha de pergaminho amassada. 

Reconheci a letra feia de Segundo na mensagem. 

— Ah, mas é a primeira noite, ele não pode esperar? - Resmunguei chateado. Cara, Segundo é muito insuportável mesmo. 

— Não finja que está triste por isso ao invés de estar arrasado com saudades de Você sabe quem. - Tony falou com a voz mole, só para me provocar. Depois ele se consertou no banco, porque duas garotas do sexto ano nos olharam estranho. – Devíamos parar de chama-lo assim, antes que Winzegamot nos mande para Azkaban. 

— Não fui eu que comecei o apelido. - Encarei a cara sem vergonha de Tony, que apenas deu de ombros. 

— Vamos ver o que Segundo quer de uma vez. - Ele se levantou e antes que eu pudesse terminar meu pudim, o grande imbecil pegou meu prato e virou em sua bocarra de tubarão, jogando a porcelana sem modos na mesa. – Vumboga! 

Ainda falou de boca cheia, um 10 de 10, como bem disse Dominique Weasley. 

Me arrastei ao lado de Tony, porque lá vinha mais trabalho no Ocaso, só que no meio do caminho de um dos portais malucos de Fred, eu lembrei que tinha trocado de atribuições com Louise e fiquei feliz de novo, porque o trabalho dela era moleza. 

Tony me parou assim que chegamos em uma das entradas tortas da sede. 

— Você está com sua pena? - Ele me disse sério e eu fiz “é o quê, idiota?”, mas respondi mesmo assim. 

— Você sabe que eu tô. - Essa era uma das regras: estar sempre com a pena do Ocaso, que saco, Tony! 

— Me dá ela aqui, faz parte do teste de Segundo. - Revirei os olhos, mas entreguei a minha pena negra para o ladrão de pudins alheio.  – Agora vai! 

Tony me empurrou sem cerimônia na parede a frente e eu dei dois passos longos só para olhar para a cara dele, irritado. Que garoto mais filho da mãe! 

— Se a gente chegar atrasado, a culpa vai ser toda sua. - Ele me olhou com uma careta divertida, me empurrando na parede de tijolos atrás de mim, quando eu o cutuquei no peito. Revirei os olhos ao vê-lo rindo para o nada. Cruzei os braços, irritado. – É sério isso, Tony? Vai ficar de palhaçada? 

— Que negócio genial! Aqui, tenta com a pena dessa vez! - Ele me devolveu minha pena e completou o gesto com um empurrão que me fez tropeçar para dentro da sede do Ocaso. Mas o quê? – Perfeito, Segundo, exatamente como planejamos, ele voltou para o corredor sem se lembrar de nada. 

Fred II fingiu que marcava um visto em sua prancheta imaginária e Tony se juntou a Rebeca e Scorp em um dos almofadões da sala. Eu apenas fui me sentar perto de Aidan que parecia distraído tomando um suco de frutas vermelhas que ele tirou do mini frigobar. 

— Terminei o sistema de segurança da entrada, capitão, agora só quem tiver a pena vai poder acessar. - Fred falou feliz e eu finalmente entendi o que estava acontecendo. – E só para não esquecer, Dussel pediu para avisar que não vai poder vir hoje, ele está em Durmstrang. 

Ah, tá, quem se importa? Dei de ombros para essa notícia, não é como se eu não soubesse disso, diz ele que agora vai ter que cuidar de coisas de adultos e só estaria aqui amanhã. Como se eu me importasse com isso. 

— Pois bem, então podemos começar a reunião: crianças, resolveram as coisas com o Primer? - John perguntou sonso e eu olhei para a cara deslavada de Louise, Rebeca e por fim de Aidan, ao meu lado. O lufano me devolveu um olhar entediado e bravo que não combinava em nada com ele. O que foi? – Sim, porque eu e Cesc temos que escrever os textos, mas não sem antes responder aos cinco colegas que já conseguiram entrar em contato com a gente. Então... O que vai ser? 

— Olha, Westhampton, eu sinceramente não sei o que você esperava que fizéssemos, é só vocês irem lá e responder aos moleques. - Rebeca falou prática e Tony se empertigou, porque um dos moleques era a namorada dele. – E Weasley. Responder aos moleques e a Weasley. 

— Na na ni na não, querida monstra! Fazia parte do nosso trabalho pensar na logística das coisas! Responder aos moleques sem propor alguma coisa? Sem pensar em como melhorar essa comunicação? Sem pensar em como eles podem se ver livres de Brenam? Como eles podem manter segredo sobre a gente? - Sorri vitorioso, porque Louise basicamente tinha dado férias para mim e para John. 

— Pois bem, Cesc, vamos ver o que o trio tem para gente. - John falou igualmente satisfeito com as caras dos meliantes preguiçosos. Agora eles vão ter que dizer em voz alta quem são os reis dessa bagaça. – E então, pessoal, o que vai ser? 

— Nós... Err... Vamos... Hum, como se diz, Wainz? - Louise começou a balbuciar e passou a bola para Rebeca que a olhou meio desesperada. 

— Vamos analisar as opções sugeridas por vocês! - Ela falou feliz com sua ideia de última hora. 

— Isso! Nós preferimos fazer uma coisa mais democrática e trazer essa demanda para o grupo. - Louise disse mais aliviada e depois apontou para o terceiro lado do triângulo da preguiça. – Não é mesmo, Aidan? 

Encarei divertido Aidan, mas ele só me devolveu aquele mesmo olhar incrivelmente sério e bizarro de antes. Franzi o cenho pra ele. 

— Qual o seu problema, Aidancórnio? Por que continua me olhando como se eu tivesse derretido sua nuvem de algodão doce... - Falei meio cismado e ele apenas apertou mais os olhos. 

— Pois é, né? Não é como se você tivesse me deixado na mão no meu momento de maior necessidade! - O quê? Encarei o resto do grupo, que também parecia não fazer ideia do que ele estava dizendo. – E não, nós não pensamos em nada, queremos o nosso cargo de volta, fazendo o favor. 

— Ah, Hataya, que merda, hein! Que bicho te mordeu? - Rebeca perguntou verdadeiramente chateada, mas eu estava mais preocupado com a chateação do lufano. 

— Pois acreditem vocês ou não, Cesc aqui me deixou na mão quando eu pedi ajuda! - Novamente: O QUÊ? 

— Do que diabos você está falando, Aidan? Isso nunca aconteceu! - Tentei acalmar o garoto, mas é aquela coisa, nunca deixe um oriental liberar o Goku que há dentro dele. 

— Liguei para sua casa pedindo ajuda no Natal, gastando horrores com o valor da ligação e você mandou seu pai dizer que você “estava muito ocupado agora”! - Olhei sem entender e o garoto continuou sua acusação. – Eu ouvi sua voz gritando em espanhol e me desculpe se fazer barraco é mais importante do que ajudar um parceiraço, que já esteve em um monte de merda com você, me desculpe mesmo, mas eu não quero mais essa amizade! 

Ah tá! Embora eu não me lembre de ligação alguma, eu certamente me lembro de um fato muito importante naquele dia esquisito de Natal. 

— No Natal Louise me deu uma cotovelada no nariz já quebrado e ele estava jorrando sangue como um daqueles irrigadores de jardim... - Aidan me olhou em dúvida e eu fiz o gesto de sangue sendo espirrado do nariz. – Foi uma verdadeira sessão de filme do Tarantino. 

— É sério isso? - Ele me perguntou desconfiado e eu apontei com o dedo para a demônia da minha irmã, fazendo minha melhor carinha de injustiçado. 

— Ela é muito má comigo. - Terminei meu lamento e Aidan fez que sim, tocando na minha perna, consolador. 

— Sendo assim, está perdoado. - Ele sorriu com sua cara de garotinho de 5 anos e eu sorri de volta. – Podemos voltar para a reunião agora. 

— Ah não, agora acho que falo por todos quando digo que a gente precisa saber o que foi essa coisa horrível que você precisava desesperadamente da ajuda de Cesc. - Sev disse desdenhoso e todos nós concordamos com ele. Sério, o que poderia ter acontecido de tão ruim na Jujubalândia? 

— Nem foi nada de mais, agora que eu parei pra pensar... Acontece que nossos pais foram buscar nossos avós no aeroporto e deixaram o peru assando sob a nossa supervisão e daí Akira perdeu a paciência e aumentou a temperatura para, tipo, labaredas do inferno e o peru acabou carbonizando, então a gente ficou desesperado e meio que usamos um par de feitiços que quebraram cerca de cinco leis mágicas da Grã-Bretanha, mas tudo bem, porque o peru ficou ótimo. 

Ele concluiu tudo isso com um dar de ombros e Fred perguntou cauteloso, porque Aidan obviamente tinha um parafuso solto, assim como Akira. 

— Que feitiço foi esse que vocês usaram?  

— Nada de mais, realmente, a Suprema Corte é bastante melindrosa, meu avô falou que lá no Japão as crianças brincam com quebra de dimensão temporal ainda de chupeta. - Ele olhou para o nada e suspirou pesado. – De toda forma, nossa audiência no Ministério é daqui a dois dias, nos desejem sorte. 

—  Farei mais do que isso, enviarei um dos nossos representantes legais para fazer sua defesa oficial, jovem japonês cujo o nome eu sempre esqueço. 

— Enrique! - Não, hã, hã, não fui eu quem gritei como se meu soldado tivesse voltado para casa vindo da guerra, esse papel vergonhoso ficou para Tony mesmo. Cruzei os braços para toda a cena, Enrique Dussel gosta de entradas triunfais, senhoras e senhores. – Achamos que você só viria amanhã! 

— Pois é, acontece que consegui me livrar de Heitor mais cedo, tenho que agradecer a V. depois, porque ela tem um poder de enfiar a cara daquele homem em um monte de papeis, que eu vou te dizer... - Ele foi se sentando despojado ao meu lado e eu levantei uma sobrancelha para isso. – V. é aquela criatura esquisita que ele diz que é uma secretária, a propósito. 

Iria dizer a ele que não perguntei nada, mas Aidan foi mais rápido. 

— Obrigado, Dussel, sério, você tá fazendo um bem enorme para a comunidade bruxa! - Enrique franziu o cenho cético e Aidan se consertou rápido. – A comunidade bruxa da minha casa, que se resume a eu, meu irmão, meu pai e meu avô. 

— Aham, tá, que seja, agora vamos voltar para a reunião? - Ele falou isso enquanto se ajeitava melhor no MEU almofadão e eu encarei irritado aquela cara cínica dele. – Já chegamos naquela parte chata onde sempre discutimos sem chegar a resultado algum a decadência de Hogwarts? Porque hoje eu tenho informações novas! 

— Entra na fila, garoto, porque eu também tenho informações novas! - Tateei meus bolsos e joguei as páginas que Lily e companhia haviam destacado dos livros que dei a elas como lição de casa nas férias, na mesinha de centro. 

— Meu Merlin! - John ofegou horrorizado. 

—Calma, que eu vou colar de volta. - Ele continuou tapando a boca com as mãos e maneando a cabeça dramaticamente. – Acho melhor você guardar esse piti para mais tarde... 

— Por que? 

— Porque de acordo com a História, Hogwarts, Pompeia e Atlântida tem mais em comum do que apenas estarem juntas nessa frase que eu acabei de dizer. - Todo mundo me olhou com uma cara de “ata” e eu levantei as mãos para acalmar os ânimos. – As três tem um final trágico. 

— Ah, vá, Cesc! Essa é provavelmente a coisa mais sem sentido que você já disse e olha que esse é seu talento especial. - John falou ceticamente, enquanto mexia nas evidências, provavelmente tentando identificar de que livros aquelas folhas vieram. 

— Não é sem sentido! Está mais do que comprovado que certos locais que concentram muita magia podem sofrer com severas oscilações mágicas e Pompeia e Atlântida foram as que tiveram o destino mais trágico. - John balançou a cabeça, pouco convencido. – E Hogwarts é a próxima. 

— Hogwarts não é a próxima, porque ela segue as diretrizes de construção do Tratado de Palmira, do ano de 252, que deixou claro que nenhuma cidade deveria construir suas fundações atreladas a elementos básicos. 

— Que foi exatamente o que Hogwarts fez. - Eu disse usando a sabe-tudisse de Fred II contra ele. Ad hominem, como diria Sienna. Ele acha que só porque estudou um pouco de construção mágica virou especialista no assunto? 

— Não, Hogwarts usou apenas os princípios elementares e não se amarrou a um vulcão ou a literalmente o oceano inteiro para ter magia! - John falou daquele jeito afetado dele e depois consertou os óculos. – Levou bastante tempo para os nossos ancestrais perceberem, mas finalmente ele entenderam que isso era apenas uma péssima ideia. 

Droga de pessoas que estudam as coisas mais inúteis possíveis!  

— Então nem devo mencionar Lemúria e Mu? Porque a primeira até que sobreviveu a sua oscilação e era minha esperança para ajudar Hogwarts... - Falei chateado, porque John era um estraga-prazeres. O trabalho de pesquisa não era meu? Por que ele está se metendo? Ah, mas que pergunta idiota, esse é o talento especial de John.  

— Na verdade eu gosto da solução de Lemúria, pode ser uma saída, vamos pesquisar mais sobre ela, que tal? - Ele falou simpático e eu tenho quase certeza que é para me fazer sentir melhor. Vou usar isso para consolar minha equipe de apoio depois. 

— Tá, tá, tá, agora que já saímos dessa baboseira histórica, eis aqui relatórios atuais que mostram o exato momento do apagão de energia que Hogwarts sofreu. - Enrique colocou o pergaminho comprido com o timbre dos Inomináveis na mesa e todos olhamos impressionados. – Apagão de magia, não oscilação, podem conferir. 

De fato, havia a magia identificada como sendo de Hogwarts no gráfico e ela sofria uma queda brusca e depois voltava a sua força quase normal, um pouco mais fraca, é verdade. Sev apontou para o pico alguns centímetros mais para frente no pergaminho. 

— E essa magia aqui, o que foi? - Enrique voltou para o lugar onde estava, com sua cara arrogante de sempre. 

—Uma magia exótica, que segundo os testes de laboratório da minha empresa, veio da África. - Ele olhou sério pra mim ao dizer isso e eu o encarei sem entender. 

— Deixa Hector ouvir você dizer “minha empresa” com tanto sentimento... - Tony disse, divertido. 

— Ah, fala sério, Dussel! Como é que sua empresa conseguiu identificar essa magia exótica e os Inomináveis não? - Rebeca perguntou sem dar muito crédito, mas nem abalou a confiança de Enrique. 

— Porque os Inomináveis não são pagos para colocar feitiços em cima de feitiços pré-existentes ao redor do mundo e nem tem o laboratório de assinaturas mágicas mais bem equipado da Europa! - Ele falou com aquela voz “nhenhenhe”, que devia ser a imitação dele de Rebeca. A de Tony é mais lisonjeira. 

— Tá e ninguém achou essa magia africana aqui esquisita? - Sev perguntou a Enrique e depois apontou de novo para o pico chamativo, em uma linha que estava próxima do zero antes, apesar de quê... Tinha dado uma leve levantada quase na mesma hora do apagão.  

— Eu disse africana? Porque eu quis dizer de Uganda, mais especificamente de Uagadou, olha só que interessante. - Ah. Olhei para John meio que em pânico porque a gente bem sabe de onde saiu essa merda de magia, né? Sorri para Enrique, que ainda me encarava sério. 

— Que coisa não? Sabe que... Sabe que até deu um problema lá na magia de Uagadou também? Pois é, foi com os marduks, talvez devêssemos... - Vi John fazendo um não discreto com a cabeça e lembrei que aquilo também tinha sido o djinn e que merda, eu vou acabar preso com essa minha tentativa de disfarce. Engoli em seco. – Mas quer saber? Eu acho que não tem nada a ver e... Eu nem sei mais o que tô dizendo, quero dizer, três semanas não me fazem especialista em Uagadou, deixa eu calar minha boca aqui. 

— Ok, Cesc, isso foi muito estranho. - Tony me olhou desconfiado. – Desembucha. 

— Não tem nada para desembuchar, Cesc está apenas tentando chamar atenção, já sabem. - Franzi o cenho para Scorp, mas deixei quieto, porque ele estava me ajudando. 

— Querem mesmo saber de uma coisa sobre a internacional Uagadou? Eu e Cesc consultamos uma advinha da Turquia lá que nos disse que ficaria tudo bem com Hogwarts, lembra, Cesc? - John me perguntou cínico e sem nem deixar transparecer a mentira, mas eu não soube o que dizer. 

— Não lembro não... 

— Foi aquela criatura que eu fiz uma pergunta e ela foi toda misteriosa e disse que não poderia me dizer a resposta para curar Hogwarts, porque aquilo ia acontecer naturalmente... - Ele me falou naquele tom condescendente e aí sim eu me lembrei. Mas é claro! O djinn não respondeu à pergunta de John sobre Hogwarts - no nosso segundo pedido oficial - porque aquilo era algo que teríamos, eventualmente! 

Como eu não me lembrei disso antes? 

— Puta merda, é verdade! Gente, cancela essa pesquisa, Hogwarts vai ficar bem. - Respirei aliviado e me joguei do lado de Enrique. – Ufa, nossa, que alívio. 

— Esse alívio todo porque uma cartomante disse a vocês que Hogwarts ia ficar bem? - Fred perguntou meio cético e eu o respondi bem-humorado. 

— Eu sei o que parece, mas a criatura era bem confiável ou confiável na medida do possível, quero dizer, você achou confiável, John? Eu achei confiável. - John fez que sim com a cabeça e eu encerrei minha fala. 

— Você vai me contar a verdade sobre Uagadou, garotinho? - Enrique me perguntou sério. 

— Que verdade sobre Uagadou? - Perguntei sonso. 

— Então vai ser do jeito difícil. - Ele foi categórico e eu não pude deixar de ficar com medo disso. Não quero Enrique investigando essa história, vai que ele descobre algo que não gostaria, tipo, que ele está vivo quando deveria estar morto? 

— Ei crianças, não briguem, vocês não tem nem uma semana de namoro! - Tony falou apaziguador e eu revirei os olhos para ele. 

— Teoricamente eles não tem nem um segundo de namoro, porque até onde eu sei, não houve pedido! - Louise disse divertida e eu quase fui lá arrancar aquele sorrisinho dela a força. 

E assim acabou a reunião séria e profissional dos Iconoclastas, todo mundo insistindo para que a gente parasse de frescura numa cacofonia só, Segundo dizendo que aquilo era um acontecimento épico como ter Voldemort e Grindelwald se unido e Sev pedindo pelo amor de Merlin para a gente não se beijar. 

Deuses, em pensar que nós somos considerados as mentes pensantes de Hogwarts!  

 


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Notas finais do capítulo

Chegando no 100 a gente começa a se perguntar... Em q número eu devo parar? Sério, me digam quando, pq eu queria levar o tanto de tempo q Cesc estivesse em Hogwarts, mas posso acabar antes, de uma maneira redondinha, apesar de que sentiria falta de escrever isso aqui, não importa o quanto eu ainda tenha a escrever.

Fica a reflexão.

Bjuxxx